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TEORIA HOLOGRÁFICA DAS CORDAS & PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

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PSIQUE & SINGULARIDADE

Uma comparação da Psicologia Transpessoal de Carl Jung e a Teoria Holográfica das Cordas de Leonard Susskind

Timothy Desmond

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Nesta dissertação, discernimos o que Carl Jung chama de imagem da mandala do arquétipo final da unidade subjacente e estruturante do cosmos e da psique, apontando paralelos entre sua psicologia transpessoal e a teoria das cordas do físico de Stanford, Leonard Susskind. Apesar de sua interpretação ateísta e materialistamente reducionista, demonstro como a teoria das cordas de Susskind sobre a conservação da informação holográfica nos horizontes de eventos dos buracos negros e no horizonte cósmico do universo corrobora os seguintes quatro tópicos sobre os quais Jung escreveu: (1) seu experiência de quase morte no horizonte cósmico após um ataque cardíaco em 1944; (2) sua equação relacionando energia psíquica com massa, “Psique=maior intensidade no menor espaço”, que traduzo na equação, Psique=Singularidade; (3) sua teoria de que a mandala, um círculo ou esfera com um ponto central, é a imagem simbólica do arquétipo último da unidade através da união dos opostos, que estrutura tanto o cosmos quanto a psique, e que surge espontaneamente do inconsciente coletivo para compensar uma mente consciente dilacerada por exigências irreconciliáveis; e (4) sua teoria da sincronicidade. Argumento que o modelo de buraco negro de dentro para fora do nosso universo do Big Bang de Susskind forma uma mandala geometricamente perfeita: uma Singularidade central englobada por uma esfera bidimensional que serve como um banco de memória universal. Além disso, em cumprimento preciso da teoria de Jung, Susskind usou essa mandala para reconciliar os paradigmas notoriamente incomensuráveis da relatividade geral e da mecânica quântica, fornecendo no processo uma explicação matematicamente plausível para a experiência de quase morte de Jung em sua vida passada, presente e futura simultaneamente. no horizonte cósmico. Finalmente, a teoria de Susskind também fornece um modelo cosmológico plausível para explicar a teoria da sincronicidade de Jung – coincidências significativas podem ser ligadas por fios no horizonte cósmico, de onde irradiam para dentro como o “filme” holográfico do nosso mundo tridimensional.

Dissertação Apresentada à faculdade California Institute of Integral Studies em cumprimento parcial dos requisitos para obtenção do grau de Doutor de Filosofia em Filosofia e Religião com concentração em Filosofia, Cosmologia, e Consciência.

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California Institute of Integral Studies

<https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/43636699/Psyche_Singularity_A_comparison_of_Carl_Jungs_Transpersonal_Psychology_and_Leonard_Susskinds_Holographic_String_Theory-libre.pdf?1457730326=&response-content-disposition=inline%3B+filename%3DPSYCHE_SINGULARITY_A_COMPARISON_OF_CARL.pdf&Expires=1710763952&Signature=WghNxnJCMhQt9585DUkKLa92qqsMLQsDzCJQDZiT01iuCtaml2rb7lnY2VtIgueXSCx9c0prZNWAaLmmQo5As3~jFCYq~FG3lmp-dXrawyoFoRWuL1XBoX-oBmouRFWWdXsnfignHGrtYbp4Xo1p~zOaOnaUv-q5BGVesrRsFcpeeLy0MFLD1tTV52X6y-tOulymXRhchjiXMKqk2aUQzisuvYbJDN4y1m-AssRIzmsWYpQAyCENMaSF~E7WvcMoltudyYD~po5BBeiGHE7fcby9cvdOEFjTYXRborBeN3VYqWiDZCMRVhQIqswP0UFg5fO1kx6uTcR7skbMzJsUbg__&Key-Pair-Id=APKAJLOHF5GGSLRBV4ZA>

Biografia de Leonard Susskind

<https://www.thoughtco.com/leonard-susskind-2698931>

A MENTE CORPORIFICADA -Experiência Humana

A experiência humana se define segundo o nosso “Eu Fenomenal Unitário”, donde a vivência se estabelece na interface de Universos Espelhos Acoplados. O corpo vivo é diferente do corpo físico, ou seja, o corpo vivo – em constante transformação – está presente nesta interface dada entre tais universos, mas o corpo físico está presente em cada universo de matéria e antimatéria.

Ainda, a mente é um campo quântico a partir do qual a consciência pode surgir. Isto é, assim como não há distinção entre elétrons num campo quântico eletrônico, também não há distinção entre consciências num campo quântico mental. Todavia, quando ocorre um acoplamento entre universos-espelhos, emerge uma consciência resultante do emaranhamento quântico de “corpos físicos” específicos de matéria e antimatéria, dando origem a um “corpo vivo”: a MENTE CORPORIFICADA,

_____________________Rogério Fonteles Castro
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A MENTE CORPORIFICADA: O INÍCIO DE UM PROGRAMA DE PESQUISA

Artigo:

https://periodicos.ufpi.br/index.php/pet/article/view/2002/1825

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KOSMOS – COSMOLOGICAL CONSCIOUSNESS BETWEEN MIRROR UNIVERSES: A NEW PSYCHOPHYSICAL PARADIGM

Livro:

https://seletynof.wordpress.com/2016/12/17/a-fisica-desmaterializou-a-materia/

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Leonardo Ferreira Almada – “A mente corporificada: o início de um programa de pesquisa”

Vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=UKIJIbjyUUo

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NATURE AND SPIRIT

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TRANSCENDENCE IN IMMANENCE

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According to Del Ñero: “Physics seeks the synthesis between two theories. What is very small becomes quantum. What is very large, relativistic. The dream, chimera perhaps, of quantum gravitational theory seeks to bring together what uncertain, that is, quantum, with what is relative, that is, the approach of the Theory of Relativity. In the middle of the path, that which unifies the small and the great, there is a stone: Man”.

As Friedrich Wilhelm Schelling said, “nature is visible spirit and spirit is invisible nature”. Here, in view of Schelling’s statement and our New Cosmology, corresponding to antimatter, we have the invisible nature or spirit, and to matter, we have the visible spirit or nature.

Immanuel Kant, on the other hand, confers two laws before nature and spirit: “Two things fill the mind with an ever new and increasing admiration and awe, the more often and steadily we reflect on them: the starry heavens above me and the moral law within me. I do not seek or conjecture any of them as if they were veiled obscurities or extravagances beyond the horizon of my vision. I see them before me and connect them immediately with the consciousness of my existence”. Now, starting from Kant’s statement, we can match consciousness in Kant to our cosmological consciousness.

From everything above, we conclude that Schelling performs the unification of spirit-matter, subject-object, at the level of the immanent. Kant, on the other hand, in view of the subject-object dichotomy, performs unification at the level of consciousness, at the level of the transcendent.

Now, the man, revealed by Del Ñero, in fact, according to Schelling and Kant, above, and with our proposal of the “cosmology of consciousness”, ceases to be an obstacle, “a stone in the way”, to become, himself, the way itself.

EPISTEMOLOGIA COMPLEXA DE GASTON BACHELARD E A EPISTEMOLOGIA DA FÍSICA QUÂNTICA

Um dentre os muitos sentidos em que o termo ‘COMPLEXIDADE’ encontra acolhida no contexto do debate sobre a TEORIA QUÂNTICA é o da EPISTEMOLOGIA DA COMPLEXIDADE de Gaston Bachelard, tanto no que diz respeito à inversão do problema da intuição em Descartes (o qual consubstanciamos em citações do próprio Bachelard exibidas em notas de rodapé) quanto em relação ao necessário, e diria até mesmo inesgotável, diálogo entre a teoria e a experiência. Se o ser não é mais imediatamente captado de maneira clara e distinta, pois a doutrina das naturezas simples e absolutas é uma ilusão, então faz-se necessário que venhamos a recorrer às relações necessariamente complexas ensejadas pelo diálogo – em certo sentido interminável – entre teoria e experiência. “(…) Se, a propósito da psicologia do espírito científico, pudéssemos colocar-nos precisamente na fronteira do conhecimento científico, veríamos que o que ocupou a ciência contemporânea foi uma verdadeira síntese de contradições metafísicas. Contudo, o sentido do VETOR EPISTEMOLÓGICO parece-nos bem nítido. Vai seguramente do racional ao real e não, ao contrário, da realidade ao geral, como o professaram todos os filósofos de Aristóteles a Bacon”. (BACHELARD, 1988: 4). Ora, se um dos aspectos mais relevantes da epistemologia complexa de Gaston Bachelard constitui um novo espírito científico que tem como características precípuas as necessidades recíprocas e indissolúveis tanto da experiência raciocinar quanto do raciocínio experimentar, e, ademais, que este novo espírito científico constitui um entrelaçamento complexo de metafísicas contraditórias, mas que o vetor epistemológico vai sempre na direção do racional para o real, então vemos muito claramente uma aproximação entre essa epistemologia complexa de Bachelard e a epistemologia popperiana do racionalismo crítico que adota que o método da ciência é o das conjecturas e refutações (POPPER, 1982).

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ARTIGO:

<https://www.docdroid.net/vFZ0hOn/a-filosofia-da-mecanica-quantica-de-gaston-bachelard1-pdf#page=3&gt;

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NATUREZA HUMANA

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GEORGES BATAILLE … O EROTISMO

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Etnólogo confessadamente apaixonado, FILÓSOFO que quer superar os limites da ciência assumida pela filosofia, Georges Bataille encontra em seu objeto — o EROTISMO — a chave para desvendar o aspecto mais fundamental e determinante da NATUREZA HUMANA. Aquele ponto em que o homem é ao mesmo tempo social e animal, humano e inumano, além de si mesmo. Nesta obra, os impulsos da religião cristã e os da vida erótica aparecem em sua unidade:

 

“O ESPÍRITO HUMANO está exposto às mais surpreendentes injunções. Constantemente ele teme a si mesmo. Seus movimentos eróticos o apavoram. A SANTA afasta-se com terror do SENSUAL: ela ignora a unidade das paixões inconfessáveis deste último com as suas. Entretanto, é possível procurar a coesão do espírito humano, cujas possibilidades vão da santa ao sensual.” (GEORGES BATAILLE).

 

“O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa.”(Eduardo Galeano).

 

“O conflito entre ÉTICA e SEXUALIDADE, em nossos dias, não é uma mera colisão entre instintividade e moral, mas uma luta para justificar a presença de um instinto em nossas vidas e para reconhecer neste instinto um poder que procura sua expressão, e com o qual, manifestadamente, não se pode brincar e que, por isso, também não quer se submeter às nossas bem-intencionadas leis.” (CARL G. JUNG).

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“Quem experimenta a BELEZA está em comunhão com o SAGRADO.” (Rubem Alves).

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DOWNLOAD BOOK:

<https://www.docdroid.net/W2abV1z/georges-bataille-o-erotismo-pdf>

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VÍDEO DE GEORGES BATAILLE:
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Georges Bataille – Biografia:
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LA DYNAMIQUE DE L’INCONSCIENT

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SÓ ACREDITO EM UM DEUS QUE SAIBA DANÇAR

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Por Rogério Fonteles Castro

Graduação e Pós-Graduação em Física

Universidade Federal do Ceará

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REAPROXIMAÇÃO ENTRE OPOSTOS

A Dinâmica do Inconsciente

Sagrado versus Profano 

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Carl Jung, Friedrich Nietzsche,

Ken Wilber, Silvia Montefoschi,

Edward Whitmont, Marshall McLuhan.

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DIONISO E APOLO E A LOUCURA DIVINA

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A dicotomia estruturadora da psique humana, que ora é regida pelos impulsos racionais (apolíneos), ora pelos impulsos sexuais e instintivos (dionisíacos) gera movimento. A ordem que surge do caos e a implosão de uma ordem rígida mostra a impermanência e a verdade da vida humana.

Servir a apenas um desses espíritos gera unilateralidade que bloqueia o fluxo de energia psíquica e o movimento da psique.

Apolo planeja e executa, mas na rigidez implode e mata a vida e a libido. A busca da estabilidade em uma vida efêmera causa angustia existencial. Dioniso intoxica e gera caos, mas não da forma aos seus devaneios e sonhos. A instabilidade da vida o aniquila em vícios.

A união desses dois aspectos é o equilíbrio entre o sonhar e realizar. O caos e a ordem em equilíbrio transcendente, que se unem criando nova vida e inspiração visionária.

Hellen Reis Mourão

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ocidental

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A GRANDE MÃE PAGÃ

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À medida que o DEUS intangível (sagrado) tornou-se a representação absoluta do BEM, coube à natureza humana carregar a projeção do MAL – o que exprime a implacável inimizade existente entre o patriarcal e a matriarcal Grande Mãe pagã. Pois mater, que é matéria, significa feminino, a alegre experiência da matéria no êxtase sensual, a carne instintiva. Daí, a Natureza tornada maligna e pagã (profana), os domínios do diabo tiveram de ser subjugados e mortificados pela parte divina do homem.

 

EDWARD C. WHITMONT

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Assim, mais do que óbvio, portanto, o aspecto da natureza feminina – a sexualidade – ter sido tão reprimido na civilização cristã. Consequentemente, muito mais que sobre o homem, pesam sobre a mulher as sanções que obrigam a repressão do instinto sexual. Mas, paradoxalmente, ao símbolo trinitário cristão, foi acrescido o símbolo da matéria – ou seja, a mulher -, personificada então na Virgem Santíssima. Isto, convém esclarecer, porque a completação do símbolo ternário cristão – estabelecida com o dogma da Assunção de Maria -, transforma o símbolo trinitário num símbolo quarternário, o qual se diz mais harmonizado e mais perfeito, arquetipicamente falando.

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divino

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HOMEN: DIVINO, NATURAL E HISTÓRICO

Ontologia versus Cosmologia

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Os pré-socráticos, mais especificamente, os jônios, na busca da arché e da consequente evolução do universo a partir desse princípio primordial, estabeleceram uma cosmologia do Universo. Mas, os eleatas, passando da cosmologia à ontologia, negavam o devir e o movimento do Universo, postulando, então, a unidade do ser: não admitiam qualquer evolução, já que o Universo sempre foi o mesmo.

Tendo em vista o pensamento dos pré-socráticos, propomos aqui a existência do Homem como resultado de três vertentes: Divina – porque Criação -, Natural – porque Evolução -, Histórica – porque Socialização. Ou seja, criação, sim, pensando a existência ontologicamente; natural e histórico, sim, pensando a existência cosmologicamente.

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A DESCOBERTA DO INCONSCIENTE

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Através da observação dos sonhos como  fenômenos psíquicos ligados a desejos não manifestados conscientemente, Freud postulou a existência  do inconsciente.

O sonho é manifesto por sinais do aparelho psíquico e, uma vez interpretado, se revela a realização de um desejo inconsciente do sonhador. Para chegar a essa conclusão, Freud derrubou as duas formas como as nossas narrativas noturnas costumam ser interpretadas por leigos (ainda hoje, diga-se). A primeira delas, como uma premonição. Para Freud, o sonho seria mais um insight do que uma visão de futuro. Se o sujeito tem um sonho recorrente de que está cercado de pessoas de branco e, um belo dia, se torna médico, não é poque teve uma visão noturna de que seria médico, mas porque foi manifestado o desejo de exercer a  profissão. (…) A segunda interpretação equivocada é a da simbologia, de que sonhar com algo significa alguma coisa específica. Jogue o primeiro cachimbo quem nunca abriu o Google e pesquisou algo como  “sonhar com morcego”. O problema aqui não é o morcego, é o Google. Para Freud, cada pessoa precisa de um site de pesquisa próprio no  cérebro  para interpretar o que o morcego simboliza. Se o sonhador é biólogo, significa uma coisa. Se é fã do  Batman, outra completamente diferente.

Fábio Mesquita

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Paradoxal, nossa proposta parte do pensamento de Aristóteles: não há somente o “ser” e o “não-ser”, há também o “poder-ser”, o qual existe em potência. Segundo os conceitos de potência e ato do estagirita, a existência, então, se originaria da atualização e potencialização, num processo dialético. Hodiernamente, segundo a “lógica do terceiro incluído” de Lupasco, portanto, a realidade em geral possui uma estrutura ternária, donde a existência se estabelece segundo uma tridialética: “a Realidade em sua integralidade não é senão uma perpétua oscilação entre a atualização e a potencialização. Não há atualização absoluta”.

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ÜBERMENSCH

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O termo alemão Übermensch – “super-homem”, “sobre-homem”, ou “Além-Homem” – trata-se de um conceito filosófico descrito no livro Assim Falou Zaratustra (Also sprach Zarathustra), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. A expressão sugere a ideia de ir além das limitações convencionais da condição humana, rompendo com valores tradicionais e normas morais que Nietzsche via como restritivas. O Além-Homem é um ser que busca a auto-superação, a afirmação da vida e a criação de sua própria ética, livre das amarras das tradições moralistas. Portanto, quando se fala em “Além-Homem” no contexto da filosofia de Nietzsche, refere-se a um ideal de humanidade que transcende as concepções convencionais e busca uma expressão mais plena e autêntica da existência.

Wikipedia

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Tudo acima, estaria de acordo com Nietzsche, segundo o qual “a vida não é um simples fazer prático que diz respeito ao terreno da utilidade; não designa apenas um ato particular, mas um ato fora do qual NADA EXISTE”.

Enfim, de certa forma, como podemos constatar, tudo aqui se coaduna com o “existir para fora” segundo Heidegger: é a perspectiva de se pensar o imanente a partir da distinção entre ser e vir-a-ser. A realidade – incluindo nós seres humanos – se estabeleceria de forma furtiva e misteriosa no “nada”: espaço aberto para o ser, o espaço do sagrado.

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REALISMO

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FUNDAÇÃO DA CULTURA OCIDENTAL

Verdade – Bondade – Culpa – Pecado – Neurose

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O grande elogio ao MUNDO TRÁGICO, Nietzsche o realizou em seu primeiro livro, O Nascimento da Tragédia. Aí ele descreve a tragédia como união de dois impulsos básicos da natureza: o impulso dionisíaco e o impulso apolíneo. 

Ao IMPULSO DIONISÍACO, assim nomeado em referência ao deus Dionísio, pertencem todas as forças que estão presentes na vida sob a forma de êxtase, união cósmica com a Natureza em alegria ou sofrimento, expansão, intensidade, fecundidade, eterna transmutação. Dioniso é o caos originário, o sem fundo proliferante a partir do qual se produzem todas as formas; o conjunto das forças do mundo em eterno movimento de expansão e de intensificação, prenhe de virtualidades, aspirando a alguma forma possível.

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HOMEM, O SEMIDEUS ESQUIZÓIDE

Céu e Inferno

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Com o aumento das células cinzentas do grande cérebro dos primatas de porte ereto, proporcionando mãos hábeis empunhar o varapau, a humanidade tomou um caminho obscuro e perigoso. Esse caminho não é ladeado apenas por ações intelectuais, descobertas, invenções e realizações culturais, mas também por maldades morais, violências e crimes. Do esquizóide animal superior resultou um ser que traz em si o céu e o inferno.

Herbert Wendt

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Ao IMPULSO APOLÍNEO, que faz referência ao deus Apolo, pertencem as forças ligadas a processos de dar forma, limites, contornos, individualidade, clareza e direção a impulsos originalmente caóticos.

A tragédia realiza, pois, essa união dos dois impulsos, ao dar forma estética às profusões transbordantes da vida.

Entretanto, a angústia diante dos perigos desse caos originário, dionisíaco, levou o homem grego a achar que não bastava disfarçá-lo sob o manto da bela forma apolínea: era preciso discipliná-lo, ordená-lo, dividindo-o em verdades e falsidades, em categorias de Bem e de Mal. Era preciso substituir esse saber intuitivo, artístico, por um conhecimento racional, capaz de permitir o CONTROLE DO MUNDO.

Isso foi realizado pela METAFÍSICA e pela MORAL, a primeira fundando um mundo verdadeiro por meio da RAZÃO; a segunda fundando um mundo bom por meio do imperativo MORAL. Mas, ao fazer isso, o homem grego passava a selecionar, filtrar os impulsos da natureza: doravante somente aqueles disciplináveis e ordenáveis em termos de valores de Verdade e de Bondade passariam na seleção. E a VIDA, que para os trágicos era integralmente justificada, passou a ter uma parte considerada falsa e outra má, portanto ambas repudiáveis.

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APOLODIONISIO

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APOLO versus DIONÍSIO

Eterno Conflito entre Opostas

Criação e Morte

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Com a FILOSOFIA SOCRÁTICA nasciam os valores metafísicos e os valores morais, transferindo o lógos (=razão) e a dikê (=justiça), que para os trágicos eram imanentes ao cosmos, para a esfera das habilidades e decisões humanas, dando forma, então, às noções de inteligência, responsabilidade e culpa. O HOMEM, finalmente, ocupava o centro do mundo, esconjurando todas as forças misteriosas que um dia aprendera a respeitar. Rapidamente, a tragédia declinou e desapareceu.

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LESBIANIDADES

REFERÊNCIAS LEGITIMADORAS DA SEXUALIDADE

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O que vemos com esses relatos é que as normatividades de gênero e de sexualidade estão presentes em nossa sociedade atuando na produção dos modos de subjetivação, desvalorizando e dessexualizando as mulheres e relegando as lesbianidades a um lugar de abjeção. Reconhecer a existência lesbiana é rever todo o sistema heteronormativo e androcêntrico, é desconstruir o sistema de sexo binário e ir além do sexo, pois podemos pensar os modos de vivenciar o prazer, a sexualidade e as relações afetivo-sexuais não como baseadas na natureza ou na biologia, na masculinidade genitalizada, ou mesmo como determinismos culturais, mas produzidas, construídas, e, exatamente por isso, múltiplas e passíveis de mudança. Reconhecer a potencialidade sexual entre mulheres é, a partir da abjeção de uma subjetivação/vivência/singularidade das sexualidades, rever o sistema hegemônico.

Livia Gonsalves Toled

Fernando Silva Teixeira Filho

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A Esquilo, Sófocles e Eurípedes (que Nietzsche já considerava um trágico decadente) seguiram-se Sócrates, Platão, Aristóteles. A vida perdia sua FECUNDIDADE e sua PROFUSÃO CÓSMICA em formas disciplinadas, ordenadas.

Intensidade cedia lugar ao meio-termo: do MUNDO REAL – multiproliferante -, ao MUNDO IDEAL – o mundo das Ideias platônicas, o universo dos conceitos e da lógica aristotélicos -, à medida que esse segundo mundo, o ideal, tornava-se critério do primeiro, passando a avaliá-lo, discriminá-lo, selecioná-lo, hierarquizá-lo; ou, num só termo, a controlá-lo a partir de critérios metafísicos e morais, quer dizer, de critérios racionais.

Quando surgiu o CRISTIANISMO, mais tarde, ele só veio reforçar e dar forma a esse ascetismo, através da noção de pecado, que se sobrepôs à de culpa. O homem radiante, inocente, puro esplendor, que já se tornara responsável e culpado, torna-se, então, PECADOR num mundo gerador de pecado, só lhe restando renunciar à vida terrena, “má”, e ao mundo real, “pecaminoso”, por uma vida eterna, “boa”, e um mundo imaginário, “redentor”. Estava fundada a CULTURA OCIDENTAL.

Fundada tal cultura, e tendo em vista a obrigação de todo ser humano buscar a PERFEIÇÃO de acordo com sua fé cristã, foi constituído todo um maquinário para reprimir o ser humano e tirar-lhe a liberdade de viver. Eis que surgem, como consequência, os mais diversos casos de NEUROSE.

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“SÓ ACREDITO EM UM DEUS QUE SAIBA DANÇAR”

Agora Salta em Mim, Um Deus que Sabe Dançar: Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar.

JESUS CRISTO: SER HUMANO PLENO

O ALÉM DO HOMEM DE NIETZSCHE

 No fundo houve um único cristão, e este morreu na cruz.

Friedrich Nietzsche

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Para Nietzsche, Jesus pregara uma religião do amor, um budismo dos inocentes de Deus, para quem a bem-aventurança consistiria na vivência atemporal da realidade interior, na fuga de qualquer rigidez moralista. “Que significa a ‘Boa Nova’? A vida verdadeira, a vida eterna foi encontrada – ela não é prometida, está aqui, está dentro de vós: como vida no amor, no amor sem subtração, nem exclusão, nem distância. Todos são filhos de Deus – Jesus não reclama nada exclusivamente para si –, enquanto filho de Deus, todo homem é igual ao outro”? Aqui não são firmados artigos de fé; trata-se, antes, de uma prática evangélica? de comunhão com o “Pai” e com o próximo. O mundo externo adquire a consistência diáfana da parábola, alegoria da verdadeira realidade interna, sem pecado, culpa ou expiação.

Agora, refletindo sobre os dois maiores mandamentos, segundo o Evangelho de Cristo – “amarás ao teu Deus acima de todas as coisas” e “amarás ao próximo como a Ti mesmo” -, podemos obter respostas aos questionamentos de Nietzsche quando de seu aforisma “Deus está Morto”. Se não, vejamos!

Em “Amar a Deus sobre todas as coisas”, este Deus para Cristo seria uma CONSCIÊNCIA cósmica, como em Husserl, e ATO, como em Aristóteles.

Em “Amarás ao próximo como a Ti mesmo”, Cristo se referiria ao vir-a-ser, ao DEVIR de Heráclito: resultado da dialética entre o Ser e o Não-Ser (Eu e o Outro).

Mas, há ainda o PODER-SER, a partir do qual se geraria toda a existência pela ação do Ato de Aristóteles ou Consciência Cósmica.

Assim, como consequência de não sabermos lidar com o Poder-Ser (no qual temos todas as realidades possíveis, ou potencialmente existentes), o fato de que DEUS ESTÁ MORTO se concretiza e se justifica pela perda de nossa capacidade criativa (fantasia mais realização) e pela nossa alienação da vida “vivida”. Ou seja, o Deus mortificado, ao qual se refere Nietzsche – ao contrário daquele professado na grande maioria das igrejas e sinagogas -, sendo um dançarino, sendo flexível, nos ensinaria a lidar com o DEVIR, com o novo; e, portanto, não nos condenando indiscriminadamente, faria buscarmos o entendimento, a harmonia, proporcionando, assim, a cada um de nós, o exercício do Amor a Si Mesmo, ao Próximo e à Consciência Cósmica, ou DEUS(A) vivo(a), criador(a) e criatura, enigma da Existência.

“Nietzsche, apesar de toda hostilidade, considerava o símbolo do Cristo crucificado como “o mais sublime de todos os símbolos. Afirmava que ‘Jesus continua sendo o único cristão que já viveu’.” (Hubert Dreyfus).

Felizmente, JESUS CRISTO fez renascer o(a) DEUS(A) vivo(a), Aquele(a) mesmo(a) que NIETZSCHE profetizou sua morte!!!! A respeito de Cristo, escreveria Nietzche: “o único cristão morreu na cruz”; ou seja, o nazareno representaria o verdadeiro AMOR nietzschiano, para além de todo “bem” e todo “mal”.

“Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas. Amor-fati: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!.” (Nietzsche, Gaia Ciência).

Daí, corroborando tudo acima, em sua famosa frase O HOMEM ESTÁ CONDENADO A SER LIVRE, Sartre estabelece que a LIBERDADE do homem se caracterizaria pela capacidade humana de passar da realidade potencial à realidade factual, sendo, assim, a condenação justificada pelo fato da EXISTÊNCIA se realizar inexoravelmente a partir do exercício desta capacidade.

Concluímos, então, que a LIBERDADE é nossa condenação à VIDA, sim, mas para saber vivê-la BEM é imprescindível que exercitemos nossa capacidade de DANÇAR de acordo com o(a) DEUS(A) em Cristo e em Nietzsche.

O HOMEM, enfim, segundo Fritz Kahn – como o pai amoroso de todas as criaturas, o guardião de toda beleza -, é o sacerdote para quem o Universo é um templo grandioso onde a sua religião é o culto do enigma indecifrável da existência: a Natureza. Aqui, então, a Natureza se constituindo no(a) grande DEUS(A) – enigma da EXISTÊNCIA -, é a provedora de toda a realidade, bem ao estilo de Espinosa.

Rogério Fonteles castro

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O Processo Neurótico, então, é uma forma especial do desenvolvimento humano, mas é uma forma especialmente infeliz, por causa do despedício de ENERGIAS CONSTRUTIVAS que implica. Difere do crescimento normal, não apenas em qualidade, porque chega a se opor a ele de muitas maneiras, numa proporção, aliás, bem maior do que se tem pensado. Sob condições favoráveis, as energias do homem convergem para a realização das suas próprias potencialidades, mas esse processo está longe de ser uniforme. De acordo com seu temperamento, as suas faculdades e propensões e as condições da sua vida pregressa e posterior o homem pode-se tornar mais dócil ou mais duro, mais cauteloso ou mais confiante, acreditar mais ou menos em si próprio, ser mais contemplativo ou mais extrovertido e desenvolver melhor ou pior as suas habilidades especiais. Entretanto, qualquer que seja o caminho seguido, serão, sempre, as suas potencialidades que ele desenvolve.

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QUE SEJA EM SEGREDO

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Houve um tempo em que o desejo sexual transpôs os limites da espiritualidade reclusa. Os homens procuraram profanar os conceitos de virtude que os oprimiam e aos quais se submetiam num próprio ato irreverente de maculação. Como poucas vezes, a interdição sexual teve a função de afrodisíaco. Era preciso degradar o fascínio do mal; espiritualizar o corpo e erotizar a alma. Para isso, nada como buscar o prazer na escuridão das celas dos conventos.

Ana Miranda

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Contudo, quando um indivíduo é submetido a pressões internas, pode acontecer que ele se alheie do seu próprio eu (EU REAL). Dirigirá, então, a maior parte das suas energias, no sentido de se transformar num ser absolutamente perfeito (eu idealizado), por meio de um sistema rígido de normas íntimas. A imagem idealizada que faz de si próprio e o orgulho que experimenta por causa dos extraordinários predicados que (assim o sente) tem, que poderia ou deveria ter, só ficam satisfeitos com uma PERFEIÇÃO DIVINA. Esta tendência do desenvolvimento neurótico atrai a nossa atenção, não apenas por causa do interesse clínico e teórico que possamos ter por fenômenos patológicos, mas, também, porque envolve um problema moral fundamental: o desejo, impulso ou obrigação moral de atingir a perfeição, que o homem experimenta. Os que estudam seriamente o problema do DESENVOLVIMENTO HUMANO não duvidam da inconveniência do orgulho ou arrogância, ou do desejo de parecer perfeito, quando motivado pelo orgulho. Há, portanto, uma grande divergência de opiniões a respeito da necessidade ou conveniência de existir um SISTEMA DISCIPLINAR íntimo, para assegurar a conduta moral.

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NEM MÁQUINA, NEM CULPA,

FESTA!!!!

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O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência;

Nem uma culpa como nos fez crer a religião;

O corpo é uma festa”.

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Eduardo Galeano

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Agora, no conceito de Deus, então, representado pelo símbolo da Trindade, está excluído o princípio feminino, pois a Trindade tem caráter exclusivamente masculino. Jung, explorando em profundidade o inconsciente, ensina que os símbolos ternários são símbolos incompletos, sendo a totalidade melhor exprimida em símbolos quaternários. Foi, assim, que o dogma da Assunção de Maria significou a satisfação à exigências do arquétipo da quaternidade, muito embora o dogma não implique que a Virgem haja atingido o status de deusa. (…) Observe-se que enquanto as Três Pessoas Divinas são espíritos, são seres imponderáveis, a Virgem é frequentemente associada à terra, ao corporal. Ainda, no cristianismo a ideia do mal acha-se estreitamente correlacionada à matéria (terra) e à mulher. Assim, o acréscimo do “símbolo mariano” à trindade cristã, resultou no símbolo quaternário que é mais perfeito; ou melhor, à trindade (pai,filho, espírito santo), que diz respeito somente ao mundo transcende (espiritual), foi necessário acrescentar o símbolo mariano (Maria Santíssima), que diz respeito ao mundo imanente (material), para completar o símbolo que representa o Ser supremo. Daí o transbordamento do Amor de Deus pelo Homem – este feito à imagem do Altíssimo: matéria e espírito -, representado pelo Símbolo Quaternário cristão. 

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APOLO versus DIONÍSIO 

_________Platonismo___________

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Platão, buscando estabelecer uma solução para a problemática entre Parmênides (Teoria do Ser) e Heráclito (Teoria do Devir), postulou a existência do mundo suprassensível, representado pelo Mundo das Ideias – ou Mundo Espiritual. Com isto, advogando em favor de Parmênides, Platão considerava que tudo ligado à matéria era imperfeito, impuro e passageiro, ao passo que, tudo que se referia ao Mundo das Ideias, era perfeito, puro e eterno. Assim, a dicotomia platônica condenava qualquer coisa que estivesse ligada à matéria, à vida sensível dos instintos, e proclamava a salvação através do acesso ao Mundo das Ideias. Daí o platonismo presente nas religiões ditas cristãs: donde o SAGRADO se restringiria ao mundo suprassensível e o PROFANO ao mundo sensível. Além disso, se gerou toda uma controvérsia, entre IDEALISTA e REALISTAS, entre espiritualistas e materialistas, entre teoria e prática, que se estendeu até os dias de hoje.—–

Mondolfo

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A noção de arquétipo, postulando a existência de uma base psíquica comum a todos os humanos, permite compreender porque em lugares e épocas distantes aparecem temas idênticos nos contos de fadas, nos mitos, nos dogmas e ritos das religiões, nas artes, na filosofia, nas produções do inconsciente de um modo geral seja nos sonhos de pessoas normais, ou em delírios de loucos. Aqui, particularmente, com relação ao arquétipo do SELF, Jung estabeleceu um estudo das transformações pelas quais este vem passando e suas correlações com as modificações da visão do mundo elaborada pelo homem no curso da era cristã. Nessa linha de pensamento do mestre, Marie Louise von Franz, em estudos de muita originalidade, identificou dois cortes transversais, distantes um do outro 14 (quatorze) séculos, resultantes desse lento processo de desenvolvimento do self que vem se desdobrando na profundeza do inconsciente coletivo. 

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O EROTISMO – GEORGES BATAILLE

_________Forças da Vida__________

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O ESPIRITO HUMANO está exposto às mais surpreendentes injunções. Constantemente ele teme a si mesmo. Seus movimentos eróticos o apavoram. A SANTA afasta-se com terror do SENSUAL: ela ignora a unidade das paixões inconfessáveis deste último com as suas. Entretanto, é possível procurar a coesão do espírito humano, cujas possibilidades vão da santa ao sensual.

Assim, quem deseja gerar algo vivo deve descer às profundezas primordiais onde residem as próprias forças da vida. E quando voltar à superfície, haverá um brilho de loucura em seus olhos porque lá embaixo, a vida e a morte convivem como uma só. O próprio mistério original é louco – o seio da laceração e da unidade dilacerado. Sobre este assunto, não temos necessidade de consultar os filósofos. A experiência de vida e os ritos de todos os povos e de todos os tempos são prova suficiente.

GEORGES BATAILLE

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Von Franz, no seu trabalho – Passio Perpetua – analisa os sonhos de Santa Perpétua, martir cristã do século I, mostrando que o cristianismo havia sido incorporado às correntes de forças ascendentes do inconsciente. Com efeito, o desenvolvimento do homem ocidental exigia, naquela fase de decadência do império romano, a repressão da vida instintiva a fim de que a consciência melhor se diferenciasse. E era este, precisamente, o programa da nova religião. Noutro ensaio – Sonhos e visões de São Niklaus von der Flue – Marie Louise von Franz continua a pesquisa dos processos em desenvolvimento no inconsciente coletivo. Os sonhos e visões do santo suíço do século XV evidenciam, que o obscuro labor do inconsciente havia conduzido seus conteúdos a um estágio bastante diferente da situação no tempo de Santa Perpétua. Agora, nos sonhos de São Niklaus, símbolos pagão vinham fusionar-se com símbolos cristãos. Num desses sonhos, por exemplo, Cristo se apresenta revestido numa pele de urso, tal como costumava fazer o deus germânico Wotan quando errava pelos caminhos do norte da Europa. E essa imagem desperta no santo um inefável sentimento de amor. Cristo vestindo pele de urso é um símbolo em cuja construção reúnem-se aspecto espiritual luminoso e aspecto escuro animal, formando uma totalidade. 

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NAS PROFUNDEZAS DA PSIQUE

PRENÚNCIO DE REAPROXIMAÇÃO ENTRE O SAGRADO E O PROFANO.

Marie-Louise von Franz

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Foi, então, com o advento do CRISTIANISMO – incorporado às correntes de forças ascendentes do inconsciente -, que se exigiu ao desenvolvimento do homem ocidental uma repressão da vida instintiva a fim de que a CONSCIÊNCIA melhor se diferenciasse. Uma vez obtida essa diferenciação dos opostos: Deus/Diabo, Bem/Mal, Instinto/Espírito, Sagrado/Profano – psicologicamente necessária ao afinamento da sensibilidade do homem ocidental -, parece que muito lentamente se está preparando, nas PROFUNDEZAS DA PSIQUE, uma nova reaproximação entre opostos, reaproximação que se realiza, porém, num nível mais alto que aquele de sua primitiva coexistência. Nas produções do inconsciente vão se acentuando os sinais anunciadores de que se delineia uma futura coordenação de forças onde os INSTINTOS (o animal em nós – o profano) venham a ser integrados aos valores ESPIRITUAIS (o sagrado) de nossa cultura.

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PRELÚDIO DE UMA FILOSOFIA DO FUTURO

Superação de Toda e Qualquer Dicotomia

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A história de Baubo e Deméter é a história de mulheres que, pelo riso, desafiam a dogmática autoridade masculina. Mas não se trata de um riso qualquer: o próprio mito demonstra como se trata de um riso que surge do ventre e se expressa na face, o único capaz de deslocar perspectivas, mostrando que não há oposição necessária entre profundidade e superfície. Mais ainda, que o riso mais profundo se encontra na superfície – nas dobras da vulva.

Supondo-se que a verdade seja feminina — e não é fundada a suspeita de que todos os filósofos, enquanto dogmáticos, entendem pouco de mulheres? Que a espantosa seriedade, a indiscrição delicada com que até agora estavam acostumados a afrontar a verdade não eram meios pouco adequados para cativar uma mulher? O que há de certo é que essa não se deixou cativar — e os dogmáticos de toda a espécie voltaram-se tristemente frente a nós e desencorajaram-se.

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E o que o ser humano mais aspira

é tornar-se SER HUMANO

Clarice Lispector

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Se de resto pode-se dizer que ainda estejam em pé! Aqui estão os troçadores que pretendem ter a dogmática caído irremissivelmente e até que esteja agonizante. Falando sério há um bom motivo para esperar que em filosofia o dogmatizar, ainda que tenha esbanjado frases solenes e aparentemente incontestáveis, tenha sido uma nobre peraltice de diletantes e que está próximo o tempo em que se compreenderá cada vez mais quão mesquinhas são as bases dos edifícios sublimes e aparentemente inabaláveis, erigidos pelos filósofos dogmáticos.

Como se enganam aqueles que querem viver “de acordo com a natureza”! Nobres estoicos, que falsas palavras! Com efeito, imaginai um ser moldado pela Natureza, prodigioso à sua imagem, infinitamente indiferente, carente de intenções, e vislumbres de piedade e justiça, fecundo, estéril e incerto, ao mesmo tempo; porém imagina também o que significa a própria indiferença convertida em poder: poderíeis viver de acordo com essa indiferença? Viver é querer ser diferente da Natureza, formar juízos de valor, preferir, ser injusto, limitado, querer ser diferente!

Admitindo que o lema “de acordo com a Natureza” signifique no fundo “de acordo com a vida”, donde seria possível que atuásseis de outra forma? Por que então fazer um principio do que já sois, daquilo que podeis deixar de ser? Vede, pois, que em verdade, sucede exatamente o contrário: quando pretendeis desentranhar fervorosamente na Natureza os preceitos de nossas leis, o que buscais, na realidade, é algo muito distinto do que gostaríeis de encontrar. Os atores de impostura, querendo enganar aos demais, promoveis a vingança de vós mesmos! Vosso orgulho sempre demolido pretende impor à Natureza vossa moral e vosso ideal. Sim, porque desejais que tudo quanto existe se reduza à vossa própria imagem, fazendo uma prodigiosa e eterna apoteose e uma generalização do estoicismo. Porém, apesar de todo nosso amor pela verdade, vos empenhas em ver a Natureza como ela não é, em vê-la estoica, e finalmente, não podeis vê-la de outro modo.

Friedrich Nietzsche

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Vale notar que Nietzsche, em seus escritos, revela grande preocupação com a dessacralização da da mãe terra, conjurando, então, a todos, a amá-la: “Meus irmãos, permanecei fiéis à terra com todo o poder da vossa virtude. Sirvam ao sentido da terra o vosso amor dadivoso e o vosso conhecimento. Eu vo-lo rogo, e a isso vos conjuro. Não deixeis a vossa virtude fugir das coisas terrestres e adejar contra paredes eternas. Aí tem havido sempre tanta virtude extraviada! Restitui, como eu, à terra a virtude extraviada. Sim, restitui-a ao corpo e à vida, para que dê à terra o seu sentido, um sentido humano”. Tal pronunciamento nietzscheano revela quão grande a necessidade da completação do símbolo trinitário cristão através da figura feminina. 

Curioso testemunho contemporâneo dessa aproximação de opostos em elaboração nos é dado por Nise da Silvera: 

A pintura de um rapaz pernambucano, feita em 1963 (coleção particular de Nise da Silveira), onde se vê a Virgem Maria com os pés mergulhados no interior da cabeça de um gato preto. A orla do manto azul da Virgem dá o colorido aos olhos do gato e a ponta de seus pés confunde-se com os dentes do animal. Esta imagem bem pouco dogmática reúne o aspecto luz e pureza da bem-aventurada aos atributos terrestres da mulher representados pelo gato,animal que é o mais apto representante de sua sombra e que sempre esteve em conexão com as Mães Divinas pagãs. 

Observe-se que nesses exemplos não se verifica mera emergência de símbolos pagãos, mas a tendência desses símbolos a fundirem-se com os símbolos cristãos, permitindo admitir-se que está em curso, no inconsciente, uma reorganização de seus conteúdos. Assim, uma vez obtida a diferenciação dos opostos Deus/diabo, bem/mal, instinto/espírito, que foi psicologicamente necessária ao afinamento da sensibilidade do homem ocidental, parece que muito lentamente se está preparando, nas profundezas da psique, uma nova reaproximação entre opostos, reaproximação que se realizaria, porém, num nível mais alto que aquele de sua primitiva coexistência. Nas produções do inconsciente vão se acentuando os sinais anunciadores de que se delineia uma futura coordenação de forças onde os instintos (o animal em nós) venham a ser integrados aos valores espirituais de nossa cultura. 

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SÍMBOLO QUATERNÁRIO CRISTÃO

PAI, FILHO, EPÍRITO SANTO, MARIA

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Entendemos o símbolo da Trindade como um processo em três etapas, este processo, entretanto, deverá prolongar-se até chegar à totalidade absoluta, isto é, no símbolo quaternário.

Carl Gustav Jung

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Do ponto de vista de Montefoschi, DEUS é o princípio masculino e feminino desde o primeiro momento da criação. As outras duas Pessoas da Trindade, o Filho e o Espírito Santo, são dois Sujeitos (Pessoas) dialogando eternamente um com o outro, e essa intersubjetividade de ambos é equivalente à sua objetificação na matéria. Na filosofia de Immanuel Kant, podemos verificar que a objetividade existe apenas como intersubjetividade, como uma entidade contida em um espaço e em um tempo comum e compartilhada por pelo menos dois sujeitos conscientes.(…) Na MATÉRIA, então, a unidade do masculino e do feminino de Deus está perdida e deve ser encontrada novamente. Tal Unidade foi perdida em duas DIALÉTICAS: a dialética do homem-espírito-consciência-sujeito e a do mulher-matéria-inconsciente-objeto. A realidade e sua dialética é UNA, isto é, UNUS MUNDUS, ou Deus, mas o SER HUMANO vive dois, porque vive o conflito, a separação, e não encontra a unidade do masculino/feminino, matéria/espírito, consciência/inconsciente, sujeito/objeto. 

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MATÉRIA – A UNIDADE PERDIDA

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Talvez seja cedo demais … Um momento …

Duas pessoas!

Talvez seja tarde demais … Duas pessoas …

Um momento!

Talvez seja … Uma alma …

Duas opiniões!

Agora … Um coração …

Um fim!

NENA
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A harmonia do símbolo quaternário cristão (Pai, Filho, Espirito Santo, Maria), dada entre o masculino e o feminino, entre o sagrado e o profano, corresponde ainda à harmonia entre a RAZÃO e o SENTIMENTO: donde a razão (cérebro), tende ao que é transcendente e, o sentimento (coração), tende ao que é imanente. Sendo a completação, a unificação, ou a harmonia da Transcendência com a Imanência, o melhor caminho para a verdade e a paz no mundo. Assim, nos ensina Ken Wilber: 

“Devemos integrar ambos os caminhos – ascendente e descendente -, conforme fazem as tradições não-dualistas do Oriente e do Ocidente, no sentido de equilibrar a transcendência e a imanência, o Todo e as Partes, o Vazio e a Forma, Nirvana e Samsara, o Céu e a Terra; pois, inexoravelmente, é na união das correntes Ascendente e Descendente, que se pode encontrar a harmonia psico-material, evitando, então, a guerra brutal das duas que só traz sofrimento”.

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CAMINHO DE MÃO DUPLA

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Nossa racionalidade não pode sozinha dá conta de toda a criação, de toda a existência: também se faz necessário a afluência do coração; ou seja, ao homem-cerebral se faz completar através do homem-coração, vice-versa.

Ken Wilber

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Nietzsche – considerado o filósofo dos instintos e da vontade de potência -, sendo inimigo do “amolecimento moderno dos sentimentos” e condenando o homem moral, fraco e religioso, propôs a si mesmo fazer uma crítica dos valores morais, colocando em questão o próprio valor desses valores. Com isso, passou a identificar a “razão e a racionalidade” com a “decadência e o ódio aos instintos”. A racionalidade desde o nascimento da filosofia tornou a razão (logos) o paradigma para o mundo ocidental, fundamentado nas categorias éticas que têm orientado os homens ao longo da história, reprimindo os instintos de vida celebrados pela tragédia grega, em nome de uma vida ética e consciente. O “logos” subjugou os instintos criadores. O homem de rapina, que age guiado pelos instintos, foi substituído pelo homem racional. A vida foi subjugada pela razão. 

Mas, é importante ressaltar que a RAZÃO e os INSTINTOS em Nietzsche andam sempre juntos – sem a prevalência de um ou de outro -, donde o entendimento da inexistência de verdades universais propicia o trabalho com a insegurança, ou INCERTEZA, oriunda da vida. É neste trabalho, portanto, que a proposta de Ken Wilber, correspondendo à dialética entre a razão (logos) e os instintos, harmonizando o masculino e o feminino, se mostra como um caminho certo para alcançarmos uma vida plena.

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MAL

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BE… M …AL

Integração

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Agora, no mesmo sentido, Carl Jung tece considerações sobre a integração do Mal com relação à nossa vida. Ou seja, a sociedade ocidental é filha de uma concepção de mundo cristã, especificamente do Novo Testamento, que entende sua divindade suprema como um ser summum bonum (somente bom). E se o indivíduo é imagem e semelhança deste ser, ele deve ser também somente bom. Entretanto, Jung em livros como Resposta a Jó, Aion, Interpretação Psicológica do Dogma da Trindade e outros, desconstrói a ideia de um deus “somente bom” e aponta que desconsiderar o Mal foi um desserviço à alma humana coletiva e à individuação.

Não é preciso aprofundar-se em C. G. Jung, fundador da psicologia analítica, para entender sua digressão, a crítica de um deus “somente bom” provém inevitavelmente das crianças quando perguntam aos seus pais: “se deus pode tudo, por que ele não acaba com a fome no mundo? Por que aquela criança está na rua e eu tenho uma casa?” E outras questões filosóficas que desmontam a concepção de mundo cristã dos pais. As perguntas das crianças já são tentativas de integração do Mal, mas muitas vezes são reprimidas pelos próprios pais, que acreditam que estas perguntas não devam ser feitas, pois pode ser “coisa do diabo” (e na verdade é).

Atualmente, há uma extrema identificação com o Bem e uma extrema desidentificação com o Mal, o que faz com que o indivíduo ou desconsidere que exista o Mal ou enxergue o Mal somente em outro indivíduo, mas, em ambos os casos, o Mal nunca está nele próprio. Quando o Mal é projetado, ou seja, visto no outro, este torna-se o Bode Expiatório que servirá para expiar o Mal, ou seja, aparentemente, acabar com o Mal para que ele nunca mais exista. Porém, evidentemente, este retornará e será projetado em outro Bode Expiatório enquanto o Mal dentro de cada um não seja integrado.

A necessidade do Mal ser integrado é extrema, afinal, assim como Heráclito afirma, há um movimento enantiodrômico da natureza, ou seja, assim que o Mal é integrado, o Bem também surge. Mefistófeles, ao se apresentar a Fausto diz: “Eu sou parte da Energia, aquele que sempre pretende o Mal e que sempre o Bem cria”. Se não há integração do Mal, não há ação do Bem. Tudo o que parece ser promoção do Bem, é nada mais do que anomia e aparências: enquanto só acredita-se na integração do Bem, o Mal age sem freios.

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NAS PROFUNDEZAS DA SELVA AMAZÔNICA 

Útero da Mãe Terra

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Nas Profundezas da Selva Amazônica (Útero da Mãe Terra), ao Som da Chuva, dos Animais da Floresta e dos Trovões, na Companhia de Árvores Milenares (Viajantes do Tempo), Entramos em Contato com o Grande Mistério da Vida, numa Viagem aos nossos antepassados mais remotos, sendo possível sentirmos mais fortemente com o Coração do que com o Cérebro.

Neste ambiente de floresta profunda é como se novamente voltássemos ao ÚTERO de nossa mãe: o universo da escuridão, do ouvido, do tato, o universo audio-táctil. Nesse habitat materno nos guiamos intensamente através da linguagem audio-táctil, a qual foi tratada no livro A GALÁXIA DE GUTENBERG por McLuhan. Esta linguagem não-linear e simultânea é própria do CORAÇÃO, ao contrário da linguagem da visão, dos olhos, que é linear e não-simultânea, própria do CÉREBRO, o qual tudo procura racionalizar.

Na percepção da realidade, nossos ancestrais longínquos da Antiguidade se utilizavam muito mais da linguagem audio-táctil, embora a linguagem da visão continuasse desperta. Com a invenção da IMPRENSA por Gutenberg, o homem passou a dar prioridade à linguagem da visão, provocando uma grande depressão psíquica na sociedade desta época. Não obstante, com a nova linguagem, a ciência conseguiu desenvolver o Cálculo Infinitesimal. Hoje, novamente, a linguagem áudio-táctil se apresenta mais fortemente utilizada, isto devido à invenção dos eletro-eletrônicos. Mais uma vez, então, nossa sociedade se encontra paralisada e escandalizada: agora com o “caos” que se instalou em nossa civilização moderna. Mas, por outro lado, a linguagem audio-táctil trouxe desenvolvimento científico e tecnológico nunca antes alcançado pelo homem.  Haja vista que, na teoria de campo da Mecânica Quântica, a linguagem utilizada é a mesma linguagem de nossos ancestrais analfabetos.

Agora, mais do que nunca, precisamos harmonizar as duas linguagens: do CORAÇÃO (audio-táctil) e do CÉREBRO (visão), pois disto depende a continuidade da civilização humana. Os nativos da selva Amazônica – como também de outras áreas semelhantes do globo terrestre -, podem nos ensinar muito, através de sua cultura, de sua vida natural, sobre a forma melhor de lidarmos com os novos desafios da sociedade contemporânea.

  

Rogério Fonteles Castro

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Dentre as várias perspectivas de nosso texto, podemos citar como exemplo da harmonia entre o masculino e o feminino, as tribos norte-americanas quando viviam em seus territórios antes da colonização.

Tribos diferentes como os navajos, os cheyenne e os cherokee usavam o termo “povo de dois espíritos” antes que os padrões cristãos fossem estabelecidos após a conquista da América do Norte. Antes dos rígidos papéis de gênero prevalecentes nas sociedades tradicionais em que vivemos, os nativos americanos respeitavam qualquer gênero e os reconheciam sob as seguintes denominações: mulher, homem, mulher dois espíritos, dois homens e espíritos transgêneros.

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ANTES DA COLONIZAÇÃO, OS NATIVOS AMERICANOS RECONHECIAM 5 GÊNEROS

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A cultura dos “dois espíritos” na América do Norte foi muito atacada e substituída por costumes e valores de origem européia, estabelecendo rígidos papéis de gênero.

“Essa tradição deve ser erradicada antes de chegar aos livros de história” – George Catlin, um artista americano que se refere à cultura dos dois espíritos.

Um dos exemplos mais notáveis ​​dos “homens de dois espíritos” foi o grande guerreiro Lakota chamado Osh-Tisch (seu nome significa aquele que os encontra e os mata). Nascido homem, casou-se com uma mulher, mas vestia roupas femininas e vivia sua vida cotidiana como mulher.

Na cultura antiga dessas tribos, cada pessoa era valorizada por sua real contribuição na tribo e nenhum papel de gênero era atribuído às crianças. No entanto, quando havia uma pessoa de “dois espíritos” na família, era uma bênção para eles, porque se entendia que ele podia ver o mundo com os dois olhos, o feminino e o masculino.

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“Não é a ‘sexualidade entre pessoas do mesmo sexo’, mas sim a ‘homofobia moderna’ que é uma importação ocidental”.

Ruth Vanita

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Aqui, ainda, é importante citarmos as pesquisas de Ruth Vanita – professora e pesquisadora na Universidade de Delhi – sobre a sexualidade na história da Índia. Abaixo, suas respostas sobre alguns aspectos de suas pesquisas (na bibliografia temos a entrevista em sua integralidade):

“Você sempre se concentrou no amor pelo mesmo sexo na era pré-colonial. Por que é importante voltar ao passado para falar do presente?

A distinção entre presente e passado é artificial; quando termina o passado e começa o presente – dez anos atrás, dez semanas atrás, dez minutos atrás? Mesmo enquanto falamos, o presente se torna passado. O colonialismo apagou muitas, mas não todas as memórias de nosso passado pré-colonial. A memória do amor pelo mesmo sexo é apenas um exemplo. Um grande número de indianos instruídos pensa que o amor pelo mesmo sexo é uma importação do Ocidente ou do Oriente Médio e que era desconhecido na Índia antiga. Mesmo hoje, os estudiosos do sul da Ásia tendem a se concentrar quase inteiramente nos períodos colonial e pós-colonial. O colonialismo é apenas um ponto recente na longa história do subcontinente. Temos a tendência de exagerar sua importância. Pesquisar a história das ideias da sexualidade nas literaturas indianas foi uma revelação para mim porque abriu meus olhos para muito mais do que esse tópico. Ler as epopéias, os Puranas, a literatura katha e, mais recentemente, a poesia urdu, não mística do século 18, me deu vislumbres dos debates incrivelmente sofisticados e diversos nas literaturas indianas sobre tudo sob o sol – do vegetarianismo ao gênero e sexualidade a natureza do conhecimento e da comunicação.

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PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO

HARMONIA DAS VERTENTES ASCENDENTE E DESCENDENTE

 

Deus e o Diabo

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Podemos constatar que o poema de José Régio nos remete ao processo de individuação de Carl Jung, bem como à harmonização das vertentes ascendente e descendente conforme Ken Wilber. No poema, “nascido do Amor que há entre Deus e o Diabo”, significa que somente através deste amor – donde o verdadeiro nascimento –, é possível alcançar, de forma plena, o processo de individuação, daí então se estabelecendo a harmonia entre as Correntes Ascendente e Descendente.

Rogério Fonteles Castro

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Recentemente, o casamento entre pessoas do mesmo sexo recebeu importante apoio legislativo nos países ocidentais, levando muitos a acreditar que é um novo desenvolvimento ocidental. Até que ponto você concorda com essa percepção?

Meu interesse pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo na Índia surgiu de reportagens regularmente publicadas na imprensa indiana a partir de 1980 sobre jovens casais que se casaram ou cometeram suicídio juntos. Eram quase todas meninas que não falavam inglês, de grupos de baixa renda, que não tinham contato com nenhum grupo feminista ou gay e não usavam palavras como ‘gay’ ou ‘lésbica’. Isso começou muito antes do movimento pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo no Ocidente. E, ao mesmo tempo, os jovens casais também estavam fugindo para se casar ou cometendo suicídio em conjunto. Eu queria descobrir como casais do mesmo sexo desenvolveram a ideia de se casar, embora o movimento não tivesse feito essa exigência. Claramente, então, a defesa dos direitos LGBT não surge da influência ocidental, mas das próprias necessidades sentidas pelas pessoas e de tendências em nossas próprias tradições. 

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CORPOS FALANTES

O Corpo Importa: Corpos Falantes e a Produção Discursiva do Sexo

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Perguntar o que nos faz humanos talvez seja uma questão que perpassa muitas das áreas de conhecimento na perspectiva da colonialidade ocidental – filosofia, antropologia, direito, medicina, biologia. Em uma virada decolonial, talvez poderíamos dizer que esse perguntar é parte do projeto de dominação da colonialidade: como aponta María Lugones (2014), a modernidade colonial tem como dicotomia fundamental, como pensamento fundante, a divisão entre humanos e não humanos. Essa divisão, contudo, não faz apenas hierarquizar humanos e outros animais, não apenas serve a discursos e práticas de dominação entre aqueles e esses, dados por inferiores naquela dinâmica; ela também serve a hierarquizar humanos: humanos e menos humanos, humanos e não humanos. Ela promove, assim, processos de desumanização, processos esses que são o centro do colonialismo e da colonialidade que lhe sucede.

(…) Ao dizer que o corpo importa, ao tomar sexo como categoria problematizável e como linguagem que define os limites do humano, a intenção é provocar uma inversão: nosso centro não pode ser o externo, o olhar de fora, a mirada da colonialidade. O corpo não poder ser tomado como objeto que deve ser moldado à linguagem, a todo custo. Corpos falam e criam sua própria linguagem. Corpos existem em multiplicidade de formas. E se o sexo, assim como o gênero, faz parte dessa normatividade que define quem conta como humano, é fundamental que não o abandonemos em nossas pesquisas: o sexo importa – ou deve importar – quando pretendemos pensar fora da colonialidade.

Camila de Magalhães Gomes

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FEMININO REPRIMIDO

Integração do Feminino ao Humano

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Uma vez obtida a diferenciação dos opostos Deus-diabo, bem-mal, instinto-espírito, que foi psicologicamente necessária ao afinamento da sensibilidade do homem ocidental, parece que muito lentamente se está preparando, nas profundezas da psique, uma nova reaproximação entre opostos, reaproximação que se realizaria, porém, num nível mais alto que aquele de sua primitiva coexistência. Nas produções do inconsciente vão se acentuando os sinais anunciadores de que se delineia uma futura coordenação de forças onde os instintos (o animal em nós) venham a ser integrados aos valores espirituais de nossa cultura.

MARIE-LOUISE VON FRANZ

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Importante conscientizar-se sobre o resgate dos valores e saberes femininos para a humanidade. Essa discussão é feita a partir da leitura junguiana sobre como se construiu e constitui, atualmente, o feminino e qual é o seu significado, para o ser humano ao longo da história.

Sabe-se que na Era da Grande Deusa, transbordava o feminino como valor humano na época do matriarcado. Todavia, na Era do Pai, em tempos do patriarcado, temos o medo do feminino por parte do homem, donde a necessidade da repressão dessa polaridade para que se instaurasse os valores masculinos e as consequências da prevalência desses valores para o ser humano. Na modernidade, no Mundo Pós-Patriarcal, tem-se o resgate do feminino, daí a emergência do feminino com o movimento feminista, as transformações no mundo social, a crise de identidade da mulher e sua busca no referencial masculino do que é ser mulher. Entretanto, para que os valores femininos tenham novamente reconhecimento, é necessário que cada ser humano encontre dentro de si seus aspectos femininos, pois somente quando for restaurada sua dignidade é que o feminino poderá ser integrado nos seres.

Em tempos antigos, somente a mulher era considerada a criadora da vida, pois era ela a filha da Grande Mãe. A mulher era responsável por tudo o que estava relacionado com a vida. De acordo com as pesquisas antropológicas, as origens da humanidade são colocadas sob o signo e a supremacia da mulher, que era identificada com a natureza, que gera, imitando a ação da mãe-terra (Deby & Perrot, 1990). Pela capacidade da mulher em parir uma nova vida e nutri-la com o leite de seus seios, ela foi associada com a terra. Sendo assim, a vida era compreendida como sendo uma dádiva da terra, de cujo ventre brotavam as plantas. Como se acreditava que a vida de todos os seres dependia da mãe-terra, a organização social dos povos girava em torno, principalmente, da agricultura, que estava a cargo das mulheres (Koss, 2000).

Assim, as sociedades eram divididas em clãs formados por uma coletividade de mulheres, que eram irmãs entre si e mães de todas as crianças. Os homens pertencentes a um mesmo clã materno eram considerados “irmãos de leite e sangue”, então para obter relações sexuais, as mulheres tinham que procurar homens de outros clãs. Não havia a figura do pai como progenitor, as crianças eram consideradas como vindas só das mães, mas pertenciam ao mundo espiritual. Os homens eram encarregados da caça, e como as mulheres ficavam nas tribos, cuidavam da coleta das sementes e das plantas para terem comida enquanto os homens não retornavam. Com o passar do tempo, começaram a plantar as sementes nas proximidades da tribo, e ao fazerem crescer os produtos da terra, as mulheres associaram a fecundidade com a fertilidade. Pela experiência direta e pela observação contínua do processo da semeadura e germinação do mundo natural, elas adquiriram conhecimento sobre os vegetais, flores e frutos (Koss, 2000):

“Hoje, estamos de acordo em pensar que a agricultura é uma invenção feminina. O homem, ocupado em perseguir os animais na caça, e mais tarde em levar os rebanhos para o pasto, quase sempre estava ausente. A mulher pelo contrário, segura de sua tradição de coletora, tinha a oportunidade de observar os fenômenos naturais da semeadura e da germinação. Era normal que ela tentasse reproduzi-los artificialmente (…) e mais impressionante vai ficando o poder feminino” (Badinter, 1986. p.60).

Com o desenvolvimento da agricultura, foi-se percebendo a importância do homem no processo de fecundação. Rituais começaram a serem realizados para assegurar a convivência harmoniosa entre as mulheres, os homens e a natureza. Dessa forma, eles realizavam rituais de procriação simbolizando a união do elemento feminino e masculino. O sangue menstrual da mulher e o sêmen do homem deveriam ser doados para que a deusa-mãe–terra pudesse produzir alimento em abundância. Isto se realizava através do ato sexual no campo arado, onde a mulher atuava como representante da deusa, recebendo o sêmen em seu útero, da mesma forma que a terra recebe a semente. A união com a divindade acontecia por meio da experiência extática sexual, quando os amantes se uniam em respeito mútuo e reverenciavam a verdadeira natureza amorosa do mundo, experimentando seus corpos como templos da deusa. A união da mulher com o homem era parte da promoção da integridade cósmica, a sexualidade era compreendida como uma dimensão sagrada (Koss, 2000).

Além disso, por meio desses rituais, o princípio masculino manifestado pelo pensamento, construção de ferramentas, etc; complementava-se simbolicamente na alma com a atividade feminina da geração e da maternidade. A função do homem era penetrar o útero “fertilizando-o” para emergir uma vida nova, o pênis era associado com o pau utilizado para perfurar a terra e colocar as sementes. Nesta época da história do homem, ficou, portanto, marcado que o princípio masculino age e o princípio feminino gera (Waiblinger, 1997).

Antes do declínio do prestígio feminino, supõe-se que homens e mulheres tiveram relações relativamente equilibradas. Com a descoberta da necessidade da união com o homem para a fecundação, surge entre os Deuses, a noção do casal heterossexual. A idéia de que a fecundação depende só da mulher desaparece, e o equilíbrio do poder entre o casal Divino, com o passar do tempo, vai se tornando cada vez mais frágil. O Deus masculino começa a adquirir mais importância que a Deusa, e essa evolução da figuração Divina é bastante significativa e transforma as relações de poder no casal humano. No Egito, esse casal Divino aparece personificado por Osíris e Ísis. Osíris torna-se ao mesmo tempo o espírito do grão e o da água. Seu casamento com Ísis, a grande Deusa da fecundidade universal, simboliza a união da água do Nilo com a terra. Ísis e Osíris fecundam toda a natureza. Mas de acordo com a lenda, é Osíris e não Ísis quem é considerado como conhecedor das plantas e revela aos homens a arte da agricultura e da irrigação. A partir daí, observa-se o desvio dos poderes femininos e o aparecimento dos poderes masculinos (Badinter, 1986).

Na mitologia Grega, essa mudança aparece personificada no relacionamento entre Zeus e sua irmã Hera. No princípio do mundo, da corrente de Gaia, a mãe Terra, surgiram, com o intercurso entre Zeus e três mulheres titãs, as Deusas. Hera sempre teve ciúmes da relação entre Zeus e as outras Deusas antigas, a ponto de tentar impedir que uma delas dê à luz um filho de Zeus. Quando surge Hera, ela, inicialmente, resiste às investidas de Zeus. Mas, é enganada por ele que lhe aparece na forma de um cuco congelado e ela sente-se no papel de proteger o animal, colocando-o sob o seu peito. Zeus se aproveita dessa proximidade, então Hera se curva as suas investidas depois de extrair uma promessa de casamento. Dessa forma, ela se torna a Deusa do casamento, da fidelidade, a guardiã ciumenta dos votos do matrimonio e da hereditariedade. Hera estabelece o arquétipo da mulher em sua relação com o homem, como esposa e companheira ideal. A partir daí, começa a surgir a idéia da mulher ter que servir ao homem sendo sua companheira, esposa e gerar seus filhos (Mclean, 1998).

Neste estágio da história humana, em que os atributos masculinos começam a se separar da figura da Grande Mãe, fica claro, portanto, que a totalidade representada, inicialmente, pela união dos opostos nos rituais do “casamento cósmico”, passa a ser expressa como uma interação entre duas forças opostas complementares. Surge, assim, a necessidade da separação da parte masculina e do seu fortalecimento. Os mitos começam a enfatizar a figura do herói que vence as forças do caos e traz a ordem ao mundo. Ou seja, começa o desejo da supremacia do masculino no mundo pelos homens. Essa transferência do poder da fêmea para os machos se refletiu, também, à medida que cada Deusa mãe foi deposta, por meio da “difamação mitológica”. Isto é, as divindades femininas foram transformadas em demônios e novos mitos são criados para justificar a supremacia dos conquistadores, validando uma ordem psicológica além da ordem social (Koss, 2000).

A partir desse momento, a natureza e a cultura se opõem, prevalecendo a cultura sobre a natureza. A natureza não é vista como fazendo parte de cada ser humano, mas como um meio a ser conquistado. Há o desenvolvimento do pensamento racional e o afastamento do ser humano da natureza. Gradualmente o valor da mulher, e conseqüentemente do feminino, passa a consistir unicamente em sua capacidade reprodutora. Assim, encerra-se o matriarcado. Porém, a grande força integradora característica desse período, foi tão significativa que as deusas se transformaram em arquétipos e em valores que marcaram a história de toda a humanidade (Muraro &Boff).

(…) É através do arquétipo do pai como símbolo discriminador e estruturante da condição do sujeito que o homem sai da vivência matriarcal para a vivência patriarcal, e aquele período vivido cai no inconsciente, pois a dificuldade de superar uma etapa evolutiva, leva o psiquismo a criar processos repressivos rígidos que previnem contra as tendências regressivas, simbolizadas na mãe possessiva que deseja permanecer em fusão com a criança, e os desejos de fixação em etapas que deveriam ser superadas. Como no período matriarcal, o homem vivia sobre o domínio da mãe e do inconsciente, o desenvolvimento da consciência patriarcal coloca o indivíduo mais autônomo, em direção à ampliação da consciência, ao processo civilizatório e cultural (Cavalcanti, 1999).

Além disso, o desenvolvimento da consciência e do ego do homem primitivo consistia, não só na gradual libertação do envolvimento dominador do inconsciente da Grande Mãe, mas também na crescente independência do masculino, que originalmente, só existia a serviço do feminino. Assim, a consciência do ego se coloca de modo masculino em oposição ao inconsciente feminino. Para o ego, o elemento feminino é sinônimo de trevas, inexistência, vazio, poço sem fundo. Por isso, a mãe, o ventre, o abismo e o inferno são vistos como idênticos, o ventre da mulher é o lugar de origem de onde se veio, e tudo o que é feminino é como o ventre, o útero primordial da mãe da origem de tudo e do inconsciente. E como acontece com qualquer emancipação, a supremacia da consciência do ego sob o inconsciente levou ao extremo a sua posição e dos valores próprios, ocasionando a superestimação do masculino, a megalomania da consciência do ego e a desvalorização, seguida da repressão do seu lugar de origem, ou seja, do inconsciente feminino (Neumann, 1995).

A partir disto, a negatividade é incorporada na representação que o homem passa a ter da mulher. Cabe a ele, criatura de Deus, encarnar o bem, e a mulher, criatura demoníaca, partilhará o mal (Badinter, 1986). Agora, ela é definida em função dos valores masculinos, e toda sua validade social será sempre vista em função do bom desempenho das tarefas e papéis que lhe confiram uma dignidade dentro de sua inferioridade. Portanto, ela deve ser a boa esposa, a mãe ideal. A superação da noção da sua inferioridade se dá pela obediência e submissão às leis dos homens, ela é aquilo que os homens esperam que ela seja. A sexualidade também é vivida dentro deste contexto de posse e submissão Com isso, a feminilidade passa a ser definida como submissão, castidade, fidelidade e obediência, a mulher deve estar a serviço da família e do marido (Cavalcanti, 1993).

Então, a mulher perde sua autonomia e liberdade para decidir seu destino. Confinadas em um espaço restrito e bem definido, elas passavam grande parte do tempo juntas, conversando entre si. E assim, o saber feminino se consolida no isolamento do espaço privado. Considerava-se que a capacidade intelectual das mulheres era limitada, e como elas tinham o acesso ao saber institucionalizado interditado, com base na sua incapacidade intelectual, a exclusão das mulheres da vida social teve como conseqüência o seu despreparo para o exercício da cidadania, o que foi utilizado, posteriormente, como motivo para justificar sua subordinação ao homem (Koss, 2000).

No século XVI a Igreja Católica institui o sacramento do matrimônio, passando a ditar as regras para o comportamento das pessoas, prescrevendo, principalmente, como a mulher deveria agir em relação ao seu marido. Porém, dentro deste modelo cristão, há a valorização do feminino, que impõem a virtude como traço principal, e abençoa a maternidade. O feminino com essas qualidades não ameaça a ordem patriarcal, mas, mesmo assim, permanece sob o controle absoluto. A figura de Maria é venerada como um modelo de mulher santa que possui a alma separada do corpo. O sexo passa a ser visto como uma coisa ruim, pecaminosa, quando não está ligado a procriação. O casamento é o lugar onde esta dominação é exercida como um culto à santificação da mulher, esta passa a estar sob o controle absoluto do homem. Ela sai do controle do pai, para o controle do marido (Cavalcanti, 1993):

“(…) O matrimônio era, portanto, uma instituição pela qual os homens eram confirmados como os donos de suas esposas em termos religiosos e legais (…). Um marido poderia dispor das propriedades de sua esposa, suas roupas, suas jóias e roupas de cama, e ainda tinha o direito de bater nela, caso ela não cumprisse seus desejos. Na maioria dos países, os maridos podiam punir suas esposas da maneira que lhes conviesse, menos com assassinatos (…)” (Yalom, 2002, p. 70).

Desse modo, a organização da família, antes das mudanças sociais provocadas pela industrialização, consolidaram a imagem da mulher como mãe e do homem como pai. A ele foram atribuídas a responsabilidade e a autoridade, sendo sua função social prover a casa e a família, atuando no espaço público, que é o mercado e a política. Enquanto que a mulher, definida como frágil, sensível e dependente, tem como espaço próprio a casa, o espaço doméstico, privado (Koss, 2000).

Buscando demonstrar o surgimento do Mundo pós-patriarcal, como resgate do Feminino, abaixo a história do rei Arthur é fundamental para tal objetivo. 

Quando o conhecido rei Arthur ainda era cavaleiro da Távola Redonda foi apanhado caçando ilicitamente nas florestas do reino vizinho, e por isso, foi aprisionado pelo rei. Ele poderia ter sido morto imediatamente por ter transgredido as leis de propriedade e de posse. Mas, como o rei vizinho tinha simpatia por ele, ofereceu-lhe a liberdade com a condição de ele encontrar, no prazo de um ano, a resposta para uma pergunta:

O que realmente quer a mulher? (Johnson, 1991, p.97)”

Parecia impossível achar uma resposta para essa pergunta. O ser mais enigmático que se conhecia era a mulher e nada se sabia sobre seus reais desejos. Porém, era melhor encontrar uma resposta do que ser enforcado. Então, Arthur voltou para casa e pôs-se a perguntar a todos que encontrava no caminho. Freiras, princesas, rainhas, sábios foram inquiridos e ninguém sabia a resposta. No entanto, todos avisaram que havia uma bruxa chamada Ragnell, que, provavelmente, saberia a resposta, mas ele deveria se precaver porque ela cobrava preços exorbitantes por seus serviços (Johnson, 1991).

No último dia do ano, Arthur ainda não tinha a reposta para a pergunta do rei e viu-se obrigado a procurar a bruxa. Para a sua surpresa, ela realmente sabia a resposta, concordou em dizer-lhe depois que combinarem o preço a ser pago. Ela pediu como pagamento casar-se com Gawain, o cavaleiro mais nobre da Távola Redonda e o amigo mais íntimo de Arthur. O jovem ficou horrorizado com o pedido da velha bruxa, ela era muito feia, tinha um dente só, cheirava mal e era corcunda. Mesmo assim, Gawain aceitou casar-se com a bruxa para salvar seu amigo (Johnson, 1991).

Quando o casamento foi anunciado, a velha bruxa revelou sua sabedoria:

“Sabe o que realmente quer a mulher? Ela quer ser senhora de sua própria vida! (Johnson, 1991, p.98)”.

Ao ouvir a resposta, o rei vizinho ficou satisfeito e concedeu a liberdade a Arthur. E como prometido, o casamento se realizou. A pesar da bruxa ter mostrado o seu pior comportamento diante da corte, Gawain se portou com cortesia e respeito em relação a ela. Quando chegou a hora das núpcias, a bruxa apareceu na forma de uma linda donzela. Surpreso, ele pergunta o que tinha acontecido. Ela responde que como ele tinha lhe tratado com gentileza, ela lhe mostrara sua aparência mais horrenda durante o dia e sua aparência graciosa à noite. A bruxa, ainda pede para que ele escolha qual delas ele preferia durante o dia e à noite. Depois de pensar, Gawain responde que preferia que ela escolhesse por si mesma. Assim, ela anunciou que seria a bela donzela para ele durante todo o tempo, já que ele demonstrara respeito por ela e concedera-lhe soberania sobre sua própria vida, ou seja, o que todas as mulheres desejavam verdadeiramente (Johnson, 1991).

Esta história está à frente de seu tempo, nesta época a mulher ainda vivia aprisionada pelo poder masculino. A idéia da mulher-indivíduo, dona de seu próprio destino, é relativamente recente. O movimento de entrada das mulheres no mercado de trabalho e a desvalorização da vida no lar, que contribuíram para apagar a fronteira entre o privado e o público, entre o feminino e o masculino, quebrando, dessa forma, a antiga identidade feminina, centrada na idéia da mulher que se realiza nos afazeres doméstico; foi uma forma de buscar ser indivíduo nesta sociedade masculina que lhe impôs uma identidade. No entanto, a tentativa de integração ao mundo dos homens como um igual transformou essa reivindicação em uma crise psicossocial da busca da sua identidade. Pois, para conseguir quebrar essa barreira entre os dois mundos, as mulheres desvalorizaram o universo feminino e alimentaram a idéia de que o sonho do mundo igualitário só se realizaria se elas acrescentassem na sua forma de ser as características e as vivências masculinas, o que significava dilacerar o feminino e ser masculino como os homens numa operação em que o feminino + masculino resulta em masculino (Oliveira, 1999).

(…) Mas, de que maneira pode-se resgatar e reintegrar esta dimensão que ficou reprimida por tanto tempo? A resposta para esta questão está na própria história do Arthur, relatada anteriormente. Ao aceitar a dama, tanto em seu fascínio quanto na ameaça que ela representa para seu sistema de valores, tanto em sua beleza como em sua feiúria, como fez Gawain; o homem é capaz de confrontar o seu medo do feminino e perceber que o era considerado ruim existe no outro como se fosse um lado da moeda, ou seja, existem características ruins e boas que fazem parte da natureza humana. Assim, há um “olhar” para dentro de si mesmo e a possibilidade de reconhecer que ele também tem aspectos sombrios, inclusive que ele também possui aspectos femininos dentro de si (Whitmont, 1991).

Na concepção do Jung, na sombra contém o melhor e o pior de nós mesmos que não é aceito ou permitido pela cultura, e por isso, deve ser reprimido. Esses elementos fazem parte da totalidade da personalidade do indivíduo, e permanecem arcaicos por não serem devidamente trabalhados. No entanto, esses aspectos, reprimidos, permanecem no inconsciente carregados de energia, pois a psique necessita de um equilíbrio, assim como o corpo; até que irrompem arbitrariamente na vida consciente (Johnson, 1996). Os conteúdos inconscientes são impulsionados pelos arquétipos para tornarem-se conscientes como um movimento para chegar- se a realização da totalidade do indivíduo, ou seja, da individuação (Jung, 1999a). A individuação significa tornar-se um ser único, a realização melhor e mais completa das qualidades arquetípicas do ser humano, trata-se de um desenvolvimento psicológico que permita a realização das qualidades individuais que o ser possui dentro de si (Jung, 2001).

Para o Jung, toda a personalidade já se encontra presente em potencial a partir do nascimento, o meio ambiente não fornece a personalidade, simplesmente traz á luz o que já se encontra no indivíduo. Toda criança já nasce com um projeto intacto para a vida tanto sob o ponto de vista físico, como sob o aspecto psíquico, que lhe foi conferido não só pelo ambiente atual, mas por uma combinação de pressão seletiva e de hereditariedade que atuavam no contexto do ambiente anterior ao qual estava exposta toda a espécie humana, Isto é, os arquétipos, que impulsionam o ego para atingir a individuação, e a integração das polaridades inconscientes na consciência (Stevens, 1993). Esses princípios opostos interagem entre si para manter o equilíbrio das forças do universo. Dentro do ser humano, a unidade se manifesta de uma maneira bipolar. Mas, a natureza “providencia” que esta unidade seja restabelecida, e assim, após a fragmentação, as atitudes unilaterais atraem seus opostos complementares, num movimento cíclico eterno (Moraes, 2001).

Os opostos existentes na mulher e no homem são conhecidos como animus e anima. Como são arquétipos, eles não são conhecidos diretamente, apenas por suas ações sobre o desenvolvimento do espírito humano, coordenando o material inconsciente em figuras determinadas, e como são autônomos, se apresentam personificados. Assim, o animus é a personificação da polaridade masculina na mulher, e a anima é a personificação da polaridade feminina no homem. Na concepção do Jung, cada pessoa apresenta, em sua dinâmica psíquica, um aspecto contra-sexual, ou seja, uma personificação arquetípica da polaridade oposta à da consciência. Porém, apesar disso, os dois pólos psíquicos existem tanto no homem, como na mulher (Koss, 2000). Mas, o que torna diferentes homens e mulheres é o fato de os homens identificarem seu ego com sua masculinidade, mas seu lado feminino é inconsciente nele; ao contrário, a mulher se identifica conscientemente com sua feminilidade, e seu lado masculino permanece inconsciente; o ego identifica-se com a qualidade masculina ou feminina do corpo, e, conseqüentemente, a anima ou animus se transformam numa função do inconsciente, já que a polaridade que se torna consciente é a mais desenvolvida em detrimento da que fica reprimida ou não desenvolvida (Sanford, 2002).

Jung atribuiu a anima os sentimentos e os fatos eróticos, emocionais (sensibilidade, intuições, receptividade ao irracional, capacidade de amar, sensibilidade à natureza) e é determinada pelo Eros, princípio de ligação, relação. É a personificação de todas as tendências psicológicas femininas na psique do homem. Nas suas manifestações individuais o caráter da anima de um homem, é determinado por sua mãe, então, se o homem sente que a mãe teve sobre ele uma influência negativa, sua anima vai experssar-se, muitas vezes, de maneira irritada, depressiva, incerta, insegura e susceptível. Assim, em seu interior, a figura da anima é representada e possui um significado negativo. Porem, se a experiência com mãe for positiva, sua anima é afetada sendo seu guia interior, tornando-o mais “feminino” (Jung, 1977). Ou seja, o homem valoriza os sentimentos, a intuição, as expectativas, as fantasias e busca conhecer-se profundamente; ela atua na ampliação da consciência do homem e no enriquecimento de sua personalidade, infundindo nele a percepção de um mundo interior de imagens psíquicas e de emoções vitalizantes. Dessa forma, a anima, age para alertar o homem a respeito de suas qualidades psicológicas destituídas de valor, e por isso, foi definida, também, como o arquétipo da vida. Pois, ela é como uma alma para o homem, é ela que dá o coração a homem, capacitandoo a ser forte de coração e corajoso em face dos sofrimentos e aflições da vida, contendo o elemento do significado: ela encarna dentro de si mesma o segredo da vida e ajuda o homem a descobri-lo (Sanford, 2002).

Já o animus, o princípio masculino inconsciente na mulher, personifica a iniciativa, coragem, honestidade. Através deles, a mulher pode tornar-se consciente dos processos básicos de desenvolvimento da sua posição objetiva e cultural no mundo (Sanford, 2002). Considerando o Eros como expressão da natureza consciente da mulher, seu consciente se caracteriza pela vinculação do erótico do que pelo caráter diferenciador e cognitivo do Logos. Assim, o mais interessante para a mulher é o âmbito das relações sociais e pessoais, deixando para o segundo plano os fatos objetivos e suas inter-relações. E como o Logos está relegado ao inconsciente, a mulher raciocina baseada em opiniões que são tomadas como verdades absolutas, oriundas de afirmações irrefletidas, que levam a discussões obstinadas de ser a dona da verdade (Koss, 2000).

Diferentemente da anima, o animus é moldado pelo pai da mulher. Em se aspecto positivo, ele é um guia que conduz a mulher através de seu mundo interior até sua alma, abrindo portas para o desenvolvimento. Dá a mulher o poder da discriminação e da compreensão para iluminar o interior dela, age, também, como uma ponte para o mundo impessoal do intelecto e do espírito, fornecendo à consciência a capacidade de concentração focalizada:

“É o animus, que lança luz sobre as coisas, que torna a mulher capaz de focalizar a sua concentração, que lhe dá a possibilidade de ser objetiva e lhe abre o mundo do conhecimento para seu próprio benefício(…) No mundo de sombras e de verdades cósmicas de um a mulher, ele produz uma concentração de luz que funciona como um foco para seus olhos, e, quando ela olha, pode dizer: Ah, sim, é isto o que eu queria dizer, ou: Oh, não, isto não é absolutamente a minha verdade. É com o auxílio dessa tocha também que ela aprende a dar forma ás suas idéias. Ele faz jorrar luz sobre a confusão de palavras que a entrecruzam sob a superfície de sua mente (…), tornando-a capaz de ver o todo, de discernir entre isto ou aquilo (Sanford, 2002, p. 102-103)”.

O animus em sua forma negativa afasta as mulheres de qualquer relacionamento, as leva a passividade, uma paralisação profunda de todos os sentimentos, uma profunda insegurança que pode levar a uma sensação de vazio, afastando-a de toda realidade da vida. Nos mitos e contos de fadas, o animus negativo aparece como o demônio da morte, fazendo o papel de assaltante ou assassino (Jung, 1977). A história do Barba Azul é um exemplo disso. Ele mata em segredo suas mulheres, sendo uma personificação do predador da psique. Ele representa uma força que vai contra ao que é positivo, em vez de alimentar a luz das forças femininas da psique da mulher, a treina para acreditar que é indefesa, erradicando a sabedoria feminina (Estés, 1999). Neste sentido, pode ser visto, também, como uma “voz autodepreciadora”, que estão embutidos os valores da cultura e religião introjetados no que foi chamado por Freud de superego, ou seja, a censura interna. Dessa forma, essa voz interior das mulheres reproduz o discurso masculino social, fazendo com que ela participe de maneira eficaz na sua própria subjugação (Koss, 2000).

Em várias passagens dos escritos de Jung, os sentimentos de um homem, atributos de sua anima, são equiparados aos da mulher, apontando para uma sobreposição do arquétipo anima sobre a mulher, e vice-versa. Como toda imagem inconsciente, a anima é projetada, inicialmente, na mãe e, posteriormente, essa imagem é transferida á professora, atriz, namorada, etc. A mulher também projeta o seu animus, o primeiro objeto a ser projetado é o pai, posteriormente, é transferido ao professor, um ator, etc (Grinberg, 1997). A projeção é um mecanismo psíquico que ocorre sempre que um aspecto vital da personalidade, que é desconhecido, é ativado. E quando algo é projetado, as características pessoais são vistas fora de quem as projeta, como se não fizessem parte dela. Desde o princípio da história da humanidade, o animus e a anima, têm sido projetados em figuras mitológicas, nos deuses e nas deusas que fizeram parte do mundo espiritual; e, também foram projetados nos homens e mulheres vivos. Assim, o homem projetou o arquétipo feminino, anima, na mulher, e a mulher o arquétipo masculino, animus, no homem; de forma que a mulher carregou para o homem a imagem viva da alma ou faceta feminina dele próprio, e o homem carregou para a mulher a imagem viva do próprio espírito dela (Sanford, 2002). Conseqüentemente, a mulher e o homem se transformaram na fonte de informação sobre as coisas que o homem e a mulher não vêem, mas que estão dentro deles; servindo como um complemento das características que cada um possui na consciência. Portanto, um sempre precisa do outro para “obter” as características que lhes faltam, pois estão guardados na sombra, isto é, estão no inconsciente (Jung, 2001).

Além disso, sempre que uma imagem é projetada, quem carrega a projeção ou é supervalorizado ou é subvalorizado, pois podem ser projetados tanto os aspectos positivos quanto os negativos. Então, essas imagens projetadas possuem um efeito magnético sobre quem as projeta, o que faz com que a pessoa que carrega a projeção atraia ou cause repulsa da mesma forma que um imã atrai e repele os metais. Diante disso, percebe-se que ao longo da história, as mulheres receberam as projeções positivas e negativas do homem, o que trouxe a desqualificação da mulher, como conseqüência da desvalorização, por parte do homem, de seus aspectos femininos. Pois, além de ser percebida como uma deusa ou demônio para o homem, ela era vista como tendo poder sobre ele, e por isto tinha que ser dominada por ele. Ou seja, a pessoa que recebe uma imagem projetada por outra fica tendo força sobre essa pessoa, porque nela está presente uma parte da psique que não é reconhecido naquele que a projeta (Sanford, 2002).

Porém, a feminilidade inconsciente no homem não é a mesma que a expressão do feminino consciente da mulher:

“(…) A feminilidade de uma mulher mostra uma força e vitalidade, uma presença iniciadora muito mais vívida que a feminilidade da anima de um homem que, apropriadamente, é secundária a seu ego. A feminilidade de uma mulher apresenta maior amplitude e variação, mais flexibilidade e definição que a função anima a serviço do ego do homem, como passagem para o Self (Ulanov, citada em Koss, 2000, p.198)”.

Mas, uma vez que a feminilidade na mulher foi reprimida, a imagem inconsciente do homem o feminino foi incorporada pelas mulheres, que passaram a se identificar com a função de mediar a consciência e o inconsciente do homem. Portanto, sob essa influência da anima do homem, a mulher como objeto das emoções e fantasias masculinas é destinada a corresponder às imagens projetadas por ele (Koss, 2000). Esta perda de algo que faz parte da natureza da mulher, faz com que ela questione sua própria feminilidade e seja “possuída” pelo seu animus, na tentativa de se igualar ao homem ; enquanto que para o homem, a perda da energia feminina, faz com que ele relegue os sentimentos as profundezas emocionais da sua personalidade. Como conseqüência, a mulher tomada pelo seu princípio masculino interior corre o risco de perder sua feminilidade, e tudo isso acontece porque ambos não possuem conhecimento de seu mundo interior (Jung, 2001).

Como nenhuma polaridade fica reprimida por muito tempo, o feminino começa a emergir no movimento das mulheres, mostrando a necessidade do despertar de uma nova consciência. No entanto, para que isso realmente ocorra é necessário o reconhecimento dos princípios que cada um possui dentro de si, que são projetados no outro; e assim, pode-se começar a diferenciar o que faz parte da personalidade, trazendo essas projeções para a consciência, ocorrendo a integração destes princípios. A integração do que antes se mantinha reprimido pode, também, alterar os modos pelos quais a masculinidade e a feminilidade se expressam, gerando novos e diferentes padrões éticos, além de uma atitude existencial (Whitmont, 1991):

“(…) Nós nos ajudamos mais quando nos voltamos para a anima e o animus, e não quando fugimos deles; ao nos voltarmos para eles, encarando-os, começamos uma nova evolução psicológica (…) Para o homem, isso pode significar um respeito renovado pelo mundo do coração, pelos relacionamentos, pela alma e pela busca de sentido. Para a mulher, pode significar uma caminhada renovada para o mundo do espírito, da compreensão, e uma nova espécie de envolvimento com o mundo que fica além da família (…) (Sanford, 2002, p. 80)”.

A nova feminilidade requer, para emergir, a auto-afirmação para que seja possível afirmar adequadamente a singularidade dos outros. O que significa, para a mulher, aceitar que sua natureza é diferente da natureza dos homens, assumindo sua feminilidade. Quando a mulher se assumir como um indivíduo de forma íntegra, ela será capaz de despertar no homem respeito e admiração, e levá-lo a perceber em si mesmo a alma feminina (Whitmont, 1991). Neste sentido, a relação do homem e da mulher precisa passar por uma reformulação para que possa ser possível o “casamento do sol com a lua”, ou seja, dos dois princípios dentro de cada um. Esse encontro ocorrerá quando a mulher, além de aceitar em si os valores femininos, desenvolver o seu princípio masculino a seu próprio modo; podendo reconhecer o homem e sua linguagem. Ele terá que entrar em contato com seu princípio feminino para que possa aceitar, além da mulher dentro de si, a de fora, como sua companheira no universo. O equilíbrio do mundo depende desse casamento interno, quando ele for possível de ser vivido, a relação entre o homem e a mulher será mais rica e criativa (Cavalcanti, 1993).

Para concluir, então, há doze mil anos atrás, a sociedade humana era governada pelo princípio feminino, personificado na mulher. Nesta época, o ser humano vivia em contato com a natureza e com o seu interior. Tinha bastante conhecimento dos processos psíquicos, os quais foram deixados para as gerações futuras nos mitos, lendas e rituais. Com o passar do tempo, o homem descobriu que além de usufruir o que a natureza lhe dava, era possível dominá-la. A partir daí, lançou-se as raízes da dominação do princípio masculino e dos homens sobre as mulheres, isto é, do ser humano sobre a natureza. Anos depois, o homem desenvolve a tecnologia, cria as máquinas e reforça esta relação de dominação sobre a natureza, que é utilizada para atender aos seus objetivos, e por isso, não é valorizada. Atualmente, vive-se a revolução do conhecimento e da informação; o que por um lado representa uma evolução intelectual e uma libertação para o homem da época do neolítico, que vivia intensamente do simbólico, dos saberes da natureza e não tinha espaço para a conquista do mundo. Mas por outro, significou a perda da unicidade da vida, da harmonia de dois princípios universais extremamente essenciais para o mundo, o feminino e o masculino, bem como a diversidade de suas manifestações.

Não se pode negar todas as vantagens que o mundo de hoje trouxe para o cotidiano, porém é questionável o rumo a que essa nova era está levando o ser humano. Vive-se hoje, uma exacerbação do princípio masculino, que é a intensa busca do material, a racionalidade, a objetividade, a fragmentação do mundo em polaridades que não podem coexistir, uma deve ser excluída. Como o mundo necessita das qualidades que o masculino e o feminino possuem, está fazendo falta o cultivo do mundo interior, a busca do significado da vida, o espaço para a ternura e a afetividade, ou seja, do feminino. Um não pode existir sem o outro, os seres necessitam tanto da racionalidade, abertura de caminhos, construção de projetos de vida; quanto da espiritualidade, da intuição, a intimidade, abertura para os sentimentos.

Numa tentativa de resgatar o feminino, que estava reprimido e deveria ser excluído, as mulheres se uniram num movimento que provocou mudanças nos papéis sociais e as transformou em “homens de saias”. Erroneamente, pensou-se que a solução seria igualar-se aos dominadores para não serem mais dominadas. Com isso, elas perderam a identidade e pagaram o preço de se encaixar num mundo que é muito diferente do delas: o de “esquecer” sua verdadeira natureza para serem respeitadas. Mas, como o objetivo das polaridades é sempre voltar à união, o feminino sempre quis emergir na vida dessas mulheres, principalmente na gravidez, onde há uma quebra nesse movimento de busca do masculino, e um chamado para tudo o que há de feminino. O corpo com sua sabedoria as faz entrar em contato com o inconsciente, e com a vida interior. Infelizmente, nem sempre esse chamado é ouvido e muitas mulheres passam por esse período como um empecilho para o trabalho. É muito freqüente, mulheres como estas terem problemas psicossomáticos relacionados ao útero, que é o que a mulher possui de mais feminino; porque no meio masculino ela não pode mostrar suas qualidades femininas, senão não é respeitada. Então seu corpo tenta responder à esse mandato com os cistos, as crises de minorréia, desminorréia, etc…

No entanto, elas só terão essa aceitação, quando se conformarem que são diferentes dos homens e que possuem uma natureza diferente. Quando derem ao feminino seu devido valor, será restituída a sua dignidade e as mulheres poderão trazer para o domínio público seus valores e saberes femininos. Nesta era, o grande desafio é a restauração dessa dignidade e a convivência dos dois princípios no interior de cada um, para que se instaure no exterior. Para isso se tornar realidade, é necessário o “mergulho” na vida interior, o que significa direcionar a visão, que sempre foi focalizada para fora, para o mundo cotidiano; para dentro do ser humano.

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ARQUÉTIPOS

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UNUS MUNDUS E ARQUÉTIPOS

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A psicologia enquanto ciência empírica não vai além da possibilidade de constatar, à base de uma pesquisa comparativa, a produção espontânea do inconsciente e, consequentemente, a existência de certos símbolos psíquicos e, em última instância, de padrões arquetípicos. O fato de diferentes arquétipos poderem ser identificados pela psicologia do inconsciente, demonstra que existe um processo de desenvolvimento da consciência, que de modo algum é linear.

________Cíntia Hoffmann_________

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Aqui, tudo parte de nosso questionamento sobre a concepção de realidade adotada pela filosofia e pelo modelo tradicional de ciência. Donde a sincronicidade, como um ponto de intersecção entre a Psicologia Profunda e a Física Quântica,  sujerindo evidências de camadas mais profundas de realidade, comprovaria a existência do Unus Mundus. Daí a sincronicidade, fenômeno definido por Carl Jung, expressar a coincidência significativa de eventos psíquicos e materiais entre os quais não se identifica nenhuma relação causal. Assim, atuais contribuições da Física Quântica, da Psicologia Profunda e da Fenomenologia, no que diz respeito à unificação sujeito-objeto, nos levou a estabelecer um modelo de realidade que corrobora com os resultados da observação de dados empíricos na Mecância Quântica, ou seja, com o fenômeno do emaranhamento quântico, o qual correponde ao fenômeno da sincronicidade proposta por Carl Jung. Abaixo, no vídeo, descrevemos nosso modelo psicofísico da realidade onde propomos existência da Consciência Cosmológica.

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CONSCIÊNCIA COSMOLÓGICA

“Eu Fenomenal Unitário”

Mente Corporificada

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Nossa posição em vista do Realismo Especulativo, busca se basear na filosofia do processo, onde o Universo originalmente emergiu de uma flutuação do vácuo quântico. Daí se originaram dois Universos Espelhos que através do acoplamento de ambos faz surgir a consciência cosmológica. Podemos dizer que a Vida, a Existência, se estabelece, então, na Interface (Horizonte de Eventos de Buracos Negros) entre estes dois Universos Espelhos acoplados pela Consciência Cosmológica (Partícula de Majorana), conforme nossa proposta de um novo paradigma cosmológico. Ainda, tudo de acordo com as filosofias do vir-a-ser, iniciadas com Aristóteles e representadas na contemporaneidade pela obra de Whitehead, donde se concebe a realidade como um conjunto de potencialidades que se combinam em atualizações temporárias, gerando os fenômenos por nós vivenciados e estudados cientificamente. Assim, a natureza empírica, objeto de observação e experimentação, seria constituída por atualizações daquelas potencialidades, compondo os estados dos sistemas, e suas alterações dinâmicas, os processos.

A existência, portanto, através da “dialética” entre matéria-antimatéria, resulta do acoplamento de Universos-Espelho, patrocinado pela “consciência de ato” (consciência cosmológica). A partir desse acoplamento são gerados todos os fenômenos relacionados à vida consciente e inconsciente: sendo a “experiência consciente” irredutível a algo mais básico, ou primitivo. A consciência cosmológica, então, estabelecendo a unificação sujeito-objeto, garante a conexão das Microexperiências Neuronais processadas distributivamente em objetos experienciais unitários, segundo uma dinâmica dada no “Eu Fenomenal Unitário”.

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A Vida, como Realidade Integral, precisa de dois Universos para se fazer Existente.

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Nem Matéria, Nem Antimatéria: A Existência, a Vida, se estabelece Na Interface Entre Universos Espelhos (Horizonte de Eventos de Buracos Negros), Patrocinada pela Consciência Cosmológica. Esta, resultado do Emaranhamento de Corpos Físicos (de Matéria e de Antimatéria), constitui-se, então, como Corpo Vivo, segundo o Ser-Aí de Heidegger, bem como, fundamentalmente, como o nosso “Eu Fenomenal Unitário”, de acordo com a Mente Corporificada de Merleau-Ponty.

Rogério Fonteles Castro

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Tudo acima, portanto, nos faz reflexionar sobre os CAMPOS ARQUETÍPICOS que – como significados em potencial que buscam realização – moldam a matéria e a psique nos padrões do que elas virão a ser, estabelecendo as direções da mudança ou do desenvolvimento. Assim, ante tais constatações, podemos verificar que, para alcançarmos nossa tão sonhada LIBERDADE, é exigido que tenhamos consciência e uma relação criativa para com as dinâmicas arquetípicas enquanto campos de orientação e de evolução. Todavia, um detalhe muito importante, isto só se torna possível pela abordagem dos fenômenos através da imaginação simbólica:

“Na França dos anos 1960, quando As estruturas antropológicas do imaginário foi publicado, pela primeira vez, os autores em evidência na rive gauche seguiam Descartes, Hegel, Marx e Freud. O estruturalismo estava na moda, e sentindo-se provocado a dar uma resposta a As estruturas elementares do parentesco, de Lévi-Strauss, Durand colocou, em sua tese, o título de As estruturas antropológicas do imaginário. A intenção era boa: terminar com a infindável disputa entre o estruturalismo e a hermenêutica, propondo um estruturalismo figurativo, de formas dinâmicas. No entanto, isso não impede que os leitores ligeiros de Durand vejam na sua obra determinismo e esquematismos.

O que são, então, essas estruturas figurativas? São maneiras que a imaginação tem de organizar as imagens simbólicas, entendidas como profundamente (ou seja, arquetipalmente) motivadas e, aí sim, culturalmente determinadas. Ora, nem a incontornabilidade arquetipal, nem a determinação cultural são fixas; elas estão situadas em polos extremos do imaginário, ambos lutando por se instalar na consciência antropológica. A arquetipia e a fenotipia criam entre si um trajeto no qual as imagens movimentam-se, chamado por Durand de trajeto antropológico ou trajeto do sentido. O modo que essas imagens organizarem-se, nesse movimento, resulta em estruturas que, por serem determinadas pelas próprias imagens, são chamadas de figurativas.” (Portanova Barros).

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A VIDA SIMBÓLICA

Clausura do Mundo

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Segundo Carl Jung, “não temos uma vida simbólica, e todos nós precisamos desesperadamente de uma vida simbólica. Somente a vida simbólica pode expressar a necessidade da alma – a necessidade diária da alma, veja bem! E porque as pessoas não têm tal coisa, elas nunca podem sair deste moinho – esta vida terrível, banal e triturante na qual elas são “nada mais”. … Tudo é banal; tudo é “nada mais”, e essa é a razão pela qual as pessoas são neuróticas. Elas estão simplesmente cansadas de tudo, cansadas dessa vida banal e, portanto, querem sensações. Essas coisas são muito profundas e não é de admirar que as pessoas fiquem neuróticas. A vida é muito racional; não há existência simbólica em que eu seja outra coisa, em que eu esteja cumprindo meu papel, meu papel como um dos atores do drama divino da vida”.

A clausura do mundo, portanto, resulta do não exercício da vida simbólica pelo homem moderno. Ou seja, a vida ganha sentido quando o sagrado e o profano se relacionam harmoniosamente. Entretanto, hoje, a relação entre o sagrado e o profano, é articulada pelas noções de homem moderno e de homo religiosus, que é propiciada inexoravelmente pela linguagem simbólica. Mas, o homem moderno infelizmente acredita que superou a necessidade do sagrado em sua vida. Todavia, como demonstram os pesquisadores, o sagrado teima em emergir na vida profana: emersão esta que é feita por meio da linguagem simbólica dos mitos, dos ritos e das mensagens proféticas que não são compreendidas imediatamente pela razão ou consciência do homem moderno. Daí a importância da vida simbólica, responsável pelo sentido da nossas vidas no mundo moderno em que vivemos.

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No texto abaixo, de Antônio Ruas, temos um mapeamento das várias fases de nossa vida: da infância à velhice. Podemos observar a dinâmica das imagens simbólicas, tendo em vista os desafios estruturais correspondentes a cada fase:

“São terríveis as crises do EU em certos indivíduos. Um homem nasce neste mundo, de temperamento concentrado e um tanto melancólico, de inteligência penetrante; é embalado pelas crenças caras de seus maiores, aprende as orações dos lábios de sua mãe, frequenta, em companhia dos seus, qualquer culto religioso, e com isso vive e entretém o seu espírito infantil até à chamada idade da razão. Nessa idade, sob certas influências e certas leituras, entra de analisar. E com a análise, lá se vai tudo embora. Essas crenças tão queridas e tão úteis, espécie de pára-raios que nos protegia das tempestades de consciência, a broca da análise ruiu-as.

Haverá um período de interregno em que o viço da mocidade, a embriaguez da vida, as perspectivas de futuro nos permitirão certa tranquilidade, certa euforia transitória e agourenta como um estupefaciente. Um dia, porém, chega em que, por qualquer motivo, devido a qualquer afecção ou desgraça, começa outra análise, essa, porém, tremenda: a auto-análise. Depois, por fim, a interrogação inalienável, quando o homem quer conhecer o universo e a posição que ocupa nele.

Então, se o HOMEM não tem o espírito muito povoado de imagens novas ou se as velhas se tinham amarrado a algum ancoradouro muito profundo do seu inconsciente, pode voltar ao antigo, à fé que abandonou. Mas se, por amplidão de espírito, ou por qualquer outra circunstância, repudia formalmente todos os cultos existentes, tem de arranjar, se possuir forças morais ou intelectuais para isso, um sistema religioso ou filosófico, ou talvez um sistema em que a filosofia e a religião, que não devem ser inimigas, se deem as mãos. Isto, porém, só é para raros. Construir, de vários materiais, uma casa espiritual onde a gente viva, fora das crenças oficiais, isolado das fés alheias, é tarefa portentosa, só própria de grandes espíritos. Mas continuar na negação é a ruína, é a morte, a loucura ou o suicídio.” (ANTÔNIO RUAS).

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FACES DO FEMININO SAGRADO:

O ARQUÉTIPO DA MULHER SELVAGEM


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As imagens do feminino sagrado encontram-se apagadas diante da formação do poderio masculino, por isso, a busca de um espaço de integração entre o princípio feminino e o masculino se faz necessária. Daí uma analogia entre o arquétipo da ‘Mulher Selvagem’, a figura mítica de Lilith, e a personagem bíblica de Maria Madalena. Na historicidade dos relatos míticos percebemos uma imagem demonizada das mulheres e um apaguizamento do seu brilho devido ao anulamento do espaço integrador de cada uma. A Mulher Selvagem é O QUE É e pertence a si própria. O perigo do selvagem encontra-se na negação de seu poder. O movimento simbólico ocorre quando a mulher toca sua corporalidade, e quando seu poder feminino de gerar e nutrir abrange as experiências de tornar-se uma-em-si-mesma. Estas experiências moldam o seu Vaso-corpo e recriam novas formas de integração. Lilith e Maria Madalena encontram no selvagem e na sua essência, a sabedoria divina, e nos ensinam a entrar em contato com nossos aspectos lunares. Na androginia, a recriação/ressurreição sopra vida nos aspectos que necessitam de restauração, compondo a verdade e a sabedoria de seu espaço sagrado através da integração das polaridades femininas e masculinas. O encontro da Mulher Selvagem traz luz aos aspectos obscuros, clarificando a consciência no caminho do conhecimento da alma. Neste ponto é que as divindades femininas foram demonizadas, negadas e confinadas ao lado obscuro de suas luas negras.

Hécate Chama Sagrada

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Carl Jung nos relata que grande parte dos problemas psíquicos são causados pela separação entre o ego e o inconsciente coletivo. Ainda Jung, afirma que toda vida é a história de um INCONSCIENTE que se REALIZOU, que se concretizou. Tendo como exemplo o relato acima de Antônio Ruas, a concretização desta história, portanto, se dá através da dinâmica das imagens simbólicas, da dinâmica do inconsciente coletivo integrado ao ego, donde o objetivo maior é resgatar o homem do caos – seja fazendo-o voltar à crença que abandonou, ou possibilitando a construção de sua própria casa espiritual independentemente das crenças oficiais -, e promover a ordem, o cosmos, no qual ele possa viver em plenitude, dando significado à sua existência, à sua vida e, consequentemente, libertando-o de sua clausura no mundo.

Aliás, segundo Husserl, a clausura mundana é patrocinada pelas próprias ciências positivas. Estas, criticadas fortemente por Husserl, sendo o naturalismo e o objetivismo, têm a pretensão de proclamar a verdade científica como a única verdade válida, e a ideia de que o mundo descrito pelas ciências seria a verdadeira realidade. Daí a redução da racionalidade à racionalidade científica: ou seja, o “categorial”, isto é, as categorias científicas, substitui-se ao concreto, ao pré-categorial, vale dizer, ao mundo-da-vida. E Husserl traça a história dessa pretensão e dessa ideia, a começar por Galileu e Descartes.

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UNUD

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DIAGRAMA PSÍQUICO-MATERIAL FENOMENOLÓGICO

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Aqui nosso diagrama busca representar ontológica e epistemologicamente a relação da psicologia profunda com a fenomenologia.

Rogério Fonteles Castro

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A fenomenologia transcendental de Husserl apareceu em 1954, na mesma época em que se dava a crise das ciências europeias. 

Mas crise das ciências, obviamente, não é a crise de sua cientificidade, e sim crise do que elas, as ciências em geral, têm significado e podem significar para a existência humana. Escreve Husserl: “A exclusividade com que, na segunda metade do século XIX, a visão de conjunto do mundo do homem moderno se deixou determinar pelas ciências positivas, e com que se deixou deslumbrar pela ‘pros-perity’ que daí derivava, significou o afastamento dos problemas decisivos para uma autêntica humanidade. As meras ciências de fatos criam meros homens de fato”.

Escreve Husserl, “na miséria de nossa vida […] tal ciência não tem nada a nos dizer. Em princípio, ela exclui aqueles problemas que são os mais candentes para o homem, o qual, em nossos tempos atormentados, sente-se à mercê do destino; os problemas do sentido e do não-sentido da existência humana em seu conjunto”. Na opinião de Husserl, em sua generalidade e em sua necessidade, esses problemas exigem solução racionalmente fundada. Eles “concernem ao homem em seu comportamento diante do mundo circundante, humano e extra-humano, o homem que deve escolher livremente, o homem livre de plasmar-se a si mesmo e ao mundo que o circunda”. Então Husserl pergunta: “O que tal ciência tem a dizer sobre a razão e sobre a não-razão, o que tem ela a dizer sobre nós, homens, enquanto sujeitos dessa liberdade? Obviamente, a mera ciência de fatos não tem nada a nos dizer a esse respeito: ela, precisamente, abstrai de qualquer sujeito”.

Segundo Husserl, o drama da Época Moderna é o drama que começou com Galileu: ele recortou do mundo-da-vida a dimensão físico-matemática, que depois passou a ser considerada como vida concreta. “Galileu vive na ingenuidade da evidência apodítica”. Naturalmente, a filosofia reconhece a função da ciência e da técnica, mas, como escreve Enzo Paci, a função da filosofia “é a de libertar a história da fetichização da ciência e da técnica”.

Assim, como conjecturou Ruas sobre o papel fundamental da filosofia, “a fenomenologia é a filosofia primeira que faz-nos libertos da clausura do mundo, anulando-o, propiciando à humanidade a liberdade de transcender-se em direção a novos horizontes”. Porém, inexoravelmente, tudo partindo da dinâmica do inconsciente integrado ao ego – daí a reunificação sujeito-objeto, que foi desunificado originalmente por Platão.

Portanto, promovendo o lidar positivo com as imagens simbólicas, tal dinâmica propicia, além do processo de individuação – a unificação dos opostos que constitui todo ser humano -, a conscientização de que todos estamos interligados, não estamos sozinhos, temos as mesmas limitações, enfrentamos os mesmos problemas  existenciais, todos somos um – Unus Mundus -, de tal forma que o que fazemos aos outros fazemos a nós mesmos.

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NATURALISMO E FENOMENOLOGIA

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Aqui, nos guiamos, ontologicamente, pela aplicação da mecânica quântica e da psicologia profunda, e, epistemologicamente, pela aplicação da fenomenologia de Husserl, na abordagem da realidade psicomaterial. Donde, naturalmente, descemos até a escala de Planck, onde psique e a matéria se unificam, e, fenomenologicamente, limitamo-nos ao nível da epoché husserliana, onde psique e matéria se unificam segundo o princípio do apriori da correlação.

Rogério Fonteles Castro

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Mas a unidade subexiste na diversidade, nos moldes da complexidade de Edgar Morin: “Nunca pude, ao longo de toda minha vida, resignar-me ao saber parcializado, nunca pude separar um objeto de estudo de seu contexto, de seus antecedentes, de seu vir-a-ser. Tenho aspirado sempre a um pensamento multidimensional, nunca pude eliminar a contradição interior. Sempre senti que as verdades profundas, antagonistas umas das outras, eram para mim complementares, sem deixarem de ser antagônicas. Nunca quis reduzir a força da incerteza e da ambiguidade”. 

Como nos ensina Carl Jung,  consciente e Inconsciente, Ego e Self, num relacionamento contínuo – integralizando todos os opostos – movem-se para a totalidade, segundo um princípio teleológico, intencional, sintético, construtivo ou finalista, que visa o equilíbrio psíquico-material. Dado que a Verdadeira Vida Humana consiste de opostos que precisam estar unificados dentro do ser humano, essa união naturalmente propicia se viver de modo criativo, simbólico e individual, nascendo daí a habilidade de se formar uma personalidade individual, unificada, coerente, e singular em profundidade e riqueza.

Ainda, de acordo com Sartre, é importante constatar que a partir dos aspectos da relação entre negatividade e totalização, desdobra-se uma articulação entre singularidade e universalidade. Ou seja, o movimento de totalização é apreendido como trâmite dialético entre estes dois polos opostos mutuamente implicados, mas irredutíveis um ao outro, de tal modo que a universalidade se põe como articulação entre as singularidades. A relação entre singularidade e universalidade só é possível por uma tese negativa, é um não-isto como transcendência da singularidade que permite a inteligibilidade da universalidade, ao mesmo tempo em que a relação entre as singularidades é a existência concreta da universalidade. O movimento negativo de articulação entre singular e universal se põe então como movimento de totalização. Contra essa formulação, dado o diagnóstico de que com ela retorna-se a um idealismo como posição abstrata da universalidade que elimina a singularidade, a recusa da negatividade como motor desse movimento tende a um monismo que é a própria eliminação da singularidade: um singular é um isto específico que não é este outro isto. Retirada a possibilidade dessa tese negativa, o que se tem é uma equiparação entre os diversos singulares emanando assim sua indiferenciação como o mesmo, ou dito de outro modo, um singular que não revela uma singularidade. Tentando salvaguardar a singularidade, a recusa da negatividade acaba por reafirmar nessa indiferenciação um mesmo que se põe como universal, reafirmando uma universalidade abstrata na qual a singularidade está diluída. Podendo-se, então, mostrar como a apreensão da singularidade em sua especificidade exige que ela seja tomada como em relação e, portanto, sobre o pano de fundo de uma universalidade que ela mesma encarna.

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CRISTO – ÜBERMENSCH – O ALÉM DO HOMEM

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De tudo aqui exposto, podemos dizer que a nossa Casa Espiritual – como nos propõe Antônio Ruas -, se concretizando mística e filosoficamente através do movimento de totalização como trâmite dialético entre pólos opostos – ditos mutuamente implicados, mas irredutíveis um ao outro -, é o resultado de nosso processo de individuação segundo Carl Jung, bem como uma harmonização das vententes ascendente e descendente conforme Ken Wilber. Ou seja, tudo visando alcançar o além do homem nietzschiano: o übermensch. Este, em toda a sua mais alta beleza, corresponde ao Cristo na Cruz, o qual consubstancia o amor infinito de Deus – um deus, sim, que sabe dançar, segundo Nietzsche -, para além do bem e do mal.

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SER ESQUIZÓIDEO

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Conflito não é entre o Bem e o Mal, mas entre o Conhecimento e a Ignorância.

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O homem é um “ser esquizóide”. Isto é um fato.

Segundo Carl Jung, portanto, a única forma de alcançar uma vida de harmonia, seria integrando todos os opostos no “processo de individuação”.

Assim, os ensinamentos de Jung refletem muito bem o pensamento de Buda:

“O conflito não é entre o Bem e o Mal, mas entre o Conhecimento e a Ignorância”.

Rogério Fonteles Castro

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A JORNADA DO HERÓI


Processo de Individuação

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Joseph Campbell lançou um livro chamado O herói de mil faces. A primeira publicação foi em 1949, sendo o resultado de um longo e minucioso trabalho que Campbell desenvolveu ao pesquisar a estrutura de mitos, lendas e fábulas. Seu trabalho de pesquisa também analisou histórias modernas, assim como muitos roteiros de filmes.

Sua primeira observação foi que, em todas as histórias, existe um herói e que a narrativa gira em torno de suas peripécias. Nem sempre o herói é um ser humano, podendo ser um grupo de pessoas, um animal ou uma figura mitológica.

Campbell desenvolveu uma estrutura de eventos que demonstra que o herói passa por doze etapas.

Mas, refletindo sobre o processo de individuação de Carl Jung, a jornada é uma metáfora para o desenvolvimento de um indivíduo, ou seja, o movimento da consciência no processo de individuação. A educação do herói (cada um de nós) é o período no qual seguimos em busca de nossa própria identidade. Esse processo é repleto de aventuras e perigos. Assim como no processo de individuação, o ego precisa encontrar seu caminho por entre complexos, conteúdos sombrios, fazendo contato com a anima/animus integrando essas partes para ampliação da consciência.

A Jornada do Herói é muito mais que instrumento para analisar narrativas ou técnica para que publicitários, escritores e outros artistas e criativos usem em seus processos de trabalho. É a nossa ação e postura diante da vida. Assim nos alerta Jung:

“No mito o herói é o que vence o dragão, e não exatamente o que é devorado por ele. E no entanto os dois têm de haver-se com o mesmo dragão. O herói também não é aquele que nunca se encontrou com o dragão nem aquele que, tendo-o visto uma vez, afirma depois nada ter visto. Da mesma forma descobre e ganha o tesouro, “aquela preciosidade difícil de conseguir”, somente aquele que ousa a confrontação com o dragão e não perece. Tal pessoa tem verdadeiro direito à autoconfiança, pois enfrentou a profundeza escura do próprio si-mesmo e desse modo conquistou para si o seu si-mesmo. Esta experiência interna lhe dá força e confiança, a capacidade de sustentação do si-mesmo, pois tudo o que o ameaçava provindo do interior, ele o tornou coisa própria sua, adquirindo desse modo certo direito de crer que será capaz de dominar com os mesmos meios tudo o que no futuro ainda possa ameaça-lo.

Deste modo se resolve o problema da união mental com o corpo, e realiza assim o segundo grau da coniunctio. Diríamos que, com esta realização de um equivalente psíquico, a idéia do si-mesmo tomou forma.

Este passo parece ser de importância fundamental, porque somente a partir daí se pode alcançar a coniunctio completa, a saber, a ‘união com o Unus Mundus’.”

Como podemos constatar, de acordo com Jung, no encaminhamento desta jornada devemos buscar um conhecimento integral sobre si mesmo, sobre o ser humano, envolvendo mente e corpo, psique e matéria. Daí muito importante a Consciência Corporal: todo o nosso corpo pensa, cada órgão, cada célula. Uma consequência da desordem mental, ou seja, estresse mental, ocorre quando o cérebro perde o poder de comando do corpo como um todo: ou seja, os órgãos como o coração, o pulmão, etc., e, principalmente, a musculatura, deixam de realizar as ordens vindas do cérebro. Assim, o que sentimos, logo de imediato, é como se tudo começasse a girar ao nosso redor. Para alcançarmos novamente o controle do cérebro, é preciso desligar a nossa “máquina”, o nosso corpo. É o mesmo que fazemos quando nosso computador trava, deixa de funcionar, e o desligamos da rede elétrica e o religamos para que seja normalizado o seu funcionamento.

Todavia, para desligarmo-nos, não é preciso morrer, apenas devemos aprender a fazer relaxamento, através do qual, entre dormindo e acordado, conseguimos fazer com que todos os órgãos de nosso corpo entrem em harmonia. Este relaxamento se não for alcançado naturalmente, será preciso então o uso de drogas. Agora, existem várias técnicas de relaxamento, devemos procurar aquela que melhor se adapta ao nosso corpo, ao nosso ser.

Importante, não se consegue relaxar dormindo. Por isso muitas vezes adormecemos e acordamos todo “quebrado”. O relaxamento, nossa harmonização, como dissemos acima, acontece entre acordado e dormindo. Ainda, durante toda a vida, até partirmos definitivamente deste mundo, sempre teremos problemas, seja rico ou pobre, bonito ou feio, jovem ou velho, branco ou negro, etc. Daí devemos, todas as noites, buscarmos esquecer todos os problemas e relaxar, pois, somente dessa forma, sempre estaremos preparados para enfrentarmos os desafios do dia-a-dia.

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VIDA LONGA E PRÓSPERA

PARA TODOS!!!!

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Enfim, reflexionando tudo acima, o nosso propósito na vida é ser feliz, assim devemos desenvolver uma filosofia própria de vida, buscando conhecer a si mesmo e ao Universo. Entretanto, se caso sejamos religiosos, façamos que a nossa religião ande de mãos dadas com a filosofia. Queremos frisar bem, portanto, que o nosso posicionamento filosófico é muito importante para a nossa harmonização, pois, nos fazendo conscientes e convictos sobre tudo que é existente – seja psíquico ou material -, compreenderemos melhor o mundo em que vivemos e possivelmente alcançaremos focar com mais força os nossos objetivos.

Rogério Fonteles Castro

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BIBLIOGRAFIA:

0. KOSMOS –  COSMOLOGICAL CONSCIOUSNESS: A NEW PSYCHOPHYSICAL PARADIGM. Autor: Rogério Fonteles Castro. Acessado em:

<https://seletynof.wordpress.com/>

1. JUNG, VIDA E OBRA. Autora: Nise da Silveira. Acessado em: 

<https://www.facebook.com/fisicapsicologia/photos/a.2378544682404000/2042377406020731/?type=3&theater> 

2. PSIQUE E SUBSTANCIA – A Homeopatia à Luz da Psicologia Junguiana. Autor: Edward C. Whitmont. 

3. MANUAL DE CAMBRIDGE PARA ESTUDOS JUNGUIANOS – Polly Jovem Eisendrath, Terence Dawson – Obras Completas (CW) de Jung. Acessado em: 

<https://www.academia.edu/39010846/MANUAL_DE_CAMBRIDGE_PARA_ESTUDOS_JUNGUIANOS_-_Polly_Young_Eisendrath_Terence_Dawson_-_Obras_Completas_CW_de_Jung> 

4. ASSIM FALAVA ZARATUSTRA. Autor: Friedrich Nietzsche. Acessado em:

<https://www.academia.edu/41607043/ASSIM_FALAVA_ZARATUSTRA._Autor_Friedrich_Nietzsche> 

5. LA RELAZIONE:INTERDIPENDENZA E INTERSOGGETTIVITÀ. Autora: Silvia Montefoschi. 

6. UMA BREVE HISTÓRIA DO UNIVERSO: DE BUDA A FREUD – Religião e Psicologia Unidas Pela Primeira Vez. Autor:Ken Wilber.

7. A GALÁXIA DE GUTENBERG. Autor: Marshall McLuhan. Acessado em

<https://www.facebook.com/fisicapsicologia/photos/a.1601258710132605/1610799649178511/?type=3&theater>

8. ANTES DE LA COLONIZACIÓN, LOS NATIVOS NORTEAMERICANOS RECONOCÍAN 5 GÉNEROS. Autora: Patricia Díez. Acessado em:

<https://muhimu.es/genero/colonizacion-nativos-americanos-reconocian-5-generos/>

9. LA DINÁMICA DE LO INCONSCIENTE. The Road to Reality. Acessado em:

<https://www.facebook.com/fisicapsicologia/videos/2534519953262043/UzpfSTE2ODYyNTgxMzM6Vks6MTYyNjY3OTU3NzQ3MTg0Ng/?multi_permalinks=1626679577471846&notif_id=1578994930290503&notif_t=feedback_reaction_generic>

10. O PENSAMENTO ANTIGO. Autor: Rodolfo Mondolfo. Acessado em:

<https://www.facebook.com/fisicapsicologia/photos/a.1603298289928647/2265386537053149/?type=3&theater>

11. UNUS MUNDUS. Autora: Cintia Roberta Ribeiro Hoffmann. Acessado em:

<https://www.facebook.com/fisicapsicologia/photos/a.1599255973666212/3180791155512678/>

12. UMA TEORIA PARA AS FORMAS E FORÇAS  PRÓPRIAS DA IMAGINAÇÃO SIMBÓLICA. Autora: Ana Taís Martins Portanova Barros. Acessado em:

<file:///C:/Users/Rogerio%20Fonteles/Pictures/imagina%C3%A7%C3%A3o%20simb%C3%B3lica.pdf>

13. Noções do Imaginário: Perspectivas de Bachelard, Durand, Maffesoli e Corbin. Autores: Sílvio Anaz, Grazyella Aguiar, Lúcia Lemos, Norma Freire e Edwaldo Costa. Acessado em:

<https://www.academia.edu/43897188/No%C3%A7%C3%B5es_do_Imagin%C3%A1rio_Perspectivas_de_Bachelard_Durand_Maffesoli_e_Corbin_Autores_S%C3%ADlvio_Anaz_Grazyella_Aguiar_L%C3%BAcia_Lemos_Norma_Freire_e_Edwaldo_Costa>

14. “Not Same-sex Sexuality But Modern Homophobia Is The Western Import”: Ruth Vanita. Acessado em:

<https://feminisminindia.com/2016/04/25/interview-with-ruth-vanita/?fbclid=IwAR2lTHrxFW2o8X8TySK1z1SBCyT_ckbVG5o7H320ZcYEijEf-Sq-ONive7U#.V_J9XiMky1t.twitter>

15. O corpo importa: corpos falantes e a produção discursiva do sexo. Autora: Camilla de Magalhães Gomes. Acessado em:

<https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/59271/44901>

16. HOMEM: DIVINO, NATURAL E HISTÓRICO – Ontologia versus Cosmologia. Autor Rogério Fonteles Castro. Acessado em:

<https://www.facebook.com/fisicapsicologia/photos/a.1603255613266248/2778362742422190>

17. FUNDAÇÃO DA CULTURA OCIDENTAL: Verdade – Bondade – Culpa – Pecado – Neurose. Autor: Rogério Fonteles Castro. Acessado em

<https://www.facebook.com/fisicapsicologia/photos/a.2378544682404000/2748339812091150/>

18. “Not Same-sex Sexuality But Modern Homophobia Is The Western Import”: Ruth Vanita. Acessado em:

<https://feminisminindia.com/2016/04/25/interview-with-ruth-vanita/?fbclid=IwAR2lTHrxFW2o8X8TySK1z1SBCyT_ckbVG5o7H320ZcYEijEf-Sq-ONive7U#.V_J9XiMky1t.twitter>

19. “ARTE E CORPOREIDADE NA FILOSOFIA DE NIETZSCHE. Autor: CAROLINE NATALIE STROPARO. Acessado em:

<https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/44297/R%20-%20E%20-%20CAROLINE%20NATALIE%20STROPARO.pdf?sequence=1&isAllowed=y>

20. QUE SEJA EM SEGREDO. Autora: Ana Miranda. Acessado em:

<https://www.lpm.com.br/livros/Imagens/que_seja_em_segredo_trecho.pdf>

21. À PROCURA DE ADÃO. Autor: Herbet Wendt. Acessado em:

<https://seletynof.wordpress.com/2008/04/08/o-cerebro-o-pau-e-a-pedra/>

22. LESBIANIDADES E REFERÊNCIAS LEGITIMADORAS DA SEXUALIDADE. Autores: Livia Gonsalves Toledo e Fernando Silva Teixeira Filho. Acessado em:

<https://www.docdroid.net/uKcBC8w/lesbianismo-pdf?fbclid=IwAR0P7s1tHflF1AUNJ5dwYsHRAd_ttuLutEERC6RLvXX0AK2Ryma3CEY4Ul0>

23. O EROTISMO.  Autor: Georges BATAILLE. Acessado em:

<https://salsichaotainha.files.wordpress.com/2011/05/georges-bataille-o-erotismo.pdf>

24. HISTÓRIA DA FILOSOFIA, Vol. 3. Crise das Ciências Europeias e o “Mundo da Vida”, pg 565.  Autores: Giovanni Reale e Dario Antiseri. Acessado em:

<https://www.docdroid.net/lmgEteQ/vdocpub-historia-da-filosofia-volume-3-do-humanismo-a-descartes-pdf>

25. A descoberta do Inconsciente. Autor: Fábio Mesquita. Acessado em:

<https://fabiomesquita.files.wordpress.com/2013/04/freud-a-descoberta-do-inconsciente.pdf>

26. ONTOLOGIA DA NEGATIVIDADE EM SARTRE. Autor: Valdir de Costa. Acessado em:

<https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/19554/Ontologia%20da%20Negatividade%20em%20Sartre.pdf?sequence=1&isAllowed=y>

27. FACES DO FEMININO SAGRADO: O ARQUÉTIPO DA MULHER SELVAGEM. Autor: Hécate Chama Sagrada. Acessado em:

<https://www.academia.edu/2472246/FACES_DO_FEMININO_SAGRADO_O_ARQU%C3%89TIPO_DA_MULHER_SELVAGEM?fbclid=IwAR34TIJwOy_fgAl7yPl9F4wv3HyQ0BGhIXaEzXNDfdruw4pGN6iZjkcjPj4>

28. “NEM SANTA, NEM PUTA”: PERFORMANCES DE GÊNERO E SEXUALIDADE EM MULHERES PRATICANTES DE SWING . Autora: Sâmella dos Santos Vieira. Acessado em:

<https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/15318/1/Disserta%c3%a7%c3%a3o%20Final_S%c3%a2mella%20Vieira%20.pdf>

28. DIONISO E APOLO E A LOUCURA DIVINA. Autora: Hellen Reis Mourão. Acessado em:

<https://institutofreedom.com.br/blog/dioniso-e-apolo-e-a-loucura-divina/?fbclid=IwAR071Ku8GW2RjSs5KrziFTI4Wb4FyW0cAFHwlv1SiiRDGmZ7GuooSijTHDs>

29. O Mal para Carl Gustav Jung, Fundador da Psicologia Analítica. Autor: Leonardo Torres. Acessado em:

<https://www.psicologiaarquetipica.com.br/post/o-mal-existe>

30. O feminino reprimido: um estudo junguiano sobre a feminilidade. Autor:  Renata Pasini Menezes. Acessado em:

<https://repositorio.uniceub.br/jspui/handle/123456789/2853>

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Avant Que L’Ombre – Mylène Farmer:

Vídeo:

<https://www.youtube.com/watch?v=xtt0hWOIMzc> 

Letra:

<https://www.letras.mus.br/mylene-farmer/648828/traducao.html&gt;

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O Nome da Rosa – Umberto Eco:

Vídeo:

<https://www.facebook.com/fisicapsicologia/videos/1687297781528697/&gt;

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Silvia Montefoschi – l’ultima psicoanalista che chiude la centenaria storia della psicoanalisi:

Vídeo:

<https://www.facebook.com/fisicapsicologia/videos/489842528418651/&gt;

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ARQUÉTIPO FEMININO

grande mãe - sagrada e profana

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A GRANDE MÃE PAGÃ

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À medida que o DEUS intangível (sagrado) tornou-se a representação absoluta do BEM, coube à natureza humana carregar a projeção do MAL – o que exprime a implacável inimizade existente entre o patriarcal e a matriarcal Grande Mãe pagã. Pois mater, que é matéria, significa feminino, a alegre experiência da matéria no êxtase sensual, a carne instintiva. Daí, a Natureza tornada maligna e pagã (profana), os domínios do diabo tiveram de ser subjugados e mortificados pela parte divina do homem.

___________EDWARD C. WHITMONT
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A CRISE DE PARADIGMAS

ninho

O GRANDE NINHO DO SER

Espinha Dorsal da Filosofia Perene

Segundo Wilber, “O Grande Ninho é na verdade uma grande holarquia do Ser e do Conhecer: níveis de realidade e níveis de conhecimento”.

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A CRISE DE PARADIGMAS

A partir das ideias de Ken Wilber em diálogo com outros pensadores se tentará demonstrar as bases em que se fundamentou a cultura geral em pelo menos três principais épocas da história – pré-moderna, moderna e pós-moderna – a fim de pontuar as principais causas da crise paradigmática que repercutiram diretamente na Ciência, na Arte e na Ética.

Os termos pré-moderno, moderno e pós-moderno encerram um conjunto de significações que comumente são ligadas à questão do tempo, de uma possível divisão histórica, consubstanciando um conjunto de referenciais. A palavra moderno está associada quase que habitualmente à percepção do recente, daquilo que se refere aos dias atuais, já o pré-moderno está ligado a tudo que é passado, velho, enquanto que o pós-moderno é relativo a uma possível superação do moderno. Todavia, essa divisão histórica não é hegemônica, existindo, inclusive, um entendimento de que se estaria operando na fase moderna e não em um pós-moderno. O que não se pode esquecer é que um extenso processo histórico está em andamento modelando a sociedade e influenciando diretamente mudanças de paradigmas na ciência em geral.

Fundamentando contextualmente nossa pesquisa na busca de um paradigma psicofísico, aqui conceituamos o que vem a ser um paradigma dentro de uma trajetória que tem como referenciais a pré-modernidade, a modernidade e a pós-modernidade, assinalando alguns pressupostos epistemológicos destas fases e suas relações com o conhecimento científico-filosófico.

PARADIGMA: UMA BREVE CONCEITUAÇÃO


Buscou-se, primeiramente, fixar um entendimento acerca do termo paradigma, uma vez que o uso popular indiscriminado causou um esvaziamento do seu real significado. Assim, tendo em conta que a utilização do termo no âmbito científico é comum e necessitar-se-ia dele para efeitos da presente pesquisa, verificou-se inicialmente que seu uso mais comum é o de modelo teórico tido como hegemônico. Mas também, é utilizado em menor escala como linhas teóricas de pesquisa. Aparentemente, há um consenso entre os estudiosos de o termo ter sido utilizado pela primeira vez por Thomas Kuhn, em sua obra As estruturas das revoluções científicas:

como sinônimo de teoria, com as expressões: “orientação teórica” ou “perspectiva teórica”, significando o entendimento do mundo, das asserções que as pessoas têm sobre o que é importante para o mundo funcionar (1994, p. 215).

Edgar Morin (1996), bastante citado pelos estudiosos em geral, expõe um conceito que supostamente, vai além do conceito fornecido por Kuhn, inclusive ressaltando uma espécie de relação dominadora quando afirma que:

Paradigma significa um tipo de relação muito forte, que pode ser conjunção, disjunção, que possui uma noção lógica entre um conjunto de conceitos mestres (1996, p. 225).

Por fim, é importante ainda registrar o conceito fornecido por Capra, outro autor bastante referenciado nos estudos em geral sobre a temática, quando afirma que paradigma é:

Uma constelação de concepções, valores, percepções e práticas compartilhadas por uma comunidade e que dá forma a uma visão particular de realidade, a qual constitui a maneira pela qual a comunidade se organiza (1996, p.31).

A história tem demonstrado que a denominação de paradigma sofre uma mudança constante ao longo do tempo, fruto da própria evolução da humanidade. Behrens e Oliari (2007, p. 54-55) asseveram que, se de um lado os paradigmas são necessários, pois fornecem um referencial que possibilita a organização da sociedade, por outro lado podem limitar a visão de mundo quando há resistência à mudança e persistência em se manter no paradigma conservador. Morin (2000, p. 25 apud BEHRENS e OLIARI, 2007, p. 55) diz que “os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo paradigmas inscritos culturalmente neles”.

Observa-se que essas definições apresentam um mundo em que um conjunto de ideias, de concepções, de dogmas torna-se dominante e arraigado à determinada cultura. Este conjunto de ideias vai ganhando forças com o passar do tempo e torna-se poderoso, porque fornece explicações que podem ser admitidas ou aceitas a um determinado fenômeno estudado. Interessante observar que o paradigma também vai ganhando força pelo recebimento de incrementos, isto é, os pesquisadores, individuais ou coletivos, acrescentam algo a mais ao paradigma estabelecido.

De acordo com essas compreensões apresentadas, adota-se, para efeito do presente estudo e do que será apresentado nos parágrafos seguintes, o entendimento de que paradigma significa uma orientação teórica, um modelo a ser seguido.

PRÉ-MODERNIDADE: O GRANDE NINHO DO SER

O primeiro paradigma tem sua previsão no momento da história denominado por alguns de pré-moderno. Sabe-se que a Idade Média está marcada pelos fatos históricos ocorridos nos países da Europa, pois desfrutava de uma visão de mundo extremamente ligada à Natureza, e, levava em consideração a relação existente entre o mundo material e o mundo espiritual, porém, com destaque a tudo que fosse ligado ao Divino.

Neste período, tem-se a prática intensa das grandes navegações e descobrimentos marcada pela busca de novas terras, riquezas em geral e expansão da própria igreja e seus dogmas. A partir dessa visão de mundo, nasce uma ciência estruturada nas visões agostinianas, aristotélicas e platônicas, pondo-se em relevo a ética e as questões da alma humana. Vale ressaltar a importância da teologia, para a qual a própria filosofia servia de embasamento, preocupada constantemente com o destino da alma após a morte.

No período medieval o homem sacralizava a realidade, uma vez que tudo era criação de Deus e havia o entendimento de que o Universo era harmônico, portanto, objeto de contemplação constante. Predominava o autoritarismo e quem discordava dos textos sagrados estava condenado à morte. Por este e outros motivos não houve grande desenvolvimento científico neste período. Tecendo um panorama acerca da organização de vida deste período, a pesquisadora Nonata, assim asseverou:

A vida em sociedade se organizava num sistema dualista à moda da organização aristotélica do universo que se dividia em mundo supralunar, a perfeição; e mundo sublunar, a imperfeição (2007, p. 268).

Ao destacar em seus estudos o aspecto espiritual do ser humano, suas relações com o divino e as grandes religiões do mundo que influenciam diretamente a humanidade ainda hoje, Wilber constata que

[…] na sua maior parte, os grandes sistemas de espiritualidade – cristianismo, judaísmo, islamismo, budismo, hinduísmo, taoismo, religiões indígenas – são parte do legado da pré-modernidade (2000a, p.73).

Wilber, nesta mesma obra, continua tecendo considerações em busca de entender quais os motivos que proporcionaram visões de mundo tão díspares, muitas vezes tão radicais, limitadas com o fim de buscar o conhecimento do ser. Ele registra que isto tudo:

[…] significa apenas que as suas raízes e os seus fundamentos foram, em grande medida, assentados em épocas pré-modernas, e que as suas visões de mundo são profundamente moldadas por correntes pré-modernas (2000a, p. 73).

Importa ressaltar no que Wilber afirmou acima que a cultura desta época tinha como característica o fato do homem acreditar na revelação divina. A verdade era inspirada por Deus. Este pensamento tem origem no fato de que todos os fenômenos da Natureza tinham como origem os Deuses. Havia neste período uma extrema predominância dos dogmas ou mitos e contra estes não se podia questionar.

Como a Natureza tinha um destaque especial neste cenário, Moraes (2000, p. 32-33) diz que “a visão de mundo era orgânica, vivenciada […] pela interdependência dos fenômenos materiais e espirituais”. Acrescenta ainda: “havia a ideia de um mundo vivo, espiritual e encantado”. O acesso à verdade era desencadeado por meio de ritos ordenados por alguns poucos iniciados. É nesta era que a humanidade constrói seu primeiro paradigma da ciência, tendo como bases paradigmáticas a existência de dois mundos: o real e o sobrenatural (BEHENS e OLIARI, 2007, p. 56).

Um dos aspectos mais importantes dessa época e que resistiu ao tempo, segundo Wilber (2000, p. 19) foi o Grande Ninho do Ser – conforme pode ser visto na figura acima no início de nosso texto. Como registra este mesmo autor, o Grande Ninho é a “espinha dorsal da filosofia perene” e “um ingrediente importante para uma abordagem integral” (idem, p. 20). A filosofia perene reflete a base das grandes tradições espirituais do mundo e é o mais fácil acesso à sabedoria.

Ao tratar da visão de mundo que tem sido dominante na maior parte da humanidade civilizada, Wilber destaca a influência que a denominada filosofia perene teve em todo este processo, e registrou que

[…] essa visão de mundo formou, com certeza, o âmago não somente das maiores tradições de sabedoria do mundo, do cristianismo, do budismo e do taoismo, mas também de muitos filósofos, cientistas e psicólogos, do Ocidente e do Oriente, no norte e do sul. Essa filosofia perene se espalhou tanto […] que ou ela é o maior erro intelectual da história da humanidade – erro tão colossalmente espalhado por toda parte que simplesmente nos estonteia -, ou então é a reflexão mais acurada sobre a realidade que já surgiu (1997, p. 46).

Depreende-se, assim, que a filosofia perene buscava compreender a natureza da humanidade e a realidade. Para os adeptos desta filosofia, a realidade não é unidimensional, compõe-se de dimensões, graus ou níveis diferentes, todos, porém, contínuos (WILBER, 1997, p. 46). De forma resumida, estas dimensões vão da matéria ao espírito, e cada dimensão maior transcende e inclui a anterior. Então, a partir disto, tem-se um quadro de crescimento, de desenvolvimento, possuindo uma relação direta com os fins de uma visão Integral. Este é um dos pontos positivos da pré-modernidade.

Wilber (2000) consegue destacar, a partir de seus estudos outro ponto caracterizador dessa época pré-moderna: as culturas possuem arte, ética e ciência.

Estes elementos seriam as esferas de valores culturais, que na pré-modernidade tendem a se fundir. Este mesmo autor registra:

[…]. O problema é que essas esferas tendiam a ser relativamente “indiferenciadas”. Para dar um exemplo, na Idade Média, Galileu não podia olhar livremente pelo seu telescópio e relatar os resultados porque a arte, a moral e a ciência fundiam-se, todas elas, na Igreja, e por isso a moral da Igreja definia o que a ciência podia – ou não podia – fazer. A Bíblia dizia (ou insinuava) que o Sol girava ao redor da Terra e ponto final (p. 76).

Em resumo, pode-se dizer que um ponto forte da pré-modernidade foi o reconhecimento do Grande Ninho do Ser que consubstancia um mapa do potencial humano. Por outro lado, o ponto fraco estaria na não diferenciação plena entre as esferas de valores (arte, ética e ciência) nos níveis do Grande Ninho. Visto as ideias dominantes deste período, com seus pontos positivos e negativos, chega-se à modernidade.

MODERNIDADE: A DIFERENCIAÇÃO E A EVOLUÇÃO DOS TRÊS GRANDES (ARTE, CIÊNCIA E ÉTICA)


O segundo paradigma teria assento a partir dos estudos e contribuições de pelo menos três grandes cientistas da humanidade – Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Isaac Newton – além de outros não menos importantes, por meio dos quais os conceitos científicos, de uma maneira geral, sofreram uma mudança drástica.

Behrens e Oliari (2007, p. 57), em referência ao período anterior, dizem que “[…] O homem precisava ser liberto e ‘pegar nas suas próprias mãos’ o processo do conhecimento”. Afasta-se qualquer afirmativa irracional, a divinização de todas as coisas. Instaura-se um vácuo espiritual bastante característico de nossa cultura, em face mesmo da mudança em relação à forma de tratar a natureza, o homem consigo mesmo e sua relação com o Universo.

A Física e a Astronomia, de forma revolucionária, lançam a noção de um mundo composto por objetos singulares, distintos, que não fazem parte de outro, dando a ideia de que o Universo seria uma grande máquina em contraposição à noção de mundo orgânico.

Moraes (2000, p. 33-34), refletindo sobre todos os fatos marcantes do período moderno, e após relacioná-los, percebe uma profunda mudança em relação ao período anterior, e certifica que “A visão de um mundo orgânico, vivo, espiritual e encantado passou a ser substituída pela noção de um mundo-máquina”, e na continuidade de seus estudos arremata: “Em consequência, ocorreram mudanças nas relações humanas do ponto de vista social, político e cultural.”

A chamada modernidade, que para alguns tem sua origem fixada de maneira didática no século XV, proporcionou grandes conquistas a partir de avanços significativos, principalmente, no comércio marítimo. O comércio além-mar propiciou estreitar relações com outros países, povos e culturas. Ocorreram, neste período, episódios como o Renascimento, o Racionalismo, o Mercantilismo, dentre outros. Com o Renascimento se buscou reposicionar o homem em seu significado histórico. Já no Racionalismo a visão de mundo passa a ser a de que a realidade do universo é interpretada por meio do racional, de uma lógica, excluindo tudo que for irracional e outros caminhos de explicação dos fatos. Concluí-se, facilmente que, neste período, a natureza perde seu caráter divino e há uma modificação na relação do homem consigo mesmo e com o Universo. No Mercantilismo o que prevalece é o “TER”, a divisão sócio-econômica cresce e os interesses individuais sobrepujam os coletivos.

Na pré-modernidade, como já citado, a Natureza era objeto de investigação sempre com a finalidade de encontrar a harmonia do ser com o Universo, visto que este é obra de Deus. Na visão de mundo da modernidade, onde se compara o Universo a um grande maquinário composto por objetos singulares, introduziu-se a descrição matemática para compreensão da natureza. É necessário destacar para efeito desta pesquisa que com a quantificação dos corpos, houve o privilégio do aspecto objetivo e marginalizam-se os aspectos subjetivos mais íntimos do sujeito. Em dado momento o experimentalismo ganha relevo onde basta apenas a observação dos fatos em si sem necessidade de grandes argumentações lógicas.

Em sequência a tudo isso, os procedimentos científicos oscilavam com as teorias, ora defendendo a indução – inicia pelo particular e chega a conclusões gerais – que seriam testadas e retestadas por novos experimentos, ora defendendo a dedução – que parte do geral e chega ao particular. Foi assim que René Descartes deduziu que a essência da natureza humana está no pensamento e este se encontra separado do corpo. A mente responsável pelo pensamento estaria à parte do corpo, visto como coisa e constituído de partes mecânicas, como uma engrenagem.

É assim que Moraes (2000, p. 37), refletindo de forma mais perspicaz sobre os efeitos desta visão de mundo, afirma de forma categórica que

O dualismo entre matéria e mente, corpo e alma, teve profundas repercussões no pensamento ocidental, com implicações nas mais diferentes áreas do conhecimento humano. O exagerado culto ao intelecto, em detrimento das dimensões do coração e do espírito, vem gerando profundas patologias dissociativas e de grande significação para a humanidade.

A partir das diversas leituras empreendidas em obras ocidentais e orientais, e sempre buscando entender o porquê de tantas dissensões e inquietações, Wilber nos proporciona um quadro de entendimento quando assim se expressa:

Diz-se que a modernidade assinalou a morte de Deus, a morte da Deusa, a mercantilização da vida, o nivelamento das distinções qualitativas, as brutalidades do capitalismo, a substituição da qualidade pela quantidade, a perda de valores e do sentido, a fragmentação da vida mundial, o terror existencial, a industrialização poluente, um materialismo desenfreado e vulgar – e todas essas coisas têm sido, com frequência, resumidas na frase que Max Weber tornou famosa: “o desencantamento do mundo” (2000, p.75).

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KEN WILBER

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Essa visão seria resultado de uma ótica plana da modernidade. É o mesmo autor, Wilber, ao dissertar sobre a integração da ciência e religião em uma de suas mais de vinte obras, quem afirma que também a modernidade

[…] nos trouxe as democracias liberais; os ideais de igualdade, a liberdade e a justiça, independentemente de raça, credo; a medicina, a física, a biologia e a química modernas; o fim da escravidão; o surgimento do feminismo […] (2006, p. 17).

Sensível aos possíveis efeitos dos aspectos devastadores do paradigma tradicional, em que se coloca em situação de ameaça o próprio ser humano, Moraes corrobora com as palavras de Wilber quando registra que

[…] a descrição reducionista representou um certo perigo a partir do momento em que o método analítico moderno, fruto do racionalismo científico, foi interpretado como sendo a explicação mais completa, a abordagem válida do conhecimento, ao focalizar as partes, ao conhecer as unidades constitutivas, ao retalhar a visão de totalidade.

Representou, também, um certo perigo ao valorizar os aspectos externos das experiências ignorando as vivências internas do indivíduo, ao fundamentar-se sobretudo na razão e nas sensações expressas pelos cinco sentidos (2000, p. 42).

A expressão “desencantamento do mundo” referenciada por Wilber e cunhada por Weber, significa para Pierucci (2003, p. 8) “a produção intelectual weberiana mais importante para o entendimento da modernidade”. Para este último autor o desencantar leva a um novo modo de viver, bem como esclarece que a ciência não consegue dar sentido ao mundo como um todo.

Em que pese parecer uma contradição, a visão do mundo moderno apresenta duas faces, sendo uma ressaltadamente positiva, tendo em conta o sucesso de muitas proposições que viabilizaram o desenvolvimento científico mundial (secularização e publicização do conhecimento, métodos de pesquisa eficazes, dentre outros), e a outra negativa, no sentido de uma radicalização de posturas que culminou em um reducionismo, em que o racionalismo científico concebeu o método analítico e afirmou que ele é a única explicação válida para tudo. Este aspecto negativo também está caracterizado por um foco exagerado no estudo das partes como unidades constitutivas, desprezo pela totalidade, valorização excessiva de aspectos externos vistos pela razão e desvalorização de aspectos internos do ser humano. Além do mais, a ciência analisava os fatos a partir dos cinco sentidos (visão, audição, paladar, tato e olfato), o que, por si só, já limita um conhecimento mais profundo.

Particularmente, no campo educacional, Moraes (2000, p. 43) critica enfaticamente o modelo tradicional quando afirma que ele 

Direcionou a nossa educação à supervalorização de determinadas disciplinas acadêmicas, à superespecialização, uma vez que todos os fenômenos complexos, para serem compreendidos, necessitam ser reduzidos às suas partes constituintes.

A crise na Educação parece requisitar uma visão de unidade, evitando ou eliminando por completo visões ou concepções separatistas, fato que se leva a repensar o modelo de como trabalhar com toda a herança deste período, bem como destacar o que realmente é importante e, só assim, empreender novas propostas de forma mais segura. Wilber destaca o ponto que chamou de esferas de valores culturais e, a partir dele começa a lançar a semente de sua proposta integral quando afirma:

Precisamos é de uma definição ou descrição específica de modernidade que leve em consideração todos esses fatores, tanto os bons (como as democracias liberais) como os ruins (como a disseminada perda de sentido). Vários estudiosos, de Max WeberJürgen Habermans, afirmaram que o que define a modernidade é uma coisa chamada “diferenciação das esferas de valores culturais”, que significa sobretudo a diferenciação da arte, da ética e da ciência.

Enquanto essas esferas anteriormente tendiam a se fundir, a modernidade as diferenciou e deixou que cada uma seguisse no seu próprio ritmo, com seu próprio mérito, usando seus próprios instrumentos, seguindo suas próprias descobertas, livre de intrusões por parte de outras esferas (2000, p.76).

Essa diferenciação nas esferas de valor (arte, ciência e ética) é um importante aspecto que foi denunciado pelos grandes sábios da humanidade, e que Wilber (2000, p. 76-77) destaca para explicar de forma bastante simples todo um desdobramento na chamada crise paradigmática, pois segundo este autor, “[…] Ela nos permite entender tanto os méritos como os desastres da modernidade”.

Contudo, afirma o autor que essas diferenciações “[…] se transformaram em dissociação, fragmentação e alienação. O crescimento virou câncer.” Para Moraes (2000, p. 44), esta é o que se pode chamar hoje de “[…] agonia planetária, cujas soluções devemos começar a buscar para que possamos evoluir e reconstruir a humanidade em novas bases”.

Como já referido anteriormente, todas as dimensões ou aspectos interiores ou subjetivos do ser humano – neste paradigma moderno – simplesmente não eram incluídos como possibilidade de investigação e comprovação, foram descartados, desprezados pela ciência em geral. Assim, como a moral, todas as formas de expressão artística, a intencionalidade, os valores, a contemplação, a espiritualidade etc, não podiam ser mensurados, nem se amoldavam aos métodos de pesquisa hegemônicos, facilmente eram desprezados. Wilber assim se manifesta sobre o assunto:

Foi esse materialismo científico que decretou que as outras esferas de valor eram inúteis, “não-científicas”, ilusórias ou coisa pior. E por essa mesma razão, foi o materialismo cientifico que declarou a inexistência do Grande Ninho do Ser (2000, p. 77).

A modernidade tratou o Grande Ninho do Ser da mesma forma como tratou todos os fenômenos que lhe eram submetidos, isto é, decompôs seus elementos e simplesmente desprezou aquilo que não lhe era considerado científico.

Segundo Wilber (2000, p. 33), “O Grande Ninho é na verdade uma grande holarquia do ser e do conhecer: níveis de realidade e níveis de conhecimento […]”. Assim, os problemas do ser estariam submetidos à ontologia, enquanto os problemas relacionados ao conhecer ficariam no domínio da epistemologia. A modernidade de forma acertada diferenciou esses níveis, porém, não os integrou. Tomou por filho apenas a epistemologia. Eis o problema. A respeito do tema, Wilber diz que 

A Grande Cadeia, até certo grau em que a modernidade a reconheceu de alguma maneira, tornou-se assim, meramente, uma hierarquia de níveis de conhecimento – isto é, uma hierarquia de cognição, tal como foi investigada por Piaget (2000, p. 33).

Verifica-se que a tradicional Grande Cadeia do Ser representa uma intensa concentricidade, isto é, cada nível superior ultrapassa os inferiores, e os engloba, apresentando novos elementos ou qualidades. Os níveis superiores não podem ser reduzidos aos inferiores, nem muito menos por eles explicados, mas estes níveis formam um todo. Este é o verdadeiro sentido de uma visão integral, o que não foi observado, segundo as palavras de Wilber (2000, p.77):

De acordo com o materialismo cientifico, o Grande Ninho de matériacorpo, alma e espírito poderia ser totalmente reduzido a sistemas de matéria apenas; e a matéria – ou a matéria/energia -, quer seja no cérebro material, quer nos sistemas de processos materiais – responderia por toda a realidade, sem que nada sobrasse. Foi-se a mente e foi-se o espírito – na verdade, toda a Grande Cadeia se foi, com exceção do seu mesquinho elo inicial – e no lugar dela, como Whitehead se lamentou numa frase famosa, permaneceu a realidade como “algo enfadonho, sem som, sem cheiro, sem cor, apenas precipitação de material, incessantemente e sem sentido”. (Ao que ele acrescentou: “Dessa maneira, a filosofia moderna foi arruinada.”).

Todas essas informações têm um significado muito profundo para aqueles que apostam em um futuro melhor, pois chamam a atenção para a imprescindibilidade do desenvolvimento de técnicas e ou práticas sócio-culturais – filosóficas, científicas e educacionais -, que tenham sua convergência principal para a formação do ser humano de forma plena, completa e integral. Isto fica bastante claro quando Wilber faz as seguintes considerações:

E foi assim que o Ocidente moderno tornou-se a primeira grande civilização, em toda a história da raça humana, a negar realidade substancial ao Grande Ninho do Ser. É nessa negação maciça que tentaremos introduzir novamente a consciência, o interior, o profundo, o espiritual, e desse modo avançar suavemente em direção a um abraço mais integral (2000, p. 77).

Atualmente, no que diz respeito à educação institucionalizada, existe uma grande preocupação, pois, os paradigmas modernos dominantes continuam a influenciar a área educacional e prosseguem gerando comportamentos preestabelecidos sempre em busca da certeza das coisas sem maiores questionamentos. Há a cobrança da memorização recompensando com títulos como “aluno destaque”, “cérebro”, “zero 1”, “crânio”, etc.

Na prática pedagógica os alunos sentam em carteiras dispostas a manter a autoridade do professor e presos à dimensão racional instrumental. Na grande maioria dos casos, instrui-se o aluno para o desempenho de alguma atividade. Moraes diz que

[…] a escola atual continua influenciada pelo universo estável e mecanicista de Newton, pelas regras metodológicas de Descartes, pelo determinismo mensurável, pela visão fechada de um universo linearmente concebido (2000, p. 50).

Esta mesma autora, a partir da constatação da poderosa influência do paradigma moderno para a educação, principalmente nos aspectos negativos, afirma categoricamente que

Na verdade, precisamos fugir do modelo cartesiano-newtoniano fechado, fragmentado, autoritário, desconectado do contexto, que concebe o sistema educacional e o ser humano como máquinas que reagem a estímulos externos. Esse modelo continua seguindo um enfoque gerencial de produção de conhecimento para consumo, por parte de uma população “amorfa”, absolutamente indiferenciada. Um modelo que continua definindo comportamentos de entrada e saída numa verdadeira “linha de montagem”, sequencial, hierárquica, previamente estruturada pelo professor ou pelo planejador em seu gabinete e completamente alienada do contexto sociocultural do indivíduo. Um modelo que continua avaliando padrões de comportamento previamente definidos, em que o “erro” é visto como elemento de punição e de controle do sistema. Acreditamos que é preciso ir um pouco mais além das propostas parabólicas, pensando que, com isso, estaremos dando um salto para o futuro. Caso contrário, corremos o risco de estar dando mais um salto no escuro (MORAES, 2000, p. 54).

A crise no mundo se tornou extensiva a todas as dimensões e locais. A sociedade está marcada por uma profunda desigualdade e desrespeito ao ser humano. Os atuais referenciais adotados de forma apaixonada por cientistas e intelectuais das mais diversas áreas do conhecimento, simplesmente já não conseguem dar conta dos milhares de problemas existentes, muito menos apontar possíveis soluções. São depositadas esperanças no terceiro período dito pós-moderno, caracterizado por novos estudos, propostas, pressupostos e olhares, num movimento intenso em busca de uma totalidade do entendimento mesmo do tecido do universo. Mas fica o questionamento de Wilber (2000, p. 178), “O que há com relação à pós-modernidade que a torna tão diferente da modernidade?” Este mesmo autor dá uma resposta e fala de uma nova abordagem quando registra que 

Veremos que há também muitos fatores, mas todos eles podem, de modo bastante geral, ser resumidos dizendo-se que constituem uma tentativa para ser inclusivos – para evitar “marginalizar as muitas vozes e pontos de vista que uma poderosa modernidade muitas vezes omitiu; para evitar uma “hegemonia” da racionalidade formal que, com frequência, reprime o não-racional e o irracional; para convidar todas as raças, todas as cores, todas as pessoas, todos os sexos numa coalizão irisada de respeito e reconhecimento mútuos. Essa inclusividade é, com frequência, chamada simplesmente de “diversidade” (ou de “multiculturalismo” ou de “pluralismo”), e está no âmago da abordagem construtiva pós-moderna […].

A partir da constatação de que houve uma cisão nos Três Grandes, isto é, uma indevida forma de separar a ciência, a arte e a ética – o que marginalizou todas as outras formas de ser e conhecer – surge a ideia consubstanciada numa tentativa efetiva de ser mais inclusivo, holístico, integral, não exclusivista. É por isso que Wilber (2000, p 178) diz que “A pós-modernidade foi uma contra-tentativa de incluir os Três Grandes em vez de apenas diferenciá-los e dissociá-los”.

Percebe-se facilmente que Wilber usou a palavra “contra-tentativa”, e isto significa que são atos que têm a finalidade de pôr em execução determinadas ideias ou projetos. São ensaios e experimentações da pós-modernidade. Estas novas abordagens, em sua maioria, comungam de pelo menos três hipóteses básicas:

A realidade não é, em todos os sentidos, dada a nós, mas em alguns sentidos significativos, ela é uma construção, uma interpretação (essa visão é, com frequência, chamada de construtivismo). O significado depende do contexto e os contextos são ilimitados (isso, com frequência, é chamado de contextualismo). A cognição não deve, portanto, privilegiar excessivamente uma perspectiva única (isto é chamado de integral-aperspectivismo) (WILBER, 2000a, p.182).

Diante dos pontos fortes e fracos da modernidade acima apresentados, faz-se necessário conhecer a pós-modernidade.

PÓS-MODERNIDADE: UMA TENTATIVA DE SER INCLUSIVO


Inicialmente, chama-se a atenção para um fato que, muitas vezes, passa despercebido a maioria das pessoas: quando se trata de pós-modernidade, esta expressão tende a significar tudo aquilo que ultrapassa, suplanta o período anterior.

Assim, o “pós” congrega uma rede de teorias, conceitos e modelos que buscam sobrepujar aquilo que está posto. Fala-se em pós-estruturalismo, pós-racionalismopós-liberalismo, pós-capitalismo, pós-industrialismo, pós-metafísico, etc.

Numa visão bastante geral, podem-se registrar algumas características peculiares do tempo atual: sofre-se a forte influência da mídia que abre espaço para um pluralismo cultural, uma quebra de fronteiras, com trocas de informações numa velocidade instantânea proporcionada pelo novo mundo virtual; mudanças nos sistemas produtivos, no trabalho, na família, no lazer; tudo é codificado e criptografado nos sistemas http:// www e nos códigos de barras; o planeta foi mapeado e geo-referenciado por meio dos poderosos satélites; celebra-se o consumo como expressão pessoal; a cultura narcisista se faz presente na imprensa escrita e falada; individualismo, fragmentação, complexidade; as guerras passaram a ter outros formatos e interesses; tudo está globalizado; AIDS, câncer, loucura, depressão, suicídios, tráfico de órgãos e de pessoas, vírus etc.

Ao tratar acerca dos paradigmas da ciência, com sua influência na sociedade e na Educação, Behrens (1999, p. 18) destaca um aspecto positivo oriundo do período anterior, pois

Acredita-se que o paradigma newtoniano-cartesiano se caracterizou como uma trajetória necessária no processo evolutivo do pensamento humano e não como um erro histórico.

Cardoso (1995 apud BEHRENS, 1999, p. 28), de forma perspicaz, afirma que a “formação de um novo paradigma ocorre nas entranhas do anterior. E este por sua vez, nunca desaparecerá totalmente”. Quanto à superação e à possível nulidade do paradigma anterior pelo novo, Behrens (1999, p. 27) esclarece que

[…] a superação de um paradigma científico não o invalida, não o torna errado ou nulo, mas evidencia que seus pressupostos e determinantes não correspondem mais às novas exigências históricas. A passagem para um novo paradigma não é abrupta e nem radical. É um processo que vai crescendo, se construindo e se legitimando. Na realidade, o novo paradigma incorpora alguns referenciais significativos do velho paradigma e que ainda atendem aos anseios históricos da época.

Pierre Weill (apud BRANDÃO e CREMA, 1991, p. 16) ressalta que “nosso mundo está em crise, provocada por lacunas e falhas do paradigma reinante e suas extrapolações”. Após constatar que a ciência moderna contempla enfaticamente os aspectos externos das experiências, Behrens (1999, p. 24) diz que “a crise no mundo se estende em todas as dimensões, mas atinge a Educação de maneira acentuada”.

Acontece que a pós-modernidade também apresenta aspectos positivos e negativos, e incorre por parte daqueles menos desavisados ou extremamente apaixonados nas mesmas falhas que os pré-modernos e modernos. Segundo Wilber (2000, p.182), “Os pós-modernistas extremados não apenas enfatizam a importância da interpretação, como também proclamam que a realidade nada mais é que interpretação (semiologização).” E continua, “[…] a percepção integral aperspectiva se torna uma loucura, […] em face de um milhão de perspectivas, todas com exatamente a mesma profundidade, ou seja nenhuma”. Percebe-se, assim, que persiste um misto de reducionismo e contradição por parte daqueles que deveriam estar apontando caminhos para a superação da crise.

Uma possibilidade para este quadro entristecedor é trazida por Wilber (2000, p. 177) ao sustentar a necessidade de incluírem-se modos de vida mais integrais o “[…] que envolve a integração do que há de melhor na pré-modernidade (o Grande Ninho) e na modernidade (a diferenciação e a evolução dos Três Grandes), resultando numa abordagem mais integral do tipo ‘todos os níveis e todos os quadrantes’”.

Na prática Wilber trabalha os níveis básicos de consciência (matéria, corpo, mente, alma e espírito), e, tendo em vista, que cada ser humano possui, simultaneamente, quatro aspectos (subjetivo/intencional, objetivo/comportamental, inter-subjetivo/cultural e inter-objetivo/social), vai construir de forma extremamente sofisticada um Sistema Operacional Integral. É ele mesmo que afirma: “Creio que não existe outra maneira de se criar uma abordagem genuinamente integral. […]” (WILBER, 2000a, p. 74).

À luz do que foi exposto quanto à crise de paradigmas e suas implicações para a sociedade humana como um todo – aqui dando grande importância à ciência cognitiva – surgem desafios a serem enfrentados e novos paradigmas a serem melhor desvendados. Também fazem parte destes desafios os cenários, que foram e estão sendo construídos de forma extremamente rápida, com mudanças na economia, política, artes, ciências, organizações, serviços, etc., com a criação de uma emergente sociedade globalizada e digitalizada a fim de preparar o futuro que depende em grande parte, das ações do homem no presente. A Educação Integral surge neste cenário extraordinariamente complexo e multifacetado, como uma possibilidade real de que o homem recupere a visão do todo, numa relação harmônica consigo mesmo e com o Universo.

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BIBLIOGRAFIA

1. EDUCAÇÃO INTEGRAL NOS QUATRO QUADRANTES DO KOSMOS  Autoria Richardson Silva. Acessado em:

<https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/13294/1/Disserta%C3%A7ao%20Richardson%20Silva.pdf>

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HOMEM: DIVINO, NATURAL, HISTÓRICO.

crusificada

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CULTURA OCIDENTAL:

VERDADE – BONDADE – CULPA – PECADO

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Com a FILOSOFIA SOCRÁTICA nasciam os valores metafísicos e os valores morais, transferindo o lógos (=razão) e a dikê (=justiça), que para os trágicos eram imanentes ao cosmos, para a esfera das habilidades e decisões humanas, dando forma, então, às noções de inteligência, responsabilidade e culpa. O HOMEM, finalmente, ocupava o centro do mundo, esconjurando todas as forças misteriosas que um dia aprendera a respeitar. Rapidamente, a tragédia declinou e desapareceu.

A Esquilo, Sófocles e Eurípedes (que Nietzsche já considerava um trágico decadente) seguiram-se Sócrates, Platão, Aristóteles. A vida perdia sua FECUNDIDADE e sua PROFUSÃO CÓSMICA em formas disciplinadas, ordenadas.

Intensidade cedia lugar ao meio-termo: do MUNDO REAL – multiproliferante -, ao MUNDO IDEAL – o mundo das Ideias platônicas, o universo dos conceitos e da lógica aristotélicos -, à medida que esse segundo mundo, o ideal, tornava-se critério do primeiro, passando a avaliá-lo, discriminá-lo, selecioná-lo, hierarquizá-lo; ou, num só termo, a controlá-lo a partir de critérios metafísicos e morais, quer dizer, de critérios racionais.

Quando surgiu o CRISTIANISMO, mais tarde, ele só veio reforçar e dar forma a esse ascetismo, através da noção de pecado, que se sobrepôs à de culpa. O homem radiante, inocente, puro esplendor, que já se tornara responsável e culpado, torna-se, então, PECADOR num mundo gerador de pecado, só lhe restando renunciar à vida terrena, “má”, e ao mundo real, “pecaminoso”, por uma vida eterna, “boa”, e um mundo imaginário, “redentor”. Estava fundada a CULTURA OCIDENTAL.

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TRAGÉDIA: APOLO versus DIONÍSIO

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O grande elogio ao MUNDO TRÁGICO, Nietzsche o realizou em seu primeiro livro, O Nascimento da Tragédia. Aí ele descreve a tragédia como união de dois impulsos básicos da natureza: o impulso dionisíaco e o impulso apolíneo.

Ao IMPULSO DIONISÍACO, assim nomeado em referência ao deus Dionísio, pertencem todas as forças que estão presentes na vida sob a forma de êxtase, união cósmica com a Natureza em alegria ou sofrimento, expansão, intensidade, fecundidade, eterna transmutação. Dioniso é o caos originário, o sem fundo proliferante a partir do qual se produzem todas as formas; o conjunto das forças do mundo em eterno movimento de expansão e de intensificação, prenhe de virtualidades, aspirando a alguma forma possível.

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Ao IMPULSO APOLÍNEO, que faz referência ao deus Apolo, pertencem as forças ligadas a processos de dar forma, limites, contornos, individualidade, clareza e direção a impulsos originalmente caóticos. A tragédia realiza, pois, essa união dos dois impulsos, ao dar forma estética às profusões transbordantes da vida.

Entretanto, a angústia diante dos perigos desse caos originário, dionisíaco, levou o homem grego a achar que não bastava disfarçá-lo sob o manto da bela forma apolínea: era preciso discipliná-lo, ordená-lo, dividindo-o em verdades e falsidades, em categorias de Bem e de Mal. Era preciso substituir esse saber intuitivo, artístico, por um conhecimento racional, capaz de permitir o CONTROLE DO MUNDO.

Isso foi realizado pela METAFÍSICA e pela MORAL, a primeira fundando um mundo verdadeiro por meio da RAZÃO; a segunda fundando um mundo bom por meio do imperativo MORAL. Mas, ao fazer isso, o homem grego passava a selecionar, filtrar os impulsos da natureza: doravante somente aqueles disciplináveis e ordenáveis em termos de valores de Verdade e de Bondade passariam na seleção. E a VIDA, que para os trágicos era integralmente justificada, passou a ter uma parte considerada falsa e outra má, portanto ambas repudiáveis.

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HUMANISMO E RACIONALISMO 

versus 

TEOCENTRISMO E DOGMATISMO

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Em O NOME DA ROSA, Umberto Eco trás-nos uma confrontação entre a Razão restabelecida no Renascimento através do resgate da cultura greco-romana e a Fé Cristã pregada pela Igreja Medieval.

Culturalmente, então, destaca-se o MOVIMENTO RENASCENTISTA que surgiu em Florença no século XIV e se propagou pela Itália e Europa, entre os séculos XV e XVI. O renascimento, enquanto movimento cultural, resgatou da antiguidade greco-romana os valores antropocêntricos e racionais, que adaptados ao período, entraram em choque com o teocentrismo e dogmatismo medievais sustentados pela Igreja.

Hoje em dia, entretanto, não há como encararmos tais controvérsias raciocinado apenas a com a pouca visão dos medievais ou dos renascentista. Ou seja, tendo em vista os grandes avanços da ciência e da filosofia hodiernamente, devemos nos amparar no novo paradigma vigente: a COMPLEXIDADE.

Com a FILOSOFIA SOCRÁTICA nasciam os valores metafísicos e os valores morais, transferindo o lógos (=razão) e a dikê (=justiça), que para os trágicos eram imanentes ao cosmos, para a esfera das habilidades e decisões humanas, dando forma, então, às noções de inteligência, responsabilidade e culpa. O HOMEM, finalmente, ocupava o centro do mundo, esconjurando todas as forças misteriosas que um dia aprendera a respeitar. Rapidamente, a tragédia declinou e desapareceu.

A Esquilo, Sófocles e Eurípedes (que Nietzsche já considerava um trágico decadente) seguiram-se Sócrates, Platão, Aristóteles. A vida perdia sua FECUNDIDADE e sua PROFUSÃO CÓSMICA em formas disciplinadas, ordenadas.

Intensidade cedia lugar ao meio-termo: do MUNDO REAL – multiproliferante -, ao MUNDO IDEAL – o mundo das Ideias platônicas, o universo dos conceitos e da lógica aristotélicos -, à medida que esse segundo mundo, o ideal, tornava-se critério do primeiro, passando a avaliá-lo, discriminá-lo, selecioná-lo, hierarquizá-lo; ou, num só termo, a controlá-lo a partir de critérios metafísicos e morais, quer dizer, de critérios racionais.

Quando surgiu o CRISTIANISMO, mais tarde, ele só veio reforçar e dar forma a esse ascetismo, através da noção de pecado, que se sobrepôs à de culpa. O homem radiante, inocente, puro esplendor, que já se tornara responsável e culpado, torna-se, então, PECADOR num mundo gerador de pecado, só lhe restando renunciar à vida terrena, “má”, e ao mundo real, “pecaminoso”, por uma vida eterna, “boa”, e um mundo imaginário, “redentor”. Estava fundada a CULTURA OCIDENTAL.

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TRADIÇÃO JUDAICO-CRISTÃO

versus

TRADIÇÃO ORIENTAL-PAGÃO

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jesus

O HOMEM é o sacerdote para quem o MUNDO é um templo grandioso onde a sua RELIGIÃO é o culto do ENIGMA indecifrável da EXISTÊNCIA: a NATUREZA.

__________ Fritz Kahn__________

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“Por ocasião de um recente simpósio sobre a ‘Teologia da Sobrevivência’ houve consenso geral no sentido de que as tradicionais atitudes cristãs – rejeição da crença pagã divinizadora da Natureza e colocando o Homem como centro, mantendo a Natureza subserviente a ele – contribuíram para a superpopulação, a poluição do ar e da água e outras ameaças ecológicas. Durante vários séculos, a teologia tradicional tendeu a distanciar o homem da Natureza; ao enfatizar o valor da Natureza somente na medida em que ela contribui para o bem-estar do homem, a teologia tradicional sancionou a exploração do meio pela ciência e pela tecnologia.

Secularizamos nossa religião ao retirarmos da Natureza e do mundo tangível o sentido do sagrado. As preocupações maiores com o transpessoal parecem reduzir-se a ideias abstratas sobre o controle tecnológico da realidade extraterrena. Tecnologia, produção e maior bem-estar físico tornaram-se, aparentemente, nossos deuses. Conhecemos os perigos do nosso ambiente envenenado e os poderes autônomos e demoníacos da máquina e, no entanto, o que parece mais ameaçador é a nossa visão da Natureza como sendo ‘nada mais’ que uma coleção de coisas insensíveis e irracionais, tornando-nos indiferentes ao seu espírito autônomo, ao DAIMON existente na Natureza. Nós nos alienamos, nos desviamos, de uma qualidade psíquica que poderia acelerar o conhecimento de nós mesmos. E, como toda alienação, esta ameaça com neuroses e psicoses tanto o homem coletivo quanto o indivíduo.  

Elíade afirmou que a transição de um ‘cosmos sagrado’ à ‘secularização da matéria’ levou à ‘secularização do trabalho’ e, se me permitem acrescentar, à secularização do lazer e do prazer. Ao tornar-se cada vez mais compulsivo e destituído do potencial criativo por servir apenas como instrumento de progresso e maior bem estar físico, o trabalho não possui o sentido do sagrado que lhe propiciaria uma satisfação existencial. O homem moderno, na sua corrida para ganhar tempo numa procura de satisfação que não mais encontra no trabalho, passa então a ‘matar’ esse tempo do mesmo modo compulsivo como aborda o seu trabalho. Sua busca de divertimentos hedonistas deve ser ‘bem-sucedida’, porém frequentemente está carregada de culpa e parece destituída de alegria. Ao alienar-se do sagrado, o mestre da Natureza está ameaçado de perder sua própria alma.

Vejamos estas ideias tradicionais da teologia judaico-cristã que, a nosso ver, ‘poluíram’ nosso pensamento. Os primeiros três mandamentos apresentam uma divindade separada do homem, o qual o moldou e o elegeu como exclusivo beneficiário das promessas divinas. A imagem desse líder patriarcal (o deus masculino, não dizendo respeito a figura de cristo) jamais deveria ser reproduzida (vamos dizer: idolatrada).

Ele existe exclusivamente para ser adorado. O sagrado está rigorosamente limitado ao ‘espírito’ abstrato, enquanto a experiência do sagrado nas manifestações concretas e materiais, tais como bosques, animais ou objetos do imaginário, são declaradas malignas. A imaginação simbólica foi banida. 

Em Jung, sua visão sobre religião difere do Cristianismo tradicional, sobretudo a questão do Mal e a concepção de Deus, que não considerava só bom e protetor, mas também tentador e destruidor.

ego afirma a sua vontade contra obstáculos, dificuldades e adversários que são projetados sobre o mundo ou até mesmo contra partes de si mesmo (emoções, instintos, impulsos). A vida é vista como luta pelo poder num mundo de entidades separadas com a aparente sobrevivência do mais apto. E até mesmo a sobrevivência através do desenvolvimento pela mutação de qualidades superiores é considerada como acidental e não como organicamente integrada no cosmos.

Por meio da psicologia profunda aprendemos que quando a diferenciação entre ego e inconsciente é excessiva – chegando ao ponto de alienação – pode causar a fragmentação da personalidade e a desestruturação da psique. Essa ameaça, de modo geral, encontra seu paralelo nos acontecimentos mundiais. Retornar à nossa identidade ‘total’ instintiva não nos é possível; renunciar ao nosso nível de consciência, se fosse possível, significaria a regressão a um estágio primitivo já ultrapassado.

Devemos tentar, então, entender a ligação existente entre nosso organismo biopsicológico e os campos circundantes que o contém, para que um relacionamento consciente possa desenvolver-se entre eles. A fim de atingir esse objetivo, seria útil reconsiderarmos aquelas visões de REALIDADE UNITÁRIA do ser humano-mundo, mas que foram reprimidas pelo pensamento tradicional judaico-cristão.

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Através dos séculos, este ponto de vista encontrou sua aplicação mais pragmática na ALQUIMIA. Conforme demonstrado por Jung, a alquimia é um conhecimento da psique assim como da Natureza e se ocupa com um método prático de transformação. O ‘Tratado de Ouro de Hermes’ fala supostamente do ‘corpo dos metais’ como ‘domicílios de seus espíritos’, a partir dos quais esses ‘espíritos podem ser extraídos na medida em que suas substâncias terrestres são gradualmente tornadas mais finas’. Paracelsus, o famoso médico alquimista do século XVI, fala do homem como sendo um MICROCOSMO, uma integração de processos e entidades que correspondem e interagem com o seu análogo no ‘macrocosmo’.”

________EDWARD C. WHITMONT_______

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HOMEM

DIVINO – NATURAL – HISTÓRICO 

 

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VIRGEM MARIA:

A TERRA, O FEMININO, A SOMBRA NO SÍMBOLO QUATERNÁRIO CRISTÃO

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De acordo com Carl G. Jung, o símbolo cristão da Trindade não é um símbolo adequado ao processo de Individuação. Segundo Jung, a presença de três elementos (Pai, Filho e o Espírito Santo) não comporta de forma satisfatória o todo da psique, pois, a Trindade exclui o 4º elemento – ou seja, os aspectos materiais e femininos, renegando-os a sombra. “Quando uma FÊMEA, por natureza, tão PERVERSA, torna-se SUBLIME pela SANTIDADE, então ELA pode ser o nobre veículo da GRAÇA” (UMBERTO ECO, O Nome da Rosa). Entretanto a exploração em profundeza do inconsciente ensina que os símbolos ternários são símbolos incompletos. A totalidade exprime-se em símbolos quaternários. As Três Pessoas Divinas são perfeitas. O Mal está excluído do conceito cristão de Deus que é, por definição, o summum bonum; também está excluído deste conceito o princípio feminino, pois a Trindade tem caráter exclusivamente masculino. Mas o inconsciente não permanece estático. Daí, a aspiração crescente no seio da igreja católica, em 1950, foi promulgar o dogma da Assunção de Maria. Segundo Jung este acontecimento significa satisfação a exigências do arquétipo da quaternidade, muito embora o dogma não implique que a Virgem haja atingido o status de deusa. Observe-se que enquanto as Três Pessoas Divinas são espíritos, são seres imponderáveis, a Virgem é frequentemente associada à terra, ao corporal. Santo Agostinho toma a terra como simbolo da Virgem (“A verdade surgiu da terra porque Deus nasceu da Virgem”). E nas ladainhas Ela é invocada com as qualificações de “hortus” conclusos e de jardim fechado. Note-se ao mesmo tempo que, no cristianismo, a ideia do mal acha-se estreitamente correlacionada à matéria (terra) e à mulher. Na matéria prima dos filósofos da natureza medievais está presente uma qualidade venenosa que representa o princípio do mal. No nível consciente o cristianismo venera na Virgem, a imaculada, a luz puríssima. Ela não tem sombra. Entretanto quem examinar a iconografia mariana ficará surpreendido de encontrar tantas Virgens negras e tão devotamente honradas. A tríade é também um arquétipo, e como força dominadora não apenas favorece uma evolução espiritual, como a obriga, em determinada circunstâncias. Mas logo a espiritualização ameaça assumir um caráter unilateral e prejudicial à saúde, e neste caso o significado compensatório da tríade passa inevitavelmente para o segundo plano. O Bem não se torna melhor, mas pior, quando se exagera o seu valor, e um Mal de pouca monta se torna grande, quando se lhe não presta devida atenção e é recalcado. A sombra é uma componente da natureza humana.

JUNG Vida e Obra – Nise da Silveira

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ETERNO RETORNO – NIETZSCHE

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“O critério do Eterno Retorno é a norma para aquilo que se quer fazer infinitas vezes”, diz-nos o filósofo Clóvis de Barros Filho. Ou seja, desejar viver segundo o viés nietzschiano do Eterno Retorno, é realizar algo que nos dá prazer sempre, mesmo ao se repetir um número infinito de vezes. Daí, se corrêssemos o perigo de nossa vida se repetir ao infinito, pelo menos estaríamos fazendo aquilo que realmente desejamos para toda a eternidade. Assim, prestemos bem atenção ao que verdadeiramente desejamos para nossas vidas.

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QUE SEJA EM SEGREDO
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Pode parecer surpreendente que os valores religiosos sejam fatores básicos na crise ambiental. A religião tradicional como forma de fé exteriorizada tornou-se vazia de significado para muitos. Como expressão simbólica dos valores transpessoais do ser humano e seu relacionamento com esses valores, a religião tradicional perdeu muito de sua força. No entanto, as convicções e as premissas básicas sobre as quais se alicerça uma cultura não apenas são derivadas da crença religiosa, mas são idênticas a ela. Assim, como o ‘burguês gentil-homem’ de Molière, que se surpreende ao descobrir que ‘falou em prosa’ a vida inteira, o homem racional moderno poderá ficar chocado ao compreender que sua atitude em relação à Natureza e à sobrevivência é a expressão de seus valores religiosos.

Houve um tempo em que o desejo sexual transpôs os limites da espiritualidade reclusa. Os homens procuraram profanar os conceitos de virtude que os oprimiam e aos quais se submetiam num próprio ato irreverente de maculação. Como poucas vezes, a interdição sexual teve a função de afrodisíaco. Era preciso degradar o fascínio do mal; espiritualizar o corpo e erotizar a alma. Para isso, nada como buscar o prazer na escuridão das celas dos conventos.

_________Ana Miranda____________

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JESUS E NIETZSCHE

Nietzsche, apesar de toda hostilidade, considerava o símbolo do Cristo crucificado como “o mais sublime de todos os símbolos”. Afirmava mesmo que “Jesus continua sendo o único cristão que já viveu”.

________Professor Dreyfus_________

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assuncÃO

O SÍMBOLO TRINITÁRIO CRISTÃO FOI TORNADO QUATERNÁRIO COM A ASSUNÇÃO DA VIRGEM MARIA


Os antigos filósofos da natureza representavam a Trindade – enquanto imaginata in natura (imaginada através da natureza) – como os três asomataspiritus ou volatilia, ou seja, água, ar e fogo. A quarta parte integrante era o somaton, a terra ou o corpo. Eles simbolizavam esta última por meio da Virgem. Desta maneira, acrescentaram o elemento feminino à sua Trindade física, criando assim, a Quaternidade ou o círculo quadrado, cujo símbolo era o Rebis hermafrodita, o filius sapientiae ( o filho da sabedoria). 

______JUNG, C. G._______

 

 

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NAS PROFUNDEZAS DA PSIQUE

PRENÚNCIO DE REAPROXIMAÇÃO ENTRE O SAGRADO E O PROFANO.

_________Marie-Louise von Franz_______

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O ESPANTAMENTO NOS PROPICIA VIVER SIGNIFICATIVAMENTE

 

O HOMEM DO SUBSOLO
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Este “ser do subsolo” ´é o fundamento do niilismo de Nietzsche, o qual nos chocalhando todo o ser, nos faz acordar, nos retirarmos da caverna, e caminhar no sentido do reencantamento do Universo, da Vida, do Mundo, volvendo-nos, assim, para uma existência mais verdadeira e plena!!!! 

______Jonas Madureira______

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Beijo entre erastes e eromenos.

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HOMEM…

Divino porque criação, Natural porque evolução e Histórico porque socialização. Em termos naturais, já fazem milhões de anos que a nossa herança genética está formada e, assim, o homossexualismo (lésbicas e gays), a bissexualidade, etc., são mais antigos que qualquer ideologia criada pelo homem. Sejamos, portanto, mais esclarecidos e honestos com relação a nossa sexualidade. 

__Rogério Fonteles Castro__ 

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É importante ter cuidado em não utilizarmos termos e conceitos sexuais de nosso tempo para caracterizar a pederastia e as relações na Grécia Antiga. De acordo com análises e estudos históricos, a pederastia aparece ou de uma maneira totalmente idealizada ou de forma caricaturada. Ao refletir sobre o termo homossexualidade, constata-se que ele tem sua origem por volta do século XX, logo, os antigos atenienses não se tratavam ou referiam-se a si como homossexuais, muito menos se sentiam à margem da sociedade, como se isso fosse algo anormal. Por isso é necessário cuidado ao utilizar tais termos para que não haja interpretações errôneas sobre essas relações. É equivocada a interpretação de que as sociedades e indivíduos atenienses no período clássico eram desprovidos de preconceitos e que, por isso, relações entre pessoas do mesmo sexo biológico eram aceitas e acolhidas. O contexto histórico e as formações culturais e individuais devem ser considerados ao se fazer qualquer análise, pois são divergentes do que se compreende nas sociedades ocidentais contemporâneas.

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AGORA SALTA EM MIM  UM DEUS(A) QUE SABE DANÇAR

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É verdade: amamos a VIDA não porque estejamos acostumados a viver, mas porque estamos acostumados a AMAR.

Há sempre o seu quê de LOUCURA no amor; mas também há sempre o seu quê de RAZÃO na loucura.

E eu, que estou bem com a vida, creio que para saber de FELICIDADE não há como as borboletas e as bolhas de sabão, e o que se lhes assemelhe entre os homens.

Ver revolutear essas ALMAS aladas e loucas, encantadoras e buliçosas, é o que arranca a Zaratustra lágrimas e canções.

Eu só poderia crer num DEUS que soubesse DANÇAR.

E quando vi o meu DEMÔNIO, pareceu-me sério, grave, profundo e solene: era o espírito do pesadelo. Por ele caem todas as coisas.

Não é com cólera, mas com riso que se mata. Adiante! matemos o ESPÍRITO do pesadelo!

Eu aprendi a andar; por conseguinte corro. Eu aprendi a VOAR; por conseguinte não quero que me empurrem para mudar de sítio.

Agora sou leve, agora vôo; agora vejo por baixo de mim mesmo, agora salta em MIM um Deus.

____________FRIEDRICH NIETZSCHE

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Artigo: <https://filosofiaem3minutos.wordpress.com/2012/09/08/142/>

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Vídeo Anna Lonkina:

<https://www.youtube.com/channel/UC3VR5zJUoz2pnd3aeNrfGFw>