Arquivo mensal: junho 2008

DICK E RICK HOYT (PAI E FILHO): SUPERAÇÃO COM DIGNIDADE!!!

    
 
 
Nada de COMPAIXÃO… só AMOR e DETERMINAÇÃO
… é tudo que precisamos na VIDA!
 
 
Rogério Fonteles Castro
 
 
POSTED BY SELETINOF 5:14 PM
 
 

EXATAS: POR QUE TANTA REPROVAÇÃO?

  

Difícil é fazer conta: Por que é quase impossível achar um aluno universitário da área de exatas sem um "reprovado"  no histórico ?

O estudante Jean Paul Schlegel, de 24 anos, mal havia começado o curso de Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Santa Catarina quando experimentou o sabor nada agradável da repetência. No primeiro semestre, Jean foi reprovado em duas disciplinas: Cálculo e Geometria Analítica. Segundo ele, o deslize nada tem a ver com a área de estudo que escolheu: foram problemas pessoais que atrapalharam seu desempenho. "O curso não chega a ser difícil. É preciso apenas tempo para estudar", sustenta. Hoje, no 9º semestre, Jean teve outras duas reprovações durante sua vida acadêmica – em Circuitos Elétricos e em Sistemas de Controle. Apesar dos percalços, ele se considera um bom aluno. "Dos 40 estudantes que entraram na minha turma, apenas três nunca foram reprovados", conta. Ou seja: cerca de 37 alunos em uma única classe tiveram de repetir disciplinas em algum momento do curso. E é claro que nem todos esses tropeços foram causados por problemas pessoais.

História bem diferente é a que conta Gabriela Floriani, 20 anos – aluna do 4º semestre na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Gabriela nunca foi reprovada – e, em seu curso, ela não é exceção. "Pouca gente rodou na minha turma. E quase todas as reprovações ocorreram por excesso de faltas", relata. Para Gabriela, no entanto, o baixo índice de repetência não significa que o curso demande pouco estudo. "É impossível o aluno se sair bem no Direito sem muita dedicação", resume.

O histórico universitário de Jean e Gabriela ilustra uma realidade notória entre os estudantes do ensino superior: em geral, quem opta pelas ciências exatas é reprovado mais vezes que seus colegas das humanas. Um levantamento feito pela Universidade Federal do Paraná comprova essa discrepância. Após acompanhar o desempenho de seus estudantes entre 1992 e 2001, a instituição descobriu que, dentre as 10 mil disciplinas oferecidas, 263 reprovavam sempre mais de 70% da turma. "Cálculo e Genética lideram a lista das cadeiras que mais reprovaram alunos nesse período", revela Rosana Sá Brito, diretora do Núcleo de Acompanhamento Acadêmico da UFPR. "Algumas disciplinas humanas também entraram no páreo – por exemplo, da área de filosofia e das ciências sociais. Mas a maior parte integra o currículo das exatas."

  

Há muitas explicações possíveis para esse desequilíbrio histórico entre as duas áreas de conhecimento. Segundo Marlene Grilo, coordenadora de Desempenho Acadêmico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, faculdades como Matemática e Engenharia exigem mais raciocínio lógico de seus alunos – e, portanto, geram mais reprovação. Mas essa opinião está longe de ser unânime. "Raciocínio lógico é necessário em todas as disciplinas de curso superior, sem exceção", argumenta Rosana, da UFPR. Para ela, o que aumenta o índice de repetência nas matérias exatas pode ser a maneira como elas são lecionadas. "O método didático nesses cursos sempre foi mais rigoroso. Alunos que penam para se formar tendem a se tornar professores exigentes. Costuma-se ensinar do mesmo jeito que se aprende."

O economista e professor universitário Cláudio de Moura e Castro aponta outro fenômeno enraizado na cultura acadêmica: o alto índice de repetência é visto como sinal de qualidade na área das exatas. "Muitos acreditam que, se a disciplina não for difícil, então o professor é ruim", ressalta. Já em faculdades como Historia e Jornalismo, diz ele, não existe essa "cultura da reprovação". "Nas humanas, todo mundo é bonzinho e afetivo," brinca.

Raiz do problema – Outro fator que não deve ser ignorado é a discrepância entre o que se ensina na escola e o que se exige na universidade. "O ensino básico e médio no Brasil é muito ruim. Se a demanda na faculdade for alta logo no primeiro semestre, o aluno não tem como se adaptar", opina Rubens Sprada Mazza, coordenador do curso de Comunicação Social da UFPR. Os professores de cursos como Matemática e Física defrontam seus alunos com desafios mais altos do que eles estão preparados a enfrentar – e, quando a reprovação se torna contumaz, logo vem o desânimo e a evasão. Nessas faculdades, o número de estudantes em cada turma chega a cair para menos da metade entre o início do curso e os semestres finais. "Poucos alunos persistem – tão poucos que custaria menos ao Estado enviá-los a Harvard do que manter toda a estrutura do curso universitário", ironiza Castro. E contrapõe: "Nas humanas, ocorre o contrário: o grau de exigência está abaixo da capacidade dos estudantes".

Nem sempre, como mostra a Faculdade de Filosofia da UFRGS – cujo corpo docente faz questão de exigir muito de seus alunos já nos primeiros semestres. O rigor funciona como uma espécie de triagem: no final das contas, só permanece no curso quem está determinado a seguir a carreira. "Se os indecisos são aprovados com facilidade, a opção por mudar de rumo acaba sendo adiada", comenta Alfredo Storck, coordenador do curso. Uma pesquisa sobre o desenvolvimento vocacional dos universitários, que está sendo desenvolvida por Marucia Bardagi, doutoranda em Psicologia na mesma entidade, corrobora a opinião do professor. "Quando um universitário não é bem-sucedido, questiona-se se não teria sucesso em outra área", revela Marucia.

O exemplo da Filosofia da UFRGS coloca outro ponto em evidência: os diferentes níveis de cobrança observados em instituições públicas e privadas. "A repetência tende a ser menor em qualquer instituição paga", afirma Gustavo Ioshpe, economista e consultor do MEC. Se o curso for muito difícil, um grande número de pessoas pode largá-lo pela metade. E isso significa prejuízo financeiro – ou aumento de mensalidade para os alunos que ficam. Outro fator que diminui o número de reprovações nas faculdades particulares é o baixo índice de desistência: afinal de contas, poucos estudantes abandonam uma disciplina depois de terem pago a mensalidade. Universitários como Daniel Vidaletti, que cursa Administração com Ênfase em Análise de Sistemas na PUC-RS, têm um motivo extra para evitar a todo custo a reprovação. Vidaletti tem crédito educativo – e se for reprovado em mais da metade das disciplinas, perde o beneficio. "Além disso, se eu trancar ou abandonar uma disciplina, conta como reprovação", explica o aluno. A necessidade de prestar contas é um estímulo à responsabilidade.

  

Alívio para a nota vermelha.

Para evitar a reprovação em massa em alguns cursos de ciências exatas, a UFPR resolveu mudar o próprio mecanismo de ingresso nessas faculdades. No final do último ano, começou o primeiro "vestibular estendido" – adotado nos cursos de Matemática, Matemática Industrial e Estatística. Depois de fazer a prova tradicional sobre os conteúdos aprendidos durante o ensino médio, os candidatos terão de cursar durante um semestre as disciplinas básicas do curso superior – que são, por sinal, as que mais reprovam. Os estudantes que apresentarem as melhores notas nessas cadeiras serão selecionados para continuar na universidade.

O Departamento de Matemática da UFPR também criou ferramentas específicas para diminuir a repetência na cadeira de Cálculo – que é o verdadeiro bicho-papão dos estudantes de exatas. Agora, uma comissão determina quais conteúdos devem ser ministrados na disciplina e exige que todos os professores sigam as diretrizes. Cada tópico da matéria deve ser lecionado de acordo com um calendário detalhado. Além disso, a comissão elabora 40% dos problemas aplicados nas provas. "Criamos questões razoáveis, que exigem um conhecimento básico de cálculo. O aluno que estuda tem condições de resolvê-las", garante a professora Liliana Cumin, que integra a comissão. Além de proteger os alunos contra o excesso de cobrança por parte de alguns docentes, a iniciativa impede que o nível de exigência fique muito baixo. "Alguns professores aprovavam todo mundo", revela Liliana.

Revista Amanhã, janeiro/fevereiro de 2006
Simone Fernandes

 

POSTED BY SELETINOF 5:04 PM 

 

LA MATERIALIDAD DE LA CONCIENCIA

Fernando G. Toledo


La piedra de la discordia fue una frase: “La conciencia es producto de lo material”. ¿Qué tiene de escandalosa esa afirmación? Nada. Sólo algo que lo niegue podría ser hoy motivo de discusión. Y es que sobre todo a partir de los admirables avances en las ciencias neurológicas, la comprensión de la mente humana ha ido dilucidando muchos viejos enigmas. Y una de las hipótesis que ha desterrado es la de su “inmaterialidad”. No basta decir que la cuestión no nos soprende a los materialistas (que llevamos una ventaja: podemos dar pruebas de lo que afirmamos), pero sí a los dualistas, que postulan la existencia un alma espiritual y distinta del cuerpo físico.

A un visitante de Razón Atea, por ejemplo, la aserción le pareció osada, casi insultante. “¿Dónde están las pruebas de que la conciencia es algo material?”, desafió. Y le fueron ofrecidas las fuentes: investigaciones que muestran cómo va dilucidándose el mapa mental, siguiendo trabajos que llevan por lo menos tres décadas, y que dan cuenta de que nuestras ideas son producidas por el trabajo laborioso de nuestras neuronas. Nada fantasmal, nada que no salga de esa materialidad, subyace en esa abstracción que llamamos “conciencia”. Pero a nuestro comentarista no le bastó la prueba puntual, y contraatacó con opiniones. Opiniones respetables, claro: las de John Eccles, neurólogo, creyente, y premio Nobel de Medicina en 1973. A Eccles le parece que hay más, una especie de espíritu o alma que anida (¿cómo lo hará en algo material si no lo es?) en nuestras ideas. Las razones: que hay mucho que no conocemos. ¿Es eso una prueba? Claro que no. Lo que ignoramos es una exclusión, no una evidencia. Sin embargo, Eccles, sus seguidores y nuestro visitante, parecen sostener su creencia (“la conciencia es espiritual”) en cualquier pequeña hendija sin cubrir por la neurobiología.

Por si fuera poco, Eccles va más allá, y anuncia pomposamente que la evolución no explica todo, que ha de haber un diseñador trazando el camino de la vida y que, claro, la autoconciencia jamás será explicada materialmente. Una afirmación que a esta altura ya es tozuda, si ignora todas las explicaciones ya ofrecidas.

El desarrollo cerebral de la especie humana es nuestro logro evolutivo. Nuestro cuerpo no es ni tan fuerte, ni tan veloz, ni tan ágil, ni tan inmune. A cambio, el cerebro lo ha dotado de gran inteligencia y de autoconciencia. Esa autoconciencia tiene sus fallas: como se constituye en un puente entre el hombre y el mundo exterior, corre el riego de confundir al mundo con el puente, cuando no con el propio sujeto. En ese error (como si alguien confundiera la foto de una persona con la persona misma) se funda acaso el vicio de considerar a la conciencia algo que excede al cuerpo. Los nombres que suele tomar esa conciencia hipostasiada es “alma”, “espíritu”, “ánima”. Un concepto que convierte a la mente en una especie de forma sin su correspondiente figura.

Pero la ciencia ha develado el error: “considero a la mente inseparable del cerebro”, ha sentenciado, por ejemplo, el experto F.J. Rubia, en El cerebro nos engaña. “La división de la realidad en antinomias, es decir, en términos contradictorios […] es fruto de la actividad de una parte del cerebro, a saber, del lóbulo pariental inferior, por lo que cabe suponer que la distinción entre cerebro y mente también es producto de esta estructura cerebral […] La inmensa mayoría de las actividades del cerebro se realiza ordenando el mundo en antinomias”, ha dicho también, al respecto de la tendencia al dualismo (cuerpo-alma, cerebro-mente).

En nuestra corteza cerebral, allí donde se da cita una maraña de “cables” neuronales que transmiten pulsos eléctricos e intercambian su química, allí se produce lo que llamamos conciencia. No hay un alma inmortal que tengamos insuflada: todo es materia o energía.

“El contenido de información del cerebro humano expresado en bits es probablemente comparable al número total de conexiones entre las neuronas: unos cien billones (1014) de bits”, ha ilustrado Carl Sagan en Cosmos. “Hay muchos valles en las montañas de la mente, circunvoluciones que aumentan mucho la superficie disponible en la corteza cerebral para almacenar información en un cráneo de tamaño limitado. La neuroquímica del cerebro es asombrosamente activa, son los circuitos de una máquina más maravillosa que todo lo que han inventado los hombres”, ha explicado.

Christopher Koch, quien escribió junto al eminente Francis Crick (ver aparte) el libro La búsqueda científica del alma, ha sido contundente: “Es evidente que la conciencia nace de reacciones bioquímicas del cerebro”.

¿Eso explica todo? Claro que sí. Y claro que no. Cuando la neurobiología avance hasta trazar el imponente mapa cerebral completo, la idea del alma o de alguna “conciencia espiritual” podrá quedar desterrada, aunque la cuestión puede adquirir todavía más riqueza. Michael Reiss, científico y religioso, ha dicho que afimar que la conciencia se reduce a procesos materiales equivale a “decir que una catedral es un conjunto de piedras y vidrios. Cierto, pero se trata de una constatación simplista”. Tan simplista como su comparación, puesto que si ignorásemos que una catedral se compone de ladrillos y cruces, sería un error darle a su estructura otra composición. La neurología no dice que las plegarias y los fieles están hechos de ladrillos, pues eso sería como decir que el templo está fabricado con avemarías. Lo que se afirma, nada más y nada menos, es que las ideas se forman en el cerebro. La conciencia. Eso que antes llamábamos alma. Las discusiones en este punto podrían continuar, pero hay un punto inevitable: la ciencia ofrece sus evidencias y la posibilidad de corrobar sus afirmaciones (por ejemplo, que una persona puede cambiar de personalidad con drogas que afecten su química cerebral). La teología nos debe hace siglos la validez de sus asertos.

Así, menudo inconveniente comporta la materialidad de la conciencia para las religiones. Es como una espada que cuelga sobre su cuello. Si todo es material, si no existe el mentado mundo espiritual, no hay trascendencia entonces. No hay alma y, luego: ¿hay un Dios? ¿Será el dios deísta o el motor inmóvil aristotélico, que no conoce al mundo ni al hombre? Aun así, como no hay almas, las religiones están en problemas.

Fontepesquisada:( http://razonatea.blogspot.com/2006/01/la-materialidad-de-la-conciencia.html)

POSTED BY SELETINOF AT 9:41 PM

QUEM SOMOS NÓS – NA VISÃO DOS FÍSICOS E NÃO DOS MISTICOS

Rogério Fonteles Castro

Graduado em Física pela Universidade Federal do Ceará

 

Nesta postagem, além de lhes apresentar uma pequena amostra da palestra sobre o filme Quem Somos Nós, presidida por duas personalidades importantes do cenário científico cearense atual, elaboramos uma síntese sobre os fundamentos da mecânica quântica – a partir de dois textos pesquisados nos livros Física Moderna, autor Walter R. Fuchs, e O Pensamento Matemático, autor Oscar Becker-, e estabelecemos um parecer bastante esclarecedor sobre este afamado filme, tomando por base, claro, a posição da ortodoxia da mecânica quântica.         

  

O modelo atômico de Bohr, estrutura mecânica construída sobre fundamentos “mais ou menos clássicos”, não pôde explicar a razão da existência de certas órbitas permitidas (ou orbitais) em torno do núcleo atômico. A teoria da mecânica ondulatória de Erwin Schrödinger foi a primeira sugestão radical duma solução para as dificuldades fundamentais do modelo de Bohr. Entretanto,  esse físico austríaco defendia que todas as coisas poderiam, na “realidade”, ser representadas por ondas multidimensionais. Ainda que as equações diferenciais de Schrödinger para a descrição dos fenômenos subatômicos fossem muito aceitos pelos físicos, a sua interpretação geral não o era.

 

Recordando a filosofia que se encontra por trás do dualismo onda-partícula, temos aí que a interpretação dos resultados depende do tipo de experiência que é realizada. Essa linha produtiva de raciocínio foi iniciada por Niels Bohr. Foi ele o primeiro a reconhecer que era impossível sujeitar à observação simultânea os dois aspectos distintos do elétron, ou seja, o seu caráter de onda e o de partícula. Esse é um princípio limitador que governa as condições experimentais e limita a informação que pode ser obtida das experiências.  

Essa idéia está expressa compreenssívelmente no Princípio de Complementaridade de Bohr. Em toda a filosofia da ciência, esse conceito elaborado de forma teórica é, seguramente, a contribuição mais importante depois da publicação, por Immanuel Kant, da Crítica da Razão Pura em 1781 (e a segunda edição, revista, de 1787). Esse trabalho do filósofo de Könisberg é a revisão de maior autoridade da Física do seu tempo – a Física newtoniana. Quando essa teoria clássica começou a falhar na explicação dos fenômenos subatômicos, o primeiro passo corajoso no sentido de introdução de conceitos novos foi dado por Niels Bohr.  

Além dele, o jovem físico alemão Werner Heisenberg conseguia, na segunda metade da década de vinte, obter uma compreensão mais clara da nova situação da física. Adotou então uma atitude filosófica baseada no extremo empiricismo, que recusava aceitar quaisquer das imagens ou modelos da física moderna. Por exemplo, no modelo atômico de Bohr, os físicos se referiam à “posição” e ao “período de revolução” de um dos elétrons do átomo. Essas noções formavam uma herança da mecânica newtoniana e, em relação aos elétrons atômicos, eram classificadas como “não-observáveis”. Heisenberg considerou essas “noções imaginárias” como sendo algo sem sentido, desprovido de qualquer fundamento. Ele sugeriu o desenvolvimento duma mecânica quântica teórica, análoga à mecânica clássica, em que apareceriam apenas relações entre quantidades observáveis (http://petroleo1961.spaces.live.com/blog/cns!7C400FA4789CE339!264.entry). A realização desse programa formava o que se conhece como “Mecânica das Matrizes”, e foi aperfeiçoado com a colaboração do professor de Heisenberg, Max Born, e de Pascual Jordan 

Bohr explicava a transição entre dois quaisquer estado energéticos do átomo por meio dum salto do elétron duma órbita representativa dum estado à outra. Associado a esses saltos quânticos, sempre aparecia um fóton que era radiado ou absorvido, de acordo com o sentido do salto eletrônico.  

Heisenberg se opunha a essa imagem transitória com seu mecanismo desconhecido. Ele reconhecia que, na observação esperimental dos átomos, somente os níveis energéticos discretos “estacionários” podiam ser estabelecidos. Não determinamos experimentalmente os detalhes do que ocorre quando um elétron atômico muda dum estado a outro, como também não decidimos se o elétron descreve uma órbita no sentido clássico ou se comporta como uma onda estacionária ao redor do núcleo. Qualquer modelo explanatório que possamos construir só pode ter a finalidade duma melhor compreensão, representando apenas uma especulação. Contudo, é óbvio que, não sendo observadas certas circunstâncias, esses modelos podem mesmo levar à confusão. Por outro lado, uma certa regularidade na forma das transições entre os níveis energéticos discretos pode ser estabelecida experimentalmente, na qual o estado fundamental do átomo ocupa um papel prioritário. 

Enfim, com respeito ao acabamento do desenvolvimento da mecânica das matrizes, podemos citar as próprias palavras de Max Born 

“O período de tentativas chegou subitamente ao fim, com o trabalho de Heisenberg, que era meu assistente naquele tempo. Ele cortou o nó górdio com um princípio filosófico novo e substituiu o raciocínio por uma regra matemática. Em essência, o princípio significava que noções e conceitos que não correspondessem  a nenhum fato fisicamente observável não poderiam ser usados em qualquer descrição teórica. Heisenberg rejeitava o conceito de órbitas eletrônicas com raios definidos e períodos de revolução porque esses não eram observáveis, e recomendava que a teoria fosse construída por meio de matrizes”.  

Mas o ponto decisivo nesta construção era o dualismo corpúsculo-onda e a questão do influxo do “observador” sobre os processos físicos “reais” e “objetivos”. É sabido que o lugar e o impulso de uma partícula não podem ser simultaneamente, isto é, pela mesma experiência, medidos com exatidão. Quando se consegue medir exatamente uma das duas grandezas “complementares” (lugar e impulso, tempo e energia), a outra desaparece; no caso extremo da máxima exatidão na medição da primeira grandeza, a segunda não pode ser absolutamente medida. Tal é o conteúdo essencial das “relações de indeterminação” de Heisenberg.      

  

Niels Bohr elaborou em 1927, depois de longas discussões, o conceito fundamental de complementaridade, que há pouco empregamos. Introduziu duas concepções inteiramente distintas para os processos quânticos, que são complementares no sentido que só podem existir lado a lado sem contradição quando seu alcance é limitado de tal modo que nunca são utilizadas ao mesmo tempo. Segundo a experiência, a “partícula elementar” se mostra ora como corpúsculo, ora como onda.

 

Porém, Heisenberg encara a questão de outro modo, o que é de particular importância para o nosso problema sobre o papel da matemática. Como vimos, acima, parte da hipótese que só se verificam na natureza, ou só podem ser processados experimentalmente, processos que se deixam representar como vetores (ou mistura de vetores) (os observáveis) no espaço de Hilbert de muitas dimensões, numericamente infinitas. Modelo para Heisenberg era a teoria da relatividade restrita que igualmente representa a realidade física por vetores em meio ao “mundo” quadridimensional. Mas um vetor num espaço de Hilbert de dimensão infinita (ou na matriz hermitiana correspondente) não é intuitivo; não o é tão pouco a equivalente representação por uma onda no espaço de configuração segundo Schödinger; pois o espaço-configuração tem 3n dimensões para n partículas. Trata-se de uma simples analogia para uma onda intuitivamente tridimensional. A tentativa de uma interpretação intuitiva leva-nos novamente às duas imagens complementares (corpúsculo e onda) de Bohr.

Em meio a todas essas complexas tentativas de solução pergunta-se: o que dizer sobre a realidade física dos processos quânticos? N. Bohr fala de “impossibilidade de uma distinção exata entre o comportamento de objetos atômicos e a influência sobre eles exercida pelos instrumentos medidores, que servem para determinar as condições em que os fenômenos se manifestam”.  

Segundo Heisenberg, mesmo tendo em vista tal impossibilidade de distinção, pela intervenção de um observador não se introduz qualquer traço subjetivista na descrição da natureza, o que não deixa de ser muito importante do ponto de vista “filosófico”. Segundo ele, o observador tem simplesmente a função de registrar fatos que se verificaram no tempo e no espaço, pouco importando que o “observador” seja um aparelho que funciona automaticamente ou um ser vivo (de modo especial um homem que entende do assunto). O que entretanto é absolutamente necessário é a passagem do possível ao “factual” dentro do processo atual do registro. Este último ponto de Heisenberg se relaciona – o que ele mesmo nota – com a seguinte consideração de Weizsaecker: somente fatos futuros são ainda possíveis, os passados são simples fatos. Não tem sentido perguntar sobre a probabilidade (isto é, sobre a possibilidade quantitativamente determinável) de sua realização, pois já são reais. O que de fato já aconteceu não pode ser objeto de indagação quanto à possibilidde ou probabilidade de sua realização. Assim um fato histórico, como a do registro de um elétron pelo contador de Geiger, não entra numa teoria como a mecânica quântica que se ocupa de possibilidades (probabilidades).         

  

Qualquer sistema quântico separado do mundo exterior só tem um caráter potencial, não “factual”; por isto, segundo Bohr, ele não pode ser descrito por conceitos da física clássica. O estado representado por um vetor de Hilbert (não por uma combinação estatística de vetores), aplicado a um sistema fechado, é segundo Heisenberg “objetivo”, mas não “real”, pois nele não se pode verificar um fato historicamente constatável em nosso mundo macroscópico (tais como a revelação de uma chapa fotográfica, a indicação de um instrumento, e semelhantes aparelhos de que nossas salas de física estão cheias). Portanto a concepção clássica de “objeto-real” deve ser abandonada.

 

Assim, à luz da “interpretação de Copenhagen” (ou, da ortodoxia da mecânica quântica), da teoria dos quanta, a oposição tradicioanal entre “realismo” e “idealismo” não pode mais ser empregada e as teoria tradicionais do conhecimento fracassam… Os processos que se verificam no tempo e no espaço de nosso ambiente diário são propriamente o real e deles é feita a realidade de nossa vida concreta. “Quando se tenta, diz Heisenberg, penetrar nos pormenores dos processos atômicos que se ocultam atrás desta realidade, os contornos do mundo “objetivo-real” se dissolvem, não nas névoas de uma nova imagem obscura da realidade mas na clareza diáfana de uma matemática, que conecta o possível (e não o “factual”) por meio de suas leis”. 

Infelizmente, desde que o famoso Princípio da Incerteza de Heisenberg foi enunciado pela primeira vez em 1927, muito foi escrito sobre esse princípio, tanto por filósofos como por pseudofilósofos, de forma confusa e sem sentido, chegando mesmo a ser tomado por uma “verdade universal”. Quiseram mesmo demonstrar o “livre arbítrio humano”, usando o princípio de incerteza.  

De maneira semelhante, os “fundamentos científico-filosóficos”, empregados na elaboração do filme “Quem Somos Nós”, se encontram numa total discrepância com relação aos fundamentos da mecânica quântica; ou seja, o realismo, que está implicito na construção das imagens utilizadas no filme, e que é também uma suposição implicita na física clássica e em toda teoria moderna, não tem valor na mecânica quântica. Ao realismo se associa a idéia de que o comportamento de um objeto é determinado por suas propriedades intrínsecas reais e por propriedades intrínsecas reais do ambiente em que ele se encontra. Para a interpretação de Copenhagen, porém, o mundo é não-realista. Para essa corrente, as propriedades dos corpos são propriedades apenas potenciais, que dependem do experimento realizado, ou seja, da observação que se está fazendo. Assim, tudo que é afirmado nesse filme está errado ou não passa de pura especulação segundo a ortodoxia da mecânica quântica.

Também, agradecendo aos nossos colegas Marcos&Camila, da comunidade Filosofia & Ciência, pela colaboração, publicamos aqui o texto abaixo de Roel Cruz Rizzolo (roel@anatomiafacial.com): nesse artigo temos, novamente, uma crítica científica ao filme “Quem Somos Nós”; entretanto, tal abordagem está mais ligada ao campo da biologia  (Artigo publicado originalmente no jornal Folha da Região, Araçatuba, terça-feira, 7 de novembro de 2006).

Um tempo atrás, alguns amigos me recomendaram assistir ao filme “Quem somos nós?”. Afirmaram terem ficado extremamente impressionados com a beleza, mensagem, e com a facilidade com que assuntos complexos sobre neurociência e mecânica quântica eram abordados.

Como sou fã da divulgação científica fiquei curioso, embora a afirmação de um deles que o filme mostrava como a mecânica quântica dava suporte a algumas teorias místicas, me deixou desconfiado. Mas em nome da curiosidade científica fui atrás, do filme e da opinião dos cientistas sobre ele. Pesquisei demoradamente. Visitei sites sérios na área de neurociência e física. Li a opinião de vários pesquisadores e professores.

O resultado? Bem, confesso que raras vezes observei uma unanimidade tão grande sobre um assunto. Na melhor das hipóteses, o filme está cheio de erros.

Mas para a maioria dos cientistas das áreas envolvidas trata-se de uma deliberada tentativa de falsear e distorcer dados científicos para nos convencer sobre as opiniões místico-religiosas defendidas (e comercializadas!) pelos produtores do filme.

Ante a possibilidade de ser lançada uma versão ampliada desse “documentário”, achei que seria importante mostrar estas informações aos leitores.

 

Para ser objetivo, tentarei listar os erros e distorções que o filme comporta. (…) Entre os erros menos graves podemos citar:

– O filme menciona que nosso corpo contém 90% de água. Errado. O recém-nascido tem aproximadamente 78%, homem adulto 60% e mulher 55%. Há variações individuais (obesos têm menor porcentagem que magros, etc). 

O filme menciona que nosso corpo produz 20 aminoácidos. Errado. Produzimos 12. Os 8 restantes são aminoácidos essenciais e devem ser incorporados por meio da dieta.

– A animação que mostra a comunicação entre os neurônios está errada. Os neurônios não se comunicam por meio de correntes elétricas e sim através de neurotransmissores químicos liberados nas sinapses. Essa diferença é fundamental. É do equilíbrio desses neurotransmissores que depende o funcionamento cerebral e nosso comportamento.

A lista de “pequenos” erros é bem maior. Porém, vamos agora aos disparates.

– O filme menciona que os primeiros nativos americanos não seriam capazes de ver as caravelas de Colombo porque a caravela estaria fora do “paradigma” cerebral. Isto é uma besteira. E é um engodo já que distorce conceitos cuidadosamente definidos pela neurociência como sensação e percepção para defender o indefensável. Os nativos já tinham canoas. Acreditar que colocar uma vela sobre a canoa a tornaria invisível é de dar risada. A informação é inventada. Não consta nos diários de Colombo e informações detalhadas sobre essas tribos (Arawaks ou Aruaques) desapareceram até da tradição oral.

– O filme quer nos fazer acreditar por meio de um dos seus “cientistas”, Masaru Emoto, que a formação de cristais de gelo é influenciada por palavras específicas escritas em papel e fixadas no recipiente. Por exemplo, ao escrever “amor” formam-se cristais com belas formas. Ao escrever “eu quero matar você” a delicada estrutura cristalina se desarranja.

Para os cientistas, um absurdo total. Argumentam que Emoto conhecia previamente as palavras e procurou intencionalmente os cristais apropriados entre os milhões que são formados. 

O experimento nunca pôde ser repetido em nenhum laboratório do mundo. O Ph.D. de Emoto foi concedido por uma universidade não credenciada nos Estados Unidos. James Randi, aquele que desafiou nosso homem do “ra”, Thomaz Green Morton, a reproduzir frente às câmeras seus fenômenos paranormais, ofereceu um milhão de dólares para que Emoto repetisse o experimento sob controle científico. Emoto não apareceu até agora (nem Morton).

Tenho que truncar a lista por aqui. Não posso falar do “efeito Maharishi“, onde através da meditação transcendental coletiva os índices de violência teriam diminuído em Washington.

Apenas comento que o autor desse “experimento”, John Hagelin (que aparece no filme), foi honrado pela comunidade científica pelo prêmio Ig-Nobel em 1994. Assim, seu estudo está ao nível dos prêmios concedidos este ano, como por exemplo, “Porque pica-paus não têm enxaqueca?”.

Finalmente, chama a atenção que boa parte dessas informações “científicas” são comentadas por uma senhora loira com acento estranho. Ela parece possuir conhecimentos infindáveis sobre mecânica quântica e neurociência. Ao final do “documentário” descobrimos que essa “cientista” é, na realidade, Ramtha, o espírito de um guerreiro de Atlântida morto há 35.000 anos, “canalizado” pela dona de casa americana J Z Knight, que na realidade nasceu Judith Darlene Hampton em uma cidadezinha de Novo México, que hoje abriu uma lucrativa escola mediúnica (Ramtha School of Enlightenment), na qual boa parte dos “cientistas” consultados neste filme trabalha. Coincidência, não?

Enfim, leitor, não perca seu tempo. Gastar 90 minutos ouvindo Ramtha e seus amigos irá deixar você com muito tédio, muito mal informado e, pelo menos, R$ 5 mais pobre.

Roelf Cruz Rizzolo é professor de Anatomia Humana da Unesp, câmpus de Araçatuba, e escreve neste espaço quinzenalmente.

POSTED BY SELETINOF AT 12:48 PM

OS NEURÔNIOS-ESPELHO E O REVIRÃO DA NOVA PSICANÁLISE

          

Boas notícias para a psicanálise freudiana e os estudos sobre a mente humana: a descoberta dos neurônios-espelho. Os neurocientistas responsáveis por esse feito são Giacomo Rizzolatti, Vittorio Gallese e Leonardo Fogassi da Universidade de Parma (Itália). Para cientistas como Vilayanur Ramachandran, da Universidade da Califórnia de San Diego, os neurônios-espelho vão fazer pela psicologia o que o DNA fez pela biologia.

MD Magno, o criador da Nova Psicanálise, tem afirmado tese semelhante desde 1982, quando postulou o aparelho lógico do REVIRÃO (um princípio de espelho absoluto) como modelo de funcionamento de nossa mente. Revirão é a possibilidade de enantiomorfismo total, a habilidade de pensar o avesso radical de qualquer afirmação e de realizá-lo através da arte e da técnica. Essa competência de nossa mente – agora também comprovada biologicamente no cérebro com a descoberta dos neurônios-espelho – é que dá origem à linguagem humana e sua intrincada estrutura gramatical. Como se pode ver, notícias promissoras para os estudos e pesquisas sobre a mente e sua complexidade.

(…) Um neurônio espelho (também conhecido como célula-espelho) é um neurônio que dispara tanto quando um animal realiza um determinado ato, como quando observa outro animal (normalmente da mesma espécie) a fazer o mesmo ato. Desta forma, o neurônio imita o comportamento de outro animal como se estivesse ele próprio a realizar essa acção. Estes neurônios já foram observados de forma direta em primatas, acreditando-se que também existam em humanos e alguns pássaros.

Nos humanos, pode ser observada atividade cerebral consistente com a presença de neurônios espelho no córtex pré-motor e no lobo parietal inferior. Alguns cientistas consideram este tipo de células uma das descobertas mais importantes da neurociência da última década, acreditando que estes possam ser de importância crucial na imitação e aquisição da linguagem. No entanto, apesar de este ser um tema popular, até à data nenhum modelo computacional ou neural plausível foi proposto como forma de descrever como é que a atividade dos neurônios espelho suportam atividades cognitivas como a imitação.

Fontepesquisada:(http://www.novamente.org.br/interna.php?pg=osneuronios-esp; http://pt.wikipedia.org/wiki/Neur%C3%B3nio_espelho)

 

POSTED BY SELETINOF 10:30 AM 

  

NASA

  
 

O mistério é a coisa mais nobre de que podemos ter experiência. É a emoção que se encontra no cerne da verdadeira ciência. Aquele que não sente essa emoção e que não pode mais se maravilhar nem se espantar, é como se já estivesse morto. Saber que aquilo que é impenetrável para nós verdadeiramente existe e se manifesta como a mais alta sabedoria e a mais radiosa beleza, que nossas limitadas faculdades só podem apreender em suas formas mais primitivas, esse conhecimento, esse sentimento, está no centro de toda verdadeira devoção. A experiência cósmica é com efeito o mais poderoso e mais nobre pivô da pesquisa científica.  

Albert Einstein

 

POSTED BY SELETINOF 9:07 AM  

O QUE HÁ DE VERDADE NO CONHECIMENTO?

   

Prof. Nílton de Oliveira Cunha
Universidade Federal de Santa Catarina 
Florianópolis,22/06/2000
 


nocunha@mbox1.ufsc.br

Imaginem alguém que pretendesse estudar o céu e os corpos celestes mas que ignorasse a estrutura e funcionamento do telescópio – os efeitos de refração das lentes ou de reflexão dos espelhos, erros de aberração, distorções etc. Fatalmente chegaria a conclusões muito estranhas. E o que dizer do homem que, em milênios de civilização, tenta compreender o processo da vida e do universo sem antes entender o modo de operar do seu instrumento de compreensão – a mente? Mas como seria, em geral, estruturada a mente humana? Quando nascemos, nossa mente é um livro em branco. No processo de educação e aculturação são-nos repassados informações úteis na vida de relação, mas também valores imaginários que constituem o senso comum da sociedade. Diz Albert Einstein: “Senso comum é a camada de preconceitos colocada em nossa cabeça até os 18 anos.” O senso comum é “dogmático e ávido de certezas perenptórias”, logo, presa dócil do canto de sereia dos mercadores de ilusão a serviço da dominação e da exploração, tanto material como psicológica. Na fase adulta, nova camada de condicionamentos ideológicos, que a própria pessoa se impõe, consolida a personalidade e o senso pessoal, completando a autolimitação. Por que limitar a mente se a vida é ampla, ilimitada?

 

Por conseguinte, a visão de mundo resulta condicionada pela estrutura da mente. O cognitivismo intelectual – comparativo, por reflexos condicionados, mecânico -, condiciona os pensamentos e, estes, os sentimentos (o coração sente o que o intelecto consente). Por necessitar de referências para conhecer, ao intelecto é inacessível a essência das coisas, ele é incapaz de “estender seu braço além do berço”. O intelecto se limita ao saber “instrumental”, útil nas relações “punctuais” – conhecimento técnico, científico, profissional e relações corriqueiras.

       

Depois de fracionar o evento para interpretá-lo, o intelecto tenta recompor seu sentido global por meio de modelos teóricos (método cartesiano). No caso das ciências físicas e naturais, utilizam-se modelos matemáticos; nas ciências sociais e humanas, modelos ideológicos. Todavia, ao decompor-se o processo de sentido integral, destrói-se sua “organicidade”. Por exemplo, pode-se fracionar a virtude? Virtude fracionada não é “a” virtude. É algo como o evasivo “comportamento politicamente correto”.

O sucesso das ciências físicas e naturais e das tecnologias comprova a validade da percepção segmentária no âmbito da matéria/energia. Neste campo, as relações entre variáveis no modelo matemático podem ser comprovadas em testes mensuráveis, antes de aplicarem-se as conclusões às circunstâncias de fato.

Em processos complexos, semelhantes aos sociais e humanos, há uma interação dinâmica dos fatores, ou variáveis, atuando simultaneamente, o que torna impossível a nítida distinção entre as variáveis entre si, entre fatores e produto, entre causa e efeito. Ao adotar-se um modelo (estático) para representar a realidade (dinâmica), as ciências ideológicas – sociologia, macroeconomia, ciência política, psicologia – cometem no mínimo uma impropriedade lógica.

A primeira objeção que se levanta sobre esta questão é que na concepção do modelo ideológico não interferem tão só fatos inerentes ao processo, mas também valores utópicos, idiossincrasias individuais e coletivas. Este modo de proceder não restaura o sentido de organicidade do processo original.

Outro aspecto a considerar no modelo ideológico é o “reducionismo“, i.e., uma suposição idealista de que há prevalência de um fator sobre os demais. Esta simplificação deforma a concepção, pois não há vinculação direta processo-modelo. São fatores reducionistas: fator econômico no marxismo e no capitalismo; prazer no freudismo e no hedonismo; superioridade de raça no nazismo; expontânea distribuição da riqueza no neoliberalismo (princípio dos vasos comunicantes).

Um terceiro viés no estudo do modelo ideológico é sua avaliação. Enquanto os modelos das ciências físicas e naturais e das tecnologias são avaliados em testes experimentais, antes de colocá-los em prática, o modelo ideológico não pode ser testado previamente. Só após, no contexto da vida real, é que se permite avaliação. Então, quando se notam erros “a vaca já foi pro brejo“. A desculpa que nos damos aos erros é que somos imperfeitos, precisamos evoluir. Ora, equívoco corrige-se com mais saber técnico, mais atenção. Já erro derivado de ação tendenciosa, viciosa, de má fé, não depende de evolução, mas de radical reestruturação da mente.

A ideologia do patriotismo exacerbado induziu os povos da Europa a guerras insanas durante milênios, deixando rastros de destruição, de miséria. Hoje, cansados de tantas derrotas e falsas vitórias em lutas inglórias, transcendem barreiras ideológicas, superam divergências históricas, para tentarem fazer convergir objetivos comuns, sob a égide da União Européia.

Em resumo, modelo ideológico é instrumento inadequado para exprimir processos sociais e humanos. Assim como “o homem não foi feito para o sábado, mas o sábado para o homem”, as idéias hão de servir ao homem, não o homem servir de escravo às idéias. Os sistemas ideológicos usam e abusam de abundantes contas e números, na intenção de provar que há uma lógica matemática governando o processo. Não é assim. Esses números são gerados no seio do modelo ideológico. Felizmente já se antevê, no horizonte da teoria do conhecimento, lampejos anunciando o enterro das ideologias.

       

O raciocínio usual, conforme o inconsistente e superficial esquema “Eu acho…Eu não acho…”, “Eu gosto…Eu não gosto…”, “Sou contra…Sou a favor…”, das relações comuns e de discursos intelectualizados, é condicionado por crenças vãs, preconceitos, e muitas vezes por motivos tendenciosos. De outro lado, julga-se de todo consistente o raciocínio fundado na lógica matemática, instrumento de razão seguro, que se resume nas regras:

1) Considerar nas análises só os dados do problema, não incluir pressupostos estranhos;

2) cada etapa do raciocínio há de ser autoconsistente e coerente com o problema total;

3) a solução do problema evidencia-se na análise, não é construída ao sabor do investigador. Vê-se, pois, que é possível usar o raciocínio matemático também nas ciências sociais e humanas.

O avanço científico no século que se finda abala os alicerces da teoria do conhecimento. Na Biologia, a noção da totalidade “organismo” sobrepõe-se aos enfoques físicos e químicos isolados; na Relatividade de Einstein, a noção de “espaço-tempo” como uma unidade integral substitui os conceitos de espaço e tempo independentes; na Mecânica Quântica, conversão mútua de matéria e energia, descontinuidade dos saltos quânticos, indeterminismo e imprevisibilidade das ocorrências intra-atômicas; na Teoria da Complexidade, o linear esquema de raciocínio baseado nas idéias de “causa” e “efeito” é superado nos problemas complexos pela noção de interação dos fatores intervenientes e pela consideração do significado integral das ocorrências.

As ciências físicas e naturais assimilaram bem as modernas concepções científicas e já passam a trabalhar com os conceitos de “totalidade”, matemática estatística, incerteza, indeterminismo, no domínio de problemas complexos. A rigor, não há “previsibilidade” nos processos, apenas tendências. Mas tendência não é destino e há mil e uma maneiras de reverter expectativas. É estranhável que as ciências do ser humano mantenham-se ainda refratárias aos modernos saberes.

Origem e sede do egoísmo, o “ego” se alimenta de ideologias. O “ego” é um conglomerado ou justaposição incoerente de idéias com denso conteúdo emocional (o “ego”, como a consciência, é seu próprio conteúdo), núcleo condicionador da psique, fator dominante nas avaliações, julgamentos e reações ante estímulos que afetam o emocional, e.g., desejos de prazer, ânsia de emoção, fugas das inquietudes, juízos de valor sobre pensamentos e sentimentos. Na raiz das reações psicológicas reside a luta do “ego”, da personalidade, por sua segurança e autopreservação. Um fato externo que ameace sua aparência de “paz” gera medo de desestruturação psicológica. Então, o “ego” busca proteger-se por duas vias: uma, as rotas de fuga para os prazeres e suas promessas de euforia enebriante; a outra alimenta o ideal de felicidade no futuro (sempre no futuro).

      

As fantasias e contradições próprias do “ego” projetam uma espécie de sombra sobre os fatos, que nos confundem e impedem de entendê-los com clareza. A libertação do “ego” é, pois, a primeira e última liberdade. O resto é ideologia.

Por que alimentamos a insana gula, a bebida desmedida, o consumo de fumo, a droga da droga, em síntese, os vícios, apesar dos malefícios? Não é porque o “ego” domina as reações mentais e, se acuado, torna-se inseguro, foge? Não sabemos lidar com crises psicológicas: ou sofremos ou buscamos uma fuga. Com medo, o “ego” esconde-se, usa de subterfúgios, transfigura-se tal um camaleão e não vacila em sacrificar o próprio eu físico, orgânico, para proteger-se e perpetuar-se. O medo permanente, vigilante, gera dependência, e dependência implica em medo de perder a aparente segurança da dependência. É um círculo vicioso.

As ideologias que alimentam o “ego”, a personalidade, fazem da vida humana um “jogo de faz de conta” ao levarem-nos a conviver com falsos dilemas, ambigüidades expressas; a confundir realidade aparente com verdadeira realidade, ideal do fato com o fato. P.ex., ao tomar-se o “ego” pelo ser humano integral, prazer por alegria, erotismo em lugar de amor, direito de fazer o que se quer a pretexto de liberdade, condicionamento mental simulando educação, euforia efêmera em sentido de felicidade, intelectualismo na acepção de inteligência e sabedoria.

Consideremos o prazer e a alegria. Ora, são sentimentos radicalmente distintos, mas a ideologia hedonista insiste em confundi-los a fim de tornar a ânsia de prazer uma virtude. Prazer é egoísmo, dependência do desejo, fuga no entorpecimento, alienação. Alegria é libertação mental, exaltação da vida, comunhão, sabedoria. A realização do desejo de prazer – de poder, fortuna, fama, sexo – confunde-se com felicidade. Reféns do desejo de prazer, vivemos a correr atrás de miragens imaginando-as a essência da vida.

     

O lema de vida que orienta o comportamento de jovens e adultos nestes tempos resume o que se disse: VIVER PARA TER, E TER PARA TER PRAZER. Não obstante, “insights” de sutil acuidade revelam, latentes na mente, capacidades extremas que permitem à humanidade conceber formas de vida muito mais sábias. Depois de tantos condicionamentos, imagina-se o que resta da apregoada liberdade de pensar. Enquanto o homem não viver na plenitude da liberdade mental, mas escravo de uma idéia, estará em conflito, por mais honrarias que acumule.

Um enfoque holístico-racional sobre o processo mental há de levar à libertação dos grilhões do “ego”, ao “autoconhecimento”- o limiar da sabedoria (“A verdade vos libertará.”). Mente liberta de condicionamento ideológico, de preconceito, pode ascender à sublime “comunhão universal”. Comunhão é relação direta, sábia, com outras pessoas e demais coisas; é eternidade, i.e., pensamento fora do tempo psicológico. Não se limita ao racionalismo intelectual, transcende-o, para assomar ao superior cognitivismo racional. É percepção da totalidade primordial, auto-evidente – vida integrada à natureza -, referência fundamental em relação à qual há de conjugar-se tudo o que se faz sob a luz do sol ou além das estrelas; é percepção em plenitude das mais encantadoras perspectivas da vida.

Fontepesquisada:(http://www.cfh.ufsc.br/~planetar/textos/verdacon.htm)

POSTED BY SELETINOF 8:38 AM 

 

LOGOS E IMAGINAÇÃO

ASSIM

________________________________________________

A trajetória humana, na busca do conhecimento, revela um processo de concepção de erros: o cientista de hoje e de sempre, então, longe de se tornar escravo de dogmas, somente  IMAGINANDO ERROS pode contribuir para o avanço de nosso conhecimento da realidade.

________________________________________________

Síntese precisa dos esforços da humanidade ao longo dos tempo, para estes dois objetivos se voltaram filósofos e cientistas: conhecer o presente, determinar o futuro. Para isto criaram, imaginaram sistemas filosóficos e teorias.

Nos registros da filosofia ocidental, os pré-socráticos foram os primeiros a tentar transpor os limites das explicações mitológicas e buscar o logos, palavra usada pela primeira vez, no contexto filosófico, por Heráclito (540-480ª.C.). O logos é o contraponto do mito. À medida que a reflexão filosófica avança na consciência de si mesmo e os seus recursos, o logos demarca-se cada vez mais nitidamente da opinião e do mito. Neste sentido, quase se pode dizer que a filosofia grega é filha da tensão entre o logos e o mito. Encontram-se nos pré-socráticos as primeiras tentativas racionais para conhecer o presente a fim de detrminar o futuro. E eles foram muito imaginativos: Tales (624-546 a.C.), um dos sete sábios da Grécia, explicando a origem de todas as coisas pela água; Pitágoras (540-500 a.C.) afirmando que todas as coisas são números; Parmênides (540-470 a.C.) estabelecendo a distinção entre a via da verdade, onde o homem se deixa conduzir apenas pela razão e é então levado à evidência de que o que é, é – e não pode deixar de ser, e a via da opinião onde o homem não consegue a aletheia (descoberta da verdade) e fica no terreno da dóxa (opinião).

Com a hegemonia da filosofia grega estabelecida por Sócrates (469-399 a.C.), Platão (427-347 a.C.) e, principalmente, por Aristóteles (384-322 a.C.), a razão fica consagrada como fundamento da procura do conhecimento. É, segundo este princípio, ao longo de quase vinte e cinco séculos, que filósofos e cientistas criaram, imaginaram seus sistemas e teorias que pretendiam possibilitar a todos os homens conhecer o presente e determinar o futuro.

Alguns como Descartes (1596-1650), Kant (1724-1804) e Popper (1902-1994) valorizaram sobremaneira o aspecto discursivo do conhecimento.

Descartes, preocupado em eliminar, na sua elaboração teórica, qualquer resíduo de erro, começa por duvidar de tudo aquilo que não seja claro e distinto. Isto o leva a negar metodicamente a real existência de tudo que está ao seu redor. Subsiste à sua dúvida apenas a certeza da própria atividade intelectiva. Do cogito, ergo sum, procura derivar, desta vez sem erro, todo um sistema filosófico. Infelizmente, se o seu ceticismo metodológico foi louvável, como medida preventiva de erro, sua construção do edifício do saber nessa base não atingiu os objetivos propostos.

Pode-se dizer que de toda a obra cartesiana o que restou ainda na atualidade foi a genial criação da geometria analítica. Tudo o mais pode ser considerado obra de uma imaginação fértil na produção de erros.

________________________________________________

17457887_1891856097739530_2248223180490641438_n

RACIONALISMO APLICADO DE GASTON BACHELARD

________________________________________________

(…) É, portanto, na encruzilhada dos caminhos que o epistemólogo deve colocar-se: entre o empirismo e o racionalismo. É aí que ele pode apreender o novo dinamismo dessas filosofias contrárias, o duplo movimento pelo qual a ciência simplifica o real e complica a razão. Fica então mais curto o caminho que vai da realidade explicada ao pensamento aplicado. É nesse curto trajeto que se deve desenvolver toda a pedagogia da prova, pedagogia que é a única psicologia possível do espírito científico. (…) A ciência, soma de provas e experiências, de regras e de leis, de evidências e de fatos, necessita, pois, de uma filosofia de dois polos. (BACHELARD, 1978). (…) Epistemologicamente, a construção dos conceitos físicos se dá através da dialética entre o racionalismo e o empirismo, entre teoria e prática. Assim, a partir do momento em que se medita na ação científica, apercebemo-nos de que o empirismo e o racionalismo trocam entre si infindavelmente os seus conselhos. Nem um e nem outro, isoladamente, basta para construir a prova científica. Contudo, o sentido do VETOR EPISTEMOLÓGICO parece-nos bem nítido. Vai seguramente do racional ao real e não, ao contrário, da realidade ao geral, como o professavam todos os filósofos de Aristóteles a Bacon. Em outras palavras, a aplicação do pensamento científico parece-nos essencialmente realizante (BACHELARD, 1978).

_______Rogério Fonteles Castro_______

_________________________________________

Mas a realidade, por definição, é aquilo que resiste ao sujeito. Resiste, pois, ao conhecimento. Daí podendo-se adotar como um postulado da epistemologia o caráter sempre inacabado do conhecimento. O ato de conhecer nunca é pleno, pois o erro não pode ser totalmente eliminado. Somos obrigados a trabalhar com aproximações, mesmo nas ciências ditas exatas. O problema da medida é subjacente a todo o percurso dessas ciências, pois, num certo nível de precisão, o rendimento de um método experimental até então excelente acabará por diminuir.

São esses os pontos de partida adotados por Gaston Bachelard para escrever este “Ensaio sobre o conhecimento aproximado”, sua tese de doutoramento, que tenta compreender, antes de tudo, como se dá essa retificação incessante do pensamento diante do real.

Bachelard anuncia que seu objetivo é “acompanhar o conhecimento em sua tarefa de refinamento, precisão e busca de clareza”. Na primeira parte, examina como os detalhes se acumulam ao longo de uma descrição, como as qualidades se ordenam para chegar a uma classificação objetiva. Depois, mostra o papel fundamental do conhecimento aproximado, tanto nas ciências experimentais (nas quais o processo de aproximação é necessariamente finito) como nas matemáticas (nas quais a aproximação pode ser infinita). Prepara assim a discussão final, sobre o próprio estatuto da verdade: “Uma filosofia do inexato”, ele diz, “pode propor um novo sentido aos conceitos de realidade e de verdade.”

Se o que é imediato não coincide com o que é fundamental, o conhecimento tem de ser uma construção sempre aproximada. A aproximação é uma objetivação inacabada, mas prudente e racional, consciente, ao mesmo tempo, de sua insuficiência e de seu progresso. É assim o processo do pensamento, quando fecundo. Um pensamento fechado, apoiado apenas em si, sem lugar para erro, tentativa e ambiguidade, só poderá exibir uma perfeição frágil. Realizado com facilidade, paga o preço da irrealidade. “Por todos esses motivos”, diz Bachelard, “decidimos considerar o conhecimento em seu fluxo. (…) O conhecimento em movimento é um modo de criação contínua. O antigo explica o novo e o assimila. E vice-versa: o novo reforça o antigo e o reorganiza.”

De Gaston Bachelard, a Contraponto já publicou “A formação do espírito científico”, sua reconhecida obra-prima, formadora de várias gerações de pensadores. Com este “Ensaio…”, também em magnífica tradução de Estela dos Santos Abreu, a editora prossegue a edição em português dos textos epistemológicos mais importantes do filósofo francês.

________César Benjamin___________

________________________________________________

Kant, o gênio filosófico do século XVIII, que revolucionou o pensamento do seu tempo e influenciou os que o sucederam, também andou propondo soluções para os grandes impasses epistemológicos. Acabou, entretanto, imaginando erros na medida em que supervalorizou a dimensão subjetiva da atividade cognoscitiva.

Sua revolução copernicana do conhecimento, ou seja, a ênfase do conhecer no sujeito e não no objeto, levou-o a imaginar que se pudesse configurar a realidade exterior a partir de modelos aprioristicamente concebidos, o que, de modo lamentável, para os seua seguidores, não se constituiu em funadamento definitivo do conhecimento.

Karl-Popper-1024x576

Karl Popper

________________________________________________

Popper, talvez por ter adotado o caráter provisório e conjectural do conhecimento científico, proclama, sempre que trata do assunto, o fato de que a atividade cognoscitiva nada mais é que sucessivas tentativas de explicações da realidade, imaginadas pelos seus autores. Quando nega os fundamentos lógicos da indução e faz a distinção entre o momento da descoberta e aquele da justificação, aceita a idéia de que o surgimento de uma teoria ocorre em um instante de criatividade (imaginação), sujeito a erros e tropeços. A análise racional e lógica aparece no momento da justificação, isto é, quando se tenta verificar a adequação da teoria à realidade.

Outros estudiosos, como F. Bacon (1561-1628) e D. Hume (1711-1776), ao contrário, acentuaram o aspecto intuitivo do conhecimento, ou seja, construíram suas teorias a partir da observação dos fenômenos particulares, através do método indutivo.

Bacon se propôs fazer uma crítica severa a Aristóteles e seus seguidores, no Novum organum, tentando estabelecer os fundamentos definitivos do método indutivo. Foi feliz na crítica à filosofia grega. Não conseguiu, porém, demonstrar satisfatoriamente a validade do seu método. Estabelecer teorias por indução revelou-se, ao longo do tempo, um exercício eficaz de imaginar erros.

Hume percebeu a fragilidade lógica da indução. Para ele a ocorrência regular observada em um acontecimento não poderia assegurar sua recorrência. Entretanto, viu-se diante da necessidade de justificar a indução, uma vez que esta é prática comumente aceita. Apelou, pois, para a noção de hábito. As pessoas pensam que fenômenos ocorridos voltarão a acontecer, não por ter uma fundamentação lógica mas por estar a isto habituadas.

O pão que comi no passado me alimentou… mas segue-se daí, que outro pão em outro tempo deverá me alimentar…?

Esta pergunta de Hume mostra sua descrença da indução como caminho seguro para a obtenção da verdade e indica, pelo menos, sua desconfiança de que a construção das teorias científicas está enredada em incertezas e erros.

umberto-eco-l

Umberto Eco

________________________________________________

Umberto Eco, no magistral romance O Nome da rosa, registrou um diálogo entre o jovem noviço Adso e o vivido monge Guilherme, que bem reflete o caráter imaginativo do conhecimento. Vale a pena transcrevê-lo. Adso inicia a conversa, perguntando:

– Então, não tendes uma única resposta para nossas perguntas?

– Adso, se a tivesse ensinaria teologia em Paris.

– Em Paris eles têm sempre a resposta verdadeira?

– Nunca – disse Guilherme – mas estão muito seguros de seus erros.

– E vós- disse eu com impertinência infantil – nunca cometeis erros?

– Freqüentemente, respondeu. Mas, ao invés de conceber um único erro, imagino muitos, assim não me torno escravo de nenhum.

Portanto, a trajetória humana, na busca do conhecimento, revela um processo de concepção de erros: o cientista de hoje e de sempre, então, longe de se tornar escravo, somente  IMAGINANDO ERROS pode contribuir para o avanço de nosso conhecimento da realidade.

_______________________

Referências Bibliográficas

1. ECO, Uberto. O Nome da rosa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1983.

2. HUME, David. An enquiry concerning human understaanding. In: Great books of the Western World. Chicago: Enciclopaedia Britannica, 1952, v. 35.

3. LOGOS, Enciclopédia luso-brasileira de filosofia. Lisboa/São Paulo, Editorial Verbo, 1989, v.3.

4. Os Pré-Socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. 2° ed. São Paulo, Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores).

5. DOXA, WIKIPÉDIA. Acessado em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Doxa

6. UMA CRÍTICA À FALSEABILIDADE. Mario Bunge. Acessado em:

<https://universoracionalista.org/uma-critica-a-falseabilidade/&gt;

7. Heisenberg e a doutrina das cores de Goethe e Newton

<https://www.scielo.br/j/ss/a/CCFKbjp87cQ5jMmYR6Xx8GS/?lang=pt&gt;

___________________________________________

Fontepesquisada: (BARRETO, José; MOREIRA, Rui. Imaginando Erros. Fortaleza, UFC – Casa de José de Alencar, Programa Editorial, 1997.)

 

POSTED BY SELETINOF 8:50 PM

A QUESTÃO DAS CÉLULAS TRONCO

               

 Alexander José de Freitas  

(http://piralho.blogspot.com/2008/05/questo-das-clulas-tronco.html)  

Sob Refletores
Neste momento os nobres Juízes do Supremo Tribunal Federal, (Os deuses do Olimpo) julgam matéria sobre as pesquisas de células-tronco no Brasil! Nesta questão a imbecilidade jorra a todo vapor! Esta não é uma questão jurídica, não cabe a um bacharel em direito decidir se a vida começa a nascer a partir da células tronco ou não! Muito menos deve ser encarada como questão religiosa, repleta e sempre cercada de misticismo e fanatismo religioso! Isto cabe à sociedade de forma isenta, diferenciar o que é morte, e o que é vida! O papel dos pesquisadores deve ser o de esclarecer a população e esta a partir disso tirar suas conclusões sem equívocos! A ciência avançou muito nestes anos, mas isso não quer dizer que ela tem resposta para tudo, mas no caso da células-tronco a questão é bem clara!

            

A luta nos tribunais serve mais para demonstração ridícula de "erudição jurídica", verdadeira "Rinha de Galo", da qual não se tira conclusão exata, onde ratos de preto se colocam em posição de divindades e sentenciam os reles mortais a viverem sob suas normas, quase sempre sem nenhum escrúpulo! O poder para imbecis é tirania! Tolher pesquisas sobre células embrionárias é engessar a ciência, lei de bio-ética me soa como se os cientistas fossem malucos, que saissem por aí a criar Franksteins! A grande controvérsia nisso tudo é que aqui no Brasil a pesquisa cientifica tem pouco financiamento e incentivo, e isto sim é que deveria ser o centro das atenções, e não especulações ignorantes sobre morte e vida!

 

Aqui, publicando texto acima de nosso amigo Alexander, expressamos também nossa indignação pelo fato de um caso de saúde pública ter se tornado tão complexo, envolvendo mesmo questões filosóficas sem solução… Mas, felizmente, o supremo deixando de lado a polêmica entre fé e razão, fez valer o bom senso e fazer cumprir a lei em favor do povo!  

POSTED BY SELETINOF 9:26 AM  

CONHECER E CIÊNCIA 1

    

kant foi o primeiro filósofo que estabeleceu os limites, os objetivos e o valor das ciências, declarando que a ciência visa somente aos fenômenos, isto é, investiga o campo do sensível, não ultrapassando o campo da experiência.

De fato, quando verificamos a forma dos corpos, sua composição, suas propriedades, formulamos juízos que exprimem fatos ou relações entre fatos. Portanto, são juízos de uma existência ou realidade. Ao passo que, outros juízos podemos formular sobre o valor das coisas e não o que são elas, sendo estes, juízos de valor, os quais ultrapassam o campo do sensível e da experiência. Desse modo, podemos concluir que os juízos de realidade são científicos e os juízos de valor são filosóficos.

Cada ciência tem seu objeto. E o objeto de cada ciência é uma fração da realidade total. Não poderão, pois, as ciências, cujos objetos não são mais do que partes de um grande todo, fornecer ao homem uma visão do conjunto universal.

As ciências, portanto, não têm caráter universal, sua causa material é limitada, não possuem também profundidade, pois, as ciências se restringem à determinação das leis do fenômenos. A física, por exemplo, cuida das leis da mecânica, da ótica, da acústica, etc.,mas não se preocupa com a composição dos corpos, pois, é o objeto de outra ciência, a Química.

Disso podemos concluir que as ciências se limitam ao mundo dos fenômenos, ao mundo sensível da experiência e fundamentam-se sobre postulados, princípios aceitos sem discussão. Cuidam das causas imediatas, sem ultrapassarem o mundo do sensível.

Todavia, o desejo de saber é inato no homem e não tem limites; não podemos contentar-nos apenas com as causas imediatas das coisas. Existem várias perguntas, que transcendem a experiência e caminham pelo mundo dos valores das coisas, às quais as ciências não podem dar respostas. Cabem, pois, tais respostas a um ramo do saber de caráter universal, que tenha por objetos as causas supremas e gerais, que critique os postulados de todas as ciências particulares. Esse ramo é a filosofia.

A filosofia, então, visa, pela razão, ao que está além da experiência. Portanto, sendo a filosofia essencialmente metafísica, isto é, procurando ultrapassar o mundo físico ou sensível, deve ela servir-se da razão. Mas para atingir seus fins, deve ela servir-se somente da razão natural, distinguindo-se neste particular da teológica, que se serve da razão revelada.

 DA CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS

Pelo conceito geral de ciência  (conhecimento das coisas por suas causas), podemos dizer que a ciência é una e infinita, mas tão vasta e tão ampla que nossa fraca inteligência não pode abrangê-la em sua totalidade. Daí a necessidade de fragmentar esse conjunto de conhecimentos que se propõem dar a explicação universal das coisas, para, através de suas partes, podermos compreender o todo. Essa fragmentação, que é o princípio fundamental da análise, estabelece as ciências particulares, entre as quais se distribuemtodos os conhecimentos, segundo seu objeto. Cada ciência particular, segundo a definição de Littré, pssa a ser o grupo de conhecimentos certos, gerais e metódicos relativos a um objeto determinado.

Ora, como todo método sistemático abrange a definição, que analisa a compreensão da verdade encontrada, enumerando os elementos que a distinguem de outras verdades, e a classificação, que a divide para analisar a sua extensão e localização no quadro geral dos conhecimentos humanos, é precio definir e classificar as ciências particulares.

Desse modo, o problema da classificação das ciências consiste em saber se é possível encontrar entre elas uma ordem rigorosa e natural de dependência. Certa ordem de dependência existe entre as ciências e, segundo A. Rey, A observação e a experiência nos revelam uma relação estreita entre os fatos morais e os fenômenos biológicos; os fenômenos biológicos por seu turno estão ligados a fatores de ordem puramente química; e a fisiologia não pode constituir-se cientificamente senão depois de certo progresso da química. A química seguiu a mesma lei: os resultados obtidos na física têm uma repercussão direta sobre seu progresso. A mesma observação pode ser feita em física com relação à mecânica, em mecânica com relação à geometria e com a ciência da quantidade pura, a matemática.

Além disso, como todo conhecimento apresenta uma dualidade, isto é, o sujeito que conhece e o objeto conhecido, a classificação das ciências pode admitir um ou outro ponto de vista. Em se tratando do sujeito que conhece, a classificação será subjetiva; em se tratando do objeto conhecido, objetiva.

Dentre as principais classificações subjetivas, temos a de Aristóteles e a de Bacon.

    

CLASSIFICAÇÃO DE ARISTÓTELES

Aristóteles dividiu as ciências segundo a atividade humana que nelas aparece e o proveito que delas tiramos: sob este último ponto de vista, as ciências dividem-se em:

1 – Especulativas ou Teóricas – Sua finalidade é apenas conhecer a verdade, sem preocupação prática alguma. Estas ciências são: a) Física;  b) Matemática;  c) Filosofia ou Metafísica.

2 – Práticas – São as ciências que traçam as regras para as nosas ações ou nos fazem agir corretamente: a) Estética;  b) Moral;  c) Economia;  d) Política.

3 – Poéticas – Apontam os meios de que devemos servir-nos para realizar as obras exteriores; seu fim, pois, é a produção de uma obra agente: a) Poética;  b) Retórica;  c) Dialética.

Corresponde esta classificação aos três modos possíveis do desenvolvimento da atividade humana: saber, agir, produzir. É incompleta, porque omite a História; não é perfeita, pois confunde as ciências propriamente ditas as artes técnicas e as belas-artes. Além disso, não é bastante exata, porque as três atividades: saber, agir, produzir se interpenetram comumente.

CLASSIFICAÇÃO DE BACON

Para a classificação da ciências, Bacon considera as faculdades intelectuais pelas quais adquirimos essas mesmas ciências. A seu modo de ver, as funções intelectuais são três: conservar, reproduzir e combinar, que correspondem às três faculdades: memória, imaginação e razão. Daí sua classificação:

1 – Ciências da Memória – História Natural e Civil.

2 – Ciências da Imaginação – Poética, Narrativa, Dramática, Parabólica.

3 – Ciências da Razão – Filosofia, a qual tem por objeto: a) Deus estudado na Teologia Natural;b) Natureza, estudada na Metafísica, Física e Artes Mecânicas; c) Homem, estudado em geral, em seu corpo, em sua alma, m suas relações sociais.

Também Bacon confundiu as ciências com as artes técnicas e as belas-artes; aproxima sem razão a História Natural e a Civil. É classificação que não satisfaz, porque qualquer ciência implica a colaboração das três faculdades: memória, imaginação e razão. 

Dentre as classificações objetivas, as mais importantes são as de Augusto Comte, de Spencer e de Ampère.

CLASSIFICAÇÃO DE AUGUSTO COMTE

Esta classificação se baseia num princípio mais rigoroso que as anteriores; respeitando a independência das ciências, Comte procura agrupá-las segundo sua complexidade crescente e sua generalidade decrescente. Para justificar esse critério, afirma ainda que, na natureza, os fatos mais simples são sempre os mais gerais, e que a dificuldade de conhecer o objeto cresce à medida que aumenta a sua complexidade. Daí sua classificação:

1 – Matemática – ciência do número e da grandeza, propriedades que não só se encontram em todos os seres da natureza, como são as mais simples e universais; deve, pois, a matemática iniciar a classificação.

2 – Astronomia – deve ser a segunda na ordem de complexidade, porque é a ciência que se ocupa das massas materiais que existem no universo e seu objeto apresenta menos simplicidade que a matemática.

3 – Física – depois da astronomia, vem necessariamente a física que tem por objeto o estudo das forças da natureza.

4 – Química – cabe a esta ciência o estudo da constituição dos corpos particulares.

5 – Biologia – ciência que estuda somente os corpos químicos muito complexos e que apresentam em sua complexidade a vida, propriedade que as ciências anteriores desconhecem.

6 – Sociologia – ocupa o sexto e último lugar; é a ciência das relações que os homens devem ter entre si. Encerra os fenômenos mais complexos e mais difíceis e, por essa razão, deve estar na cúpula dessa classificação. O vocabulário sociologia foi criado po Comte.

Além dessa classificação específica, Comte dividiu a ciência em geral em dois grupos: ciências abstratas e ciências concretas. As primeiras, abstratas, tratam das leis que regem os fatos da natureza em todas as suas combinações possíveis. A este grupo pertencem as ciências já citadas. As segundas, as concretas, são as que estudam os seres reais, ou melhor, as combinações que a natureza nos apresenta na realidade. São mais ciências aplicadas e não precisam ser classificadas, pois todas elas dependem das ciências abstratas.

Quando lançada, esta classificação apresentava aspectos de perfeição. Hoje, porém, não se pode mais defender a irredutibilidade dos fenômenos físicos e químicos. A astronomia não é mais puramente mecânica. A análise espectral, pouco depois da audaz afirmação de Comte, apresentou-lhe categórico desmentido. É ainda omissa, pois fundamentada no princípio positivista não inclui a metafísica.

CLASSIFICAÇÃO DE SPENCER

 

Escreveu Spencer um opúsculo para refutar a classificação de Comte e para corrigi-la apresentou novo critério na classificação das ciências:

1 – Abstratas – que tratam das relações dos fenômenos entre si e não dos próprios fenômenos: são elas a Matemática e a Lógica.

2 – Abstrato-concretas – que tratam de agrupamentos de fenômenos, todos eles da mesma natureza, como se dá na fpisica, onde se estuda agrupados os fenômenos acústicos, óticos e elétricos; são abstrato-concretas a Mecânica Aplicada, a Física e a Química.

3 – Concretas – que tratam de agrupamentos de fenômenos heterogêneos ou de várias natureza; são elas: a Astronomia, a Geologia, a Biologia, a Psicologia e a Sociologia. Acrescenta mais que estes seres podem ser estudados em si ou nas leis de sua evolução, nas condições gerais de sua existência, o que dá lugar à Filosofia da Evolução ou Metafísica.

Spencer em parte corrigiu a classificação de Comte, mas seu trabalho também não pode ser aceito. Além de estabelecer uma distinção muito acentuada entre as ciências abstratas e as concretas, deu à Metafísica um lugar de dependência o que hoje não se aceita.

CLASSIFICAÇÃO DE AMPÈRE

O critério de Ampère foi o do princípio de dicotomia, isto é, dividiu as ciências em dois reinos: o das Ciências Cosmológicas, isto é, relativas ao Não-eu, ao Mundo, e o das Ciências Noológicas ou ciências do espírito. Dividiu cada qual em dois sub-reinos. Estes em oito classes, que se subdividem em dezesseis subclasses, apresentando assim o número de 32 ciências de primeira ordem. Destas ciências, por subdivisões sucessivas apresentou 64 ciências de segunda e 128 de terceira ordem.

Sólida em seu princípio das ciências cosmológicas e ciências noológicas, o excesso de esquematização condenou o seu tranbalho por obscuro, artificial e complicado. Para tanto, foi ele obrigado a criar ciências novas e de conteúdo duvidoso.

Houveligue, em A Evolução das Ciências, declara: É notável a importância da razão e da lógica para constituírem com toda as peças uma classificação das ciências. Os maiores gênios de todos os séculos, des Aristóteles e Bacon até Augusto Comte e Spencer, esforçaram-se para isso, sendo visível que as suas tentativas seguiram a constituição das ciências, em vez de a precederem; eles tentaram dar uma forma lógica ao que existia, mas ao mesmo tempo revelaram a sua impossibilidade absoluta para criar o quadro das verdades do futuro. É que uma ciência nunca começa por definir o seu objeto, por medir e abalizar o seu domínio: os fatos vêm primeiro, depois as observações mais gerais e só mais tarde, quando as aquisições se acumulam, é que se faz sentir a necessidade de as ordenar. As classificações de Aristóteles tiveram esse caráter de oportunidade, mas a evolução dos acontecimentos humanos só muito tempo depois é que fêz estalar, por imcompletos, os seus quadros. Outros classificadores mais ambiciosos sonharam estabelecer a nomenclatura geral das ciências atuais e futuras; o lamentável insucesso dos seus esforços prova a inanidade do seu propósito.

Pelo que acabamos de ver, podemos dizer que modernamente aceita-se como fundamento de uma classificação das ciências os princípios de Comte e de Spencer. No entanto, tais princípios não podem ser tomados no sentido materialista, pois isso reduziria a atividade da vida e do espírito aos fenômenos da matéria. Sabemos que os fenômenos psicológicos e morais são condicionados pelos fenômenos físico-químicos, mas não são produtos destes fenômenos. Por isso, podemos aceitar qualquer classificação fundamentada nos princípios citados, desde que se respeite a natureza específica dos vários fenômenos e a independência das ciências particulares, quer da natureza, quer do espírito.

   

 

 DA NATUREZA DA CIÊNCA

 

Ciência, do latim scire, etimologicamente quer dizer: conhecimento, saber. Aristóteles já a definia: é o conhecimento das coisas por suas causas. E reconhecia quatro causas: material, formal, eficiente e final.

Hoje podemos dizer que a ciência é forma particular de conhecimento, fruto do raciocínio e da observação aperfeiçoada, da razão e da experiência. Desse modo, o homem para conhecer, basta observar; para saber, é preciso que compare e generalize.

Sob outro ponto de vista, a ciência é uma crença na validade dos conhecimentos, considerados objetivamente. Meyerson afirmou: Explicar cientificamente um fenômeno consiste em identificar o antecedente com o conseqüente, em eliminar a novidade e a mudança, em estabelecer a igualdade entre os termos dados (causa e efeito).

Entre os antigos, a ciência se relacionava mais com o que hoje chamamos sabedoria, e tinha maior vinculação com o indivíduo. A ciência moderna que adquiriu um desenvolvimento extraordinário, mormente a partir do século XIX, tende à objetividade; o homem de ciência cada vez mais é absorvido por seu objeto, e em certos casos não é mais o indivíduo que faz ciência, mas o grupo (equipe). Neste sentido a ciência se desumaniza.

Segundo Husserl, a ciência é um sistema de conhecimentos certos e prováveis, baseados em princípios sistematicamente ordenados e, no sentido demonstrativo, agrupados doutrinariamente. Mas a concepção da ciência não seria completa, se apenas a considerássemos como um corpo de doutrina; compreendetambém as operações com as quais é criada, as que trazem novos fatos e operações que os sistematizam.

Jolivet encara o termo ciência, sob dois aspectos:

Objetivamentea ciência é um conjunto de verdades certas e logicamente encadeadas entre si, de maneira que formem um sistema coerente. Sob este aspecto, a filosofia é uma ciência, tanto quanto a física e a química. No mesmo sentido é preciso dizer que ela responde melhor à idéia de ciência do que as ciências da natureza, porque usa princípios mais universais e se esforça por descobrir a razão universal de todo o real.

Subjetivamenteé o conhecimento certo das coisas por suas causas ou por suas leis.  As pesquisas das causas propriamente ditas (o porquê das coisas) é reservada principalmente à filosofia. As ciências da natureza se limitam a pesquisar as leis que governam a coexistência ou a sucessão dos fenômenos (a pesquisa do como).

Considerando ainda a finalidade da ciência, cremos que seu objeto é querer compreender e explicar a realidade, tornando-a clara e acessível à razão; é o que Meyerson denomina racionalizar o real. Ora, se a ciência tem por fim racionalizar o real, implica a abstração e esta tende ao geral, às proposições universais ou, cientificamente falando, às leis. Logo, não há ciência do particular. Desse modo, o indivíduo interessa à ciência apenas como ser que se submete a essas leis.

Para Santo Tomás: Scientia est assimilatio mentis ad rem saitam (A ciência é a assimilação do espírito à coisa conhecida). Wolff define-a: é o hábito de demonstrar o que se afirma ou de deduzir de princípios certos e imutáveis por meio da legítima conseqüência. E Kant considera sempre como ciência propriamente dita o que é objeto de uma certeza apodítica, mas define a ciência em geral, como a doutrina que forma um sistema ou todo conjunto de conhecimentos ordenados segundo princípios. Este último conceito hoje em dia é clássico.

Lei, em sentido lato, é toda regularidade observada na conduta e na natureza. No sentido jurídico, é o conjunto de regras de conduta que o poder governamental sanciona e reconhece como aquelas que fará cumprir e de acordo com as quais regulará, limitará e protegerá os atos de seus membros. No sentido puramente científico é a generalização alcançada pela investigação empírica.

Vemos, pois, que é muito amplo o sentido de lei. A lógica Material deve preocupar-se apenas com o conceito universal e, de acordo com a metodologia, deixa a conceituação restrita às ciências particulares, se bem que possa criticá-las.

Segundo o Vocabulaire Technique et Critique de la Philosophie de Lanlande, assim podemos analisar o conceito universal de lei:

1 – Regra geral e imperativa que rege a atividade humana, desde que o homem é homem:

a) Imposta sem declaração expressa, pelo uso, pelo costume e pela tradição. Exemplo claro são as leis da moda;

b) Formulada e promulgada em termos autênticos pela autoridade soberana de um estdo. Estas leis podem ser chamadas positivas, por oposição às leis morais ou divinas, consideradas como naturais;

c) Que expressa a vontade de Deus; como a lei antiga (o código de Moisés) ou a lei nova (doutrina de Cristo ou Evangelho).

2 – Exercício de uma autoridade, coação imposta pelos homens. Neste sentido compreende-se a lei do vencedor, a lei de Linche, etc.

3 – Regra obrigatória que expressa a natureza ideal de um ser ou de uma função; norma à qual esse ser ou função deve submeter-se para realizar-se:

a) Leis do espírito, no sentido em que esta expressão designa os axiomas fundamentais com os quais o pensamento deve estar de acordo para um valor lógico;

b) Sob o ponto de vista moral a lei natural é o princípio do bem, tal como se revela à nossa consciência. A lei moral, pode ser considerada o princípio de ação universal e obrigatória a que o ser racional deve submeter seus atos, para realizar a sua autonomia;

c) Leis de um gênero, em Estética, temos as leis da arte, são as condições que uma obra deve preencher para realizar plenamente o ideal do gênero a que pertence.

4 –  Fórmula geral demonstrativa – tal que dela se podem deduzir os fatos de uma certa ordem, como a lei de Mariote, a lei da gravidade, etc. Neste sentido designam-se as leis da natureza.

Uma das mais célebres definições de lei é a de Montesquieu, no livro I do Esprit des Lois: As leis, na significação mais genérica, são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas; e neste sentido todos os seres têm as suas leis.

Fontepesquisada:(Dino F. Fontana, HISTÓRIA DA FILOSOFIA, PSICOLOGIA E LÓGICA, sARAIVA, São Paulo, 1969)  

 POSTED BY SELETINOF 1:00 PM