Arquivo mensal: julho 2008

AMOR!!!!!!!!!!!

   

 

O Amor não se conhece pelo que exige, mas pelo que oferece.

 

Jacinto Benavente Matínez

 

POSTED BY SELETINOF 9:18 AM 

FISICAPSICOLOGIA – UMA VIAJEM AO “UNUS MUNDUS”

Rogério Fonteles Castro

Pós-Graduação em Física pela Universidade Federal do Ceará

O grande paradoxo que gira em torno do fenômeno psicofísico aponta para a sedução consciente que temos de tentar mapear, ou simplesmente, apreender o inapreensível: o diagrama psicofísico”, abaixo, de nossa autoria, e todo o nosso trabalho aqui é um reflexo dessa influência sedutora. Porém, tal diagrama é, antes de tudo, apenas uma esboço do plano geral de nossas pesquisas e não um modelo psico-material da realidade; na verdade, concordamos aqui com Martin Heidegger  este afirmava que, sendo o Nada o fundamento do Ser, este é inapreensível.

DIAGRAMA PSICOFÍSICO –  Se o psicólogo, nas suas investigações através das camadas mais profundas da psique, encontra a matéria, por sua vez o físico, nas suas pesquisas mais finas sobre a matéria, encontra a psique.

Heisenberg, defensor genial da ortodoxia quântica, afirmava mesmo que qualquer modelo explanatório que possamos construir da realidade só pode ter a finalidade duma melhor compreensão, representando apenas uma especulação. Portanto, à luz da “interpretação de Copenhagen” (ou, da ortodoxia da mecânica quântica), da teoria dos quanta, mesmo a oposição tradicioanal entre “realismo” e “idealismo” não pode mais ser empregada e as teoria tradicionais do conhecimento fracassam. Os processos que se verificam no tempo e no espaço de nosso ambiente diário são propriamente o real e deles é feita a realidade de nossa vida concreta. “Quando se tenta, diz Heisenberg, penetrar nos pormenores dos processos atômicos que se ocultam atrás desta realidade, os contornos do mundo “objetivo-real” se dissolvem, não nas névoas de uma nova imagem obscura da realidade mas na clareza diáfana de uma matemática, que conecta o possível (e não o “factual”) por meio de suas leis”. (…) Mas constatamos que o mesmo ocorre com a realidade psicomaterial investigada aqui.  

Ainda, no texto abaixo,  retirado  do  livro  A DANÇA DO UNIVERSO, autor Marcelo Gleiser (físico brasileiro, atualmente professor de física e astronomia do Dartmouth College, em New Hampshire), fica muito claro a importância da criatividade em qualquer atividade produtiva do homem. Mas nosso fascínio pela Natureza e seus mistérios, sim, é a mola mestra de tudo… Com isto em mente, nesta postagem, estabelecemos uma “visão geral” do trabalho desenvolvido aqui.

Muitos pensam que a pesquisa científica é uma atividade puramente racional, na qual o objetivismo lógico é o único mecanismo capaz de gerar conhecimento. Como resultado, os cientistas são vistos como insencíveis e limitados, um grupo de pessoas que corrompe a beleza da Natureza ao analisá-la matematicamente. Essa generalização, como a maioria das generalizações, me parece profundamente injusta, já que ela não incorpora a motivação mais importante do cientista, o seu fascínio pela Natureza e seus mistérios. Que outro motivo justificaria a dedicação de toda uma vida ao estudo dos fenômenos naturais, senão uma profunda veneração pela natureza? A ciência vai muito além da sua mera prática. Por trás das fórmulas complicadas, das tabelas de dados experimentais e da linguagem técnica, encontra-se uma pessoa tentando transcender as barreiras imediatas da vida diária, guiada por um incrível desejo de adquirir um nível mais profundo de conhecimento e de realização própria. Sob esse prisma, o processo criativo científico não é assim tão diferente do processo criativo nas artes, isto é, um veículo de autodescoberta que se manifesta ao tentarmos capturar a nossa essência e lugar no Universo.

Sobre a grandeza e a miséria do homem escreveu Blaise Pascal, sobre o brilho e  miséria das cortesãs, escreveu Honoré de Balzac; porque não escrever agora sobre a grandeza e a miséria da fisicapsicologia? É verdade que a fisicapsicologia, definida aqui como uma ciência que se propõe estudar a matéria e a psique sob um mesmo ponto de vista, é um assunto por demais polêmico; sua grandeza, ainda, é muito questionável; mas, não se pode afirmar, que ela seja tão miserável quanto o homem. Mário Schenberg, físico brasileiro de renome internacional, nos dá abaixo uma idéia da grandeza de tal  unificação (denominada, por nós, de fisicapsicologia), caso ela se realize um dia. 

Heisenberg, falando em seu livro, cujo título da edição em português é Fisica e Filosofia, sobre a importante unificação da química com a física, que havia sido feita no século XX com o patrocínio da mecânica quântica, faz o seguinte questionamento: “Qual seria o próximo passo? O novo seria a unificação da física com a biologia, esta entendida num sentido amplo, englobando citologia, e todas as áreas ligadas ao homem”. E não podemos esquecer isto. É grande a lição da mecânica quântica, se já não era lição na sabedoria comum, de que toda nossa ciência é uma criação humana. Por isso, talvez a coisa mais importante seja compreender melhor o homem, do que essas teorias da Grande Unificação e outras coisas nesse sentido. Sem contar que nosso interesse em conhecer o homem é maior do que conhecer as teorias da Grande Unificação. Nós estamos num momento terrível da história da Humanidade, porque vivemos uma época em que não sabemos se daqui a dez anos ela existirá ou não. Uma guerra nuclear nas condições atuais, certamente levaria à destruição de toda vida sobre a Terra.

Assim, vejo uma grande sabedoria nesta previsão de Heisenberg. Porque na biologia, penso eu, também incluiria a psicologia e outras áreas mais diretamente ligadas ao homem. Seria um progresso mais na direção do Homem do que do Cosmo. Evidentemente, esta maior compreensão do homem, poderia eventualmente modificar também radicalmente, a nossa compreensão do Cosmo. Portanto, estou inclinado a ver mais dessa maneira: os passos mais essenciais seriam descobrir algo qualitativamente diferente (não estou dizendo que não se façam progresos importantes em partículas elementares ou noutros ramos da física). (…) Mas, ao que parece, o próximo grande passo na física, ou nas ciências naturais, digamos assim, seria na direção de uma compreensão maior da Vida e do Homem. Acreditava Heisenberg que com os conceitos atuais da física, não conseguiríamos fazer esta unificação, porque nos falta algo muito essencial. O que caracteriza a Vida, é uma certa historicidade, um tempo histórico, que não é o tempo da física. O  tempo físico é mais matemático, e o tempo histórico tem outras características. Ainda, Heisenberg achava muito importante introduzir na física algo que se aproximasse do tempo histórico. Na física ou fora dela, o fato é que esta introdução seria o mais importante. (…) Eu pertenço a uma certa tradição, pois afinal fui aluno de Pauli, e sofri sua influência; assim acredito que talvez a união da física com a biologia, seja precedida da união da física com a psicologia.

Deduz-se das palavras de Schenberg que, para uma possível unificação da física com a psicologia, é necessário se fazer um estudo profundo dos conceitos da física, mais princisamente no que diz respeito à mecânica quântica; tal se justifica pelo fato de somente no nível mais sutil da matéria ser possível observar seu caráter psíquico. Óbvio que um estudo pormenorizado das noções utilizadas no campo da psicologia é também imprescindível ao encaminhamento das pesquisas necessárias à realização da propalada unificação; além, claro, de um profundo conhecimento filosófico. Afinal, é ao homem que queremos descrever, compreender, explicar e dominar

Desde o momento em que veio à luz o livro INTERPRETAÇÃO DA NATUREZA E PSIQUE, onde Carl Jung e Wolfgan Pauli expuseram os princípios da unificação da física com a psicologia (hipótese ou teoria psicofísica), já se passaram aproximadamente 73  anos. Ano após ano se multiplica o número de partidários da teoria psicofísica de Jung e Pauli e cresce cada vez mais a sua influência. Em que essa teoria reflete fielmente a realidade e dá a conhecer as leis da evolução do universo? A físicapsicologia,  cognome dado, por nós, à teoria psicofísica de Jung e Pauli, busca respoder estas questões instituindo a hipótese do UNUS MUNDUS idéia esta da identidade básica de matéria e psique, no qual tudo que acontece, seja como fôr, acontece num único mundo e é parte deste.(http://petroleo1961.spaces.live.com/blog/cns!7C400FA4789CE339!712.entry).

A maioria dos pesquisadores das ciências, principalmente no presente, como é sabido de todos, procuram ficar bem distantes de qualquer assunto ligado à religião, ao misticismo, ou a qualquer outro assunto que não seja aprovado pela comunidade científica institucionalizada: é justificável tal atitude e concordamos plenamente com tal regulamento, pois  evita vários mal entendidos e, principalmente, a proliferação de teorias absurdas. Porém, não é crime as abordagens heterodoxas. Isaac Newton já afirmava que ciência e religião são duas coisas totalmente distintas… E aqui não estamos misturando tais coisas. Esta mistura, quando ocorre, acontece simplesmente pelo sucesso que a ciência tem alcançado em todas as áreas do conhecimento, promovendo então verdadeiros milagres: daí, portanto, alguns buscarem o aval da ciência para o estabelecimento de seus planos doutrinários.

 

Aqui, todavia, com um pé na física e o outro na psicologia profunda, buscamos esboçar uma estrutura na qual possamos pensar a matéria e a psique através de um mesmo paradígma, de um mesmo ponto de vista. Quanto aos caminhos, sim, deveremos trilhar aqueles já bem conhecidos por todos os pesquisadores: Newton, muitas vezes, justificava seu grande sucesso por ter, ele mesmo, se erguido sobre os ombros de gigantes (Galileu, Arquimedes, Euclides, etc). Imagine, então, nós! Contudo, queremos dizer que não vemos mal algum em se tentar naturalizar o conhecimento humanístico; ainda mais quando isto possa trazer alguma vantagem para nossa sociedade.

A físicapsicologia, assim, é um estudo da Natureza com base na física quântica, a partir da hipótese psicofísica de Carl G. Jung e Wolfgan Pauli. É uma forma de sincretismo teórico, que abarca, além das teorias quânticas, conteúdos de algumas escolas filosóficas. Maslow, dizia que o ser humano necessitava transcender sua psique, conectando-se a outras realidades, procurando pela verdade, de forma a entender sua existência e ajudar a si próprio: a fisicapsicologia, longe de questionar tal transcendência, se limita estudar a psique e a matéria – ambas constituindo uma mesma  realidade –  e, aplicando métodos específicos da ciência, busca conhecer as leis que regem os fenômenos psicofísicos mais profundos.

 

A conseqüência extrema da posição de psicólogos, de físicos e de biologistas, será admitir que “a psique e a matéria sejam um mesmo fenômeno observado respectivamente do interior e do exterior” (M. L. von Franz).

 

Evitando, assim, a metafísica, como método em nossos questionamentos, seguimos com os nossos estudos tentando aplicar o aforisma de Francis Bacon: Naturam renuntiando vincimuspela renúncia vencemos a natureza. Assim, por mais paradoxal que pareça, o processo para arrancar à natureza seus mistérios e pôr suas forças a nosso serviço, se realiza renunciando ao conhecimento de sua “essência”. Embora tal renúncia seja somente provisória, trata-se contudo de um acontecimento de grande significação. Pois este método paradoxal de penetrar nos segredos da natureza mais e mais profundamente, renunciando a responder às questões que sempre tinham sido propostas (pense-se nas numerosas “causas” de Aristóteles), sempre de novo se mostrou frutuoso. Uma tal atitude favoreceu o conhecimento teórico e não a prática. É isto que é notável, mas facilmente comprrensível se se olhar de mais perto.

Aqui está o ponto em que a maneira especificamente matemática de pensar desempenhou seu papel. A “renúncia” tem por conseqüência uma limitação de respostas possíveis sobre a natureza. Em muitos casos esta limitação, a impossibilidade de dar diversas respostas, se deixa precisar matematicamente. Resulta daí que as possibilidades estruturais de formular matematicamente as leis da natureza são igualmente limitadas. A fórmula é sempre determinada e em casos extremos absolutamente imutável. Não é como se somente o processo, e não a causa, de um fenômeno fosse representável pelos meios matemáticos, mas que outros conhecimentos a que se renunciou podem ser conhecidos positivamente por métodos matemáticos.

Assim, a utilização da matemática na construção do conhecimento, se caracteriza mais por dominar (por meio de fórmulas, de simetrias) os fatos constatados experimentalmente por meio dessas regras, leis, fórmulas, e não mais de explicá-los ou compreendê-los. Este novo modo de encarar se manifesta em nosso dias de forma extrema na teoria dos quanta, onde qualquer passo novo leva a fatos surpreendentes, inexplicáveis (e a fortiori, incompreensíveis), e que só foi possível dominar pela formação de conceitos novos e aparentemente paradoxais: que se pense no “dualismo” de corpúsculo e onda. O mesmo se dá também na realidade psícomaterial profunda a qual carece de total compreensão e explicação. Assim, a unificação da fisica com a psicologia proposta aqui, se dará num nível psicomaterial de difícil compreensão, impossível de explicar, incapaz de ser visualizado pela percepção humana. De tudo isto, é natural que tal UNIFICAÇÃO se realize no nivel da LINGUAGEM (definida, esta, como um postiço secretado pelo cérebro humano, o qual MD Magno chama de “secundário”, cuja estrutura é a mesma do “primário” dado pela Natureza, mas se constituindo como software e não como hardware: veja vídeo abaixo), e tudo quanto faremos para interpretarmos tal realidade, seguindo o mesmo caminho das teorias científicas,  se estabelece de forma hipotética: pois,  a vida vivida, afirmada pelos fenomenologistas, não se esgota jamais na vida refletida.

O espírito da primitiva matemática grega, seguindo o método de postulados e teoremas como na Geometria dos Elementos de Euclides, dominou o pensamento matemático até à época do Renascimento. Uma nova e vigorosa fase no desenvolvimento da Matemática começou com a aparição da Álgebra no sec. XVI, e os 300 anos que se seguiram foram testemunhas de grande quantidades de importantes descobertas. O raciocínio lógico, preciso, do método dedutivo, com o uso de axiomas, definições e teoremas, esteve manifestadamente ausente durante este período. Em vez disso, os pioneiros nos séculos XVI, XVII e XVIII recorriam a uma mistura de raciocínio dedutivo combinado com intuição, mera conjectura e misticismo, e não surpreenderá que se tenha visto mais tarde que alguns dos seus reultados eram incorretos. Contudo, um número surpreendentemente grande de importantes descobertas ocorreram neste período e uma grande parte deste trabalho sobreviveu à prova da História – um prêmio à destreza e engenho daqueles cientistas.

              

RELATIVIDADE DOS CONCEITOS.  Quando os meus olhos te vêem, diz Seletinof a um amigo, somos quatro: primeiro eu, depois tu; ainda, eu em tu e, por fim, tu em mim.

Poderíamos muito bem pensar que as pesquisas no campo da físicapsicologia encontram-se hoje aproximadamente na mesma situação da matemática após a descoberta da Álgebra no século XVI. Entretanto, não é bem a realidade, parece mesmo que na situação atual o estudo no campo da unificação da física com a psicologia mais se assemelha ao misticismo. Isto dado pela grande dificuldade da matematização dos fatos ou fenômenos psicofísicos profundos.

Já no ano de 1500, Leonardo da Vinci escrevia que em cada disciplina há tanta ciência verdadeira quanto houver nela matemática: a física moderna transformou-se em matemática… a fisicapsicologia também almeja tornar-se matemática: o pitagorismo presente em toda a matemática e a física, constitui a relação entre as coisas e os números, definindo nas coisas uma estrutura interna, a qual faz coincidirem as leis que regem as coisas com as leis que presidem os números; os modelos que tanto ajudam os matemáticos e os físicos são abstrações do real, com uma certa idealização – o que torna possível uma interpretação da natureza pelo homem. 

Não obstante, seguindo Bacon, à física importa mais o fenômeno, saber o que é a coisa em si é secundário, e até impossível. O espaço, então, exemplo de um fenômeno do mundo, é dúplice:em primeiro lugar, uma realidade, isto é, algo que existe fora do nosso cérebro, no mundo exterior; e, em segundo lugar, uma representação que nós formamos dessa realidade dentro de nosso cérebro. Exteriormente ao cérebro, então, a realidade é qualquer coisa de substancial. As representações que dessa realidade nós criamos, são produtos do cérebro humano e mudam de homem para homem e de geração para geração. (Aqui, tanto o mundo da materia quanto o mundo da psique são “externos” ao cérebro, portanto, substanciais).

Observemos agora um gato que se encontra no canto da minha escrivaninha. O que é um gato toda gente julga sabê-lo. Na verdade, ninguém o sabe.  Perguntemos às pessoas o que é um gato e logo apreendemos o que qualquer indivíduo imagina ser um gato, mas ninguém nos pode dizer o que é um gato. Das coisas, o homem não sabe o que elas são, porém apenas o que a respeito delas ele pensa, e, segundo uma regra psicológica que se poderia designar por autoconsciência recíproca, crêem, os homens, tanto melhor conhecer uma coisa, quanto menos dela sabem. A criança exclama, rindo: não saberei eu o que é um gato?! Mas o filósofo sabe que está diante de um problema insolúvel. É possível, num segundo, perfurar o gato com uma agulha; mas nem em quarenta anos de pesquisa diária, será possível penetrar um milímetro sequer na alma desta criatura que para todos os tempos continuará a ser uma Esfinge no canto da nossa escrivaninha.

Só quem bem compreende a natureza da ciência, poderá com proveito e prazer, e sem perplexidades, aplicar-se aos estudos científicos. Ciência não é coleção de conhecimentos nem busca da verdade, mas sim formação de conceitos. A física não conta fatos, pois os seus termos: massa, energia, velocidade, não são realidades, e sim os conceitos

fundamentais da física, como, aliás, muito bem se diz, mas   que   freqüentemente   nos   escapa   durante   a  leitura.  Os conceitos,  então, são instrumentos do pensamento, artificialmente construídos, tais, como as chaves de parafusos, são instrumentos que servem para abrir um motor, o qual nada tem a ver com chaves de parafusos; são escadas, pelas quais subimos a  uma casa eternamente fechada.

Nós, homens de 2008, denominamos determinado estado de matéria, a alteração deste estado de movimento, certa relação entre dois estados gravitação. Aristóteles não conhecia o conceito de atração e não teria podido discutir com Newton. Newton, por sua vez, não poderia intervir num atual congresso de físicos, pois os conceitos de campo, de quantum,  de salto eletrônico, não existiam para ele. Goethe e Shakespeare, diante de um jornal moderno, se sentiriam quase analfabetos. Progresso é aquisição de novos conceitos. Mas o significado dos conceitos antigos também muda. Mãe, dá-me o Sol!… Que é o Sol? Para os gregos representava o ígneo carro em que Hélio, com seus cavalos, andava por sobre a Terra. Para o homem da época gótica, era o olho de Deus. Depois Galileu o identificou com uma esfera de fogo. Nós pensamos hoje o que há cem anos ninguém poderia pensar, e nenhum de nós pode formar a idéia daquilo que os homens imaginarão daqui a cem anos quando pronunciarem a palavra Sol. Será algo muito diverso do que pensava o Osvaldo de Ibsen quando dizia no início de sua alienação mental: Mãe, dá-me o Sol.

O espaço, como qualquer fenômeno do mundo, é dúplice:em primeiro lugar, uma realidade, isto é, algo que existe fora do nosso cérebro, no mundo exterior; e, em segundo lugar, uma representação que nós formamos dessa realidade dentro de nosso cérebro.

Porém, o conceito de espaço é o mais difícil de todos. De gato ou Sol, podemos, pelo menos, ter uma idéia, errada ou certa. O espaço, todavia, não podemos imaginá-lo; pois só é possível compreender conceitualmente aquilo de que podemos pensar o contrário. Assim podemos dizer dia, porque a noite existe, vida, porque conhecemos a morte, silêncio, porque há ruído. Se não houvesse ruído, não haveria o conceito de silêncio. Não é possível representarmos o espaço, porque não podemos imaginar o contrário do espaço, o não-espaço. Estamos, como diz Einstein, tão profundamente mergulhados no espaço, como um peixe nas águas do oceano. Como este jamais chegará ao conhecimento de que se encontra no oceano, assim o homem jamais saberá o que seja o espaço. Teria que vir um pescador que nos tirasse para fora dele. Virá um. Mas, então, já será demasiado tarde…

Voltando a falar em matemática… temos que a física, para matematizar os fenômenos da natureza, estabelece primeiramente a limitação do problema em questão, pois, somente assim é possível precisá-lo numericamente; mas é com o auxílio da objetividade no tratamento dos dados analisados que se realiza tal limitação… O significado dos acontecimentos em nossa vida é obtido através da ligação de informações (impressões sensoriais) obtidas através de nossas experiênias: não obstante uma simples impressão sensorial seja completamente subjetiva e não comunicável, o mesmo não se dando quando temos duas impressões no mesmo orgão sensitivo. Constatamos a existência de muitas tonalidades do azul; por exemplo, pálido, escuro, avermelhado e esverdeado. Se duas dessas tonalidades são observadas por duas pessoas, é quase certo que haverá acordo entre elas sobre se as tonalidades são as mesmas ou distintas. Assim, podemos classificar as impressões sensoriais como pertencentes à classe das experiências objetivas, desde que consideradas aos pares; ou seja, a objetividade nasce das impressóes sensoriais dadas aos pares. Por isso mesmo a física enveredou pelo caminho que leva ao envolvimento de pares de impressões sensorias, ao invés de impressões isoladas, propiciando o uso da linguagem matemática que está sujeita às mesmas limitações. 

Dessa forma, a pesquisa objetiva sobre a natureza do universo é possível, fica garantida, mas o resultado é uma espécie de mundo sombrio destituído de qualquer cor intrínseca. Como, entretanto, cada observação se baseia em percepções sensoriais, a execução desse programa poderia criar um vazio intolerável entre os observadores experimentais e os teóricos. Assim, sempre  se esforça o máximo para não haver perda da conexão com os dados observacionais. Foi compravado que isso é possível até certo ponto de uma forma pictórica bem convincente por meio de linhas de campo etc. Também no domínio dos átomos não se necessita introduzir sempre figuras novas e não-familiares, mas se pode servir das usuais; é verdade que necessita-se de duas diferentes, uma ondulatória e outra com caráter de partícula. A única coisa necessária é restringir sua aplicabilidade e tomar cuidado para que de seu uso não resultem contradições lógicas. Isso é possível e justamente constitui um dos mais belos episódios da dísica Física Moderna, pelo qual se deve muito a Niels Bohr. Entretanto, à expressão de Hertz, imagem, Max Born prefere expressões como ajudas visuais ou ajudas visuais parciais. Enfim, todas as percepções sensoriais são imagens, e o que realmente está por trás do fenômeno (que Kant chama a coisa em si) permanece obscuro.

 

Perdidos no Espaço “Interpsicogalático” …

Ainda, a matematização, porém, impõe a adoção de pressupostos adaptáveis aos axiomas da matemática, que em geral não se conformam ao mundo real. Debate-se, portanto, até que ponto o objeto da psicologia é naturalmente quantitativo, para se utilizar aqui uma concepção histórica que é bastante retomada em defesa do emprego de modelos matemáticos. Ou ainda, como imprimir aos símbolos e fórmulas matemáticas uma significância psíquica? (…) Necessário se faz esclarecer, agora, o entendimento – uma vez que ainda não há uma padronização em sua interpretação – de alguns termos freqüentemente envoltos em alguma dubiedade: “quantificação”, “matematização”  e “formalização”.  Entende-se “quantificação” como o uso das matemáticas na investigação empírica e quantitativa dos fenômenos psíquicos, assim como na ilustração de proposições. O termo “matematização”  diz respeito ao emprego do raciocínio matemático na formulação da teoria pura. Finalmente, por  “formalização”, seguindo Katzner, compreende-se o desenvolvimento e análise das relações entre as variáveis de um modelo, a qual pode não estar na forma matemática. A  “formalização”  é considerada a fonte dos problemas mais complexos. (Fazemos neste ponto uma referência ao texto de Iara Vigo de Lima sobre a matematização da economia estabelecendo adaptações ao nosso estudo: é de se notar que na economia o problema da matematização ainda envolve muita polêmica). 

Igualmente à ciência Física que elabora seus conceitos utilizando dialeticamente os pontos de vista do empirismo e do racionalismo, aqui ao longo de nossa caminhada procuramos agir sempre, também, de forma dialética. Portanto, visando a harmonização de idéias contraditórias, perseguimos sempre uma nova “realidade” na qual os pontos de vista problemáticos sejam integrados numa visão mais satisfatória à novas questões. Nesse sentido, visitamos diversos pontos de vista do conhecimento científico e filosófico procurando tornar nossa visão mais ampla e mais acurada: nosso trabalho consiste mesmo de vários textos, de bibliografia variada, alinhavados por nós no intuito de conferir-lhes uma unidade na qual seja possível fazer uma introdução ao estudo da fisicapsicologia. O mais importante, então, não é mostrarmos textos inéditos de nossa autoria; mas, acima de tudo, tornar o mais claro possível os nossos  posicionamentos. Dessa forma, a maior parte de nossas publicações são na verdade vários instantâneos sobre o Homem e o Cosmo (textos, pensamentos e vídeos), nos quais tentamos mostrar a natureza humana, e, claro, vislumbrar os mistérios do Universo em que vivemos.

 

Artigo bastante esclarecedor foi publicado aqui em três partes:

1- http://petroleo1961.spaces.live.com/blog/cns!7C400FA4789CE339!916.entry;

2- http://petroleo1961.spaces.live.com/blog/cns!7C400FA4789CE339!918.entry; 

3- http://petroleo1961.spaces.live.com/blog/cns!7C400FA4789CE339!919.entry;

Certos de que trilharmos um caminho bastante difícil, queremos, desde já, contar sempre  com a compreensão e camaradagem de nossos amigos leitores: “Tentar estabelecer relações entre física e psicologia (ou entre física e arte, ou física e religião) é uma tarefa difícil. Qualquer autor que se aventure a buscar a interface entre dois campos tão diferentes corre graves riscos. Em qualquer estudo que queira comparar a física à psicologia pressupõe-se que o autor conheça e compreenda igualmente bem os dois assuntos. No entanto, verifica-se que esse pressuposto muitas vezes não é satisfeito. Encontramos obras escritas por médicos e psicólogos, tentando encontrar relações entre seus campos de estudo e a física quântica (por exemplo), nas quais se percebe claramente que os autores não compreendem os conceitos básicos da física moderna. Inversamente, há estudos escritos por físicos, tentando relacionar sua disciplina a outras áreas – como a psicologia ou a filosofia – e que pecam igualmente pelo desconhecimento quase total do outro termo de comparação. É compreensível que isso ocorra. Afinal, não é fácil adquirir competência adequada em um campo de estudos – e é mais difícil ainda obtê-la em dois. (…) Evidentemente, o resultado de tentativas de aproximação entre as duas áreas por parte de quem não lida adequadamente com ambas costuma ser catastrófico. Por outro lado, um casamento adequado entre duas disciplinas distintas pode levar a resultados novos e excitantes, e o prêmio pode compensar o risco” (R. A. Martins,Grupo de História e Teoria da Ciência, Instituto de Física “Gleb Wataghin”, Universidade Estadual de Campinas, Unicamp).

Enfim, fortes e sempre preparados para a seara, aqui procuramos separar o joio do trigo. Bem sabemos, entretanto, que “o mundo não é o que penso, mas o que vivo, estou aberto ao mundo, comunico-me indubitavelmente com ele, mas não o possuo, ele é inesgotável”. Portanto, com esse pensamento de Merleau-Ponty em mente, com as mangas arregaçadas e os pés no chão nos encaminhamos, humildimente, dia-a-dia ao trigal visando sempre colher os melhores “frutos”.

Obrigado a todos os visitantes! 

 POSTED BY SELETINOF 8:03 AM 

NAT KING COLE- NATALIE COLE – WHEN I FALL IN LOVE

 
 

POSTED BY SELETINOF 9:08 PM 

 
 

ASPECTOS FILOSÓFICOS DO VIRTUAL E AS OBRAS SIMBÓLICAS NO CIBERESPAÇO 1


  


Silvana Drumond Monteiro


Resumo: A organização do conhecimento no ciberespaço pode ser explicada filosoficamente e operacionalmente por intermédio do conceito de virtual.   No primeiro caso, o virtual  responde pela maneira de ser, uma vez que as obras se realizam no pólo da virtualidade de várias maneiras, onde a conjunção e…e… constitui-se em aliança desenhando o conhecimento sob a forma de rede e explicando a desmaterialização das obras .  No segundo caso, permite a operacionalização dos conceitos filosóficos como o paradoxo do sentido e rizoma ,  ilustrando um novo modelo de escrita, que é o hipertexto, bem  como explicando a indexação no ciberespaço.    O não fechamento semântico e o não fechamento  físico das obras desmaterializadas, ambos possíveis pela virtualização, apontam que não há uma sintaxe geral a ser adotada na indexação na Internet.


Palavras-chave: Virtual; organização do conhecimento; ciberespaço; indexação; mecanismos de busca; tecnologias da informação; rizoma.

Abstract: The organization of knowledge in cyberspace may be explained in a philosophical and  operational way by means of the concept of what virtual means. In the first case, virtual is responsible for the  way of being, since  the works are realized in the virtuality pole in different manners, where the conjunction ‘and’ is an alliance designing knowledge under the form of a net and explaining the works’ de-materialization. In the second case, it permits philosophical concepts, like  the sense paradox and rhizome, to happen, illustrating the new model of writing, that is, the hypertext, and explaining  indexation in cyberspace. The semantic non-closing and the physical non-closing of the de-materialized works, both possible in virtualization, point out that there is not a general syntax to be adopted in indexation on the Internet.


Keywords: Virtual; knowledge organization;  cyberspace; indexation; search engine; information technologies; rhyzome.

1. Introdução

O virtual é o principal atributo do ciberespaço e que melhor o descreve.  Ele dispõe o conhecimento e a informação em um espaço e estado contínuos de modificação, em função de sua plasticidade e fluidez, permitindo a interatividade e  organizando o conhecimento em forma de rizoma,  um novo tipo de escritura, descrita por Deleuze e Guattari (1995, v.1), porém só visualizada e possível ou mesmo inteligível a partir do hipertexto funcional.

O virtual tem importância capital na compreensão da maneira de ser dos objetos, em especial das linguagens e obras, pois explica um tipo diferente de realidade, aquela tomada no pólo da atualização ou da “reificação”, ou seja, da coisa ou da materialidade, que estamos acostumados, cuja qual mantemos uma relação de intervenção, controle e organização física.

A materialidade teve papel fundamental na noção de “representação” na Ciência da Informação”, pois contempla os registros, os meios de inscrição das obras. Assim, a representação da informação requer significado (representação temática) mas também requer a descrição dos suportes (representação descritiva) e por isso mesmo abandona, em parte, a definição clássica de representação da linguagem, ou seja, aquela que define o signo como signo, no seu desvio em relação à coisa significada (poder de representação) e a existência de convenções regulando a relação do signo com a coisa.

Entretanto, toda essa lógica da linguagem e da organização do conhecimento, formulada e baseada na linguagem verbal escrita parece entrar em crise quando se admite que há, no ciberespaço, uma desmaterialização da formas simbólicas (obras), fato este associado corretamente ao virtual, visto que o mesmo explica a “desterritorialização dos signos” e portanto a “desmaterialização das obras”.

O artigo pretende discutir filosoficamente a questão, para explicar um novo modelo de realização da obras no ciberespaço tomada no pólo do virtual, pois essa compreensão ajudará a compreender uma mudança de paradigma, na qual a organização do conhecimento está inserida.

2.  Definição de Virtual

Lévy (1996) escreveu sobre o virtual e seus desdobramentos filosóficos, sendo que no Quadro 01 os diferentes sentidos do virtual são abordados, do mais fraco ao mais forte: 

DEFINIÇÃO

EXEMPLOS

Virtual no sentido comum

Falso, ilusório, irreal, imaginário, possível

Virtual no sentido filosófico

Existe em potência e não em ato, existe sem estar presenteA árvore na semente (por oposição à atualidade de uma árvore que tenha crescido de fato) / uma palavra na língua (por oposição à atualidade de uma ocorrência de pronúncia ou interpretação)Mundo virtual no sentido da possibilidade de cálculo computacionalUniverso de possíveis calculáveis a partir de um modelo digital e de entradas fornecidas por um usuárioConjunto das mensagens que podem ser emitidas respectiva-
Mente por:
– programas para edição de texto, desenho ou música;
– sistema de hipertexto;
– bancos de dados;
– sistemas especializados;
– simulações interativas, etc.Mundo virtual no sentido do dispositivo informacionalA mensagem é um espaço de interação por proximidade dentro do qual o explorador pode controlar diretamente um representante de si mesmo- mapas dinâmicos de dados apresentando a informação em função do “ponto de vista”, da posição ou do histórico do explorador;
– RPG em rede;
– videogames;
– simuladores de vôo;
– realidades virtuais, etc.Mundo virtual no sentido tecnológico estritoIlusão de interação sensório-motora com um modelo computacionalUso de óculos estereoscópicos, datagloves para visitas a monumentos reconstituídos, treinamentos em cirurgias, etcQUADRO 01: OS DIFERENTES SENTIDOS DO VIRTUAL, DO MAIS FRACO AO MAIS FORTE
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 2000. p. 74. 

A palavra virtual, no sentido filosófico que interessa à discussão, vem do latim medieval virtualis, derivação de virtus, designando força ou potência.  O virtual existe em potência e não em ato, por isso tem como pólo o atual, e não o real,  comumente  associado ao termo.

Assim, o virtual é potência em curso de atualização, e ambos pertencem ao real.  Exemplificando o virtual, Lévy (1996) lança a situação da árvore que está virtualmente presente na semente.  Então, o termo “virtual” não pode se opor ao real, mas ao atual, uma vez que a virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes. Nesse contexto, o virtual não substitui o real, mas antes multiplica as oportunidades para atualizá-lo.

Ainda de acordo com o Autor, o virtual “é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização.” (LÉVY, 1996, p.16).

O ciberespaço parece encarnar a força virtual, em curso de atualização, mas ao mesmo tempo sem perder a sua virtualidade: o espaço de leitura atualiza-se como espaço de escrita e vice-versa.  Ou então, a leitura em outras leituras e escritas transversais.

Assim como Deleuze (apud ALLIEZ, 1996, p.49) que diz que todo atual “rodeia-se de uma névoa de imagens virtuais”, Lévy (1996, p.43) admite um outro estágio da atualização, ou seja, a virtualização, onde,

Um pensamento se atualiza num texto e um texto numa leitura (numa interpretação). Ao remontar essa encosta da atualização, a passagem ao hipertexto é uma virtualização.  Não para retornar ao pensamento do autor, mas para fazer do texto atual uma das figuras possíveis de um campo textual disponível, móvel, reconfigurável à vontade, e até para conectá-lo e fazê-lo entrar em composição com outros corpus hipertextuais e diversos instrumentos de auxílio à interpretação. Com isso, a hipertextualização multiplica as ocasiões de produção de sentido e permite enriquecer consideravelmente a leitura.

A virtualização é a passagem de uma solução dada (a atualização) a um outro problema, isto é, do atual ao virtual.  Entretanto, não um virtual como maneira de ser (no Quadro 02), mas a virtualização como dinâmica ou processo (se no quadro abaixo estivesse representada, a virtualização partiria do atual retornando ao virtual, cf. Esquema 1, p.7).

Vale observar que esse processo não é característica conferida somente aos signos (como virtualização do pensamento), mas a humanidade tem se valido da virtualização das ações, do corpo e do ambiente físico através das técnicas e da complexidade das relações sociais por meio dos contratos, para estabelecer o estado de hominização ao longo de sua existência (LÉVY, 2000).

Já o oposto do real é o possível, de acordo com Deleuze (apud ALLIEZ, 1996) em que Lévy (1996) se baseou para escrever “O Virtual”.  Assim,  o real assemelha-se ao possível, mas lhe falta a existência, enquanto o atual responde ao virtual, conforme Quadro 02:

 LATENTEMANIFESTO SUBSTÂNCIAPossível (insiste) realizaçãoReal (subsiste) ACONTECIMENTOVirtual (existe) atualizaçãoAtual (acontece)

QUADRO 02:  OS QUATRO MODOS DE SER E AS QUATRO PASSAGENS
FONTE: LÉVY, Pierre. O que é o virtual. São Paulo: Ed. 34, 1996. P. 138. [2]

O virtual é uma configuração de forças, que visa a manifestar-se em uma atualização.  A isso Lévy chama de solução a um problema, dado que o virtual é problemático por essência. A atualização é portanto, um acontecimento, “efetua-se um ato que não estava pré-definido em parte alguma e que modifica, por sua vez, a configuração dinâmica na qual ele adquire uma significação.” (LÉVY, 1996, p.137). 

 

A atualização, ao inventar, ao criar uma solução ao problema, não mobiliza recursos visando a preencher uma forma, ou ainda, não coloca uma forma à disposição de um mecanismo de realização. Ela cria uma informação nova, exemplificando com a ocorrência da pronúncia de uma palavra ou interpretação de um texto.

Por isso, a atualização, que une os pólos virtual e atual, é da ordem do acontecimento, da criação, ao contrário da realização (possível-real) que sendo da ordem da substância, supre de matéria uma forma preexistente. É uma forma na qual a realização confere uma matéria mediante uma seleção entre possíveis. A realização é uma eleição ou seleção e não uma resolução inventiva de um problema, então os possíveis são candidatos à realização portanto, não são um campo problemático como no caso do virtual, pois o “envoltório de possibilidades presta-se apenas a uma realização exclusiva.” (LÉVY, 1996, p.59).

Prosseguindo com o raciocínio, a força do virtual está na sua saída, posto que é potência, por isso é dito “existir” como modo de ser, e o atual é a manifestação dessa força, seu acontecimento, por isso é dito “acontecer”, uma vez que possui a atualização como prerrogativa.  Já o possível como lhe falta a existência, pode-se dizer que ele apenas “insiste”, ou as determinações para sua existência insistem, e no real, a substância subsiste ou resiste, porque é material.

Entretanto, o possível, o real, o virtual e o atual, embora quatro modos diferentes de ser, quase sempre operam juntos nos fenômenos concretos em que se pode analisar. São as misturas que se manifestam nos fenômenos de modo que os processos de possibilidade e de realização só adquirem sentido pela dialética da atualização e da virtualização. Lévy (1996) cita o exemplo de um texto, em que a possibilidade e a realização constituem-se os aspectos técnicos e materiais, mas que por sua vez influenciam fortemente na criação de uma mensagem e na configuração de uma ecologia cognitiva [3]. Não coincidentemente, a Paleografia chama de “material subjetivo” aquele sobre o qual se executa uma escrita ou inscrição.

Ao mesmo tempo, na produção de um texto, há a produção e criação de idéias, portanto um espaço virtual de significações que será respondido com uma atualização ou ainda com uma virtualização, e nesse sentido o meio ou espaço de inscrição pode operar a proeminência de um modo de ser ou outro.

Visualizando de outra maneira, o diagrama do Esquema 01 resume os quatro modos de ser e os processos envolvidos nessa transferência. 


ESQUEMA 01 [4]:  OS QUATRO MODOS DE SER E OS PROCESSOS ENVOLVIDOS.
FONTE: LÉVY, Pierre. O  que é o virtual. São Paulo: Ed. 34, 1996. p. 145.

A dialética do virtual e do atual, quando capturada pelo real, é reificada, objetivada, coisificada. Já o possível e o real retomados pelos processos de atualização e de virtualização, tornam-se subjetivados, onde:

O pólo do acontecimento não cessa de implicar o pólo da substância: complexificação e deslocamento dos problemas, montagem de máquinas subjetivantes, construções e circulações de objetos.  É desse modo que o mundo pensa dentro de nós.  Mas, em troca, o pólo da substância envolve, degrada, fixa, e se alimenta do pólo do acontecimento: registro, institucionalização, reificação.  (LÉVY, 1996, p.142).

Esse aspecto quádruplo que envolve os fenômenos é uma evidência, por si só, para desconfiar das teorias lingüísticas dualistas para estudo das linguagens, e sobretudo do conteúdo. O desvelar dos processos da ordem da matéria e do acontecimento, nas formas simbólicas, e a necessidade de compreendê-los traz à tona a importância dessa discussão.

Deleuze (1998, p.241) diz que o virtual é a característica da idéia.  Isso quer dizer que a existência, o pensamento são produzidos a partir dele e tal pensamento não remete à forma de identidade no conceito. Lembrando que a linguagem é a virtualização do pensamento, de modo que no virtual “a diferença e a repetição fundam o movimento de atualização, da diferenciação como criação, substituindo, assim, a identidade e a semelhança do possível”.

        

Portanto, distingue-se do possível, que é concebido como a imagem do real, e do real como a semelhança do possível. O real é a semelhança de um possível que foi encarnado em uma substância à semelhança de sua imagem, que a priori já tem uma “forma”, uma identidade no conceito (bom senso e senso comum).  Assim, o real está ligado às imagens identitárias de compreensão da linguagem e do mundo.

Apesar da linguagem ser em essência virtual, sua atualização se prende na correspondência da identidade fixa do significado ao seu significante. Na escrita, a diferenciação como criação parece não conseguir substituir a identidade e a semelhança do possível. Deleuze propõe, em toda a sua filosofia, pensar a diferença em vez de reduzi-la a uma identidade, maquinar o pensamento, através da linguagem, em vez de enxergá-lo como algo mais profundo.

Se aparentemente o diagrama apresentado parece apontar um dualismo entre o acontecimento e a substância, na verdade esconde uma profunda unidade entre ambos. Assim, os fenômenos que envolvem formas concretas e simbólicas fundem-se em processos, ora da ordem da seleção, ora da ordem da criação, ora da realização, sendo o ciberespaço o ambiente que  potencializa, sobretudo, os eixos inventivos da criação, dado que desloca as obras para um espaço desmaterializado, onde a atualização de textos/leituras volta sempre ao estado de virtualização.

No ciberespaço não só o texto é em essência virtual, mas o espaço de inscrição, ou seja, a mídia torna-se também virtual. O caráter virtual do texto, no hipertexto é elevado à  potência: linguagem e meio virtualizam-se.  Assim, “o texto é posto em movimento, envolvido em um fluxo, vetorizado, metamórfico,  estando mais próximo do próprio movimento do pensamento, ou da imagem que hoje temos dele.” (LÉVY, 2000, p.48).

Desse modo, a digitalização torna possível um imenso plano semântico, no sentido de Lévy  (várias obras) ou mil platôs, no sentido de Deleuze e Guattari (1995) acessível em todo lugar. Esse é o caráter da virtualidade do conhecimento e da informação, sempre em movimento, esperando a atualização e/ou virtualização.

Uma inferência já se pode fazer sobre as formas simbólicas do ciberespaço: são, em essência, metamórficas. Não se confinam em um fechamento físico da realização de uma forma, na fixidez temporal resultante do registro material, e sobretudo no fechamento semântico, normativo e editorial, estes dois últimos responsáveis pela normalização da forma [5].

O movimento das formas está sempre produzindo novas “dobras”, tanto entre os conteúdos, quanto do sentido, uma vez que não há delimitação entre a estrutura física e lógica, lembrando que a dobra é a continuidade do avesso e do direito, e o sentido se distribui dos dois lados, ao mesmo tempo.   Aliás, a bidirecionalidade é a encarnação do paradoxo do sentido no ciberespaço,  mas  a  dupla  direção  não  diz  respeito somente ao autor e leitor, mas a virtualização afeta as relações entre público e privado, próprio e comum, subjetivo e objetivo, mapa e território (LÉVY, 1996).

O hipertexto, nas redes digitais, está desterritorializado [6], graças aos  seus dispositivos, dentre  deles o link  que  faz a ligação de contexto entre os enunciados e os conteúdos,  estabelece o vínculo entre os vários nós, tornando o espaço (do ciberespaço) além de contínuo, contíguo também. Evidentemente, isso provocará uma mudança nas obras de representação do conhecimento.

Salienta-se ainda que, no sentido estritamente filosófico, toda forma simbólica, seja ela qual for, é em essência virtual. Confere à informação e ao conhecimento o caráter de virtualidade, uma vez que não se esgotam ou acabam quando são utilizados.  Não são bens de consumo meramente materiais, seu valor e inexorabilidade vêm da virtualidade, pois a escrita carrega esses atributos, como a não-presença, o desprendimento de um aqui-e-agora, entre o contexto de produção e recepção da mensagem.

As formas simbólicas, como “bens” virtuais apresentam-se em problema, abrem espaço à instauração do sentido, à resolução ou atualização do texto.  Entretanto, o pólo da realização é regido pela lei de exclusão mútua: ou…ou…  Não há como  realizar-se de duas maneiras diferentes e em dois lugares ao mesmo tempo. O impresso, ao apresentar a “obra acabada” elege uma possibilidade de realização, e a tradição hermenêutica encarrega-se de despontencializar o bem virtual do texto, uma vez que a atualização do mesmo deve atingir um denominador mental comum, ou seja, o sentido único.

Em outra palavras, retomando Deleuze (1998), embora a linguagem (mais especificamente a palavra) sendo instituída de virtualidade, possuindo portanto um alto nível de desterritorialização, ela acaba sempre fixando o significante (isto é, a palavra), assim que o significado não pára de deslizar-se sob a palavra, pois, ela acaba operando ao mesmo tempo todo um sistema de reterritorializações. Qualquer coisa pode fazer as vezes da reterritorialização, isto é, “valer pelo território perdido; com efeito, a reterritorialização pode ser feita sobre um ser, sobre um objeto, sobre um livro sobre o aparelho ou sistemas” ou mesmo sobre o significado, sobre o próprio significante, sendo que o regime significante faz operar todo um sistema de reterritorialização (DELEUZE; GUATTARI, 1997, v.5, p. 224).

No que isso implicaria? Implicaria que a virtualidade da linguagem, que tem o intuito de virtualizar o pensamento, ao ser capturada pelos registros atualizados, acaba gerando o já conhecido, tal é o problema da organização da linguagem e da atribuição da significação (porque o sentido é de outra natureza, está ligado à multiplicidade e não à totalização semântica).  Dessa maneira, o significante, para Guattari (1992) é um grande redutor da polivocidade expressiva, onde faz calar as virtualidades infinitas das línguas.

O ciberespaço proporcionará ao significante romper com as semiologias/semióticas lineares e binárias e instaurar novas linhas de fuga rizomáticas onde o sentido alonga-se, bifurca-se “n” vezes, nos pontos-signos de uma nova Semiótica. Não mais uma coisa ou outra, mas as duas direções, várias direções, unindo signos de sentido.

     

O que torna o ciberespaço diferente é que o texto atualiza-se em um hipertexto, lembrando, sem nunca perder seu potencial virtual. O hipertexto certamente não se trata do mesmo texto impresso, estático, linear, preso na materialidade do objeto. Ao que parece, dada a hibridização e virtualidade, tanto das linguagens, quanto do meio, o conhecimento produz signos que geram outros signos, mas estes não se tratam, obrigatoriamente, de significantes (no sentido restrito do termo).  Estamos rumos à construção da ideografia dinâmica (LÉVY, 1998a) onde novas simulações, novas representações, novos movimentos, ícones, narrativas se juntam nessa tarefa de produzir enunciados e sentido.

Ao utilizar o hipertexto, face às características do ciberespaço, com a interatividade (ou bidirecionalidade) e a virtualidade (que põe as formas simbólicas   em  um  espaço  e estado contínuos de modificação), efetua-se a virtualização ou hipertextualização, e a organização do conhecimento assim procede, não mais operada por uma “norma” ou sintaxe geral (calcada no significado). É essa a discussão que  interessa, para tanto as bases filosóficas do hipertexto encontram-se no conceito de “rizoma”, de Deleuze e Guattari (1995, v.1), onde serão detalhadas, a partir do próximo capítulo.

Já que estamos falando de uma pesquisa, iremos apresentar o nosso problema, objeto e a  hipótese de investigação (no sentido de premissa) antes dos pressupostos teóricos e dos resultados.

Assim, o nosso problema de pesquisa foi a desmaterialização das formas simbólicas, no ciberespaço, à organização clássica do conhecimento: como classificar e catalogar obras desmaterializadas? Já o nosso objeto específico foi a organização virtual do conhecimento no ciberespaço por meio da indexação realizada pelos buscadores ou sites de pesquisa na Internet  (Google, Yahoo!br e KaZaA), sendo a nossa hipótese formulada, de acordo com um aporte teórico, da linguagem, que apresentamos uma parte neste artigo, a saber:
 

Os indexadores (mecanismos de busca) da Internet, como modelo de organização do conhecimento, detêm os mesmos atributos do rizoma, operando na multiplicidade do sentido da representação hipertextual à recuperação da informação e do conhecimento, não incorrendo portanto,  no sentido único e na identidade fixa (elementos da doxa), ou seja, no fechamento semântico (do significado) da ecologia cognitiva da escrita e do códex, como também do fechamento físico das obras, que deram origem à referência fixa do conhecimento.

Continua:(http://petroleo1961.spaces.live.com/blog/cns!7C400FA4789CE339!1391.entry)

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ASPECTOS FILOSÓFICOS DO VIRTUAL E AS OBRAS SIMBÓLICAS NO CIBERESPAÇO 2

      

3. O Virtual e a Organização do Conhecimento no Ciberespaço

 

3.1 Os Elementos da Doxa e o Paradoxo do Sentido


De acordo com Monteiro (2002), o virtual também serve como base funcional ou operacional para dois aspectos (filosóficos) da escritura hipertextual que explicam, por sua vez, a organização virtual do conhecimento no ciberespaço: o paradoxo do sentido e o rizoma.

Para entender o paradoxo do sentido há a necessidade de saber que o mesmo tem como oposição a doxa, ou seja: bom senso e senso comum que devem ser explicados anteriormente, pois os mesmos estão constantes na organização clássica do conhecimento.  Assim, Deleuze, em sua obra “Lógica do Sentido” (1998) demonstra criticamente como o “bom senso” enquanto sentido único, e o “senso comum” como designação de identidades fixas, levam a identificar o sentido com a significação.

Esses dois aspectos da doxa, são assim explicados:  O bom senso é o sentido único, exprime a existência de uma ordem de acordo com a qual é preciso escolher uma direção e se fixar nela.  Então, o bom senso tende a caminhar sempre do singular ao regular, por isso mesmo o bom senso é, em essência, repartidor: de um lado e de outro, nunca em duas direções ao mesmo tempo.

Essa teoria do paradoxo do sentido, Deleuze a fez baseando-se em Alice, da história de Lewis Carroll.  O “País da Maravilhas” tem sempre uma dupla direção, como também ela é (Alice)  aquela que sempre perde a identidade, a sua, a das coisas, e a do mundo [7].

Exemplificando melhor a dupla direção, citamos Deleuze (1998, p.1) “quando digo ‘Alice cresce’, quero dizer que ela se torna maior que era. “Mas por isso mesmo ela também se torna menor do que é agora.  “Sem dúvida não é ao mesmo tempo que ela é maior ou menor. “Ela é maior agora e era menor antes.” Mas o fato de crescer, também a torna capaz de ficar menor, isto é, Alice não cresce sem a possibilidade de ficar menor, e inversamente.

A repartição implicada pelo bom senso defini-se precisamente como distribuição fixa ou sedentária. O bom senso é agrícola, pois visa à instalação de cercados, propriedades e classes.  Assim sendo, o bom senso desempenha papel capital na determinação da significação. Mas não desempenha nenhum na doação de sentido, porque o “bom senso vem sempre em segundo lugar, porque a distribuição sedentária que ele opera pressupõe uma outra distribuição, como o problema dos cercados supõe um espaço primeiro livre, aberto, ilimitado, flanco de colina ou encosta.”  (DELEUZE, 1998, p.79) [8].

O bom senso, além de determinar uma direção, isto é, o sentido único, ele determina antes de tudo o princípio de um sentido único geral, assim que, esse princípio faz com que escolhamos uma direção em preferência de outra.

Mas, escolher o outro sentido, não se trata de escapar do bom senso, pois o outro sentido seria ainda um senso único, uma vez que o paradoxo do sentido toma sempre os dois sentidos ao mesmo tempo, as duas direções ao mesmo tempo.

O paradoxo de  sentido, está em ir às duas direções ao mesmo tempo e tornar impossível uma identificação, colocando a ênfase ora num, ora noutro dos efeitos.  É  o que se irá definir como duplo  sentido, onde na verdade é a ruptura com a ecologia cognitiva da escrita no tratamento da informação.

Já o senso (sentido) comum não se diz respeito de uma direção, mas de um órgão, uma função, uma faculdade de identificação, que relaciona uma diversidade qualquer à forma do “mesmo”.  Isto quer dizer que o senso comum é a instância capaz de referir o diverso à forma de identidade de um sujeito, à forma de permanência de um objeto ou de um mundo. Assim, a linguagem opera por determinações de significação: manifesta pessoas e relaciona nomes, designa objetos, classes, propriedades, significados, segundo uma ordem fixa.

Dessa forma, a linguagem parece impossível fora do sujeito que se exprime ou se manifesta nela e ainda a linguagem não parece possível fora de tais identidades que designa. Entretanto, tais identidades levam sempre à significação nas proposições, porque a doação de sentido, segundo Deleuze (1998), precede todo bom senso e senso comum: representa os dois sentidos (as duas direções são possíveis)  ao mesmo tempo, o devir-louco, e o nome perdido (o não senso da identidade perdida, irreconhecível): eis o paradoxo do sentido.

Assim, o bom senso é a afirmação de que todas as coisas há um senso único, e por isso tem papel importante na determinação da significação.  Já o senso comum é designado por identidades fixas, isto é, a compreensão do mundo a partir de unidades estabilizadas do sentido.  Resumidamente, teríamos as IDENTIDADES FIXAS (bom senso) DO SENTIDO ÚNICO (senso comum), que no tratamento da informação transformou-se na REFERÊNCIA FIXA DO CONHECIMENTO, classificado, catalogado, etiquetado e armazenado, conforme nossa análise., no Quadro 03:

REFERÊNCIA FIXA

SENTIDO ÚNICO

IDENTIDADE ÚNICA

UNIVERSALIDADE

CLASSIFICAÇÃO
(conteúdo)

Reprodução do modelo hierárquico das classes, das estruturas da linguagem, da raiz como imagem da  árvore-mundo . Reprodução das relações ontológicas do conhecimento. Criação de  um sistema de classes fixas de assuntos, indicando que há um só sentido, uma  só classe a  ser adotada  para  o assunto.

A identidade do assunto, dos referentes ontológicos, baseia-se  na  unidade estabilizada  do
Conhecimento.

A  universalidade do conhecimento,  a  partir de  uma classe,  como extensão da  universalidade  das interpretações dos  textos, das ciências.  A classe, expressa  por  um significante, e transformada em  notação internacio- nal,  conferiu a  homogeneidade  onto-lógica  dos  referentes científicos.

INDEXAÇÃO
(conteúdo)

Reprodução da estrutura da linguagem,  por meio das instruções semânticas  que conferem o  fechamento
semântico, através do  significante fundador, que recolhe todos os conteúdos ou significados sob  o  termo adotado,  que  indica  o  sentido certo.

A identidade do assunto baseia-se na  unidade estabilizada da linguagem.

Criação e adoção de linguagens controladas em várias áreas do conhecimento humano: os tesaurus.

CATALOGAÇÃO
(forma)

Formação de  um  sistema  de descrição que confere  o  fechamento físico  das  obras,  que indica  uma  só  direção  a ser  tomada à  organização e à localização do conhecimento.

Identificação única da obra, por meio da catalogação, que atribui a identidade fixa de autores,  obras e assuntos, sob um número.

Criação e aplicação de normas e padrões internacionais de formatos de catalogação, conferindo universalidade à  identificação das obras.

QUADRO 03:  A REPRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO E A REFERÊNCIA FIXA DO CONHECIMENTO

 

O modelo  espelha o paradigma da escrita e a pragmática da organização do conhecimento, e tem como base filosófica os seguintes aspectos:

a) o sentido único do fechamento semântico das rubricas de assunto, na indexação, confirma o regime do signo significante da linguagem verbal escrita, juntamente com as classes fixas dos referentes ontológicos à semelhança da imagem árvore-mundo, confirmam, a propósito do bom senso,  que existe um só sentido a ser adotado (significado), bem como uma só direção a ser tomada para a armazenagem e recuperação do assunto;

b) a identidade única dada aos assuntos e à entrada do autor e obras  (expressa por um número de chamada), a propósito do senso comum como designação de identidades fixas;

c) a universalidade do conhecimento traduzida pela escolha de classes fixas do conhecimento, como extensão da universalidade das interpretações dos textos, também como reflexo da homogeneidade ontológica dos referentes científicos.

Já o “universal” é demonstrado por  Lévy (2000) como  parte integrante de uma ecologia cognitiva da tecnologia da escrita e dos textos impressos.  O sentido único e o domínio englobante do significado são partes constitutivas da escrita para garantir a mesma interpretação entre os atores da comunicação que estão em contextos separados. E a Biblioteconomia levou esse modelo, que propõe o fechamento semântico, até as últimas conseqüências. Mas se isso ocorreu, é porque a escrita assim o permitiu e permite até hoje pois, no regime significante do signo, a relação simples entre a palavra e a coisa, entre o significante e seu significado, permite tal agenciamento: é a base da representação (criticada por DELEUZE; GUATTARI, 1995, v.1), que permite o corte significante suprindo a ausência da coisa ou do autor, ou seja, a descontextualização entre a produção e recepção das obras.

    

O paradoxo do sentido diz  respeito à escritura hipertextual e é a base filosófica à compreensão da instauração do sentido e da indexação, no ambiente do ciberespaço. É uma nova maneira de produzir sentido e de buscar assuntos, mais livre, mais incerta.

A  identidade única assim como o sentido único do fechamento semântico são desmontados pelo paradoxo do sentido, pois é possível ir às duas direções (bidirecionalidade), assim como é impossível atribuir imagens identitárias clássicas construídas no ambiente da escrita.

Para Deleuze (1998, p.1), o paradoxo do sentido na linguagem é exemplificado de duas maneiras. Primeiro, pelo duplo sentido ou direção (contrariando o bom senso), já exemplificado pela Alice, e por sua vez explica o ciberespaço:  “pertence à essência do devir avançar, e puxar nos dois sentidos ao mesmo tempo.” No meio digital, esse paradoxo pode ser sentido entre o puxar e avançar da escrita/leitura, bem como não há o sentido único, o significado certo a ser instaurado ou utilizado na organização do conhecimento.

No segundo caso do paradoxo do sentido, diz respeito à identidade perdida (contra o senso comum), a impossibilidade de se atribuir a identidade única à Alice, assim como no ciberespaço não há referências (identidades) fixas do conhecimento, em que se possa atribuir uma estabilidade dos referentes ontológicos, tal como nas classes destinadas a esse objetivo, na pragmática da escrita.

O meio digital veio para demonstrar a tese que Deleuze já havia defendido somente no âmbito da linguagem. Os agenciamentos por ele identificados na instauração do sentido, na linguagem verbal escrita, só são sentidos agora, com a “desterritorialização” dos textos no ciberespaço, por isso mesmo o “virtual” é o principal atributo do ciberespaço, porque ele demonstra e faz possível identificar a escritura rizomática, no hipertexto, e o paradoxo do sentido da linguagem, que aqui é do meio (mídia) também, e todos esses elementos estão presentes na organização virtual do conhecimento.

A organização clássica do conhecimento, usa o esquema da Árvore de Porfírio, que tem como modelo e definição as dicotomias sucessivas, ordenando as idéias segundo sua compreensão crescente e extensão decrescente, relacionando de forma indistinta a realidade espiritual e a realidade natural.  Assim é o agenciamento da Árvore de Porfírio e da escrita: a subsunção da realidade natural (mundo) à realidade espiritual (livro) (FRAGOSO, 1997, p. 88).

No léxico do ciberespaço, especificamente na organização do conhecimento, percebeu-se que não há uma rubrica adotada como “certa” ou como sentido único à recuperação do conhecimento, por isso mesmo o significado (seja uma classe ou um descritor), como expressão única ou primordial, não desempenha papel principal na determinação da significação.

O ciberespaço está misturando as noções de unidade, de identidade e de localização, atributos relacionados à identidade única, à determinação de unidades estabilizadas do sentido por meio do senso comum. Todas essas implicações atingem diretamente à questão da identidade dos assuntos e da localização fixa  dos volumes ordenados em acervos fisicamente codificados, que no ciberespaço não existem.  Lévy (1996, p.25) afirma que as coisas só têm limites claros no real pois “a virtualização, passagem à problemática [caso do ciberespaço], deslocamento do ser para a questão, é algo que necessariamente põe em causa a identidade clássica, pensamento apoiado em definições, determinações, exclusões, inclusões” […].

Em suma, o paradoxo do sentido, na organização do conhecimento no ciberespaço, torna instável os principais atributos da doxa, o bom senso (sentido único) e o senso comum (identidade fixa), presentes na escrita e na representação da informação, ambas organizadas a partir de classes e categorias.

Não há também a universalização do conhecimento e de sua organização em  classes fixas, já que o virtual distribui o conhecimento em fluxo, uma vez que não há o fechamento físico das obras (exemplares etiquetados nas estantes), ou a realização de uma forma exclusiva.  A universalização, aqui, se dá pela livre distribuição do conhecimento e a conexão “todos-todos” no ciberespaço.

Continua:(http://petroleo1961.spaces.live.com/blog/cns!7C400FA4789CE339!1392.entry

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ASPECTOS FILOSÓFICOS DO VIRTUAL E AS OBRAS SIMBÓLICAS NO CIBERESPAÇO 3

 3.2 O Rizoma

 

FIGURA 01: PROGETTAZIONE DEL PERCORSO FORMATIVO
FONTE: TOZZI, Tommaso.  Rizomatica (od a radice). In: GRONCHI, Sandro. Progettazione del percorso formativo. Disponível em: <http://digilander.libero.it/ricercavisiva/articoli/progettazione%20percorso%20FORMATIVO.htm>

O rizoma é um novo tipo de escritura proposta por Deleuze e Guattari (1995, v.1). É a realização (no ciberespaço sempre tomada no pólo do virtual) da multiplicidade de signos, linguagens e sentidos: rizoma por oposição ao modelo de árvore.  Seria o novo paradigma de escrita que já está impondo uma nova pragmática de organização do conhecimento no ciberespaço.

Para falar sobre o rizoma voltamos à questão da árvore, uma vez que esta serviu não só como imagem mas como método de organização do conhecimento ou mesmo como modelo de episteme ocidental, posto que procedeu as divisões,  as hierarquias e as dicotomias. Basta lembrar da árvore definicional semântica de Aristóteles e de Porfírio, que deram origem às árvores do conhecimento, onde a lógica binária é a realidade da “árvore-raiz”.  Esse tipo de livro evoca a árvore, que é a imagem do mundo ou a raiz é a imagem da árvore-mundo, é o livro clássico, que detém a interioridade orgânica, significante e subjetiva.

Essa imagem da árvore-mundo[9] procede representando a realidade natural do gênero dividindo-o por meio de dicotomias, como uma raiz, até as espécies mais específicas, de modo que o livro como realidade natural é acolhido pelo livro como realidade espiritual, sendo o livro a imagem do mundo. É o pensamento clássico, com suas estruturas que reduz as leis de combinação, de conexão levando às classificações intermináveis, via de regra binárias de oposição, presas à raiz ou à estrutura.

         

Assim o livro imita o mundo;  mas como a lei do livro, que é a da reflexão, do Uno que se torna dois estaria no mundo, na natureza, que é  Una?  Certo é  que ela (a lei de uma lógica binária) preside a própria divisão entre mundo e livro, natureza e Arte.  “Um torna-se dois: cada vez que encontramos esta fórmula, mesmo que compreendida o mais ‘dialeticamente’ possível encontramo-nos diante do pensamento mais clássico e o mais refletido, o mais velho, o mais cansado.” (DELEUZE ; GUATTARI, 1995, v.1, p.13).

Acontece ter a natureza outra essência, ela não é binária, ela tem raízes pivotantes, com ramificação mais numerosa, lateral e circular, não dicotômica. Desse modo, Deleuze e Guattari  (1995, v.1) afirmam que o espírito é mais lento que a natureza. O livro como realidade natural deveria ser pivotante, rizomático, mas o livro como realidade espiritual (criação do espírito) insiste em desenvolver a lei do Uno, que se torna dois, o dois que se tornam quatro, etc.  O livro árvore ou raiz fixa um ponto, uma ordem, uma  estrutura a partir de onde deverá fixar o  sentido.  Assim é  com  a Lingüística, com o estruturalismo e todo pensamento que necessita de uma forte unidade principal para desdobrar-se em relações biunívocas, onde tal pensamento não compreende a multiplicidade.

O múltiplo “n” não se acrescenta uma dimensão superior, mas ao contrário, sua fórmula é n-1”, onde subtrai-se o único ou a singularidade da multiplicidade a ser constituída.  O um é múltiplo e não existe fora da multiplicidade a acolhê-lo, que poderia ser ilustrado com a seguinte proposição: “a vida é numericamente uma, mas formalmente múltipla (ONETO, 1997).   Este sistema é o RIZOMA, em que:

As multiplicidades são a própria realidade, e não supõem nenhuma unidade, não entram em nenhuma totalidade e tampouco remetem a um sujeito. As subjetivações, as totalizações, as unificações são, ao contrário, processos que se produzem e aparecem nas multiplicidades. Os princípios característicos das multiplicidades concernem a seus elementos, que são singularidades; e suas relações, que são devires; a seus acontecimentos, que são hecceidades (quer dizer, individuações sem sujeito); a seus espaços-tempos livres; a seu modelo de realização, que é o rizoma (por oposição ao modelo da árvore); a seu plano de composição, que constitui platôs (zonas de intensidade contínua); aos vetores que as atravessam, e que constituem territórios e graus de desterritorialização.  (DELEUZE;  GUATTARI, 1995, v.1, p.8,  grifos dos autores). Ou seja, a multiplicidade implica em um desenho rizomático de pensamento portanto, de produção do conhecimento e de escrita.  Assim, os Autores em “Mil Platôs’ (1995, v.1, p.15-seq.) enumeram as características do rizoma, cujas quais reproduziremos a seguir:

 

1ª e 2ª- Princípios de conexão e de heterogeneidade  

Qualquer ponto do rizoma pode ser conectado a qualquer outro (e deve sê-lo). É muito  diferente  da  árvore ou  da raiz que  fixam  um  ponto, uma ordem. […] Num rizoma, ao contrário, cada traço não remete necessariamente a um traço lingüístico: cadeias semióticas de  toda natureza são aí conectadas a modos de codificação muito diversos, cadeias biológicas, políticas, econômicas, etc., colocando em jogo não somente regimes de signos diferentes, mas também estatutos de estado de coisas. Os agenciamentos coletivos de enunciação funcionam, com efeito, diretamente nos agenciamentos maquínicos [de corpos], e não se pode estabelecer um corte radical entre os signos e seus objetos. […]  Um rizoma não cessaria de conectar cadeias semióticas, organizações de poder, ocorrências que remetem às artes, às ciências, às lutas sociais. (Grifos dos autores, p.15)

Especialmente esses princípios, parece-nos a apresentação do hipertexto onde a conexão se faz em qualquer ponto do sistema através de links, que ligam nós lingüísticos,  nós imagéticos, sonoros, híbridos (“modos de codificação muito diversos”) e que na conexão entre os vários agenciamentos não há como separar o objeto de seus signos, ou seja, não há fechamento físico, ou pacotes materiais de unidades semióticas delimitadas, tal qual o livro impresso, como também não há uma relação simples e mecânica entre as palavras e as coisas (do regime  significante do signo)  e  por isso mesmo é utilizado o termo “cadeias semióticas”.

O mundo virtual assim procede e torna possível a operacionalização dessa proposição, uma vez que as cadeias semióticas, de toda natureza, encontram-se no mesmo espaço e estado contínuos de modificação, quer seja, em fluxo, assim como no dispositivo informacional que Lévy (2000) apresentou para caracterizar o ciberespaço, permitindo as conexões entre os próprios signos e também entre os agenciamentos coletivos “todos-todos”, do dispositivo comunicacional do ciberespaço.

Prosseguindo com as características do rizoma, no que diz respeito à heterogeneidade da língua: Uma cadeia semiótica é como um tubérculo que aglomera atos muito diversos, lingüísticos, mas também perceptivos, mímicos, gestuais, cogitativos: não existe língua em si, nem universalidade da linguagem, mas um concurso de dialetos, de patoás, de gírias, de línguas especiais. Não existe locutor-auditor ideal, como também não existe comunidade lingüística homogênea.  A língua é, segundo uma fórmula Weinreich, ‘uma realidade essencialmente heterogênea.’ (apud DELEUZE; GUATTARI, 1995, v.1, p.16). Podem-se sempre efetuar, na língua, decomposições estruturais internas: isto não é fundamentalmente diferente de uma busca de raízes. Há sempre algo de genealógico numa árvore, não é um método popular. Ao contrário, um método de tipo rizoma é obrigado a analisar a linguagem efetuando um descentramento sobre outras dimensões e outros registros. Uma língua não se fecha sobre si mesma senão em uma função de impotência.

Novamente vemos as características do hipertexto, onde a língua não se fecha nos aspectos verbais do significante, pois se quer heterogênea, se quer híbrida, descentrando do verbalismo e do logocentrismo da linguagem verbal escrita e abraçando outras dimensões, outros códigos, outros sentidos, levando os textos à pluritextualidade e à conseqüente multisemiose, quer seja, à multiplicidade. Nesse ambiente, como é possível totalizar o sentido no significado?

3º- Princípio de multiplicidade  

É somente quando o múltiplo é efetivamente tratado como substantivo, multiplicidade, que ele não tem mais nenhuma relação com o uno como sujeito ou objeto, como realidade natural ou espiritual, como imagem e mundo: como o caso da unidade-pivô que funda um conjunto de relações biunívocas entre elementos ou pontos subjetivos, ou o Uno que se divide segundo a lei de uma lógica binária da diferenciação no sujeito. As multiplicidades são rizomáticas e denunciam as pseudomultiplicidades arborescentes. […] Uma multiplicidade não tem nem sujeito nem objeto, mas somente determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem que mude de natureza.[…]  Poder-se-ia objetar que a multiplicidade reside na pessoa do autor que a projeta no texto.  Seja, mas suas fibras nervosas formam por sua vez uma trama. […]  Um agenciamento é precisamente este crescimento das dimensões numa multiplicidade que muda necessariamente de natureza à medida que ela aumenta suas conexões.  Não existem pontos ou posições num rizoma como se encontra numa estrutura, numa árvore, numa raiz. Existem somente linhas: linha abstrata, linha de fuga ou de desterritorialização segundo a qual elas mudam de natureza ao se conectarem às outras, assim as multiplicidades se definem pelo fora. (DELEUZE;  GUATTARI, 1995, v. 1,  p. 16-17, grifo nosso).

Observa-se que as linhas em que os Autores falam não são lineamentos ou linearidades do tipo arborescente, ou seja, ligações localizáveis entre pontos e posições, mas conexões que se dão em qualquer parte do sistema (como no primeiro princípio) para signos polivalentes, polifônicos, plurais, de modo  que o ideal de um livro seria expor, na mesma página, “acontecimentos vividos, determinações históricas, conceitos pensados, indivíduos, grupos e formações socais” (p.18) e acrescentaria ainda, vários signos.

       

A multiplicidade é um conceito-chave filosófico e precioso para explicar o desenho dessa nova escritura do conhecimento, ou seja da rede: não há centro de significância (conforme a ruptura a-significante infracitada), não há estruturas que se dividem hierarquicamente por meio do pensamento dipolo.  Aqui lembramos do paradoxo do sentido, que afeta também o público e o privado, o singular e o múltiplo, o formal e o informal, a ciência e o popular: é possível ir às duas direções ao mesmo tempo ligando contextos múltiplos de criação e múltiplos sentidos.

Já a conexão é a peça chave da multiplicidade, lembrando que o livro rizomático é um agenciamento em conexão com outros agenciamentos, outras multiplicidades, sendo o virtual (digital) o dispositivo necessário para que tal distribuição de escritura possa existir, sem perder sua potência ao realizar-se, porque não se realiza na exclusão mútua ou…ou…., ou seja, não elege uma possibilidade de realização.

Mais uma vez vemos os nós de signos plurais dessa escritura (sistemas semióticos ou regime de signos), formando os agenciamentos coletivos de enunciação – o hipertexto – conectando-se, por meio de links, aos agenciamentos maquínicos de corpos, que são os sistemas físicos ou de conteúdo, portanto pragmáticos, pois implicam em contextos de produção, acontecimentos, tecnologias como as mídias digitais e virtuais, constituindo a máquina abstrata, que é o ciberespaço, onde se dá  o pico de desterritorialização dos agenciamentos.

4º- Princípio de ruptura  a-significante

Contra os cortes demasiado significantes que separam as estruturas, ou que atravessam uma estrutura.  Um rizoma pode ser rompido, quebrado em qualquer lugar, e também retoma segundo uma ou outra de suas linhas e segundo outras linhas. […] Todo rizoma compreende linhas de segmentariedade segundo as quais ele é estratificado, territorializado, organizado, significado, atribuído, etc.; mas compreende também linhas de desterritorialização pelas quais ele foge sem parar. Há uma ruptura no rizoma cada vez que linhas segmentares explodem numa linha de fuga, mas a linha de fuga faz parte do rizoma.  Estas linhas não param de remeter uma às outras. É por isso que não se pode contar com um dualismo ou uma dicotomia, nem mesmo sob a forma rudimentar do bom e do mau.  Faz-se uma ruptura, traça-se uma linha de fuga, mas corre-se sempre o risco de reencontrar nela organizações que reestratificam o conjunto, formações que dão novamente o poder a um significante, atribuições que reconstituem um sujeito. […] Os esquemas de evolução não se fariam mais somente segundo modelos de descendência arborescentes, indo do menos diferenciado ao mais diferenciado, mas segundo um rizoma que opera imediatamente no heterogêneo e salta de uma linha já diferenciada a uma outra.  Comunicações transversais entre linhas diferenciadas embaralham as árvores genealógicas.  […] O rizoma é uma antigenealogia. (DELEUZE; GUATTARI, 1995, v. 1, p.18-20).

A ruptura a-significante poderia ser metaforicamente comparada ao “jump“, ao salto de um link ao outro, de um nó de signos plurais aos outros, numa distribuição randômica, não mais pela descendência, pela hierarquia com seu modelo dicotômico ou de raiz que distribui o conhecimento do gênero até as espécies, do menos diferenciado ao mais diferenciado, como na árvore como imagem do mundo de Porfírio.

É a mesma coisa quanto ao livro e ao mundo: o livro não é a imagem do mundo segundo uma crença enraizada.  Ele faz rizoma com o mundo, há evolução a-paralela do livro e do mundo, o livro assegura a desterritorialização do livro, mas o mundo opera uma reterritorialização do livro, que se desterritorializa por sua vez em si mesmo no mundo (se ele é disto capaz e se ele pode). […]  Conjugar os fluxos desterritorializados. Seguir as plantas: começando por fixar os limites de um primeira linha segundo círculos de convergência ao redor de singularidades sucessivas; depois, observando-se, no interior desta linha, novos círculos de convergência se estabelecem com novos pontos situados fora dos limites e em outras direções.  Escrever, fazer rizoma, aumentar seu território por desterritorialização, estender a linha de fuga até o ponto em que ela cubra todo o plano de consistência em uma máquina abstrata. (DELEUZE; GUATTARI, 1995, v.1, p.18-20, grifo nosso).

5º e 6º – Princípio de cartografia e de decalcomania  

Um rizoma não pode ser justificado por nenhum modelo estrutural ou gerativo.  Ele é estranho a qualquer idéia de eixo genético ou de estrutura profunda.  Um eixo genético é como uma unidade pivotante objetiva sobre a qual se organizam estados sucessivos; uma estrutura profunda é, antes, como uma seqüência da base decomponível em constituintes imediatos, enquanto que a unidade do produto se apresenta numa outra dimensão, transformacional e subjetiva. Não se sai, assim, do modelo representativo de árvore ou da raiz-pivotante ou fasciculada (por exemplo, a “árvore” chomskyana associada à seqüência de base, representando o processo de seu engendramento segundo uma lógica binária). Variação sobre o mais velho pensamento. Do eixo genético ou da estrutura profunda, dizemos que eles são antes de tudo princípios de decalque, reprodutíveis ao infinito. Toda lógica da árvore é uma. […] Vejam a Psicanálise e a Lingüística: uma tirou decalques ou fotos do inconsciente, a outra, decalques ou fotos da linguagem, com todas as traições que isto supõe (não é de espantar que a Psicanálise tenha ligado sua sorte à da Lingüística). (DELEUZE; GUATTARI, 1995, v.1, p.2, p.23, grifo nosso).

   

   

Precisamos ver o outro modelo (segunda figura) de árvore, a raiz fasciculada ou pivotante, que segundo os Autores, a modernidade se vale de bom grado.  É uma falsa representação de rizoma  porque a multiplicidade se encontra presa numa estrutura, de modo que a maior parte dos métodos modernos para fazer proliferar séries ou para fazer crescer uma multiplicidade valem perfeitamente numa direção: linear.

Guattari (1992) já havia observado que o significante estruturalista é sempre sinônimo de discursividade linear. O que é um livro senão manchas de significantes, representando um modelo de ciência raiz, hierárquica (método dicotômico) reproduzindo a linearidade da linguagem que por sua vez se reflete no pensamento científico? Já havíamos denunciado as classificações intermináveis que o sistema binário científico procede nas ciências e no estruturalismo. É o que os  Autores  chamam de “reprodução.

Tal método nada mais faz que não seja reproduzir o já existente, mesmo que com variações e avanços científico e teórico, é o velho pensamento “dipolo” o Uno-dois  persistindo na linguagem e claro, nas ciências, uma vez que não se faz ciência sem linguagem, portanto representada em livro, pelo menos na impressão. Nesse sentido, o significante nos faz acreditar na homogeneidade ontológica dos referentes escriturais e científicos, que reproduzimos na organização do conhecimento.  

A árvore articula e hierarquiza os decalques, os decalques são como folhas da árvore. Diferente é o rizoma, mapa e não decalque (grifo dos Autores).  Fazer o mapa, não o decalque. […] Ele contribui para a conexão dos campos, para o desbloqueio dos corpos sem órgãos, para sua abertura máxima sobre um plano de consistência.  Ele faz parte do rizoma.  O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente.  Ele pode ser rasgado, revertido, adaptar-se a montagens de qualquer natureza, ser preparado por um indivíduo, um grupo, uma formação social.  Uma das características mais importantes do rizoma talvez seja a de se ter múltiplas entradas. […] Um mapa tem múltiplas entradas contrariamente ao decalque que volta sempre ao ‘mesmo’. Um mapa é uma questão de performance, enquanto que o decalque remete sempre a uma presumida ‘competência’. (DELEUZE; GUATTARI, 1995, v.1, p.21-22,  grifo nosso).

Seria possível que os Autores pudessem antever com tanta similitude os hipertextos na web?  Aqui até o nome “mapa” é predito, como  os mapas de navegação dos sites. No ciberespaço, os hipertextos e sites se sucedem, não por hierarquias ou decalques, mas por várias entradas, por mapas que desenham ou representam a “multiplicidade”, sendo a web-page uma singularidade dessa multiplicidade, ou o n-1 de um site, e o site, por sua vez, uma singularidade do ciberespaço.  Não seria esta a fórmula do rizoma?

As várias entradas não seriam os vários links possíveis à conexão de uma página? É sempre possível “entrar” ou “saltar” de uma página, não somente pelo significante (por isso o significante linear e estruturalista da escrita impressa é colocado em questão no ciberespaço) mas por nós de semióticas gestuais, imagéticas e sonoras, que “retomam sua liberdade na criança e se libertam do decalque, quer dizer, da competência dominante da língua do mestre.”(DELEUZE; GUATTARI, 1995, v.1, p.25).  Um traço provoca uma sinestesia, um jogo de imagens (do pensamento) em que nada lembraria uma escrita, por isso mesmo A HEGEMONIA DO SIGNIFICANTE DEVE SER RECOLOCADA EM QUESTÃO NO RIZOMA.  

Estamos cansados da árvore. Não devemos mais acreditar em árvores, em raízes ou radículas, já sofremos muito. Toda a cultura arborescente é fundada sobre elas, da biologia à lingüística. […] O pensamento não é arborescente e o cérebro não é uma matéria enraizada nem ramificada. […] Muitas pessoas têm uma árvore plantada na cabeça, mas o próprio cérebro é muito mais uma erva do que uma árvore. […] A árvore ou raiz inspiram uma triste imagem do pensamento que não pára de imitar o múltiplo a partir de uma unidade superior, de centro ou de segmento. Os sistemas arborescentes são sistemas hierárquicos. […] É curioso como a árvore dominou a realidade ocidental e todo o pensamento ocidental, da botânica à biologia, a anatomia, mas também a gnoseologia, a teologia, a ontologia, toda a filosofia…: o fundamento-raiz. (DELEUZE; GUATTARI, 1995, v. 1, p. 25-26,28).

 

Continua:(http://petroleo1961.spaces.live.com/blog/cns!7C400FA4789CE339!1394.entry)

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ASPECTOS FILOSÓFICOS DO VIRTUAL E AS OBRAS SIMBÓLICAS NO CIBERESPAÇO 4

      

Após apresentar os princípios do rizoma, e relacioná-los com o hipertexto, como nova forma de representação do conhecimento, iremos fazê-lo com relação aos mecanismos de busca no ciberespaço, isto é, como forma de organização virtual do conhecimento.

(1º) conexão:  a possibilidade de conectá-lo em qualquer ponto do sistema, diferentemente da árvore ou raiz onde as conexões possíveis se dão hierarquicamente, por meio de um centro de significância. Como o conhecimento  está configurado no ciberespaço em forma de rede, assim também os serviços de pesquisa comportam-se nos resultados retornados, e de pronto, ter acesso aos mesmos na íntegra.  Escapa do fechamento físico das obras e do paradigma da materialidade e da noção de acervo ou armazenagem do conhecimento.  Aqui as formas simbólicas encontram-se em fluxo, em estado contínuo e contíguo no mesmo espaço semântico/semiótico.

(2º) heterogeneidade: os traços conectados não se dizem respeito somente aos significantes (palavras), mas regimes de signos muito diferentes.  O resultado de busca pode aparecer sob várias linguagens, imagens, textos, músicas, ilustrando a descentralização do verbalismo na organização do conhecimento no ciberespaço,como por exemplo o KaZaA que busca e compartilha multimídia, ou mesmo o Google que busca o conhecimento diretamente por imagens (ícones).

(3º)  multiplicidade:  não é um múltiplo que se deriva do Uno e nem ao qual o Uno se acrescentaria (n+1), mas o Uno é sempre subtraído dele (n-1).  Como ele não possui estrutura, porque não advém do Uno-dois, ou seja, do pensamento dipolo e de suas relações binárias e dicotômicas, o múltiplo possui n dimensões, com suas linhas de fuga e de desterritorialização.  A multiplicidade é, sobretudo em seu sentido filosófico, a produção do conhecimento (e da escrita) que favorece uma topologia das multiplicidades,  em forma de “diagrama” e não uma  raiz ou estrutura. Assim procede o sentido no léxico utilizado à recuperação da informação, que revela a multiplicidade de conteúdos na Internet e ao mesmo tempo a impossibilidade do fechamento semântico do conhecimento. No ciberespaço não há centro de significância estruturado, hierarquizado, linear, ou instrumentos de organização do conhecimento que reproduzem o modelo de significância, sentido único e referência fixa.

(4º) a-significante: assim sendo, não existe então um sistema centrado de significância, o rizoma é a-centrado, não hierárquico e não significante, por isso mesmo, onde não tem começo ou fim, mas sempre um meio pelo qual ele cresce e transborda, não precisando do “corte significante”: quando se utiliza CASA, CASAS, HOUSE… na recuperação da informação, não há um centro de significado, ou significância expresso em um só termo autorizado utilizado à busca.  Todos os termos são possíveis.  A ruptura a-significante não opera mais do menos diferenciado ao mais diferenciado, dos gêneros às espécies, do geral para o específico (lógica formal de organização do conhecimento), como nas classificações hierárquicas, mas por meio de linhas de fuga, pelo meio, aqui e ali, o léxico comporta-se assim.

(5º) cartografias:  o rizoma não tem centro, hierarquia e corte significante, então, suas ligações ilustram um mapa, e como tal possui várias entradas onde seu sentido dar-se-á por meio de cartografias. “Mover”, essa é a função da desterritorialização, sair e entrar, sem começo ou fim, tudo parece ser pego pelo “meio”. Isso posto, os serviços de busca ou pesquisa devem ser considerados como ferramentas de cartografia a serviço do leitor ou usuário que fará, por si só, suas ligações de contexto, seu próprio mapa cognitivo.

(6º) decalcomania: contra também aos cortes significantes que levam à redundância do significante, à reprodução, à decalcomania.  Assim, o livro (impresso) é um decalque, “decalque dele mesmo, decalque do livro precedente do mesmo autor, decalque de outros livros sejam quais forem, decalque interminável de conceitos e palavras bem situados, reprodução do mundo presente, passado ou por vir.” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, v.1, p.36).  Já o rizoma não é objeto de reprodução, nem externa como a árvore-mundo, nem interna como a estrutura-árvore, porque o mesmo não tem centro, hierarquia e corte significante. A multiplicidade e as várias possibilidades de tratamento da informação no ciberespaço ilustram que não há uma maneira correta de organização do conhecimento que deva ser empregada e reproduzida pelos outros sistemas para tentar atingir a “universalidade”

   

5. Principais Resultados

O virtual torna possível a conjunção e…e… das obras e da busca conceitual dessas obras no ciberespaço, ao contrário do real, onde as coisas têm limites claros, classes e propriedades, sendo que o potencial de realidade é regido pela lei de exclusão mútua (ou realização exclusiva) ou…ou…  Não há como se realizar de duas maneiras diferentes, isso porque apenas uma possibilidade é eleita à realização de uma forma.

No Quadro 04, o real não está sendo questionado como oposto de virtual (que tem este último seu pólo de oposição no atual) mas ressaltando o real como oposição do possível, que elege apenas uma forma de realização. Ao mesmo tempo ilustra o real tomado no pólo do atual (real-atual), em que a função da interpretação, do fechamento semântico imposto pelo significado e também pela  condição de territorialização (fixação) dos signos (fechamento físico), serve de oposição à realidade virtual que opera a desterritorialização da obras no ciberespaço.

Poder-se-ia esquematizar os agenciamentos desenvolvidos em ambos ambientes,  a partir de nossas conclusões, da seguinte forma:

 

PÓLO
TECNOLOGIAS

REAL-ATUAL
Realização de uma forma

REAL-VIRTUAL
Virtualização das formas

FORMA
IMPRESSA

Fechamento semântico (significado)
Fechamento físico (volume)

 

FORMA
HIPERTEXTUAL

 

Não fechamento semântico (sentido)
Não fechamento físico (ciberespaço)

QUADRO 04:  O REAL  E O VIRTUAL NOS AGENCIAMENTOS DAS FORMAS SIMBÓLICAS

 

Assim, mediante ao estudo do virtual, do paradoxo do sentido e do rizoma na organização do conhecimento no ciberespaço, a partir dos mecanismos de busca (indexadores) pesquisados (Google, Yahoo! br e KaZaA), apresentamos alguns dos principais resultados da pesquisa:
 

A) O VIRTUAL COMO  BASE FILOSÓFICA :

Do ponto de vista FILOSÓFICO  torna possível a virtualização da formas simbólicas a conjunção e…e… contra a realização de uma forma:

* existe uma  dissolução da forma estável e constante em benefício das diferenças da dinâmica, do fluxo.

B) O VIRTUAL COMO BASE FUNCIONAL OU OPERACIONAL:

Do ponto de vista FUNCIONAL opera os atributos do rizoma e o paradoxo do sentido desmontando a referência fixa do conhecimento:

*  as modalidades maquínicas escapam à mediação significante  e não se submetem a nenhuma sintaxe geral;

*  contra as imagens identitárias clássicas da cultura do impresso, o ciberespaço é uma maneira mais livre, mais aberta de organização do conhecimento.

C) A DESTERRITORIALIZAÇÃO DA BIBLIOTECA E A DESMATERIALIZAÇÃO DAS FORMAS SIMBÓLICAS (ESTA ÚLTIMA, PROBLEMA DE TESE), AMBAS POSSÍVEIS PELA VIRTUALIZAÇÃO, PÕEM EM QUESTÃO A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO, TANTO DE BIBLIOTECÁRIOS E DOCUMENTALISTAS, QUANTO DE LEITORES E PESQUISADORES:

Do ponto de vista da ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO:

*  a indexação não se submete a nenhuma sintaxe geral e pré-definida a ser adotada;

*  não há a noção de armazenagem do conhecimento, dada a desterritorialização e desmaterialização das formas simbólicas no ciberespaço;

*  não se pode mais estabelecer o corte radical, seja físico ou semântico, entre os signos e seus objetos, uma vez que os agenciamentos de enunciação funcionam diretamente nos agenciamentos  de conteúdo no espaço virtual.

Do ponto de vista dos LEITORES:

*  a aprendizagem do uso de estratégias de busca, visando ao refinamento na pesquisa, por meio da sintaxe e do uso dos operadores lógicos mais apropriados;
*  a construção de uma cartografia própria de conhecimento, acostumando a tomar os “objetos” de conhecimento pelo meio, sem um centro de significância que dita as hierarquias.

    

6. Conclusão

Desse modo, o paradoxo do sentido desmontando os elementos da doxa, torna instável a referência fixa do conhecimento, que no modelo da escrita era obtida pela classificação/ indexação e catalogação.  Noções de identidades fixas (senso comum) e de sentido único, seja direção, seja significado (bom senso), não são o fundamento filosófico das formas simbólicas no ciberespaço, bem como de organização do conhecimento operado nas mesmas, onde a classificação e a catalogação perdem sua auto-referência.  Tais métodos e técnicas também refletem o paradigma da representação do conhecimento da escrita de outra maneira: o pensamento dicotômico forma (catalogação) x conteúdo (classificação), conforme o Quadro 03, sendo que no ciberespaço temos uma representação do conhecimento diagramado em rede, que escapa das mediações significantes e estruturalistas, como também a noção de “forma” dentro dessa dicotomia desaparece, uma vez que os registros estão lá desmaterializados.

Os princípios do rizoma demonstram que os mecanismos de busca, tal como a escritura hipertextual, possuem atributos que desmontam o modelo linear, arborescente, hierárquico e estruturalista da escritura impressa, quer seja do significante, da representação objetal, dos predicados de Aristóteles, imprimindo outro modelo e agenciamentos.  A árvore como  imagem do mundo, a realidade espiritual organizada ontologicamente por meio das estruturas arborescentes, as árvores de conhecimentos, como nas classificações, ou ainda dentro da própria estrutura da linguagem, como nos tesaurus, não encontram um terreno fértil e estável no ciberespaço, que é em essência, movediço, sendo que a função da desterritorialização (4º aspecto do agenciamento, da teoria de DELEUZE; GUATTARI, cf. nota 6) é o movimento, por isso mesmo, não há como estabelecer  referências “fixas” do conhecimento.

Assim, descartamos a classificação e a catalogação como ferramentas de organização do conhecimento no ciberespaço. O modelo rizomático, com suas conexões e sua multiplicidade, impõe um outro paradigma, uma outra pragmática, que leva à instauração do sentido e a outro tipo de organização do conhecimento. Em especial, contra o significado, contra os fechamentos significantes, temos no modelo rizomático o princípio a-significante expresso pela indexação flexível dos mecanismos de busca, que na organização do conhecimento, nos diz que não há apenas um rubrica certo à organização do conhecimento. São várias as linhas de fuga, no ciberespaço, que tornam impossível as dicotomias que levam à divisão dos centros de significância, por isso mesmo, a-significante.

A indexação na Internet, como modelo possível de organização do conhecimento, sem o fechamento semântico das linguagens documentárias e atuando diretamente na linguagem natural, é uma tarefa gigantesca, posto que essa organização é “relativa” e nem sugerimos, em momento algum, que seja absoluta, trata-se apenas de entendê-la como tratamento da informação.  Mas, por outro lado, temos sido privilegiados por novidades, serviços que se aperfeiçoam, flexibilizam-se, mediante as nossas necessidades de conhecimento e informacionais, mecanismos de busca poderosos e flexíveis, na especificação de argumentos de pesquisa e que permitem realizar pesquisas com um bom nível de controle.

   

A virtualidade vem para atualizar toda a pragmática anteriormente formulada na escrita, e mesmo que se repitam práticas e formas desenvolvidas para a escrita, a plasticidade do ciberespaço tende a complexificar tais modalidades, uma vez que é impossível impor a dinâmica do real, dos fechamentos e da referência fixa nesse ambiente movediço, desterritorializante em essência (porque é virtual).     

Nesse contexto, o virtual como base filosófica e funcional, tem papel fundamental para obter a compreensão da falta de fechamento semântico do léxico na indexação no ciberespaço (a questão do sentido x significado), bem como  a falta de fechamento físico ( a questão da não realização de uma forma, “a obra acabada”), isto é, da desmaterialização, da desterritorialização, ambas possíveis pela virtualização das formas simbólicas no ciberespaço.

Notas

[1] Resumo e divulgação da tese intitulada  “A Organização Virtual do Conhecimento no Ciberespaço: os agenciamentos do sentido e do significado”, em seus principais conceitos e resultados, defendida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica, PUCSP.

[2] Pierre Lévy (1996) notadamente baseou-se na filosofia de Deleuze (muitas vezes não citado) para escrever seu livro “O virtual”  bem como outros temas envolvendo a questão da linguagem.

[3] O conceito de ecologia cognitiva está ligado ao estudo das dimensões técnicas e coletivas da cognição, onde as tecnologias condicionam as formas de pensamento ou as temporalidades de uma sociedade (LÉVY, 1993).

[4] No primeiro quadro, o termo “potencial” foi substituído por “possibilidade”, para não gerar confusão com o potencial do virtual.

[5] Embora a padronização exista nas mídias digitais, visando a compatibilidade e conversão de dados e sistemas de informação, não se trata de maneira alguma do fechamento normativo das formas simbólicas, como no caso da normalização documentária.

[6] O conceito de desterritorialização pode ser entendido como movimento,  fluxo, aquilo que não se fixa em um território, que não perde a sua virtualidade. Teoricamente, em Deleuze e Guattari (Mil Platôs, 5 v.) é o quarto elemento do diagrama (contra a estrutura) da linguagem, sendo o primeiro elemento a expressão, o segundo o conteúdo e o terceiro o território.

[7] Questão da identidade perdida: “Quem é você? Perguntou a Lagarta. “Alice respondeu, meio encabulada: “eu.. .nem sei, Sir, neste exato momento … pelo menos sei quem eu era quando me levantei esta manhã, mas acho que já passei por várias mudanças desde então.” […] “Receio não poder me explicar, respondeu Alice, porque não sou eu mesma, entende?” (Carroll,  Alice:  Alice no país das maravilhas, 2002, p.45).  Questão das duas direções:  Nessa história, Alice tem a capacidade de crescer e diminuir sucessivamente com a ingestão de um cogumelo, isto é, ir às duas direções,  e quando se diz  “ao mesmo tempo” quer dizer que ela não tomava apenas uma direção, como o fazemos nas interpretações e na fixação do significado, mas as duas.  Essa questão é mais profunda em “Alice através do Espelho”  onde Carroll brinca com a imagem especular invertida de qualquer objeto assimétrico.  Quer dizer, num espelho todos os objetos assimétricos (que não se sobrepõem em suas imagens especulares) ficam ao contrário.  Assim a proposição “ir às duas direções ao mesmo tempo” ganha sua real potencialidade, onde Alice caminhava para trás para chegar à frente, pois as direções frente e trás são invertidas quando se caminha em direção a um espelho, movendo a imagem oposta. (Carroll, Alice:  Alice através do espelho, 2002).

[8] Deleuze (1998) quer dizer que o significado pressupõe o fechamento semântico, o cercado, a classe, próprios da interpretação das disciplinas hermenêuticas.  O  significado é operado por uma correspondência objetal e linear, isto é, nome/objeto, significante/significado, sendo que o sentido escapa dessas mediações redutíveis.

[9] A imagem da árvore, como representação da estrutura organizativa do mundo real, embora sugerida no século III por Porfírio, materializou-se no pensamento filosófico talvez por inspiração religiosa, na retomada dos autores clássicos, como Aristóteles, pelos medievais. Essa imagem remonta na Bíblia, especialmente no livro de Gênesis que descreve a criação do mundo, onde no Jardim do Éden o “Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência e do mal.”  Mais adiante, Deus ordenou que não se comesse da árvore do bem e do mal, e foi justamente dessa árvore que Eva comeu, e como castigo (sem cometer nenhuma heresia) fomos condenados a ter uma episteme dicotômica e fomos expulsos do paraíso  (Gn. 2, 9).  A  metáfora da árvore, segundo Burke (2003, p. 82) era utilizada, na Idade Média, para visualizar a organização do conhecimento. “Além de árvores do conhecimento como a Arbor scientiae, de Raimundo Lúlio, escrita por volta de 1300, mas reeditada diversas vezes no período, havia árvores da lógica (a chamada ‘Árvore de Porfírio’), árvores da consagüinidade, árvores da gramática, árvores do amor, árvores das batalhas e até uma árvore dos jesuítas (com Inácio na raiz).”  Assim, a árvore lógica de Porfírio (assim chamada porque baseada na lógica clássica aristotétlica) e as árvores de conhecimento, dividindo as disciplinas, constituem-se a base lógico-filosófica da indexação e da classificação, respectivamente, sobretudo na distribuição dos nomes (substâncias) do gênero à espécie, método que consiste na compreensão crescente e extensão decrescente, como também nas categorias, que fornecem a orientação lógico-espaço-temporal às palavras na ordenação dos termos na indexação pré-coordenada.

Referencias Bibliográficas

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BURKE, Peter.  Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot.  Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

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LÉVY, Pierre.  Cibercultura.  São Paulo: Ed. 34, 2000.

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MONTEIRO, Silvana Drumond.  A organização virtual do conhecimento no ciberespaço: os agenciamentos do sentido e do significado. 2002. 267 f.  Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2003.

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Sobre a autor / About the Author:

Silvana Drumond Monteiro
drumond@sercomtel.com.br

Professora Adjunto do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina
Mestre em Biblioteconomia pela PUCCAMP
Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUCSP.

 

Fontepesquisada:( http://www.dgz.org.br/dez03/Art_05.htm

POSTED BY SELETINOF 5:50 PM 

 

 

MY GIRL – THE TEMPTATIONS

 
 
POSTED BY SELETINOF 6:25 PM 
 

NAZISMO: FENÔMENO PATOLÓGICO!!!

       

Jung interpretou o nacional socialismo como fenômeno patológico. Uma irrupção do inconsciente coletivo. “Wotan  havia tomado posse da alma do povo alemão. E quem é Wotan? É o deus pagão dos germânicos,  “um deus das tempestades e da efervescência, desencadeia paixões e apetites combativos”. Num ensaio publicado em 1936, Jung traça o paralelo entre Wotan redivivo e o fenômeno nazista. Wotan é uma personificação de forças psíquicas – corresponde a “uma qualidade, um caráter fundamental da alma alemã, um ‘fator’ psíquico de natureza irracionnal, um ciclone que anula e varre para longe a zona calma onde reina a cultura”. Os fatores econômicos e políticos pareceram a Jung insuficientes para explicar todos os espantosos fenômenos que estavam ocorrendo na Alemanha. Wotan reativado no fundo do inconsciente, Wotan invasor, seria explicação mais pertinente.

Fontepesquisada:(http://petroleo1961.spaces.live.com/blog/cns!7C400FA4789CE339!688.entry) 

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