Arquivo mensal: março 2007

ESTRUTURA DA PSIQUE I

RASCUNHO

Buscando estabelecer uma visão geral da base científica que dá sustentação ao conhecimento psicanalítico, postamos abaixo os “apontamentos de aula” de Luis Marcelo Ramos: o texto traz o conteúdo de uma aula sobre Teorias da Personalidade com foco nos fundamentos da Psicologia Analítica do psicólogo e psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961). Na verdade, serão três postagens ao todo… eis a primeira.

O diagrama psicofísico acima, de nossa autoria, nos reporta à Psicologia Profunda donde a psique e a matéria se fazem  unificadas  através  dos conceitos de  Unus Mundus e  Sincronicidade.  Em nosso livro:

KOSMOS – COSMOLOGICAL CONSCIOUSNESS:

A NEW PSYCHOPHYSICAL PARADIGM,

desenvolvemos o conceito de consciência cosmológica (consciência-acto) através da qual buscamos resolver o “problema difícil da consciência” proposto por David Chalmers. Assim, partindo de uma Nova Cosmologia do Universo, e tendo em vista os paradigmas, principalmente, da psicologia profunda, da mecânica quântica e da fenomenologia, propomos uma solução para os problemas que envolvem simultaneamente a “mente e o corpo” dos seres vivos. Abaixo, o link de nosso livro digital:   

<https://seletynof.wordpress.com/2016/12/17/a-fisica-desmaterializou-a-materia/?fbclid=IwAR1GX_0Jx4tKGaRagpbRmMPz1qdATQz0rNcruYtwSVcjfTyA1j37FqVlPq0>

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GÊNESE DA PSICOLOGIA ANALÍTICA  

Fundada no início do século XX pelo psicólogo e psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), o termo Psicologia Analítica passou a ser utilizado oficialmente por Jung em 1913, porém, suas bases foram geradas em anos anteriores.  

Jung foi um dos mais proeminentes discípulos de Freud, exercendo a Psicanálise de 1909 a 1913, ano em que rompeu com Freud e fundou a Psicologia Analítica. Após a morte de Jung em 1961 a Psicologia Analítica continuou a receber contribuições dos neo-junguianos.

    

CONCEITO  

Escola de Psicologia fundada pelo psicólogo e psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, detentora de uma teoria sobre a estrutura e o funcionamento do psiquismo humano (psique) e, também, uma categoria de psicoterapia.  

PRINCIPAIS FUNDAMENTOS 

A psique (psiquismo humano) é formada por: consciente, inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. 

O eixo central da Psicologia Analítica é o Processo de Individuação: tendência instintiva e teleológica de o ser humano, através de processos de autoregulação, desenvolver suas potencialidades inatas em direção à realização da totalidade psíquica (autodesenvolvimento, autorealização e autoconhecimento). 

O Processo de Individuação ocorre através do fluxo dialético (permuta e transformação) da energia psíquica (libido) que corre entre o consciente, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. 

Esse fluxo de energia, através de processos de autoregulação, sempre visa a homeostase psíquica (equilíbrio psicológico). 

O conceito junguiano de libido difere do freudiano: para Jung a libido compreende não só a energia sexual, mas, também, energias associadas ao instinto de sobrevivência, à motivação, às relações afetivas, desejos de autorealização, autoconhecimento, vivências espirituais e, enfim, ao Processo de Individuação. 

Apesar de o Processo de Individuação ser o tema principal da obra junguiana, seu estudo mais conhecido trata dos tipos psicológicos – tipos de personalidade. 

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UNIVERSOS ESPELHOS – CONSCIÊNCIA – VIDA

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Partindo da Psicologia Profunda, juntamente com a Mecânica Quântica e a Fenomenologia, propomos uma Nova Cosmologia do Universo.

Nesta nova cosmologia, definimos a Consciência Cosmológica, a qual, acoplando Universos Espelhos, é fundamental para o surgimento da Vida.

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A Psique está estruturada em três elementos: consciente, inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. 

Consciente 

– Sistema do aparelho psíquico que mantém contato com o mundo interior (processos psíquicos, internos) e exterior (meio ambiente e social) do sujeito. 

– Na consciência destaca-se os fenômenos de percepção intrínseca e extrínseca, senso de identidade, atenção, raciocínio e memória, entre outras funções cognitivas e emocionais. 

– As pessoas são conscientes apenas de uma pequena parte de sua vida psíquica. 

– O consciente tem como centro organizador o Eu. Tanto o Eu como o Consciente como um todo surge do Self (localizado no Inconsciente coletivo). 

Inconsciente pessoal  

– É a camada mais superficial do inconsciente, cuja fronteira com o consciente é bastante imprecisa. 

– Nele permanecem os conteúdos inconscientes derivados da vida do indivíduo – sua formação é, portanto, a posteriori ao nascimento.

Esses conteúdos são formados por percepções subliminares e combinações de idéias com energia psíquica insuficiente para irromperem na consciência, experiências de vida “esquecidas” pela memória consciente, recordações dolorosas se serem relembradas, repressões sexuais, desejos reprimidos, qualidades da personalidade – positivas e negativas – desconhecidas pelo Eu e, principalmente, grupos de representações carregados de forte carga emocional e incompatíveis com a atitude consciente (complexos, cujas bases são os arquétipos – localizados no Inconsciente coletivo). 

– Geralmente esses conteúdos não possuem energia psíquica suficiente para permanecerem no campo da consciência, entretanto, podem adquirir a energia necessária para emergir na consciência na forma de lembranças, sonhos, fantasias, devaneios e comportamentos.

Quando irrompem na consciência podem possuir um significativo grau de autonomia, chegando até a tomar sua posse temporária.

Inconsciente coletivo 

– É a camada mais profunda do inconsciente e a base da psique. 

– É constituído pelos arquétipos : núcleos instintivos passados de forma psicobiológica de geração a geração, trazendo padrões de comportamento herdados desde o surgimento da humanidade e mesmo antes dela, no período em que o homem ainda era animal – a gênese do Inconsciente coletivo é, portanto, a priori ao nascimento. 

– Os arquétipos constituem a base dos complexos situados no Inconsciente pessoal. Os arquétipos são inúmeros, incontáveis, entretanto, Jung identificou alguns que estão em permanente contato com o Eu. São eles a persona, a sombra, a anima, o animus e o self. 

– O Self – também denominado de si mesmo – é o centro organizador não só do Inconsciente (pessoal e coletivo), mas, também, de toda a psique. É do Self que surge a consciência e o Eu. 

– Jung chamou a camada mais profunda do Inconsciente coletivo de Psicóide : a ela estão associados fenômenos “extra-racionais” tais como sonhos e visões premonitórios, sincronicidades (“coincidências significativas” em torno de pessoas e objetos) e telecinésia. 

Temos abaixo a estrutura da psique em forma de diagrama:

Modelo da Psique Jung

Continua o artigo nas partes II  e III  nos links abaixo:

https://seletynof.wordpress.com/2007/04/05/estrutura-da-psique-ii/

https://seletynof.wordpress.com/2007/04/08/estrutura-da-psique-iii/ 

Veja também a ESTRUTURA DA PSIQUE de Sigmund Freud:

http://ismaelpsicol.blogspot.com.br/2012/01/estruturas-da-psique-sigmund-freud-1856.html                            

POSTED BY SELETINOF AT 4:30 PM 

VAIDADE?! CONVENIÊNCIA?! AMOR?! – QUAL CAMINHO TOMAR RUMO AO TEMPLO DA CIÊNCIA?

 
 

Lá fora, no vale, o céu está novamente limitado pelos penhascos dos dois lados do rio, agora mais próximos entre si e mais próximos de nós do que hoje de manhã. O vale está se estreitando à medida que nos aproximamos da nascente do rio. 

Estamos também numa espécie de fase inicial dos temas que venho analizando, onde se pode, finalmente, começar a falar sobre o rompimento de Fedro com o pensamneto racional, em busca do fantasma da própria racionalidade.  

Ele havia lido certa vez um texto cujas palavras repetiu tantas vezes para si mesmo, que ainda hoje me recordo delas. Começa assim: 

"No templo da ciência há muitas moradas… E em verdade muitos são os que as habitam, assim como são variados os motivos que os levaram até lá.  

Muitos se voltam para a ciência pela agradável sensação de terem uma capacidade intelectual superior; a ciência é seu divertimento especial, ao qual se dedicam para viver experiências intensas e satisfazer sua ambição. Outros habitantes do templo oferecem o fruto do seu raciocínio neste altar por motivos unicamente utilitários. Se um anjo do Senhor viesse expulsar todos os que pertencem a estas categorias, o templo ficaria consideravelmente mais vazio, embora ainda restassem alguns homens, tanto do presente quanto do passado… Se os tipos que acabamos de expulsar fossem os únicos existentes, o templo nem sequer teria existido, da mesma forma como não pode existir um bosque constituído apenas de trepadeiras … Aqueles que gozam das boas graças do anjo… são tipos um tanto estranhos, calados, solitários, na verdade menos parecidos uns com os outros do que os anfitriões dos rejeitados.  

O que os trouxe para o templo foi… não se pode responder facilmente… a fuga do cotidiano, da sua dolorosa rudeza e irremediável monotonia, fuga dos grilhões dos desejos inconstantes. As personalidades delicadamente constituídas anseiam por escapar do ambiente apertado e barulhento em que se encontram, refugiando-se no silêncio das montanhas, onde a vista corre livremente através do ar ainda puro e alegremente acompanha os tranqüilizadores contornos aparentemente eternos." 

Este é um trecho do discurso que um jovem cientista alemão, chamado Albert Einstein, fez em 1918.

Fedro termina o primeiro ano de ciências na universidade com 15 anos de idade. Já havia decidido dedicar-se à área da bioquímica, pretendendo especializar-se no estudo da fronteira entre o mundo orgânico e o inorgânico, conhecido hoje como biologia molecular. Não encarava essa carreira como um meio de promoção pessoal. Ainda era muito jovem: seria, digamos, uma espécie de ideal nobre.

O estado de espírito que permite a um homem fazer este tipo de trabalho é semelhante ao do fiel em oração ou ao amante enamorado. A atividade diária provém não de uma intenção ou plano deliberado, mas diretamente do coração

Se Fedro se tivesse envolvido com a ciência por ambição ou por propósitos utilitários, nunca lhe teria ocorrido questionar a natureza de uma hipótese científica enquanto entidade em si mesma. Mas ele questionou e não ficou satisfeito com as respostas.

O texto acima foi extraido do livro ZEN E A ARTE DA MANUTENÇÃO DE MOTOCICLETAS, autor Robert M. Pirsig.

POSTED BY SELETINOF AT 6:24 PM

 

BUROCRACIA E CRIATIVIDA

 

As tecnologias que hoje temos à nossa disposição substituem o trabalho duro. Isso significa que resta ao ser humano o monopólio do trabalho criativo. Mas criativo é o oposto de burocracia, de acadêmico, porque é a fantasia aliada à realização. Realização sem fantasia gera burocratas. Portanto, burocracia e criatividade são opostos. O mundo atual precisa dos criativos. Estamos num mundo em que reduz-se progressivamente a tarefa executiva, que é delegada às máquinas, e diminui-se o espaço dos burocratas.  

A criatividade resulta de fantasia e realização. Acontece que é difícil encontrar alguém muito fantasioso, criativo e efetivo ao mesmo tempo. Quando ocorre, temos um gênio. (…) É difícil, portanto, encontrar gênios. Mas será que é possível criá-los? Na minha opinião, podemos desenvolver a criatividade coletiva, gerada por grupos em que uns têm maior fantasia e outros, maior capacidade de realização. 

A sociedade industrial nasceu do Iluminismo. Antes do Iluminismo, os fatos da natureza (raio, trovão ou uma epidemia) eram atribuídos ao desejo dos deuses ou ao diabo, e assim por diante. O Iluminismo introduziu a racionalização. Os seres humanos têm condições de entender racionalmente os acontecimentos físicos e humanos e dominá-los. (…) Mais: o Iluminismo acrescentou que tudo que é racional é masculino e se refere à produção, e produção se faz na empresa. Tudo que é ruim, ao contrário, é emocional, é feminino, e feminino se refere à reprodução, e reprodução é feita em casa. Houve, portanto, uma cisão terrível entre os homens, que se atribuíram o poder e o monopólio do trabalho, e as mulheres, que foram deixadas em casa. Mas hoje nos damos conta de que as empresas não progridem sem idéias, e que isso requer fantasia, subjetividade, estética e emotividade.

O século XX foi caracterizado pelo trabalho burocrata, porém, neste século (era pós-industrial) prevalecerá o trabalho criativo (…) Acho que no futuro será impossível distinguir estudo e trabalho de tempo livre, por causa das próprias atividades desse futuro.

Refletindo o pensamento do sociólogo De Masi (professor titular da Universidade de Roma La Sapienza), dado no texto acima (programa Roda Viva, TV Cultura), interrogamo-nos sobre a realidade hoje da universidade em nosso país e seu futuro. É dado estatístico, que ocorre atualmente uma grande desistência de alunos em todos os cursos universitários: os jovens apenas não estariam sabendo escolher sua profissão futura?! Mas, não será isto, sim, conseqüência de uma atitude da própria instituição acadêmica brasileira que, indiferente àqueles que não se adaptam ao sistema burocrático de ensino, apenas descarta-os?! Ou, não estará a pesquisa cientifíca de nosso país, ainda nos dias atuais, destituída de sua dimenção estética, cuja mensão fora feita, já na década de setenta, por Alfredo Marques?! Hoje, certamente, a universidade deverá priorizar caminhos nos quais o trabalho em equipe, pouca hierarquia, flexibilidade, mudança, inovação e risco sejam seu perfil, visando assim os desafios do novo século.

Dentro desta perspectiva, faço lembrar-nos do tempo (queremos dizer… lá pela Idade Média) em que o homem de ciência era capaz de discernir sobre quase tudo, ou seja, tinha conhecimentos profundos de física, matemática, biologia, filosofia, química, etc., os quais utilizava com grande eficácia segundo o progresso da ciência de sua época. Atualmente, temos a oportunidade de presenciarmos a mesma façanha, porém, de uma forma diferente: o pesquisador com a utilização do computador pode ter acesso fácil a toda informação que necessitar para desenvolver seus trabalhos. Mas é, sobretudo, se armando de sua criatividade (fantasia mais realização) que o homem atual poderá transcender e, então, transformar sua realidade.

Por fim, meditemos as palavras de Amoroso Costa, proferidas na famosa conferência sobre Otto de Alencar: Ensinar, disse ele, é alguma coisa mais do que repetir compêndios ou fornecer aos moços preceitos profissionais, o que importa sobretudo é modelar-lhes harmoniosamente a inteligência e a sensibilidade, abrir-lhes os olhos, para as coisas superiores. Queremos aqui, ainda, em forma de homenagem, mencionar o nome de um professor/pesquisador (do Deparatamento de Física da Universidade Federal do Ceará) que, além de ensinar segundo a forma como prega Amoroso Costa, reúne fantasia e realização com muita naturalidade: Josué Mendes Filho.  

POSTED BY SELETINOF AT 6:00 PM

 

O TEMPO NA FÍSICA

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O TEMPO NA FÍSICA

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Henrique Fleming

Instituto de Física da USP

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Neste artigo, destinado a leitores não-especialistas, mas afeitos ao pensamento teórico, pretendemos descrever as contribuições da física, em especial da física deste século, à elucidação da natureza do tempo e de suas relações com outros conceitos fundamentais usados na ciência. O tempo de que vamos falar não é nenhuma construção especial da física moderna, mas é o tempo mesmo, de domínio público, e sobre o qual se manifestaram muitos filósofos importantes, dois dos quais, Santo Agostinho e Kant, exerceram e exercem grande influência sobre os físicos mais indagadores. Kant, por sua origem, nos está mais próximo, em suas considerações sobre o tempo (nas Antinomias, por exemplo). Mas mesmo filósofos deliberadamente distantes da ciência, como Benedetto Croce, influem sobre a conceituação do tempo na física, ou iluminam a interpretação daquilo que a estrutura formal das teorias nos propõe ou impõe. Pois o que é um resultado importante na física? A resposta esperada, de que importante é o resultado que encontra aplicação na vida prática, é correta, mas aborda só um lado da questão e nem mesmo o mais importante. Em 1957, Chen Ning Yang e Tsung Dao Lee receberam o prêmio Nobel de física pela descoberta de que a natureza permite que se defina a mão esquerda de maneira absoluta (ou seja, sem ser por comparação com uma mão direita). Nenhum prêmio Nobel de física foi considerado tão importante quanto este, desde então. As aplicações práticas (dentro da física) da descoberta de Yang e Lee foram surgindo com o tempo, na teoria dos neutrinos, nas modernas teorias de grande unificação, etc. Mas o seu grande impacto se deve ao fato de que ensinou algo sobre um problema de antiga tradição na filosofia, tema dos debates Leibnitz-Clarke, e que ainda não se esgotou até hoje. Vale dizer, um problema que está na raiz mesma do nosso conhecimento do Universo, ou do conhecimento tout court. Enfim, um resultado é tanto mais importante na física quanto mais nobre o pedigree do problema ao qual ele se refere. Uma ocasião, foi perguntado a Einstein por que, tendo ele estudado em uma escola mais forte em matemática do que em física, tinha escolhido esta última como carreira. “Porque, respondeu, na física sou capaz de discernir os problemas importantes, enquanto que na matemática não.” Não há duvida de que ele se referia ao critério de importância a que nos referimos acima. Pois bem, a física moderna obteve resultados que nos parecem importantes sobre o conceito de tempo e suas relações, algumas totalmente inesperadas, com outros conceitos fundamentais na descrição da realidade. Apresentaremos uma descrição das relações entre tempo e espaço (teoria da relatividade restrita) e entre tempo, espaço e massa (teoria da relatividade geral) que transcendem a província da física e são do interesse de todos.

Existe um único conceito de tempo, ou uma profusão de homônimos pouco aparentados espalhados pelas várias áreas do conhecimento teórico e prático? O tempo que, conquanto idéia clara, não cabia nas palavras de Santo Agostinho, tem algo a ver com o conceito para cujo estudo Einstein lançou as bases em 1916? Até que ponto as propostas da física moderna satisfariam o grande pensador de Tegesta? É difícil dizer. Às vezes o que para um físico é um grande progresso pode, para um filósofo, parecer um detalhe irrelevante. Contudo, há descobertas novas sobre temas que já preocupavam antigos pensadores. Muito do que se fez pode ser pensado como formalização de idéias desses filósofos proféticos, mas não tudo. O alto grau de abstração da física teórica moderna permitiu a escalada de patamares dificilmente concebíveis para mentes desaparelhadas do instrumental matemático adequado.

Três problemas

O tempo flui em um sentido bem definido, cuja manifestação mais dramática é o nosso envelhecimento biológico. Surpreendentemente, a inclusão deste dado da realidade (a “flecha do tempo”) no ideário da física teórica constituiu um dos grandes problemas dos últimos cem anos. Se deixarmos de lado as ínfimas forças ligadas ao decaimento beta dos núcleos, as teorias fundamentais da física colocam passado e futuro em situações simétricas: se uma sucessão de fenômenos ocorre, a sucessão inversa, como um filme passado ao contrário, também ocorre. De acordo com as leis da física, um ancião pode, com o passar dos anos, evoluir para uma criança! Ludwig Boltzmann, numa das maiores realizações da história da física, mostrou que a flecha do tempo é um fenômeno estatístico. A probabilidade de o ancião rejuvenescer é essencialmente zero, enquanto que a de um jovem envelhecer é essencialmente 1. Mas, levando o reducionismo físico ao extremo, ambos os processos são permitidos pelas leis. Debates furiosos subsistem até hoje sobre isso, mas, em minha opinião, há só alguns detalhes a acrescentar à obra de Boltzmann. O primeiro problema dos três que vou citar consiste em digerir esse surpreendente resultado, cabendo aos físicos recuperar, dentro do seu formalismo, a naturalidade das concepções intuitivas de passado e futuro. É uma tarefa muito técnica e por isso não será tratada aqui, bastando esta menção: só para sistemas com um grande número de constituintes existe, nítido (mas probabilístico), o sentido do tempo. Para sistemas constituídos por um pequeno número de elementos, perde-se a sua flecha.

O segundo problema diz respeito à individualidade (e objetividade) do conceito de tempo. Em 1908, após ter estudado a teoria da relatividade, o grande matemático Hermann Minkowski iniciou sua célebre conferência dizendo: “As visões do espaço e do tempo que eu desejo expor diante dos senhores brotaram do solo da física experimental, e aí está a sua forca. São radicais. De agora em diante o espaço em si mesmo, e o tempo em si mesmo, estão designados a dissolver-se em meras sombras, e somente em uma espécie de união dos dois subsistirá uma realidade independente”. Esta união é o espaço-tempo, e aprendemos com a teoria da relatividade que a sua decomposição em espaço e tempo separados depende do observador, isto é, é subjetiva. Eis o segundo problema. Mais surpreendente ainda é o terceiro, fruto da relatividade geral, lançada por Einstein em 1916. Aqui aprenderemos que é possível agir sobre o espaço-tempo, e, portanto, sobre o tempo. Deixa o espaço-tempo seu papel passivo de palco dos acontecimentos para tornar-se, ele mesmo, um sistema físico, e atinge-se, finalmente, a possibilidade de estudar o sistema físico por excelência: o Universo como um todo. A história do Universo é a história do tempo, como bem a designou S. W. Hawking, grande físico teórico inglês contemporâneo.

A relatividade restrita

Como foi dito acima, o conceito objetivo, independente do observador, é o de espaço-tempo, e se trata de uma “superfície” quadridimensional. Como não somos capazes de visualizar um objeto assim, temos que nos valer, nos nossos trabalhos acadêmicos, dos métodos da matemática, para a qual essa extensão dimensional é simples e bem conhecida. O leitor poderá usar a imagem de uma superfície usual, bidimensional, considerando que uma dessas duas dimensões é o tempo. O espaço-tempo e o conjunto de todos os pontos e todos os instantes. O movimento de um corpo puntiforme é nele representado por uma curva chamada de linha de universo da partícula. Uma propriedade básica dessa curva é que, conhecido um de seus pontos e a velocidade do móvel naquele ponto, todo o resto da curva está determinado, ou seja, para um ser hipotético que vivesse além do espaço e do tempo e contemplasse o espaço-tempo, a linha de universo de cada partícula estaria completamente desenhada, representando o movimento em sua totalidade (passado, presente e futuro). Em imagens simples, a inclusão do tempo na geometria do movimento transforma o filme do movimento numa fotografia estática de idêntico conteúdo. O ingrediente revolucionário que injeta física nessa representação (até aqui) formal é a descoberta de Einstein de que existe uma distância bem definida nesse espaço-tempo. As conseqüências disso têm direito ao adjetivo extraordinárias. Cito aqui só duas, as duas de interesse mais geral. A simultaneidade de dois acontecimentos é relativa, depende de quem está observando os fenômenos. Diante de mim, e em repouso em relação a mim, duas luzes piscam “simultaneamente”. Por essa ocasião, passava por mim a grande velocidade outro observador. Ele as verá como não-simultâneas, e, se não estiver familiarizado com a teoria da relatividade, se surpreenderá com a minha insistência na simultaneidade. A diferença só é perceptível quando a velocidade relativa entre os observadores for enorme, próxima da velocidade da luz, o que explica que esse fato seja antiintuitivo.

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Por fim, teremos alguma novidade sobre a independência da ordenação temporal dos acontecimentos em relação a quem os observa. Este é um problema caro a Hume. A causa deve preceder o efeito, e a discriminação do que é causa e do que é efeito deve ser, se serve para alguma coisa, independente do observador. Informa a teoria da relatividade o seguinte: suponhamos que, para um determinado par de acontecimentos, exista um observador para o qual eles são simultâneos. Então haverá um observador que os verá numa certa ordem causal, e outro que os verá na ordem inversa. Conseqüentemente, acontecimentos que são simultâneos para alguém não podem ter qualquer relação causal um com o outro. Ao contrário, consideremos agora dois pares de acontecimentos que, para um observador, acontecem em um mesmo lugar, e um depois do outro. Mostra a teoria da relatividade que a ordenação temporal determinada por esse observador privilegiado (seu privilégio está em ver os dois acontecimentos no mesmo ponto espacial) se mantém para qualquer outro observador. Para essa classe de acontecimentos, então, existe uma ordenação que pode ser chamada de causal. Várias outras manifestações da relatividade da simultaneidade, de caráter mais ou menos circense, existem, como a dilatação do tempo, e o exemplo associado a ela denominado “paradoxo dos gêmeos“. Mas são bem conhecidos e amplamente tratados.

Relatividade geral

A idéia de espaço-tempo só desenvolve sua potencialidade nos trabalhos de Einstein de 1916 e 1917, sobre a Relatividade Geral e a aplicação desta à descrição do Universo como um todo, isto é, à Cosmologia. Já na relatividade restrita o conceito de tempo sofrera modificações profundas, advindas da descoberta de seu caráter subjetivo. A simultaneidade passou a depender do observador; qualquer relógio tem o seu ritmo modificado, para um observador que se move em relação a ele. Com o advento da relatividade geral as surpresas serão ainda maiores: o tempo, amalgamado ao espaço no espaço-tempo, passa a ser um fenômeno. Não flui mais de maneira uniforme, indiferente aos fenômenos, que se limitava a ordenar. Passa a ser possível agir sobre ele. A evolução da matéria do Universo não se limita a exibir a ordem no tempo, mas atua sobre o tempo e estabelece, dentro de certas condições, que o tempo tem um começo e pode ter um fim.

A relatividade geral é a teoria do espaço-tempo. Segundo ela, as forças gravitacionais resultam da curvatura do espaço-tempo. Onde não há forças gravitacionais o espaço-tempo é plano, e um corpo se move em linha reta. As forças gravitacionais são conseqüências do encurvamento do espaço-tempo devido à presença de massas. Os corpos continuam a percorrer, entre dois pontos desse espaço-tempo curvo, o caminho mais curto, mas numa superfície curva o caminho mais curto entre dois pontos não é uma reta, e sim uma curva que depende dos detalhes do espaço-tempo. Por causa dos nossos hábitos tridimensionais, preferimos interpretar essa trajetória como causada por forças, no caso gravitacionais.

A relatividade geral abriu o caminho para a cosmologia quantitativa, pois as equações de Einstein podem ser aplicadas ao Universo como um todo. O tecido do Universo é o espaço-tempo: onde o espaço-tempo acaba, acaba o Universo, e acaba o tempo.

As equações de Einstein não possuem uma solução única para o Universo: apresentam um catálogo de possibilidades, e cabe às observações experimentais determinar qual delas descreve o Universo que efetivamente se realizou. No nosso estágio atual de conhecimento a escolha se resume a três possibilidades, que são os universos de Friedmann aberto, chato e fechado. O preferido de Einstein, e também o mais fácil de descrever para não-especialistas, é o fechado. Todos são universos em expansão, no sentido de que, para a imensa maioria das galáxias, a distância entre duas galáxias cresce continuamente. Um modelo que descreve bem as principais propriedades do Universo de Friedmann fechado é o de uma bexiga de borracha que, inflada, expande-se mantendo a forma esférica. A superfície da bexiga, que está ela mesma crescendo, seria o espaço em expansão. O espaço é finito e se fecha sobre si mesmo (forma esférica), mas é ilimitado, já que nunca se chega ao seu fim, como descobriu, em outras circunstâncias, Fernão de Magalhães. A descrição dinâmica deste universo é a seguinte: no estado inicial está concentrado em um ponto, e expandindo-se vertiginosamente. A taxa de expansão diminui gradualmente e chega um momento em que o Universo cessa de se expandir para, depois, começar a se contrair, refazendo, ao contrário, a primeira parte da evolução, e retornando ao ponto singular inicial. Nesta descrição temos, então, o início do tempo, quando se inicia a expansão, e o seu fim, quando se conclui a contração. Fora deste intervalo não existe Universo, ou espaço, ou tempo. Como disse acima, esta não é a única possibilidade. As duas outras, os universos de Friedmann aberto e chato, são, neste nível de descrição, muito semelhantes e podem ser tratados simultaneamente. Ambos possuem uma singularidade inicial (reduzem-se, no início, a um ponto), como o modelo descrito anteriormente, ou seja, possuem um início do tempo. Mas, à diferença dele, não possuem um fim do tempo. São universos de vida infinita e são infinitos também espacialmente, ou seja, não são circunavegáveis. Na presente situação experimental o candidato mais forte é o modelo de Friedmann aberto, mas não é possível, com segurança, excluir os outros dois.

Resumindo, a aplicação da relatividade geral ao Universo sugere fortemente a existência de um início para o tempo, e abre a possibilidade para que também exista um fim para ele. Uma belíssima crônica da evolução do Universo é apresentada por S.W. Hawking em seu famoso livro, apropriadamente intitulado Uma breve história do tempo.

Como era de se esperar, não há nenhuma luz lançada sobre a antinomia de Kant relativa à duração do Universo na Crítica da razão pura. O dilema ali apontado, alegadamente inerente ao pensamento humano, não pode ser resolvido “por uma conta”. Há sempre uma sensação de perda, quando a física apresenta um tratamento quantitativo de um problema que anteriormente era abordado sob outra forma, com ênfase nos “porquês”, e não nos “comos”. Mesmo que, inequivocamente, se chegue a saber que o tempo teve um começo, não se poderá eliminar a pergunta “e antes?”. Como disse Ezra Pound no Guide to Kulchur, “In our time Al Einstein scandalized the professing philosophists by saying, with truth, that his theories of relativity had no philosophic bearing”.

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POSTED BY SELETINOF AT 5:42 AM  

SONHAR E DESPERTAR

 
 
Quem olha para fora, sonha;
quem olha para dentro, desperta.
 
 
Carl Jung
 
POSTED BY SELETINOF AT 16:24 PM 
 

FISICA E REALIDADE

 
 
 
Abaixo, republicamos nosso prefácio, com o novo título acima, que elaboramos para a edição em lingua portuguesa da tradução do livro THE RISE OF NEW PHISICS, de A. D’abro, que estamos realizando aqui na internet: raciocinamos que alguns leitores poderiam deixar de lê-lo, dado tal encontrar-se dentro de um outro texto ainda maior, e não gostaríamos que isto acontecesse. 
 
 
Poeticamente, eis o Universo: espaço, sem princípio e sem fim. Escuro, vazio, frio, – 270°C no espaço interestelar. Através da silenciosa noite deste espaço, movem-se esferas luminosas, afastadas umas das outras por inimagináveis distâncias: os sóis. Em torno destes, a distâncias também inimagináveis, perdidas no espaço, giram esferazinhas que, dos “seus sóis”, recebem luz e calor: os planetas. Uma destas esferazinhas, deslizando solitária à luz de um dos inumeráveis sóis do espaço infinito, é a Terra… Eis o domicílio do homem no Universo.

Mas o espaço, como qualquer fenômeno* do mundo, é dúplice: em primeiro lugar, uma realidade, isto é, algo que existe fora do nosso cérebro, no mundo exterior; e, em segundo lugar, uma representação que nós formamos dessa realidade dentro de nosso cérebro. Exteriormente ao cérebro, então, a realidade é qualquer coisa de substancial. As representações que dessa realidade nós criamos, são produtos do cérebro humano e mudam de homem para homem e de geração para geração.

 
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*Conceito genérico que designa, nas ciências exatas, toda modificação da matéria por meio de agentes químicos ou físicos. Designa em filosofia tudo que é percebido pelos sentidos e a experiência.

Observemos um gato que se encontra no canto da minha escrivaninha. O que é um gato toda gente julga sabê-lo. Na verdade, ninguém o sabe. Perguntemos às pessoas o que é um gato e logo apreendemos o que qualquer indivíduo imagina ser um gato, mas ninguém nos pode dizer o que é um gato. Das coisas, o homem não sabe o que elas são, porém apenas o que a respeito delas ele pensa, e, segundo uma regra psicológica que se poderia designar por autoconsciência recíproca, crêem, os homens, tanto melhor conhecer uma coisa, quanto menos dela sabem. A criança exclama, rindo: não saberei eu o que é um gato?! Mas o filósofo sabe que está diante de um problema insolúvel. É possível, num segundo, perfurar o gato com uma agulha; mas nem em quarenta anos de pesquisa diária, será possível penetrar um milímetro sequer na alma desta criatura que para todos os tempos continuará a ser uma Esfinge no canto da nossa escrivaninha…

Só quem bem compreende a natureza da ciência, poderá com proveito e prazer, e sem perplexidades, aplicar-se aos estudos científicos. Ciência não é coleção de conhecimentos nem busca da verdade, mas sim formação de conceitos (ao descrevermos o domicílio do homem no universo, nos utilizamos de vários deles). A física não conta fatos, pois os seus termos: massa, energia, velocidade, não são realidades, e sim os conceitos fundamentais da física, como, aliás, muito bem se diz, mas que freqüentemente nos escapa durante a leitura. Os conceitos, então, são instrumentos do pensamento, artificialmente construídos, tais, como as chaves de parafusos, são instrumentos que servem para abrir um motor, o qual nada tem a ver com chaves de parafusos; são escadas, pelas quais subimos a uma casa eternamente fechada.

Nós, homens de 2006, denominamos determinado estado de matéria, a alteração deste estado de movimento, certa relação entre dois estados gravitação. Aristóteles não conhecia o conceito de atração e não teria podido discutir com Newton. Newton, por sua vez, não poderia intervir num atual congresso de físicos, pois os conceitos de campo, de quantum, de salto eletrônico, não existiam para ele. Goethe e Shakespeare, diante de um jornal moderno, se sentiriam quase analfabetos. Progresso é aquisição de novos conceitos. Mas o significado dos conceitos antigos também muda. Mãe, dá-me o Sol!… Que é o Sol? Para os gregos representava o ígneo carro em que Hélio, com seus cavalos, andava por sobre a Terra. Para o homem da época gótica, era o olho de Deus. Depois Galileu o identificou com uma esfera de fogo. Nós pensamos hoje o que há cem anos ninguém poderia pensar, e nenhum de nós pode formar a idéia daquilo que os homens imaginarão daqui a cem anos quando pronunciarem a palavra Sol. Será algo muito diverso do que pensava o Osvaldo de Ibsen quando dizia no início de sua alienação mental: Mãe, dá-me o Sol.

Mas, o conceito de espaço é o mais difícil de todos. De gato ou Sol, podemos, pelo menos, ter uma idéia, errada ou certa. O espaço, todavia, não podemos imaginá-lo; pois só é possível compreender conceitualmente aquilo de que podemos pensar o contrário. Assim podemos dizer dia, porque a noite existe, vida, porque conhecemos a morte, silêncio, porque há ruído. Se não houvesse ruído, não haveria o conceito de silêncio. Não é possível representarmos o espaço, porque não podemos imaginar o contrário do espaço, o não-espaço. Estamos, como diz Einstein, tão profundamente mergulhados no espaço, como um peixe nas águas do oceano. Como este jamais chegará ao conhecimento de que se encontra no oceano, assim o homem jamais saberá o que seja o espaço. Teria que vir um pescador que nos tirasse para fora dele. Virá um. Mas, então, já será demasiado tarde…

Através das idéias acima, desenvolvidas por Fritz Kahn, em sua obra O Livro da Natureza, demonstramos o caráter relativo do conhecimento científico. Entretanto, essa forma de tratar os conceitos na física, originou-se da revolução operada por Kant no campo da epistemologia: este estabeleceu que, ao homem, somente é permitido conhecer os fenômenos (ou seja, impossível é, ao ser humano, conhecer a “coisa em si”). Daí em diante, então, com a evolução do empirismo dando origem ao positivismo, os grandes cientistas se deterão na descrição dos fenômenos, abstendo-se, porém, de interpretá-los metafisicamente. Assim, se negligenciará a imaginação da realidade e se dará maior atenção ao seu modelo formal, pois, importará à ciência, somente a previsão do futuro que tal modelo permite antever: o que seja a realidade em si mesmo, não interessa. Não obstante, ainda, é importante esclarecermos que tal modelo, como confirmado por Bachelard, se constituindo conforme o desenvolvimento dos conceitos, das representações (localizadas, então, como vimos, dentro de nosso cérebro), evolui através de um processo dialético entre o racionalismo e o empirismo: a verdade, aquela afirmada pelo tal paradigma sobre a Natureza, é, sim, apenas uma hipótese; ou seja, ao longo das idealizações e materializações sucessivas, pode esta verdade cair em contradição, ou numa inverdade, e, assim, ensejar uma nova revolução dos conceitos, gerando, então, novas verdades. Na definição da ciência física atual, encontrada na Nova Enciclopédia Barsa, é visível tal caráter dialético: “Física é a ciência que estuda os fenômenos naturais pela aplicação de um método regido por determinados princípios gerais e disciplinado por relações entre experimento e teoria”. Vê-se, ai, que, ao experimento, está ligado o empirismo e, à teoria, o racionalismo.

Temos consciência, agora, de que qualquer fenômeno do mundo é dúplice: em primeiro lugar, uma realidade, isto é, algo que existe fora do nosso cérebro, no mundo exterior; e, em segundo lugar, uma representação que nós formamos dessa realidade dentro de nosso cérebro. Mas, lendo Einstein, em seu livro A Evolução da Física, nos salta aos olhos a causa da grande confusão que todos fazemos entre representação e realidade quando nos confrontamos com os conceitos da física moderna. Desde criança, diz Einstein, desenvolvemos um forte condicionamento, causado pelo realismo ingênuo, segundo o qual, quando observamos um dado objeto, somos levados, naturalmente, a tomarmos o fenômeno pela coisa em si, o objeto, o real. Como veremos, abaixo, isto trouxe conseqüências nefastas à construção do conhecimento ao longo de toda a história. Ainda, porém, é sabido de todos que, os filósofos realistas, fazendo distinção entre o fenômeno e a coisa em si, admitem, sim, que a inteligência é capaz mesmo de captar o ser no fenômeno e através dele, e que a razão, apoiando-se sobre os primeiros princípios, está capacitada para determinar as causas e os princípios do ser. Entretanto, a possibilidade de qualquer metafísica é negada pelos filósofos empiristas, positivistas e idealistas, que afirmam não conhecermos outra coisa a não ser os fenômenos. Se levarmos em conta tais aspectos filosóficos, no sentido de iluminar nossas especulações, vemos que Einstein, sem entrar no mérito da questão, ressalta, em seus escritos, única e exclusivamente a ação negativa que o realismo ingênuo desencadeia em nossa percepção do real, prejudicando-a. Através da falsa concepção que Aristóteles desenvolvera quanto à relação entre força e velocidade, podemos exemplificar tal fato: concebendo o conceito de força através da intuição que temos do que seja o esforço físico (empurrão ou puxão) para deslocar um corpo material, o estagirita afirmou ser a velocidade função da força; ora, a intuição, que é o instrumento por excelência de qualquer metafísico, sendo utilizada erroneamente por Aristóteles, fez este tomar a representação, do ato de empurrar algo, pela coisa em si, deixando, então, escapar o verdadeiro significado da grandeza que denominamos força. Galileu, porém, fazendo uso da experimentação, e, portanto, adotando um estudo objetivo do fenômeno (ou seja, fazendo a distinção entre representação e realidade), conseguiu, estabelecendo um novo conceito, a aceleração, descobrir, verdadeiramente, com quem a força estava relacionada: força é função, sim, da aceleração. Portanto, é possível empurrarmos dado objeto realizando muito esforço, mas, devido ao atrito deste com o solo, tal pode permanecer parado; ou ainda, podemos não estar exercendo qualquer esforço nesse mesmo objeto e, no entanto, tal se mover, em condições ideais, com velocidade constante.

Parodiando e adulterando, ainda, Fritz Kahn, a ciência, entretanto, como seu nome diz, limita-se àquilo que é possível conhecer. Ou seja, sabendo que a natureza das coisas é incognoscível, o cientista, restringindo-se ao estudo dos fenômenos e ao uso do método científico, limita-se assim a descrevê-las; porém, procura (e essa é sua finalidade) a forma mais breve e mais clara. Mas a melhor descrição é a fórmula matemática. No ano de 1500, Leonardo da Vinci escrevia que em cada disciplina há tanta ciência verdadeira quanto haver nela matemática. Toda ciência almeja tornar-se matemática. Quando, para uma descrição, se consegue a fórmula matemática, não há nada que acrescentar-lhe. 1 + 1 = 2 é uma fórmula definitiva, além da qual nada há que indagar. Com as leis que os físicos do século XIX descobriram e puseram em fórmulas, a ciência, nesses domínios da física fundamental, chegou à sua finalidade ideal: a matemática. Ela orienta-se então para problemas, para os quais ainda não foi descoberta nenhuma fórmula. Pode-se muito bem imaginar que a ciência venha a atingir aquele ponto em que todo o cognoscível fique encerrado em fórmulas matemáticas, e que depois nada haja que indagar. Para além deste edifício de fórmulas, estará, então, como o céu para além do horizonte da paisagem, a imensidade do incognoscível, o eterno Mistério.
 
 
POSTED BY SELETINOF AT 12:47 PM 
 
 

FÍSICA QUÂNTICA E IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA II

   nicemario

Temos aqui, agora, a postagem final do artigo Física Quântica e Identificação Projetiva. Comprovadamente, portanto, verificamos a sentença de Nise da Silveira: Se o psicólogo, nas suas investigações através das camadas mais profundas da psique, encontra a matéria, por sua vez o físico, nas suas pesquisas mais finas sobre a matéria, encontra a psique.    

Sobre Identificação Projetiva  

Já vimos que os físicos quânticos consideraram o universo uma teia dinâmica de energia, a constante dança de energia. Privilegiam as relações e o movimento.  

Também a psicanálise tem evoluído nesse sentido. Cada vez mais falamos do “funcionamento do par analítico, da constituição do eu e do outro no movimento presente na relação, da busca da subjetividade na intersubjetividade”.  

O conceito “identificação projetiva” é o que me parece mais fortemente referir-se ao aspecto interpessoal da relação analista-analisando. Ao mesmo tempo, é claro que diz respeito à atividade mental de uma pessoa, às suas fantasias inconscientes de aliviar a mente, sobrecarregada de conteúdos insuportáveis, num outro. Há “uma espécie de jogo dinâmico entre o intrapsíquico e o interpessoal”. 

Não é minha pretensão fazer um estudo aprofundado da identificação projetiva. Considerando tratar-se de um fenômeno clínico observável, pretendo destacar o seu aspecto interpessoal. Sabemos que há controvérsias entre importantes autores psicanalíticos sobre se a identificação projetiva é uma fantasia inconsciente do paciente, ou um acontecimento também intersubjetivo.  

Desde 1946, Klein sugere a dimensão interpessoal da identificação projetiva. Propõe a existência de um processo psíquico por meio do qual aspectos do self não são simplesmente projetados sobre a imagem psíquica do objeto (como na projeção), mas “para dentro” do objeto. Diz também que a identificação projetiva “provoca um esgotamento psíquico, na medida em que há um imenso gasto de energia no esforço de controlar o outro tão completamente, que ele é vivenciado como tendo adotado um aspecto da própria identidade”.  

Segundo Ogden, também para Bion a identificação projetiva “não é simplesmente uma fantasia inconsciente de projetar um aspecto próprio no outro e controlá-lo desde dentro; representa um acontecimento psicológico no qual o projetor, por via de uma interação interpessoal real com o recipiente da identificação projetiva, exerce pressão sobre o outro para que vivencie e se comporte de forma congruente com a fantasia projetiva onipotente”.  

De acordo com a leitura de Stefania Manfredi, para Klein a fantasia inconsciente é uma reserva inata de imagens psíquicas que acompanham a pulsão em busca do objeto. A fantasia assume uma força tal, que é capaz de produzir efeitos reais em outra pessoa. “Tudo aconteceria como se a pessoa, ou partes muito importantes dela, tivessem deixado o próprio corpo e tivessem ido morar em outro corpo”.

Rosenfeld diz que a identificação projetiva opera através da fantasia, mas pode também provocar efeitos temporários no comportamento de uma figura receptiva do mundo externo. Interessante aqui o uso do termo “receptiva”. De fato, sabemos, pela experiência clínica, que nem sempre a identificação projetiva “é bem sucedida”, isto é, nem sempre o analista é capturado por ela. Parece que, para ocorrer a identificação projetiva, alguns requisitos têm que ser preenchidos. Voltarei a esse ponto adiante.  

Grotstein salienta que a identificação projetiva é uma fantasia inconsciente, é imaginação. Para Betty Joseph, o analista, se estiver realmente aberto para o que está ocorrendo, se identifica com as partes perdidas do paciente e, com isso, pode obter maior compreensão. Ogden afirma que, na identificação projetiva, as fantasias inconscientes de uma pessoa são processadas por outra pessoa.  

A meu ver, um aspecto importante ressaltado por Ogden é o de que, além do empobrecimento ou “esvaziamento psicológico” envolvido na identificação projetiva, sabe-se hoje que tal fenômeno “também envolve a criação de algo potencialmente maior e mais produtivo do que qualquer um dos participantes (isolado do outro) poderia produzir”.Trata-se, para ele, de algo que é criado, um terceiro sujeito, além do projetor e do recipiente: o sujeito da identificação projetiva. 

Nesse momento, várias perguntas me ocorrem: como é que algo passa para o outro? Essa transmissão inconsciente tem a proximidade física como requisito? Poderia ocorrer à distância? Como poderia ocorrer uma comunicação de inconsciente para inconsciente?  

Antes de tentar aproximar alguns conceitos quânticos dos fenômenos que vivenciamos na clínica e na vida, relatarei algumas situações, no mínimo, curiosas. 

Situações clínicas 

Situação 1: acordei, certa manhã, com angústia intensa e taquicardia. Havia sonhado que batia, completamente descontrolada, no meu marido, sem saber por quê. Eu não parava para ouvi-lo. Fiquei toda a manhã com as cenas do sonho voltando à minha mente, e com a sensação de estar com o coração dolorido. 

À tarde, uma paciente chega e, logo após acomodar-se no divã, relata um sonho, no qual agredia com muita violência seu marido, com um ódio imenso, achando que poderia até matá-lo. Estava impactada e angustiada.  

Situação 2: uma colega sonhou que passeava numa montanha com alguém, depois entrava num supermercado, onde queria comprar um xampu, mas não tinha dinheiro. 

No dia seguinte, sua paciente sonhou que estava num bosque. Fôra levada por alguém. Era um lugar gostoso. A pessoa sumiu e ela teve fome. Comeu num restaurante, mas não tinha dinheiro para pagar.  

Situação 3: uma colega, em supervisão, reclamou que sua paciente não nomeava as pessoas. Nunca. Conversamos sobre seu próprio desejo e curiosidade. Na sessão seguinte, sua paciente começou a nomear todos os personagens, e assim continuou dali para frente. 

Um olhar quântico sobre a identificação projetiva 

Parto da hipótese que, na identificação projetiva, alguma comunicação passa de uma pessoa para outra, de maneira inusual. Como uma espécie de fusão que envolve e emaranha duas pessoas de tal modo que, durante algum tempo, misturam-se os mundos interno e externo de ambas. Como o desfazer de fronteiras.  

A física quântica Danah Zohar, ao mencionar a identificação projetiva e a intimidade, diz: “Parece que “eu” e “você” nos influenciamos mutuamente, parece que “entramos” um no outro e modificamos um ao outro no interior, de tal forma que “eu” e “você” nos tornamos “nós”. Esse “nós” que experimentamos não é apenas “eu” e “você”, é uma coisa nova em si, uma nova unidade. Essa colocação é muito semelhante à de Ogden, ao nomear aquele algo novo, que é criado, de sujeito da identificação projetiva.  

Para as abordagens clássicas da filosofia, da psicologia e da psicanálise, é impossível compreender a transmissão de aspectos internos de uma pessoa para outra. Para um físico quântico, as relações interpessoais são vistas do mesmo modo como se reconhece a dualidade onda-partícula do átomo (que não deve ser chamado de partícula elementar, pois já foram descobertas mais de 200 partículas “elementares” no núcleo do átomo). 

O aspecto partícula da matéria quântica origina os indivíduos e as coisas que podem ser apontadas. O aspecto onda dá origem aos relacionamentos entre esses indivíduos por meio do entrelaçamento das funções de onda de seus componentes. Como as funções de onda podem se entrelaçar, os sistemas quânticos podem “entrar” uns nos outros formando um relacionamento criativo impossível para as “bolas de bilhar newtonianas”. A qualidade e a dinâmica do relacionamento íntimo dependem das variáveis a que estão sujeitos os sistemas ondulatórios das pessoas envolvidas. Para haver a identificação projetiva, é preciso que as pessoas estejam em estados parecidos, que haja intimidade e compromisso entre elas, isto é, que haja alto investimento de energia nessa relação.  

Vejamos como Danah Zohar fala da identificação projetiva presente na relação mãe-bebê: “Em termos quânticos, a função de onda do bebê está quase totalmente sobreposta à de sua mãe. Em grande parte, a experiência do bebê é a experiência da mãe, e ele começa a tecer seu ser utilizando o tecido da mãe”.  Nesse período, muita quantidade de energia é empregada na integração da função de onda do bebê com a de sua mãe. Com o passar dos meses, esse investimento na mãe diminui e aumenta a quantidade de energia empregada na interação do bebê com os outros.  

A partir da descoberta da dualidade onda-partícula do átomo, nenhum dos aspectos é considerado mais o primordial. Existem ambos separadamente e também existe a dualidade. Do mesmo modo, do ponto de vista mecânico quântico, o ser humano é indivíduo e seus relacionamentos, e nenhum dos dois é o primordial. 

Discussão 

Devido ao envolvimento de Jung com o então chamado mundo do ocultismo, Freud, em 1909, teria dito que não queria ouvir mais nada sobre “a maré negra da porcaria do ocultismo”.Dois anos depois ingressou na Sociedade para a Pesquisa Psíquica inglesa e na americana, e publicou seus ensaios sobre o assunto. Durante pelo menos vinte anos Freud parece ter estado interessado em alguns fenômenos polêmicos. Contudo, apesar de seu interesse, chamava a esses outros campos de “colônias da Psicanálise, não a verdadeira pátria”. 

Freud preocupou-se, argumentou e sofreu durante alguns anos, antes do rompimento definitivo com Jung, por quem nutria carinho, admiração e enormes expectativas. Desde 1898 Jung se interessava por todos os aspectos do “ocultismo”. Em maio de 1911, comunicou a Freud que estava “ampliando o conceito de libido de modo a designar com este uma tensão geral”. O ano seguinte foi decisivo no processo de separação dos dois. Jung tomou outro rumo, e logo seu posicionamento foi festejado e considerado, pelo British Medical Journal de janeiro de 1914, como seu “retorno a um enfoque mais são da vida”.  

Estranha comemoração, pois se a importância que Freud atribuía à pulsão sexual era objeto de fortíssima resistência no meio científico da época, a direção tomada por Jung não deveria, naquele momento, ser considerada sã ou científica.  

Em agosto de 1921, Freud escreveu o artigo intitulado Psicanálise e Telepatia e o apresentou, em setembro, a um seleto grupo de seguidores. Sentindo estar a psicanálise ameaçada por um tremendo perigo, disse que não seria mais possível manter-se afastado do estudo dos fenômenos “ocultos”. E que não havia lógica em temer que um interesse maior pelo ocultismo fosse perigoso para a psicanálise. Pelo contrário. Deveríamos, disse ele, “estar preparados para encontrar uma simpatia recíproca entre eles. Ambos experimentaram o mesmo tratamento desdenhoso e arrogante por parte da ciência oficial”.  

Contudo, devido às diferenças existentes entre suas atitudes mentais, Freud considerava uma cooperação entre ocultistas e psicanalistas bastante improvável. Os primeiros seriam “crentes convictos” buscando confirmação, apressadamente, de suas convicções, e generalizariam resultados parciais a todos os fenômenos. Os segundos, diz Freud, “são no fundo incorrigíveis mecanicistas e materialistas, ainda que procurem evitar despojar a mente e o espírito de suas características ainda irreconhecíveis”. Parece que isso não mudou desde 1921… 

Após alguns anos ocultando suas observações a respeito desse tema, Freud resolveu apresentar três casos, sendo o terceiro o relato de uma experiência clínica pessoal. O tema era a possibilidade ou não de haver transmissão de pensamento. Quando chegou à cidade de Gastein, onde se realizou o encontro, Freud percebeu a força de sua resistência em abordar esse tema: ele deixara em Viena as notas sobre sua própria experiência. “Nada se pode fazer contra uma resistência tão clara”, disse à ocasião.  

Percebem-se claramente as dúvidas e reticências de Freud em relação ao assunto, aspecto salientado pelo Editor Inglês em sua nota introdutória.  

No ano seguinte, Freud publicou Sonhos e Telepatia. Parece que ele pretendia ler o artigo na Sociedade Psicanalítica de Viena, mas por alguma razão, desistiu de fazê-lo. Termina esse texto dizendo que quis ser “estritamente imparcial”, já que não tinha “nem opinião nem conhecimento sobre o assunto”.  

Seu terceiro texto sobre o tema foi apresentado dez anos depois: Sonhos e Ocultismo (Conferência XXX). Nesse, ele enfoca especialmente a possibilidade de existência da transmissão de pensamento, em que “os processos mentais numa pessoa – idéias, estados emocionais, impulsos conativos – podem ser transferidos para uma outra pessoa através do espaço vazio, sem o emprego dos métodos conhecidos de comunicação que usam palavras e sinais”. 

Após descrever em detalhes algumas situações clínicas que ilustram fenômenos mentais “tão difíceis de apreender”, Freud diz: “Aquilo que se situa entre esses dois atos mentais facilmente pode ser um processo físico, no qual o processo mental é transformado, em um dos extremos, e que é reconvertido, mais uma vez, no mesmo processo mental no outro extremo”. 

Apesar de Freud não ter formulado o conceito de identificação projetiva, essa sua hipótese me parece pertinente se tentarmos olhar, com base em conceitos quânticos, para esse tipo de transmissão. Como já vimos, a energia de vibração é um dos aspectos mais importantes da matéria. O núcleo do átomo, elétrons e moléculas têm suas taxas vibratórias características. Quando pensamos, nossos cérebros geram correntes elétricas rítmicas que se espalham pelo espaço – sob a forma de ondas eletromagnéticas – à velocidade da luz. Essas correntes elétricas são muito fracas, mas podem ser detectadas por instrumentos sensíveis.  

Nossos corpos são feitos de diversos tipos de tecidos que interagem de diferentes maneiras com as energias vibratórias. “Independentemente de quão diminuto seja o efeito, nossas psiques podem responder vigorosamente a ele”. Se considerarmos que tanto a mente como a matéria fazem parte do mundo dos acontecimentos quânticos, nossos pensamentos (inclusive os inconscientes) e relacionamentos poderiam ser, em alguns casos, explicados pelas mesmas leis e padrões de comportamento que governam o mundo subatômico.  

Assim, para o físico quântico é simples compreender a identificação projetiva, a inversão de papéis (que ocorre quando dois sistemas quânticos não-localmente relacionados trocam de oscilação: ressonância quântica), o contágio emocional de uma torcida de futebol, de um comício político ou a mente grupal (quando um dos membros do grupo parece expressar os pensamentos e sentimentos do grupo inteiro). 

Ocorre que eles vão muito além e fazem colocações que afrontam o bom senso, o já conhecido, nossa maneira usual de pensar. Consideram banal e corriqueiro explicar o movimento instantâneo à distância, que chamam de princípio da não-localidade, e que diz que algo pode ser afetado mesmo na ausência de uma causa local; especulam sobre viagens para trás ou para adiante no tempo; explicam a pré-cognição. Na esperança de obter uma nova visão de mundo, menos fragmentada, voltam-se para temas como o misticismo oriental, a cura, os fenômenos psíquicos. “São tentativas parciais e vacilantes de articular algo que “está no ar”, algo que responda à necessidade das pessoas de um quadro mais coerente do mundo.  

O próprio Einstein jamais se sentiu à vontade com as implicações metafísicas mais amplas da física quântica. O fenômeno da não-localidade era, para ele, “fantasmagórico e absurdo”. Ele ficou extremamente desgostoso com os desdobramentos de seu trabalho, mas não conseguiu refutá-los. 

Durante a elaboração deste trabalho, surpreendi-me inúmeras vezes. Uma das surpresas – e talvez o seja também para vocês – foi encontrar Jung bastante considerado pelos físicos quânticos cujos textos pesquisei. Sua obra é tida, sob muitos aspectos, como “uma exceção de brilho ímpar dentre as muitas tendências da psicanálise e da psiquiatria clínica”.  

Em O Ponto de Mutação, Fritjof Capra dedica cinco páginas a tecer comentários sobre o trabalho de Jung. Diz que, ao romper com Freud, ele “abandonou os modelos newtonianos de psicanálise e desenvolveu numerosos conceitos que são inteiramente compatíveis com os da física moderna e da teoria geral dos sistemas”. Citando uma passagem do livro Aion, de Jung, destaca: “A psique não pode ser totalmente diferente da matéria, pois como poderia de outro modo movimentar a matéria? E a matéria não pode ser alheia à psique, pois de que outro modo poderia a matéria produzir a psique? Psique e matéria existem no mesmo mundo, e cada uma compartilha da outra, pois do contrário qualquer ação recíproca seria impossível”. Capra destaca ainda que Jung concebeu a libido como uma energia psíquica geral, considerando-a uma manifestação da dinâmica básica da vida e que o inconsciente é um processo que envolve padrões dinâmicos coletivamente presentes. Termina seus comentários dizendo: “Jung não foi levado muito a sério nos círculos psicanalíticos. Com o reconhecimento de uma crescente compatibilidade e coerência entre a psicologia junguiana e a ciência moderna, essa atitude está condenada a mudar…  

Comentários finais 

É comum falarmos sobre a importância do intercâmbio da psicanálise com outras ciências. Com elas trocaríamos experiências e conhecimento e, dessa interseção, adviria enriquecimento para todos.

Física Quântica e Psicanálise têm aproximadamente a mesma idade. Ambas romperam com a pretensão de verdade e realidade fixas e imutáveis, com a concepção de tempo e ordem vigentes. Experimentador e psicanalista são observadores participantes. Freud introduziu o conceito de Inconsciente – o que surpreende, o que não se sabe, e os físicos quânticos, o Princípio da Incerteza – nunca se sabe onde e como se encontrará uma partícula subatômica. Tanto os fenômenos atômicos como os inconscientes não costumam ser diretamente observáveis: requerem interpretação. Os físicos quânticos reconhecem que todos os conceitos e teorias científicos são limitados e aproximados. E que a ciência nunca poderá proporcionar um entendimento completo e definitivo. São idéias que nos são muito familiares. Contudo, outras não o são.

Quando aplicamos conceitos quânticos à natureza do ser humano, uma verdadeira revolução na nossa maneira de nos percebermos – e ao mundo – é exigida. A física quântica pede que modifiquemos nossas noções de tempo e espaço, de causa e efeito e de matéria e energia de maneira assustadora. Parecem faltar inclusive condições para pensar. É como não saber pensar aquelas idéias. 

Que sirva de consolo: mesmo físicos quânticos, quando procuram entender o que suas equações estão indicando, inadivertidamente tentam encaixar conceitos quânticos em modelos newtonianos antigos, bem conhecidos, o que faz com que eles próprios vejam seu trabalho com a mesma estranheza que nós.  

Certamente não estamos preparados para uma “revolução quântica”. Uma imensa dificuldade com que nos defrontamos é o (nosso velho conhecido) medo do desconhecido. Vigoroso, quase nos impede olhar, fazer contato, ouvir novas – e estranhas – idéias.  

A teoria quântica é revolucionária. Não deveríamos esquecer que a psicanálise também o é. Sua história mostra o quanto ela vem provocando resistências, críticas, medo, ataques dos mais diversos tipos e intensidades. Ela própria já mudou tanto – na teoria e na técnica – nesse seu primeiro século de existência. Somos nós que a transformamos, com nosso interesse pelo funcionamento da mente humana e com nossa prática clínica, em algo tão vivo e apaixonante. 

Com esse texto introdutório – e informativo – espero ter conseguido transmitir a idéia de que talvez tenhamos, à nossa disposição, um tipo particular de sensibilidade a desenvolver, com a qual possamos aprimorar nossa escuta psicanalítica. 

POSTED BY SELETINOF AT 4:29 PM 

RAIOS

          
 
POSTED BY SELETINOF AT 10:27 PM

 

FÍSICA QUÂNTICA E IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA I

jungPauli

Abaixo, postamos um texto de Cíntia Xavier de Albuquerque, membro associado da Sociedade de Psicanálise de Brasília, publicado em trabalho apresentado na Reunião Científica de 13/9/2000. Este artigo é de fundamental importância tanto para psicanalistas como para físicos, ou, ainda, para o público em geral interssado no assunto. A publicação, aqui, desse texto, constará de duas postagens, dado tal documento ser muito extenso. 

Introdução  

Há cerca de 10 anos venho tendo, esporadicamente, acesso a algumas informações a respeito das mudanças provocadas pela teoria quântica. Como costuma acontecer com os iniciantes que entram em contato com o micromundo das partículas que compõem o átomo, achava curioso, estranho, esquisito e incompreensível. 

O estudo do comportamento dessas partículas terminou por derrubar dois princípios fundamentais da física clássica, o da unidirecionalidade do tempo e o da causalidade. O primeiro diz que o “agora” sempre deve preceder o “depois”. O segundo diz que um efeito não pode preceder sua causa. No entanto, no minúsculo microcosmo do átomo, nem o tempo nem a causalidade tem a significação de outrora. A noção de ordenação temporal dos acontecimentos torna-se insustentável e a não-causalidade é vista pelos físicos quânticos como conseqüência natural de suas teorias. 

Outra mudança importante foi a retirada de distinções estáveis entre observador e observado. Aparentemente, a consciência tem um papel ativo na determinação dos resultados de experiências realizadas para estudar o fenômeno quântico.  

A teoria quântica oferece possibilidades espantosas, não apenas para a compreensão do mundo material. Quanto a este, desde o início do século efeitos quânticos que ocorrem entre partículas reagindo no vácuo, em condições de laboratório, vêm sendo comprovados. Nos últimos 20 anos, físicos quânticos vêm tentando relacionar a teoria quântica a fenômenos psíquicos. Buscam provas de que existam pontes naturais entre fenômenos quânticos e nossos pensamentos e percepções. Em outras palavras, o importante é saber se o estranho comportamento das partículas atômicas tem influência, ao menos parcialmente, sobre a nossa vida diária. 

Pois bem, na nossa vida diária de psicanalistas é comum falarmos também em fenômenos estranhos, esquisitos, misteriosos. Falamos de comunicação de inconsciente para inconsciente, de comunicação não verbal, de projeção e de introjeção de conteúdos internos, de pensamento em busca de pensador. Falamos de posições esquizoparanóide e depressiva e de sua dualidade, falamos do incognoscível 

Tudo isso tem relação com energia psíquica. Mas o que é mesmo isso? Motivada pela curiosidade, parti. Desordenadamente, comecei a questionar se haveria alguma relação entre energia psíquica e energia quântica. Quando me dei conta do tamanho do universo que se abriu, percebi que tentar formular algo a esse respeito, para mim, seria uma tarefa impossível.  

Decidi, então, limitar meu universo: tentar enfocar o aspecto interpessoal envolvido no polêmico fenômeno da identificação projetiva, sob a luz dos conceitos básicos introduzidos pela física quântica. Da maneira como eu os apreendo, correndo o risco, de saída, de estar equivocada, por falta de conhecimento específico sobre a teoria mecânico-quântica e de interlocutores com os quais pudesse conversar sobre esses temas.  

Da física clássica à física quântica 

Até o início do século XX, a visão de mundo baseava-se no modelo mecanicista newtoniano do universo, o qual perdurou por mais de 300 anos e impregnou profundamente nosso modo de perceber a realidade. Era como uma rocha poderosa a apoiar toda a ciência. 

Segundo esse modelo, o ser, em seu nível mais elementar e indivisível, consiste de partículas pequenas e distintas, os átomos. Estes colidem, atraem e repelem uns aos outros. Ocupam lugares próprios no espaço e no tempo. O espaço é tridimensional, absoluto, idêntico e imóvel. Todas as mudanças do mundo físico eram descritas em termos do tempo, também absoluto, fluindo uniformemente do passado ao presente e deste, ao futuro. Os movimentos de onda (como de ondas de luz) eram considerados vibrações que ocorriam no éter, não sendo objetos de investigação.  

As partículas sofriam o efeito da força da gravidade. Tanto partículas como as forças entre elas e as leis fundamentais do movimento eram vistas como criações de Deus e, portanto, não estavam sujeitas a análises mais profundas. Além disso, Deus estaria sempre presente para corrigir quaisquer irregularidades.  

Essa visão mecanicista implicava num determinismo rigoroso. Tudo possuía uma causa definida que gerava um efeito – o princípio da causalidade. A base filosófica desse determinismo provinha da divisão entre o eu e o mundo introduzida por Descartes, no século XVII. Os eventos deveriam ser descritos objetivamente, sem sequer se mencionar o observador humano. A objetividade tornou-se o ideal da ciência.  

A filosofia de Descartes influenciou todo o modo de pensar ocidental. Seu “penso, logo existo”, levou à separação mente/corpo e à tendência do homem ocidental a identificar-se apenas com a mente. “Em conseqüência da divisão cartesiana, indivíduos, na sua maioria, têm consciência de si mesmos como egos isolados existindo dentro de seus corpos”.  

Todavia, é inegável que tanto a divisão cartesiana quanto a visão mecanicista do mundo mostraram-se muito úteis para o desenvolvimento da física clássica e da tecnologia. O modelo newtoniano continua válido para objetos que possuem grande número de átomos e, exclusivamente, para eventos com velocidades pequenas se comparadas à da luz.  

Ainda no século XIX, os trabalhos de Faraday e Maxwell provocaram o primeiro grande abalo sobre a concepção mecanicista de Newton: os fenômenos eletromagnéticos não podiam ser adequadamente descritos, pois envolviam um novo tipo de força, na verdade um campo de força, que não podia ser decomposto em unidades fundamentais.  

Em 1905, Albert Einstein publicou dois artigos que deram início a rupturas conceituais revolucionárias. Um deles foi a teoria especial da relatividade. O outro era o embrião da futura física quântica, desenvolvida 20 anos mais tarde. Ambos os desenvolvimentos esfacelaram os conceitos básicos da visão newtoniana do mundo: espaço e tempo acham-se intimamente vinculados, formando um continuum quadridimensional, o “espaço-tempo”; não se pode falar de um sem falar do outro; inexiste um fluxo universal do tempo; massa é uma forma de energia, e tantos outros desdobramentos.  

Assim teve início a Física Moderna. Vários fenômenos relativos à estrutura dos átomos foram descobertos. Primeiro, a radiação que conhecemos como raios X. Logo após, as substâncias radioativas que emanavam partículas alfa, verdadeiros projéteis extremamente velozes, de dimensões subatômicas. Os átomos, bombardeados pelas partículas alfa, se revelaram imensas regiões de espaço nas quais partículas muito pequenas – os elétrons – moviam-se em torno do núcleo, ligados a este por forças elétricas.  

Uma curiosidade: para tentarmos visualizar o tamanho de um átomo, imaginemos uma laranja do tamanho do planeta Terra. Os átomos da laranja possuirão o tamanho de cerejas. Um átomo é extremamente pequeno se comparado a objetos macroscópicos, mas é enorme se comparado ao seu núcleo. Para que pudéssemos ver o núcleo de um átomo, teríamos que ampliar o átomo até que este atingisse o tamanho da abóbada da Catedral de São Pedro, em Roma. Nesse átomo, seu núcleo seria do tamanho de um grão de sal!  

O trabalho de Einstein possibilitou o desenvolvimento da física atômica. Na década de 20, um grupo internacional de físicos juntou forças e superou fronteiras para desenvolver a Mecânica Quântica. Entre eles estavam Niels Bohr (dinamarquês), Erwin Schrodinger e Wolfgang Pauli (austríacos) e Werner Heisenberg (alemão). O homem entrava em contato, pela primeira vez, com o estranho e inesperado mundo subatômico.  

A mais revolucionária e importante afirmação que a física quântica faz sobre a natureza da matéria provém de sua descrição da dualidade onda-partícula. É a afirmativa de que, no nível subatômico, os elementos atômicos, a luz e outras formas eletromagnéticas têm um comportamento dual. Podem ser igualmente bem descritos tanto como partículas sólidas, confinadas a volumes e espaços definidos, quanto como ondas que se expandem em todas as direções.  

Além disso, nenhuma das descrições é suficiente para se compreender a natureza das coisas. É a própria dualidade o aspecto básico. Um aspecto complementa o outro e, ainda mais estranho, a expectativa se reflete na experiência. Onde se espera encontrar partículas, lá estão elas. Da mesma forma ocorre com as ondas. A solução para essa aparente contradição foi dada por Niels Bohr, ao elaborar o princípio da complementaridade, que estabelece que, embora mutuamente excludentes num dado instante, os dois comportamentos são igualmente necessários para a compreensão e a descrição dos fenômenos atômicos.  

Nunca se consegue observar um elétron e medir sua velocidade ao mesmo tempo. Ao incidir um foco de luz para observá-lo, sua velocidade se altera. Então, não se sabe mais onde ele estava antes. Consegue-se medir ou sua exata posição – quando ele se manifesta como partícula – ou sua velocidade ou momentum – quando se expressa como onda, mas nunca ambos a um só tempo. Esse é outro princípio fundamental da teoria quântica: o princípio da incerteza de Heisenberg. A incerteza substitui, então, o determinismo e a objetividade.  

É o observador, por meio da observação, que fixa o elétron, densifica sua energia e o observa numa determinada posição. Diz-se que o observador provoca o colapso de sua função de onda. No nível subatômico, não se pode dizer que a matéria exista com certeza, em lugares definidos. Diz-se que ela apresenta “tendências a existir” e que os eventos têm “tendências a ocorrer”.  

Fala-se em probabilidades. Em ondas de probabilidades ou ondas de matéria. Todas as leis da física quântica são expressas em termos dessas probabilidades. No domínio dos quanta – que são pacotes de energia –, hoje chamados fótons, não se pode mais ter objetividade completa. O próprio fundamento da visão mecanicista – o conceito de realidade da matéria – foi posto abaixo, pois no nível subatômico os materiais sólidos dissolvem-se em padrões de probabilidades semelhantes a ondas.  

Isso se deve às propriedades dos átomos. Em primeiro lugar, sabe-se que os átomos que compõem matéria sólida consistem quase que integralmente em espaço vazio. Seus núcleos, pequeníssimos e estáveis, constituem a fonte da força elétrica e contém quase toda a massa do átomo. Os elétrons transitam de um estado de energia a outro de forma espontânea e aleatória, absolutamente imprevisíveis.  

Na verdade, eles nem “giram em torno do núcleo”, como aprendemos na escola. Os elétrons reagem ao confinamento no átomo movimentando-se em altíssimas velocidades, da ordem de 960 km/s. São essas velocidades que fazem com que os átomos pareçam esferas rígidas. Os prótons e nêutrons, dentro do núcleo, confinados num espaço muito menor, percorrem o núcleo de um lado para outro a 64.000 km/s!  

Existe um equilíbrio ótimo entre a força de atração do núcleo e a resistência dos elétrons ao confinamento. É a interação entre elétrons e núcleos que constitui a base de todos os sólidos, líquidos e gasosos, dos organismos vivos e de seus processos biológicos.  

Bem, se dispuséssemos de um supermicroscópio imaginário com o qual fôssemos examinar, por exemplo, um fragmento de osso, num dado momento, depois de toda ampliação possível, estaríamos vendo uma pulsação indistinta, vastidões de espaços vazios permeados por campos oscilantes de diversos tipos, pulsando e propagando-se cada vez mais para longe.  

Desse modo, as partículas passam a ser vistas como padrões dinâmicos, que envolvem uma determinada quantidade de energia que se manifesta a nós como sua massa.  

A totalidade do Universo aparece, aos físicos quânticos, como uma teia dinâmica de padrões inseparáveis de energia. “Uma contínua dança de energia”. Energia elétrica, magnética, acústica ou gravitacional. Esse todo dinâmico sempre inclui o observador humano. Ele faz parte da cadeia de processos de observação, e as propriedades de qualquer objeto atômico só podem ser conhecidas em termos de interação do objeto com o observador.

O observador também é feito de átomos. Como nós. Os princípios quânticos descrevem o funcionamento de tudo o que vemos e que, pelo menos fisicamente, somos.  

A teoria quântica ainda está “constrangedoramente incompleta e permanecerá assim até que possamos incluir os observadores e, ao menos no caso dos observadores humanos, incluir a consciência com a qual fazem suas observações”. Isso decorre do fato de existirem equações para descrever eventos mecânico-quânticos, mas não para descrever o comportamento do observador. O problema da consciência (ou estados mentais) é central na física hoje. Até mesmo defini-la é difícil. Dependendo da definição dada, a ameba pode ser considerada uma criatura consciente.  

 A maioria dos físicos que procuram uma sede física para a consciência presume, hoje em dia, que sua fonte deve estar na capacidade funcional do cérebro em si. A natureza exata da ligação entre estados físicos do cérebro e estados mentais ainda é um grande mistério, tanto para a ciência como para a filosofia.

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FÍSICA QUÂNTICA E IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA II

POSTED BY SELETINOF AT 1:13 PM 

DIALÉTICA

 
 
É bastante provável que na história do pensamento humano os desenvolvimentos mais fecundos ocorram, não raro, naqueles pontos para onde convergem duas linhas diversas de pensamento.
 
 
Werner Heisenberg
 
 
POSTED BY SELETINOF AT 6:20 AM